Arquivo
Editorial Voz de Lamego: passar do Like ao Ámen
Foi publicada, no dia 24 de janeiro, memória litúrgica de São Francisco de Sales, Padroeiro dos Jornalistas, a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se comemora no domingo anterior à Solenidade de Pentecostes, isto é, na Solenidade da Ascensão do Senhor, este ano a 2 de junho. O tema já tinha sido divulgado a 29 de setembro de 2018: “Somos membros uns dos outros (Ef 4,25) – Das comunidades de redes sociais à comunidade”.
As redes sociais podem roubar-nos à família, aos amigos, à sociedade e à Igreja. A comodidade do sofá, com o mundo acessível num pequeno ecrã, as relações à distância, o sério risco de se estarmos tão perto e não haver comunicação autêntica! «Enquanto a sociedade se torna mais globalizada, faz-nos vizinhos mas não nos faz irmãos» (Bento XVI, Caritas in Veritate).
Quem lê as mensagens do Papa Francisco, discursos, intervenções, homilias, ou o escuta (bem diferente das muitas palavras que lhe são atribuídas mas que muitas vezes nem sequer respeitam o seu pensamento), está habituado à utilização de imagens bem atuais e que permitem focar-nos em alguns pontos essenciais. A temática da mensagem já é sugestiva: somos membros uns dos outros! Um olhar rápido pela mensagem e pela ressonância que os meios de comunicação social fizeram da mesma e salta à vista o último subtítulo: “Do like ao ámen”. E se o “ámen” pode remeter-nos mais para o passado, ou para o intimismo religioso, o “like” está disponível para todos, crianças, adolescentes, jovens, adultos (e muitos idosos), todos prontos a “likear” publicações, esperando receber muitos “likes” nas próprias publicações e partilhas.
O Papa Francisco começa por sublinhar que a Internet é uma mais-valia, que bem aproveitada pode, efetivamente, tornar-nos mais próximos e mais disponíveis para ir ao encontro dos mais desfavorecidos. Mas também aponta os riscos, como o cyberbullying, no qual, segundo as estatísticas, um em cada quatro adolescentes está envolvido.
A rede, continua o Papa, “funciona graças à comparticipação de todos os elementos”. A metáfora da rede lembra a comunidade: “Uma comunidade é tanto mais forte quanto mais for coesa e solidária, animada por sentimentos de confiança e empenhada em objetivos compartilháveis”. Sermos membros uns dos outros deve conduzir-nos à verdade e à comunhão, fortalecendo o mesmo Corpo que integramos.
E o Papa conclui: “Esta é a rede que queremos: uma rede feita, não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres. A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos gostos [«like»], mas na verdade, no «ámen» com que cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/09, n.º 4495, 29 de janeiro de 2019
Editorial Voz de Lamego: Para que todos sejam um
Este pedido integra a Oração Sacerdotal de Jesus (Jo 17). Quando se aproxima a hora em que vai ser entregue, julgado e morto, quando se aproxima o tempo de passar deste mundo para a eternidade, Jesus dirige a Sua súplica ao Pai. É parte essencial do Seu testamento (espiritual), segundo o evangelho joanino. “Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em Ti; para que assim eles estejam em nós e o mundo creia que Tu Me enviaste”.
A prece de Jesus transparece a unidade também numa perspetiva de testemunho e de fé.
No nosso tempo, as divisões sociais, políticas, culturais são evidentes, mas também as cisões motivadas pelas religiões. No cristianismo, ainda ao tempo da formação do Novo Testamento, encontramos a disputa entre São Pedro e São Paulo, motivando o que muitos consideram o Concílio de Jerusalém (Atos 15). Neste encontro de apóstolos e discípulos sobrevém o diálogo, o amadurecimento da fé e um salto na interpretação do Evangelho de Jesus. Novos contextos e a necessidade de encarnar o Evangelho como Cristo encarnou para habitar entre nós.
Para haver conflito basta haver duas pessoas! Por mais que estas consigam sincronizar nos pensamentos, nos gestos, nos gostos, haverá momentos de tensão, de discordância, de amuos e incompreensões ou desatenções. Esses momentos podem ser oportunidade de crescimento, salto qualitativo na relação, mas podem provocar afastamentos e ruturas mais definitivas.
A Igreja, constituída por pessoas, tem sofrido, ao longo do tempo, cismas, divisões, disputas. No século XI (1054), o cristianismo sofre a primeira grande divisão, com a Igreja Católica, a Ocidente, em comunhão com o Papa, e a Igreja Ortodoxa, sob o pastoreio dos Patriarcas. No século XVI, nova grande divisão, com a Igreja Protestante nos seus vários rostos e diferentes identidades, por um lado, e a Igreja Católica, por outro.
Construir leva muito tempo, destruir pode ser um instante, reconstruir, quando se trata de pessoas, pode levar uma eternidade.
Vivemos a Semana (Oitavário) de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro), procurando responder à súplica de Jesus, para que todos sejam um, na certeza que só assim poderemos testemunhar com luminosidade a fé que nos une enquanto cristãos. Têm sido dados passos importantes. Encontros de oração em comum. Movimentos que refletem e promovem esta unidade, como a Comunidade de Taizé ou os Focolares; assinatura de declarações em que as diferentes Igrejas se reconhecem mutuamente e abrindo portas ao diálogo, ao compromisso pela paz, pela justiça, no empenho social a favor dos mais pobres, dos refugiados, dos migrantes.
É importante não esquecer a necessidade de todos nos convertermos (constantemente) a Jesus Cristo na certeza que quanto mais perto estivermos de Jesus mais perto vamos estar uns dos outros, individual e comunitariamente.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/08, n.º 4494, 22 de janeiro de 2019
São Sebastião… contra fome, a guerra e a peste
Em tempos idos, era muito frequente, nas nossas casas, após a recitação do Terço, invocar São Sebastião para interceder aos céus que nos livrasse da fome, da guerra e da peste. Por causa de toda esta devoção, este santo tornou-se muito popular embora a sua vida seja pouco conhecida. Há muitas igrejas, capelas e ermidas que lhe são dedicadas e são inúmeras as festas que lhe são promovidas. Foi sobretudo por alturas das pestes do século XVI que a sua fama começou a difundir-se. As cidades de Milão, em 1575, e de Lisboa, em 1569, acometidas por este flagelo, viram-se livres dele após atos públicos de súplica a este grande mártir.
Conta-se que, quando terminou a peste que assolou a capital portuguesa, o rei D. Sebastião mandou erigir um templo em sua honra, sendo a primeira pedra lançada junto à margem do Tejo, no Terreiro do Paço. Quatro anos depois (1573), o Papa enviou-lhe de Roma uma das setas com que o santo foi martirizado.
A sua popularidade pode ser avaliada pelas largas dezenas de povoações de que é padroeiro. D. Sebastião foi, aliás, baptizado com o seu nome, em 1554, por ter nascido a 20 de Janeiro, dia em que se assinala a morte do mártir.
O braço de São Sebastião, conforme refere a Crónica do Padre Amador Rebelo, terá sido furtado em Itália. Foi, depois oferecido, em 1527, por Carlos V, Imperador da Alemanha, a D. João II, que o mandou depositar no Mosteiro de São Vicente de Fora,
São Sebastião nasceu em Narvonne, na actual França, no final do século III. Desde muito cedo, os seus pais ter-se-ão mudado para Milão. Seguindo o exemplo da mãe, Sebastião revelou-se forte e piedoso na fé.
Ao chegar à maioridade, alistou-se nas legiões de Diocleciano, que ignorava que Sebastião era cristão.
A prudência e a coragem do jovem militar impressionaram de tal modo o Imperador que o nomeou comandante da sua guarda pessoal.
Nesta posição, Sebastião viria a tornar-se o grande defensor e protector dos cristãos detidos em Roma naquele tempo.
Visitava com frequência as vítimas do ódio anticristão, e, com palavras de ânimo, consolava os candidatos ao martírio aqui na terra, dizendo-lhes que receberiam a coroa de glória no Céu.
Secretamente, conseguiu converter muitas pessoas. Até o governador de Roma, Cromácio, e o seu filho Tibúrcio foram convertidos.
Acontece que acabou por ser denunciado por estar a contrariar o seu dever de oficial da lei romana. Teve, então, que comparecer diante do Imperador.
Diocleciano sentiu-se traído e ficou perplexo ao ouvir Sebastião declarar-se cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao Cristianismo, mas Sebastião defendeu-se com firmeza.
O Imperador, enfurecido diante dos argumentos, terá ordenado aos seus soldados que o matassem a golpes de flecha. Tal ordem foi imediatamente executada. Num descampado, os soldados despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore e atiraram sobre ele uma chuva de flechas. Depois, tê-lo-ão abandonado para que sangrasse até à morte.
À noite, Irene, esposa do mártir Castulo, foi, com algumas amigas, ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que ele ainda estava vivo. Desamarraram-no e Irene escondeu-o em sua casa, cuidando das suas feridas.
Passado algum tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar a missão evangelizadora. Em vez de se esconder, apresentou-se de novo ao Imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos.
Diocleciano ignorou olimpicamente as advertências de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos e determinou que fosse espancado até a morte.
Para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, atiraram-no para o esgoto público de Roma. Só que uma piedosa mulher, Luciana, sepultou-o nas catacumbas.
Tudo isto aconteceu no dia 20 de Janeiro de 287. Mais tarde, em 680, as suas relíquias foram solenemente transportados para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje.
Naquela época, uma terrível peste devastava Roma, vitimando muitas pessoas. Desapareceu completamente a partir do momento da trasladação dos restos mortais deste mártir, que passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, a fome e a guerra.
Pe. João António Pinheiro Teixeira, in Voz de Lamego, ano 89/07, n.º 4493, 15 de janeiro de 2019
Nuno de Santa Maria Pascoal… Partiu mais um amigo…
A notícia chegou aos meus ouvidos em momentos de oração na Capela da Obra Kolping e quando um grupo de Sacerdotes se encontrava em Retiro. Ao telemóvel chegou mensagem, mas a vibração deu tempo para sair e ouvir: faleceu o Dr. Nuno de Santa Maria Pascoal…
Interroguei-me sobre a razão da escolha do meu nome para receber e comunicar a notícia a quem e como o fazer naquele momento e a partir daquele lugar; porque era momento de silêncio, informei o Senhor D. Jacinto do que tinha acontecido e pedi as orações dos presentes pelo Dr. Nuno Pascoal. Senti que era meu dever de caridade para com um amigo que partira para Deus e que eu conhecera há muitos, muitos anos, e nunca mais nos esquecemos.
Eu esperava a chegada da camioneta que me levaria ao Pinhão, na ida para o Seminário. Da camioneta sai um jovem, que me informa de que o Seminário de Resende só abria as aulas dali a uma semana, o que acontecia por causa das obras na Casa. Mas lá fui até S. João da Pesqueira, podendo regressar a minha casa, e à tarde, na «carreira» para mais uma semana de férias. E o jovem que me dera a notícia era o então Nuno Pascoal, que me permitiu ser seu amigo ao longo dos anos que se seguiram, ele no Seminário de Lamego e eu no de Resende. Quando eu cheguei a Lamego (1954), já ele abandonara o Seminário (1953); mas a amizade estava encontrada e entrara em acção nunca destruída.
Agora, eram as reuniões da ASEL que permitiam os nossos encontros. E lá estávamos, com outros e outros que acorriam às reuniões/encontros, se saudavam amistosamente e conviviam em mais um dia da sua vida. E o Dr. Nuno Pascoal e eu também éramos assíduos na frequência dos Encontros da ASEL. A notícia do seu falecimento dizia que éramos da mesma terra; não sendo a verdade exacta, esta consistia numa proximidade relativa, a que vai de Longroiva, no concelho da Meda, à Horta, a minha aldeia natal, onde passava a camioneta que nos levaria ao Pinhão. Mas a amizade nasce assim, para nunca mais desaparecer e nem a morte será capaz e destruir. Por isso, posso dizer «Partiu um amigo». Ler mais…
Editorial Voz de Lamego: São Sebastião, nosso Padroeiro
No dia 20 de janeiro celebraremos a Solenidade do Mártir São Sebastião, Padroeiro Principal da Diocese de Lamego. Ainda que seja uma figura dos primeiros tempos da Igreja, sendo o Padroeiro, continua (deve continuar) a ser uma referência para a Igreja que vive em Lamego.
Por certo que todos já tivemos oportunidade de verificar a existência de imagens de São Sebastião nas nossas paróquias, em estátuas, telas e pinturas, nas Igrejas, com altares próprios, e capelas que lhe são dedicadas. É Padroeiro de uma dúzia de paróquias da Diocese: Baldos, Bigorne, Casais do Douro, Castainço, Granja, Granja Nova, Penso, Pereiro, Touro, Vila Chã da Beira, Vila Nova de Paiva, Vila Nova de Souto d’El Rei (Arneirós).
Escolhemos alguém para padrinho/madrinha (de Batismo, de Crisma, na vida universitária) porque nos pode ajudar ou a quem queremos imitar. Assim o Patrono de uma comunidade: alguém que nos inspira a viver o Evangelho e que nos mostra Jesus Cristo com as suas escolhas.
A vida de São Sebastião, naquilo que a tradição assimilou e transmitiu, é um exemplo como a fé ajuda a ultrapassar os obstáculos da vida e como o cristão se pode santificar nas mais diversas profissões e/ou ocupações. Mais forte que tudo é o amor a Deus.
Descendente de uma família nobre, terá nascido em Narbona, sul de França, em meados do século III. Segundo a maioria dos estudiosos, os seus pais eram de Milão, onde cresceu até se mudar para Roma. Em nome da religião enveredou por uma carreira militar, a fim de defender os cristãos numa época de grande perseguição à Igreja. Era estimado pela bondade e nobreza e respeitado por todos. De Milão, o jovem soldado deslocou-se para Roma, onde a perseguição era mais intensa e feroz. O imperador Diocleciano, reconhecendo nele a valentia e desconhecendo a sua religião, nomeou-o capitão general da Guarda Pretoriana. Animava os condenados para que se mantivessem firmes e fiéis a Jesus Cristo. Cada novo mártir que surgia tornava-se um alento e um desafio para Sebastião. Foi denunciado por Fabiano, então Governador Romano. Diocleciano acusou-o de ingratidão. Foi cravado por flechas, até o julgarem morto. A iconografia é muito plástica a seu respeito, inconfundível. São Sebastião é representado com o corpo pejado com várias setas, e surge preso a um tronco de árvore.
Entretanto uma jovem, de nome Irene (santa Irene?) passou e verificou que ainda estava vivo. Levou-o para casa e curou-lhe as feridas. Ainda não completamente restabelecido, voltou junto do imperador para defender os cristãos, condenando-lhe a impiedade e injustiça. Diocleciano mandou que fosse chicoteado até à morte e depois deitado à Cloaca Máxima, o lugar mais imundo de Roma. O corpo foi recuperado e sepultado nas catacumbas da Via Ápia.
Faleceu a 20 de janeiro de 288, ou 300. Logo após o seu martírio começou a ser venerado como santo.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/07, n.º 4493, 15 de janeiro de 2019
Editorial da Voz de Lamego: Farei novas todas as coisas
Eis que faço novas todas as coisas (cf. Apo 21, 5).
João Batista tinha enviado, a partir da prisão, emissários a Jesus, para confirmar o que ouvia dizer acerca d’Ele. Depois dos emissários partirem, Jesus questiona a multidão: “Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido de roupas luxuosas? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais que um profeta” (Mt 11, 8-14).
A minha pergunta seria outra: que fomos ver ao Presépio? O que que trazemos do encontro com Jesus? O Evangelho dá-nos pistas claras. O encontro com Jesus gera alegria, silêncio, adoração. Diante de Jesus, diante d’Aquele Menino, Deus frágil, Deus pobre, Deus amor, despojado de poder e de seguranças, não há outro caminho que não seja silêncio, oração, adoração, e alegria contagiante, que nos faz voltar renovados, com o coração cheio, iluminado!
Não ouvimos nem Maria nem José, pois diante de Deus que Se faz homem não há palavras que abarquem tão grande mistério! Os Pastores, por sua vez, aproximam-se extasiados, mas logo multiplicam em palavras tudo o que ouviram acerca do Menino. As palavras ajudam-nos a comunicar a alegria e a envolver outros no mistério. Os Magos regressam por outro caminho, transformados pelo encontro com Jesus. A Luz que os atraiu a Jesus é a mesma Luz que os devolve à sua terra e às suas ocupações: o Amor de Deus.
Um amor único permite-nos recentrar a vida no essencial, permite-nos dar qualidade a tudo o que fazemos. É a experiência dos pais. Até essa altura então eram felizes os dois, a partir do nascimento de um filho tudo se modifica e tudo faz mais sentido e é feito com mais alegria, também o trabalho, as canseiras e as dores!
Podemos regressar à nossa vida anterior, a nossas casas, às nossas famílias, ao nosso trabalho, mas por outro caminho, com outro olhar, com outra atitude. Quem se deixa plasmar pela graça de Deus deixará que Ele faça novas todas as coisas, mesmo as coisas antigas. O encontro com Jesus gera conversão e vida nova.
A Luz do Presépio ainda está visível, não a deixemos apagar, deixemo-nos transformar pelo Espírito Santo que nos enxertou em Cristo. É este o apelo do nosso lema pastoral: chamados e enviados em missão. O encontro como discípulos faz-nos apóstolos, faz-nos missionários.
É a interpelação do nosso Bispo nas Visitas Pastorais (de que fazemos eco no nosso Jornal): renovar, dar novo ânimo ao compromisso cristão, revitalizando as comunidades. No primeiro fim-de-semana de 2019, iniciaram as Visitas Pastorais à Zona Pastoral de Tabuaço, que se estenderão até ao final de maio. Tempo para D. António se encontrar com os seus diocesanos. Tempo para nos reencontrarmos fortalecidos na missão e comprometidos com a nossa identidade batismal.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/06, n.º 4492, 8 de janeiro de 2019
D. Fernanda: uma vida a servir
No dia 22 de dezembro, faleceu a D. Maria Fernanda Souto Costa, aos 75 anos de idade. Natural de Vila Seca, Armamar, pertencia ao Instituto das Cooperadoras da Família. Viveu e cumpriu a sua vida e a sua missão em diferentes locais e serviços, mas uma boa parte foi vivida entre nós, em particular no Seminário, onde a sua presença discreta, orante, atenta e eficiente foi por todos sentida e testemunhada.
Durante trinta anos foi presença no nosso Seminário de Lamego, coordenando serviços, acolhendo quem ali se dirigia e atendendo a quantos telefonavam. Mas também na cidade, em diferentes circunstâncias, marcava presença, apesar de discreta.
Há quase dois anos despediu-se do Seminário, por causa da pouca saúde e foi viver para Coimbra, numa das casas do Instituto a que pertencia. Não partiu sem lágrimas e levou consigo muitas recordações, muitos rostos e vidas, a par de uma grande vontade de voltar. A verdade é que, sem o dizer claramente, sabia que dificilmente voltaria ao seu Seminário para continuar a acompanhar os “seus meninos”. Mas, apesar de longe e fisicamente debilitada, nunca deixou de se informar e interessar por todos. E, mais importante, não nos esquecia nas suas orações e por todos oferecia os seus sofrimentos.
Em setembro passado, após internamentos, exames e muitas consultas médicas, foi operada ao coração. A recuperação foi morosa e dolorosa, exigindo novos internamentos. Mas tudo parecia estar melhor e a recuperação era visível. A véspera da sua morte, 21 de dezembro, foi vivida com normalidade e, já de madrugada, ainda deu conta de que alguém fora ao seu quarto ver se estava bem. Perto das 8h, encontraram-na já sem vida.
O seu corpo ficou em câmara ardente na capela da casa onde agora vivia até à manhã de segunda-feira, dia 24, já que em Coimbra não se realizam funerais ao domingo.
Na assembleia que participou na Eucaristia exequial estavam os seus irmãos, cunhados e sobrinhos, um grande número de membros do Instituto, bem como o nosso seminarista mais velho, João Miguel Pereira, e seis sacerdotes da nossa diocese, Cón. José Manuel Melo, Pe. Leontino Alves, Pe. José Manuel Rebelo, Pe. Ângelo Santos, Pe. Joaquim Dionísio e Cón. João Carlos Morgado, que presidiu. Certamente que muitos outros gostariam de ter participado, demonstrando a gratidão devida a quem os serviu, mas a distância e as ocupações não o permitiram. O seu corpo foi sepultado no cemitério de St. António dos Olivais. Ler mais…
Editorial Voz de Lamego: Páginas a escrever
Inicia-se um novo ano com novos desafios e novos propósitos.
A diferença é um instante impercetível: ora estamos num ano e de seguida num ano novo. E, curioso, nem todos entramos ao mesmo tempo no novo ano, tendo em conta a latitude em que estamos! Sublinhe-se que a distância de um a outro é a mesma distância temporal de um dia para o outro, mas psicologicamente a passagem de ano tem um impacto muito maior. Bem vistas as coisas, a vida é feita de anos, mas estes são preenchidos de meses, semanas, horas, minutos, segundos, instantes que podem alterar para sempre a vida, positiva e negativamente. O ano não se perde nem se ganha na passagem, mas ao longo de milhentos instantes em que podemos transformar a vida e o mundo. Ainda assim, a carga que nos move pode ser um desafio a renovarmos propósitos, avaliando também o que temos sido!
Alguns iniciam o ano com um novo diário. Novas páginas em branco para serem escritas. Num caderno ou num diário é possível rasurar, acrescentar notas, riscar partes e, nalguns casos, até rasgar folhas. O ideal, digo eu, é que, sendo sigiloso, se pudesse escrever em continuum, pois se são as sensações, os momentos, os pensamentos que surgiram naquele instante, àquele instante pertencem para sempre. Mas, talvez com o receio que outros possam ver, ou porque a releitura de algumas páginas pode ser demasiado dolorosa, ou simplesmente porque não se quer recordar um acontecimento, ou as palavras que foram proferidas, há quem risque, rasgue páginas ou queime o próprio diário.
Na vida, porém, isso não é possível.
Não é possível reescrever a história pessoal, familiar, social! Simplesmente não é possível, ainda que alguns possam dizer que estão a reescrever as suas vidas. Em absoluto, não! Parafraseando Augusto Cury, não somos um computador com disco rígido que pode ser formatado e do qual se podem apagar alguns ficheiros. A nossa memória é seletiva, mas não é reformatável, a não ser em situações de psicose, de doença ou enfraquecimento neurológico! Porém, podemos acrescentar memórias positivas, viver, apostar nos que nos faz bem à alma e o que nos faz bem precisa de ser partilhado, cimentado na relação com os outros. Há mais alegria em dar que em receber. Não podemos apagar o passado. Nem devemos fazê-lo. Ignorar o que fomos, não nos permite caminhar para o que queremos ser, pois sem memória não é possível progredir, caminhar, escolher, quando a escolha é possível, escolher o que nos humaniza, nos irmana, nos realiza como pessoas, nos faz responder positivamente à vocação primeira: sermos felizes. Foi para isso que Deus nos criou! Não rasguemos páginas, escrevamos outras, preenchendo-as de vida!
Que o Deus de toda a paz a todos abençoe em 2019, com todos os seus instantes!
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/05, n.º 4491, 2 de janeiro de 2019