D. António Francisco dos Santos | Pastor à imagem de Cristo
A Sé do Porto foi pequena para acolher a multidão que quis participar nas solenes exéquias do bispo daquela diocese, D. António Francisco dos Santos, no dia 13 deste mês. Para lá dos muitos fiéis da nossa diocese, ali estiveram várias dezenas de sacerdotes do nosso presbitério, bem como D. António Couto e D. Jacinto Botelho.
No final da cerimónia, já sem paramentos, quando passávamos por entre a multidão aglomerada no adro da Sé do Porto, uma senhora dizia: “Fizeram bem em usar cores brancas. Ele era um santo!” E outros comentários se puderam ouvir, provindos daquela gente anónima que não arredou pé e foi ficando para agradecer a vida e a missão do Pastor que viam partir tão precocemente.
A Sé abriu as portas às 14h e logo os seus bancos se encheram com representantes de instituições diversas, centenas de sacerdotes vindos de várias dioceses, diáconos, seminaristas, grupo coral… Perto do altar lá se encontrava a urna com os restos mortais deste nosso ilustre conterrâneo, ladeada por familiares. O coro e a orquestra ultimavam os preparativos e logo se ouviram trechos do “Requiem”, de Mozart. Vários ecrãs, dentro e fora da Sé, possibilitavam visualizar e acompanhar as cerimónias que começaram à hora prevista, 15h, não sem antes vermos entrar o Presidente da República, o Primeiro Ministro, alguns líderes partidários, deputados e outros intervenientes na vida nacional e local.
Em cortejo entraram também os bispos portugueses, visivelmente tristes e marcados pelo acontecimento, a que se juntou o Núncio Apostólico. Mas ficou também a aparente imagem de um episcopado envelhecido e cansado. A este propósito, não deixará de ser oportuno reler algumas das afirmações do nosso Presidente da Conferência Episcopal, D. Manuel Clemente, proferidas durante a homilia (que publicamos neste jornal), nomeadamente para sublinhar o excesso de trabalho e as muitas preocupações que cercam e habitam os bispos, ao mesmo tempo que referia a ausência de estruturas intermédias que os preservem. Palavras motivadas, talvez, pelo exemplo de vida pastoral de D. António Francisco dos Santos, que se doou até ao limite das suas forças.
No final da celebração, todos saíram da Sé e a urna foi transportada para a entrada. A multidão saudou a memória do bispo do Porto com uma grande e sentida salva de palmas, a que se seguiu a oração final do ritual das exéquias. Muitos foram os que quiseram passar, depois, junto da urna ou deixar algo escrito no livro exposto para o efeito.
Os restos mortais de D. António Francisco dos Santos vão ficar sepultados na capela de S. Vicente, na Sé do Porto, a exemplo de outros bispos. Uns dias antes da sua morte, naquela mesma capela, quando guiava pela Sé um grupo de formadores dos Seminários portugueses, disse: “Aqui estão sepultados alguns dos bispos que serviram esta diocese; não sabemos quem será o próximo”!
Ele não sabia, mas Deus já o tinha escolhido.
JD, in Voz de Lamego, ano 87/43, n.º 4428, 19 de setembro 2017