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Archive for Março, 2020

Falecimento da irmã do Padre Albano Cardoso

O Senhor Deus, Pai de Misericórdia infinita, chamou a Si, à Sua morada eterna, a Sra. Dona Lourdes Cardoso, irmã do Padre Fernando Albano Cardoso, pároco Longa, da Granja do Tedo, de Vale de Figueira e de Nagosa.

O Senhor Bispo, D. António, em seu nome e do presbitério de Lamego, a que preside, manifesta as suas condolências à família e amigos, de forma particular ao Pe. Albano, sublinhando a comunhão espiritual na oração e na certeza da fé que nos garante a vida eterna, a ressurreição no Coração de Deus.

Face aos isolamento social, em virtude da pandemia, a presença física será diminuta, mas não a oração, não a comunhão, não a esperança da vida eterna.

Que o Deus de todo o bem a acolha calorosamente no Seu reino de glória, junto de Quem intercederá por nós, levando até Ele, Senhor nosso Deus, os nossos propósitos e intenções. E que os familiares sintam o aconchego de Deus e a ternura da Virgem Santa Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa.

Editorial da Voz de Lamego: vislumbra-se da Terra Prometida!

Na Quaresma, é-nos recordado a travessia do Povo de Israel e as suas tribulações pelo deserto. Quarenta horas, quarenta dias e quarenta noites, quaresma, quarentena! Quatrocentos anos pelo deserto, o tempo necessário para que uma geração dê lugar a outra, tempo de purgação, de extirpar pecado e as marcas da morte, da infinidade e da desconfiança.

A geração que entra na Terra Prometida não é a mesma que saiu do Egito, da escravidão, não é o povo que se voltou contra o seu Deus. Pelo caminho lento, duro, ziguezagueante, quase como a serpente que larga a pele para a substituir por outra, sinal de crescimento, assim uns vão passando o testemunho a outros, contando, de geração em geração, as maravilhas que o Senhor fez, apesar de todos os contratempos e desvios.

Também nós, que transcorremos o deserto, o isolamento social, uma quarentena, uma Quaresma mais longa e mais dura, não seremos os mesmos a entrar na Terra Prometida. Nem eu nem tu. Nem a sociedade. Nem a Igreja. Inevitavelmente seremos diferentes. Poderemos converter-nos ou tornar-nos cínicos. Converter-nos significará que o compromisso que assumimos como sociedade nesta crise se há solidificar na entreajuda. Cínicos, se a pandemia cristalizar os muros do medo, do egoísmo, da desconfiança e da indiferença. Nem tudo é branco ou preto, mas seja como for, como seres dotados de inteligência, no final teremos aprendido, amadurecido ou, pelo menos, envelhecido! Teremos aprendido a cuidar mais da higiene e uns dos outros e a saber que a ação individual tem implicações na sociedade. Muitas vezes ouvida, a expressão “estamos no mesmo barco” tornou-se por demais evidente. Levaremos tempo a esquecer que dependemos uns dos outros.

O Senhor Deus mostra a Moisés a terra da prometida e diz-Lhe: «Esta é a terra que jurei dar a Abraão, Isaac e Jacob. Dá-la-ei à vossa descendência. Viste-a com os teus olhos, mas não entrarás nela» (Dt 34, 1-4). Moisés não chegou a pisar a Terra Prometida, mas a alegria da proximidade permitiu-lhe morrer em paz, na esperança que a verdadeira promessa a encontraria em Deus e que cumpriu com a missão na qual foi revestido: guiar o Povo à Terra Prometida. Uma geração nova, amadurecida pela dureza do deserto, pelas adversidades do caminho, pelas perdas sofridas, pela resiliência em avançar, entrará finalmente na Terra Prometida. O risco agora é esquecerem tudo quanto o Senhor fez por eles, pois não fizeram a experiência da escravidão e subsequente libertação, através da liderança de Moisés.

Dentro da Quaresma, como preparação para a Páscoa, empreendemos uma quarentena, um caminho duro, adverso, contagioso. Tal como a Quaresma nos há de conduzir à Páscoa, a nossa Terra Prometida, que é Jesus Ressuscitado, também tudo faremos para que a quarentena nos permita ressuscitar como sociedade, fortalecida pela pandemia, renovada pela solidariedade. Não é demais dizê-lo: estamos no mesmo barco! Todos contam. Não deixemos ninguém para trás. Dependemos uns dos outros. Façamos o que está ao nosso alcance. A tempestade ainda decorre, a bonança há de chegar. Que a oração desperte para a comunhão e que a sabedoria que nos vem de Deus nos faça caminho com os irmãos.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/17, n.º 4552, 24 de março de 2020

Editorial da Voz de Lamego: A vida em suspenso?

O momento ainda não é tanto de reflexão mas de luta, de compromisso com todos os que estão no terreno a ajudar a manter a vida da cidade, a salvar vidas, a cuidar dos mais frágeis. É tempo de todos facilitarmos a vida às autoridades sanitárias, aos que tomam medidas para proteger a população, aos profissionais de saúde e todos os que velam pela segurança pública, e a todos os que produzem e transportam bens essenciais.

O nosso compromisso como cidadãos e, por maioria de razão, como cristãos, é fazermos o melhor, não desistir dos outros, não deixar ninguém para trás, não excluir, gastar-nos uns pelos outros como fez Jesus. A quarentena de que tanto se fala remete-nos para a quaresma. A raiz das duas palavras é a mesma e ambas sugerem luta, caminho, esforço e sacrifício, na esperança de chegarmos à meta, à vida saudável, nova, salva, à Páscoa.

Antes da Páscoa, o deserto, o caminho, a montanha, o poço de Jacob! Antes da Páscoa, a Paixão, a oração e o sofrimento, a perseguição e o julgamento, a CRUZ. A Cruz não é ainda o final, mas já nos fala de amor, de entrega, de vida, de esperança, de futuro.

A partir da China, o COVID 19 propagou-se rapidamente pelo mundo. Portugal, de dia para dia, vê aumentar o número de infetados, não se sabendo quando será o pico de doentes e se o Serviço Nacional de Saúde, com a cooperação dos privados, terá capacidade para atender a todos os doentes. Isto vai piorar, importa não o esconder, mas há um rasto de esperança a anunciar: os primeiros contaminados estão curados e outros em casa a recuperar.

A Quaresma de 2020 tornou-se um caminho árduo, longo, duro! Olhando para a Cruz, no contexto desta pandemia, foquemo-nos nas duas dimensões, a vertical, a oração, pedindo a Deus que nos dê ânimo e sabedoria para o melhor caminho a percorrer, e assim também pelas autoridades e profissionais de saúde; a horizontal, cumprindo com conselhos e orientações que nos são dadas para minimizar a propagação do vírus, respeitando tempos e espaços, mas cuidando para que ninguém fique esquecido.

Com o avançar da pandemia, todos começamos a aguçar mais a consciência de que estamos no mesmo barco. Há momentos em que somos mais egoístas. Tantas vezes nos perdemos no provisório, acentuámos as diferenças e as conveniências, mas agora há algo mais importante, essencial, a promoção e a defesa da vida humana. Ainda há dias estávamos a falar de eutanásia e suicídio assistido, e agora é a vida que precisamos, todos, de cuidar, de proteger e de salvar. A pandemia faz-nos perceber melhor como temos de respeitar os outros e o seu espaço, mas sobretudo que somos parte de um todo, pertencemo-nos.

Eu e tu somos responsáveis. Responderemos uns pelos outros. Responderemos a Deus pelos irmãos que não ajudarmos.

A Páscoa há de estar mais à frente. Caminhemos!

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/16, n.º 4551, 17 de março de 2020

COVID-19 – Nota sobre velórios e funerais

Informação complementar enviada pela Vigararia Geral da Diocese de Lamego aos sacerdotes:

Recordamos uma vez mais aos sacerdotes que devem seguir as determinações da Conferencia Episcopal Portuguesa (CEP), nomeadamente na suspensão das Eucaristias com a participação (física) do Povo.

Quanto aos funerais:

  • devem realizar-se sem a celebração da missa;
  • a celebração deve restringir-se aos familiares;
  • evitar contacto físico na apresentação de condolências;
  • evite-se o velório nas casas particulares e nas capelas mortuárias pouco arejadas;
  • a título excecional podem usar-se as igrejas para os velórios, permitindo assim manter as distâncias de segurança entre as pessoas;
  • as urnas devem manter-se sempre fechadas.

Os Sacerdotes, na celebração privada da Eucaristia, não deixem de rezar pelos vivos e defuntos, implorando a Esperança Divina para esta Quaresma particularmente dolorosa.

 

Vigararia Geral da Diocese de Lamego

Canceladas as celebrações da Semana Santa de Lamego

Em conformidade com as medidas determinadas pela Direção-Geral de Saúde (DGS) para a contenção do surto Coronavírus COVID-19, o Município de Lamego informa que estão suspensas, até ao dia 31 de março, todas as realizações previstas no âmbito das celebrações da Semana Santa de Lamego,  um momento profundo e imponente da Fé religiosa desta cidade, por decisão da Diocese de Lamego e demais entidades organizadoras.
Recomendamos novamente a todos os munícipes que utilizem preferencialmente os contactos telefónicos (254 609 600) e de email (camara@cm-lamego.pt), caso tenham a necessidade de recorrer aos serviços municipais, evitando assim deslocações desnecessárias.  
Apelamos à serenidade e sentido de responsabilidade de todos os Lamecenses. Até ao momento, não foi sinalizado nenhum caso de infeção por COVID-19 neste território.
Estamos em contacto permanente com todas as entidades competentes no sentido de prevenir e controlar a propagação do vírus, o que pode levar à adoção de novas medidas a divulgar oportunamente.  

Gabinete de Comunicação CML

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Editorial Voz de Lamego: Levantai-vos! Vamos!

No ano 2022, Portugal vai receber as Jornadas Mundiais da Juventude. O tema geral está escolhido para que possam ser elaboradas também as catequeses de preparação. No dia 11 de fevereiro, foi assinada a Mensagem do Papa para a Jornada Mundial da Juventude deste ano. “O tema da JMJ de Lisboa será: «Maria levantou-Se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). Nos dois anos que precedem o Encontro, pensei em refletir juntamente convosco sobre outros dois textos bíblicos: «Jovem, Eu te digo, levanta-te! (cf. Lc 7, 14)», em 2020, e «Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste! (cf. At 26, 16)», em 2021. Como podeis ver, o verbo comum aos três temas é levantar-se”.

“Igreja em saída” é uma expressão muito utilizada pelo atual Papa Francisco, sensibilidade já manifestada enquanto Cardeal em Buenos Aires: “É fundamental que os católicos – tanto os clérigos como os leigos – saiamos ao encontro das pessoas. Uma vez dizia-me um sacerdote muito sábio que estamos diante de uma situação totalmente oposta à da parábola do pastor, que tinha noventa e nove ovelhas no curral e foi procurar a ovelha perdida; nós temos uma no curral e noventa e nove que não vamos buscar”. Eleito a 13 de março de 2013, há 7 anos, o Santo Padre não cessa de desafiar-nos a sair, a tomar a iniciativa de ir ao encontro do outro. A Igreja tem de deixar de ser autorreferencial para levar Jesus às periferias existenciais. «Prefiro mil vezes uma Igreja acidentada, caída num acidente, que uma Igreja doente por fechamento! Ide para fora, saí!». 

Em diversos momentos, o Papa tem convidado os jovens, a menos jovens, a levantar-se do sofá, a usar com equilíbrio as novas tecnologias, para que estas não sejam empecilho para o encontro pessoal com outros jovens e com pessoas mais velhas, e deixem espaço com o convívio, para o envolvimento em causas como a luta pela paz e pela justiça ou a proteção do meio ambiente.

No Evangelho, melhor, durante a sua vida pública, Jesus coloca-Se e coloca-nos em dinâmica de movimento. Com efeito, Jesus avança entre povoações, por aldeias e cidades, ficando o tempo necessário para se encontrar com as pessoas da localidade, curando os enfermos, expulsando os espíritos impuros, falando na sinagoga, em dia de sábado… Ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, encontra-nos no caminho, junto ao poço de Jacob, na outra margem, ou a caminho de Emaús, e faz-nos avançar. “Vamos a outra parte, às povoações vizinhas, a fim de proclamar aí também, pois foi para isso que Eu saí”. (Mc 1, 38). Jesus vive em saída, de junto do Pai para junto de nós, e “saindo” do mundo, levar-nos-á ao Pai. Sigamo-l’O!

No monte da transfiguração, Jesus diz a Pedro, Tiago e João, a mim e a ti: Levantai-vos, não temais. No horto das Oliveiras, quando se aproximam as últimas horas, Jesus volta a despertar-nos da letargia: Levantai-vos! Vamos! (Mt 26, 46). Faça-se a Tua vontade! Não fujamos da Cruz, expressão de amor sem medida e de entrega, e logo chegaremos à Páscoa!

Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/15, n.º 4550, 10 de março de 2020

A carta que um autista me ditou…

Olá, eu sou o António! Dizem que eu sou diferente! Mas o que é isso de ser diferente? Não conheço ninguém igual a outro alguém, por isso parto do pressuposto que somos todos iguais, e todos diferentes ao mesmo tempo. Não sou de grandes falas, contudo digo muito nos meus silêncios, nem todos chegam ao meu coração, mas ao vosso acredito que também não… 

O meu mundo é preenchido por pessoas, as emocionalmente cegas, surdas, e as que falam demais… e as outras, poucas que escolhi para me cobrirem no frio que se faz lá fora. Na escola passo o meu tempo entre pincéis, telas e tintas, gosto de cores e de vida. Gosto de Surf e da água fria que encontra o meu rosto no mar. Também gosto de cavalos…  mesmo, assim há quem desconfie das minhas capacidades e olhe para mim com ar desconfiado… Há tanta gente que diz segredos à minha frente… Só porque eu gosto de olhar para o chão e estar cabisbaixo, acham que não oiço, (risos)! 

Para além da minha mãe, conheço alguém que lê as cartas que escrevo, através das minhas pinturas e por isso, deixo que me abrace e que me passe a mão no rosto. O calor das mãos dela vai direto ao meu coração. Nunca perguntei a idade, mas também para quê? O amor não escolhe idades… que tonto… Estou  aqui a falar de amor. Nem sei o que isso é, pensam os parvos! Porque amor… qualquer autista sente.

Essa amiga da minha mãe é a única que não fala para mim, como se eu fosse um bebé. As palavras dela não ganham diminutivos no final… E isso, faz-me bem. Os outros vêm falar com um rapaz de vinte anos, como se eu andasse no infantário e por isso esfrego o cabelo sem parar, sem explicação, é o meu jeito!

A minha amiga faz bolas de folhas para reciclar, e atira-me e eu devolvo. Nunca lhe disse uma palavra, não é que não goste dela… Eu sou assim… Sou eu… Faz parte de mim. Mas, dou-lhe muitos sorrisos e sei que isso a compensa. Bem vistas as coisas, uma vez ela ouviu o meu grito,  contudo foi apenas para a proteger. Ela estava lá em casa um pouco assustada. Andei da esquerda para a direita e vice-versa, repetidamente, ansioso, por vê-la sorrir de novo. Nem tive vontade de comer nada. Assim que ela veio à cozinha buscar mais pão, o meu cão, que amo, fez um barulho estranho. Fiquei tão desesperado que gritei com ele… Ele percebeu o meu som, e ela derramou lágrimas, pelo meu gesto. As mulheres também choram por tudo! 

Ganhei um abraço muito especial nesse dia… e ela tinha-me ganho desde o primeiro momento. 

Sou um rapaz normal, nem ondas nem marés me assustam. Tenho um mundo só meu, e sei quem quero que a ele pertença. 

No cantinho direito inferior da tela…

O meu nome…

Andreia Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/14, n.º 4549, 3 de março de 2020

Falecimento do Padre Frederico dos Anjos Martins | 1929-2020

O Senhor nosso Deus, Pai de Jesus e nosso Pai, Deus de bondade e de sabedoria, chamou para junto de Si, na morada eterna, o nosso o nosso irmão Padre Frederico dos Anjos Martins.

Era natural do Vilarouco, no concelho de São João da Pesqueira, onde nasceu no dia 13 de março de 1930. Completará 90 anos já na eternidade.

Foi ordenado sacerdote a 29 de junho de 1958.

Entre outras tarefas, foi pároco, durante muitos anos, de Valença do Douro e da Desejosa, no concelho de Tabuaço,  de Casais do Douro e de do Sarzedinho, no concelho de São João da Pesqueira, tendo, posteriormente, paroquiado Melcões, no concelho de Lamego. Ultimamente, as condições de saúde vinham-se a agravar.

O Senhor Bispo, D. António Couto, em nome do presbitério e da Diocese de Lamego, endereça as suas condolências a familiares e amigos, confiando o Pe. Frederico nas mãos de Deus, confiando na Sua Misericórdia infinita e na certeza da ressurreição e da vida eterna.

Celebrações

  • quinta-feira, 10h30 – Celebração da Eucaristia (com o corpo presente), na Igreja da Graça, em Lamego, sob a presidência de D. António Couto, Bispo de Lamego.

  • quinta-feira, 16h30 – Celebração da Eucaristia, no Vilarouco, sua terra natal, onde irá a sepultar no final das Exéquias sagradas.

Que o Senhor Deus lhe dê a recompensa dos justos.

 

(foto: D. António Couto e Pe. Frederico Martins,
por ocasião da Visita Pastoral a Melcões, a 25 de julho de 2015. Créditos: Voz de Lamego)

Editorial da Voz de Lamego: Deus ressuscita-nos das nossas cinzas

Na mitologia grega, e também noutras culturas, existia uma ave, a Fénix, que ao morrer entrava em autocombustão e ressurgia (ressuscitava) das cinzas. Um pássaro grande, semelhante à águia ou ao falcão, capaz transportar no seu dorso um animal do tamanho de um elefante. Duraria uns 500 anos, segundo uns, ou mesmo 97200 anos, segundo outros, antes de morrer em chamas. Pássaro colorido em tons de vermelho, roxo e amarelo, fazendo lembrar o sol ou o fogo, os olhos azuis a brilharem como safiras. Ressurge das cinzas ainda mais forte para um nova e longa vida. É símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual.

No início do cristianismo, a Fénix foi também associada a Cristo, morto e ressuscitado.

Mas esqueçamos por ora a fénix e voltemos o nosso olhar para Jesus. Novamente. Sempre. É Ele que nos traz aqui a estas páginas, para através delas sermos, também nós, eu e tu, portadores de uma Notícia, sempre Nova: Deus tanto nos ama que nos confia o Seu filho amado e, n’Ele, revela que este amor não tem limites, vai até à Cruz, gastando-se totalmente por nós. E um amor assim não perece, porque nos liga, nos faz permanecer, nos faz sobreviver às limitações. Jesus apresenta-Se no meio dos Seus, vivo, ressuscitado. É este o mistério maior da nossa fé, que em cada ano acentuamos solenizando, pela Páscoa, mas que nos faz viver como cristãos do Domingo, a Páscoa semanal na Eucaristia, traduzindo e concretizando o Domingo em todos os dias e circunstâncias. Somos filhos da Luz, da Ressurreição e da Vida nova que Cristo nos dá, fazendo-nos participantes da Sua vida divina, por ação do Espírito Santo.

Estamos dentro da Quaresma, como caminho que nos conduz à Páscoa. Um caminho que iniciou na Quarta-feira de cinzas, precisamente com a cerimónia da imposição das cinzas, um gesto significativo que nos irmana, pois somos filhos da mesma terra. Como nos recordava o Papa Francisco, na belíssima Homilia proferida em Quarta-feira de Cinzas, somos pó, pó da terra e ao pó havemos de voltar. O pó é nada! Mas somos pó amado por Deus. O Senhor insufla o sopro de vida neste pó e chama-nos à vida. “Somos um pó preciso, destinado a viver para sempre. Somos a terra sobre a qual Deus estendeu o Seu céu, o pó contém os Seus sonhos. Somos a esperança de Deus, o Seu tesouro, a Sua glória”.

Por outro lado, prosseguia o Santo Padre, “a cinza pousa nas nossas testas, para que, nos corações, se acenda o fogo do amor. Com efeito, somos cidadãos do céu”. Há muita poeira que teremos que sacudir, muito pó que destrói, que aniquila e desumaniza! Não esqueçamos as nossas raízes, a nossa identidade. “Somos cidadãos do Céu. E o amor a Deus e ao próximo é o passaporte para o Céu; é o nosso passaporte”. O fogo do amor de Deus há de consumir a cinza do nosso pecado. “Deixemo-nos reconciliar, para viver como filhos amados, pecadores perdoados, doentes curados, viandantes acompanhados. Para amar, deixemo-nos amar; deixemo-nos erguer, para caminhar rumo à meta – à Páscoa. Teremos a alegria de descobrir que Deus nos ressuscita das nossas cinzas”. E aqui termina o mito, aqui vislumbra-se o amor de Deus que nos ressuscita!

Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/14, n.º 4549, 3 de março de 2020