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27.º aniversário da Ordenação Episcopal de D. Jacinto Botelho
Entrou para o Seminário de Resende em 1946 e foi ordenado no dia 15 de agosto de 1958, ano em que morreu o Papa Pio XII. Celebrou os 50 anos de Sacerdócio no dia 15 de agosto de 2008. Depois da Ordenação foi estudar para Roma.
Concluídos os estudos em História da Igreja, regressou à Diocese de Lamego, concretamente ao Seminário Maior, sendo professor e integrando-se na Equipa Formadora, vindo a assumir a responsabilidade do Seminário. Entretanto, assumiu outras missões, como Vigário Geral Adjunto e Vigário Geral da Diocese. Durante algum tempo foi pároco de Sande (Lamego).
Foi nomeado Bispo Auxiliar de Braga e a sua ordenação Episcopal, na Sé Catedral de Lamego, foi no dia 20 de janeiro de 1996, dia de São Sebastião, Padroeiro de Lamego.
Depois da morte de D. Américo Couto de Oliveira, Bispo antecessor, viria a assumir a responsabilidade da Diocese, tomando posse no dia 19 de março de 2000.
Atualmente a residir na cidade de Lamego, é Bispo Emérito deste nossa Diocese, desde o dia 29 de janeiro de 2012, dia da tomada de posse de D. António Couto, como Bispo de Lamego.
Parabéns D. Jacinto e que a Senhora dos Remédios, a Senhora da Lapa, a Senhora da Conceição, a Senhora da Assunção, a Mãe de Jesus Cristo, continue a velar pelo seu ministério sacerdotal e episcopal.
Editorial: Levantai-vos! Vamos! Temos muito para andar…
A nossa diocese vive o ano pastoral neste desafio de Jesus aos Seus apóstolos: Levantai-vos! Vamos! (Mt 26, 46). No Jardim das Oliveiras, os guardas aproximam-se para O prender. Depois de intensos instantes de oração e súplica, Jesus desperta os seus amigos mais próximos, para que não se deixem abater pelo sono, pela noite, pela ansiedade ou pelo medo. As horas que estão pela frente não auguram nada de bom. À noite todos os gatos são pardos. A escuridão acentua o medo, pois o espaço é muito fechado, não se sabe quem está a rondar, se há alguém com uma emboscada preparada, ou se há animais perigosos por perto.
A noite proporciona, noutro contexto, recolhimento para a oração, para a escuta, para a introspeção. Pela noite ou de madrugada, Jesus retira-Se para orar. Foi assim também naquele dia, depois da Ceia, Jesus, levando os discípulos, dirige-se para o Jardim das Oliveiras. A oração é audível: Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice. Contudo, não Se faça como Eu quero, mas como Tu queres! Os discípulos não puderem vigiar com o Mestre nem uma hora! Adormeceram. Agora, Jesus desperta-os para se levantarem e envolve-os, e a nós também, no caminho a seguir: Vamos! Juntos. Conto convosco no Meu caminho!
O lema da diocese procurou sincronizar com o lema da Jornada Mundial da Juventude: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). A Anunciação dá lugar, rapidamente, à Visitação. O Anjo anuncia a Maria que Ela será mãe do Filho de Deus Altíssimo. Tranquilizando-a, o Anjo informa-a que também a sua prima Isabel, de idade avançada e para lá de todas as possibilidades, está grávida, já no sexto mês. A primeira decisão de Maria é partir. Levantar-se e partir apressadamente para a montanha ao encontro de Isabel, em direção a Ain Karim, povoação nas proximidades de Jerusalém.
Também acerca de Maria podemos usar as palavras do Profeta: «Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz” (Is 52, 7). Nossa Senhor leva uma mensagem de paz e de alegria. A felicidade tende a partilhar-se, multiplicando-se. Maria transporta o Príncipe da Paz e comunica essa bênção a sua prima Isabel. A celeridade de Maria em partir tem esta motivação de levar a Boa Nova, indo também inteirar-se das necessidades de Santa Isabel.
Iniciámos o mês de maio, mês dedicado especialmente a Maria. Ao dedicar-se uma jornada, uma novena ou um mês a Nossa Senhora, tem, pelo menos, dois propósitos. Por um lado, honrar, agradecer, suplicar e louvar a Deus por intercessão da Virgem Mãe. Por outro lado, deixarmo-nos interpelar por Ela, pelas Suas palavras, pela Sua vida. É desafio constante: fazei o que Ele vos disser… imitando-A: Faça-se a Tua vontade!
Numa das belas páginas da Bíblia, o profeta Elias, o grande profeta de Israel, faz-nos balançar entre a fé e o cansaço, entre a determinação e a desistência. Em fuga, sob ameaça da Rainha Jezabel, Elias vagueia pelo deserto durante um dia. No final, sentou-se debaixo de um junípero e clamou: “Basta, Senhor, tirai-me a vida, porque não sou melhor que os meus pais”. Deitou-se por terra e adormeceu. O Anjo do Senhor desperta-o e diz-lhe: “Levanta-te e come”. Comeu, o pão cozido, bebeu, o copo de água e voltou a adormecer. O Anjo voltou a despertá-lo: “Levanta-te e come porque tens um longo caminho a percorrer” (1Reis 19, 1-8). Desta feita, Elias levanta-se, come e, revigorado, põe-se a caminho, andando quarenta dias e quarenta noites até à montanha do Senhor, o Horeb.
Alimentemo-nos do Senhor, da Sua palavra, do Pão da vida, para que não nos falte o ânimo no caminho e que a presença da Virgem santa Maria nos anime nos momentos dolorosos.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/25, n.º 4656, 4 de maio de 2022
Editorial Voz de Lamego: Rainha da Paz, dai-nos a paz!

A paz é como um frasquinho de cheiro, frágil, preciosa e frágil. Precisa de muitos cuidados e de uma vigilância constante. Uma aragem e pode desfazer-se em instantes o que demorou anos, décadas, a construir. Desde Caim que a terra recolhe o sangue dos irmãos, são mortos pais, filhos, maridos, esposas, vizinhos, pelos mais variados motivos e sem motivos nenhum. O genocídio na Ucrânia é só mais um episódio da prepotência, dos sonhos megalómanos de um homem e/ou de uma ideologia, do egoísmo e sobranceria, prevalecendo a lei do mais forte, recorrendo à força, à violência e chantagem. Aquele adágio célebre “queres a paz prepara-te para a guerra”, infelizmente, evoca um princípio malévolo, parecendo que só estamos bem a lutar, a ver quem é o maior e assegurar-nos que na batalha seguinte sairemos vencedores. O medo e a desconfiança em relação ao outro, levam-nos a criar muros e fronteiras, a “armar-nos” para o que der e vier.
«Volta a pôr a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam na espada pela espada perecerão» (Mt 26, 52). No Jardim das Oliveiras, como na Cruz, Jesus sabe que a violência não resolve, só gera mais violência. A agressão contra uma pessoa, não é apenas contra uma pessoa, é contra a humanidade, é contra Deus, para quem todos somos filhos, portanto irmãos. E, porque gera ódio e violência em outros membros da família e/ou da comunidade, gera o propósito de saldar “dívidas” durante décadas. A invasão russa vai abrir feridas que levarão gerações a sarar. Amordaçar, coagir, matar, ameaçar, separar famílias, destruir-lhes as habitações, os campos, obrigá-las a fugir, gerará escravos, mas nunca a paz. Dividir para governar! A paz, preciosa e frágil, está a sangrar em abundância.
Vamos iniciar o mês de maio, dedicado a Nossa Senhora, na invocação de Nossa Senhora de Fátima. Este ano, maio começa no próximo domingo, dia em que em Portugal se comemora o Dia da Mãe. Na mensagem para este dia, a Igreja em Portugal quer prestar a sua homenagem a todas as “mães coragem de todos os dias, as que nunca desistem de cuidar, proteger e ensinar a crescer saudáveis os seus filhos”, lembrando especialmente as mães ucranianas.
A nossa referência e modelo é Maria. É a Senhora da Paz, que nos dá o Príncipe da Paz. E para cuidar desta PAZ, Maria, com São José, tem de fugir para Egito, para uma terra estrangeira, como tantas mães em fuga com os seus filhos para cidades e países distantes.
O velho Simeão, inspirado pelo Espírito Santo, tinha profetizado: “Uma espada trespassará a tua alma” (Lc 2, 34-35). Príncipe da Paz, Jesus é morto como malfeitor. Maria pouco pode fazer. Aparentemente o amor saiu derrotado, só Deus nos mostrará que o amor vence. O amor é pobre e frágil, porque se predispõe a dar a vida pelo outro, ao jeito de Jesus. Mas só o amor nos salvará. Só o amor de Jesus nos salva.
Na mensagem de Fátima é recorrente o apelo à oração pela paz, desde logo nas aparições do Anjo: Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo (primavera de 1916); «De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação… atraí, assim, sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal» (verão de 1916). É também um pedido constante de Nossa Senhora, nomeadamente na primeira, na terceira, na quinta e sexta aparição. «Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra… Quero que continuem a rezar o Terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer… Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar… O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz». A construção da paz passa por todos. Por mim e por ti. Peçamo-la a Deus, para que inspire o coração de todos os homens e que Maria reze connosco a paz.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/24, n.º 4655, 27 de abril de 2022
Editorial Voz de Lamego: A maior semana da nossa fé

Vivemos a Semana Santa, a maior da nossa fé, não pela duração das horas ou dos dias, mas pela intensidade e pelo significado fundante da comunidade cristã. Jesus entrega a Sua vida por inteiro! Nem a morte tem poder de lhe colocar um termo, pois a vida emerge em plenitude na Sua ressurreição. Cada Eucaristia é Páscoa, na qual celebramos um mistério que nos faz contemporâneos de Jesus, pois Ele vive agora, no meio de nós, pela força do Espírito Santo, em Igreja. A cada ano, de forma mais solene, vivemos os acontecimentos que marcam o culminar da Sua vida história, em dinâmica de entrega.
A semana é santa, porque Jesus é o Santo de Deus! Vem de Deus e dá-nos Deus. Santifica-nos e envolve-nos no Seu mistério de amor e no Seu ministério de serviço. Jesus percorre connosco as diversas situações da vida. São Paulo faz uma síntese perfeita: “Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou”.
Ele está no meio de nós como quem serve; amando, sujeita-Se às mesmas circunstâncias finitas, frágeis, limitadas; caminha lado a lado, entra connosco na cidade, ouve as nossas preces e os nossos gritos, aceita o nosso louvor, as nossas oferendas e a nossa conversão, a nossa alegria e a nossa cobardia. A realeza de Jesus é despojada de poder, de riqueza, de exuberância.
O Rei aclamado por uma multidão entusiasta e feliz, no início da semana, dá lugar a um Rei coroado de espinhos, injuriado por uma multidão enraivecida e embrutecida. O tempo que decorre nas últimas horas é mais demorado, doloroso, tenebroso.
Oportunamente, Jesus avisa os discípulos. O Filho do homem vai ser entregue aos anciãos, vai ser julgado, condenado e morto! Durante aqueles instantes, o coração dos discípulos estremeceu… mas a vida continua, e foram esquecendo a sentença que pesava sobre a Sua cabeça!
Aproxima-se a Páscoa (judaica). Jesus manda preparar a ceia pascal. Em casa, à volta da mesa, numa refeição festiva, recordando as maravilhas que Deus realizou, através dos tempos, a favor do Seu povo, Jesus faz ver que tudo se precipitará para o fim! “Não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o reino de Deus”.
Os discípulos percebem que alguma coisa não está bem, mas ainda não sabem a dimensão das palavras de Jesus, que institui o memorial, antecipando, no repartir do pão e do vinho, a Sua permanência no meio de nós, depois da Sua morte e ascensão para Deus. Ouvem Jesus a dizer que entre eles está alguém cujas intenções não são concordes com o Seu projeto. A casa começa a desfazer-se. Um deles levanta-se da mesa e sai de casa. Doravante a casa fica vulnerável, exposta, as portas não são forçadas, abrem-se por dentro. A história de famílias, comunidades e povos! Os inimigos, mais perigosos, porque mais silenciosos, estão dentro, na família, na comunidade, no povo, e dentro de nós!
O Mestre clarifica de novo a opção pelo serviço: Eu estou no meio de vós para servir e dar a vida. A disputa não é pelo poder, mas pelo amor. Os nossos propósitos são testados pela realidade! A oração é a garantia da nossa comunhão com Deus, o contexto que nos permite querer o que Deus quer! Pela oração fortalecemos as nossas escolhas.
Até à Cruz, a postura de Jesus é constante, realizar a vontade de Deus, expressar o Seu amor por nós, apontar-nos o caminho do perdão, do serviço e da ternura de forma a construir fraternidade.
Qua a vivência da Semana Santa nos faça perceber que a vida se ganha, gastando-se por amor, no serviço uns aos outros, ao jeito de Jesus, nossa Páscoa e nossa Paz.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/22, n.º 4653, 13 de abril de 2022
Falecimento do Pai do Padre João Carlos

O Senhor, Deus de Bondade e de Misericórdia, chamou à Sua presença, para as moradas eternas, o Sr. José A. Morgado, pai do Padre João Carlos, Pró Vigário Geral da Diocese de Lamego e Cónego do Cabido da Sé.
D. António Couto, em seu nome e do presbitério de Lamego, manifesta as condolências ao reverendo Pe. João e aos seus familiares, neste momento de luto, unindo-se em oração, agradecendo o dom da vida, acolhido, vivido e devolvido, agora, em definitivo, ao Deus da vida, do tempo e da história. Sublinha, por outro lado, a certeza, que vem da fé, de que a vida não se esgota no termo temporal, mas se abre, pela misericórdia de Deus, à eternidade. Deus faz prevalecer a vida daqueles que n’Ele acreditaram e se deixaram conduzir pelas Suas palavras.
Na manhã de quinta-feira, 7 de abril, pelas 10h00, celebrar-se-á Missa Exequial pelo Sr. José Morgado, na Igreja Matriz de Castro Daire, seguindo-se o funeral no cemitério local.
Unidos em oração, na esperança da ressurreição, manifestamos os nossos sentimentos e comunhão ao Pe João Carlos, sua mãe e irmãos, e demais familiares. Que o Senhor dê o eterno descanso ao Sr. José e o conforto do Seu amor aos familiares e amigos.
Editorial Voz de Lamego: Hoje não me apetece ir à Missa

Não me apetece ir à Missa!
A mim também não!
Mas nem tudo na vida tem a ver com desejos ou com apetites.
Eu vou à Missa quando me apetece. Para quê ir contrafeito? E trabalhar? Aí tem de ser… E ir à escola? Como não? Temos que ir!
Em todas as dimensões da vida, há momentos em que o desejo nos faz querer adiar, hesitar, arranjar alguma justificação para não ir…
Quando um bebé é pequenino, na maioria dos casos, tem um sono que não está sintonizado com os dos pais, nem com os horários noturnos. Por outro lado, uma constipação, alguma doença, um dente a nascer, fazem com que os pais estejam enlevados o tempo todo, não conseguindo dormir bem nem de noite nem de dia, pois o cérebro mantém-se ligado. Se o bebé chorar dez vezes durante a noite, a mãe ou o pai, ou à vez, hão de se levantar de todas as vezes para ir engalhar o menino, ver o que tem e ver se precisa de comer, de mudar a fralda ou simplesmente de sentir a presença materna/ paterna. Os pais levantam-se cinco vezes ou quinze vezes, não por prazer, desejo, não por gosto ou por vontade, mas fazem-no por amor, com sacrifício, cansados, ensonados e até irritadiços quando voltam a ouvir chorar o filho. Mas levantam-se por amor, uma obrigação que vem de dentro, que vem do coração. Fá-lo-ão com satisfação? Duvido!
Voltemos então à questão inicial. Não vou à Missa. Vou apenas quando me apetece. Quando não tenho que fazer. Ou iria se o horário fosse outro, mas este horário não me dá muito jeito. Trabalho toda a semana, o Domingo é o único dia que tenho para descansar e me levantar um pouco mais tarde. E ao sábado à tarde? Ao sábado é quando arrumamos a casa, vamos às compras ou é tempo para algum lazer, para caminhar, ver um filme, para ir até ao café estar com os amigos. Se tivesse mais tempo, eu ia à Missa. Vendo bem, estes argumentos são razoáveis, justos e defensáveis! Afinal, nós conseguimos arranjar justificações para o que não nos apetece fazer ou para compromissos a que ninguém nos obriga.
Não vou à Missa porque não gosto do padre. Não me identifico com as homilias que ele faz. Demora muito. Repete as mesmas coisas. Só fala do Evangelho, que já ouvimos antes. A Igreja precisa de evoluir, ficou parada no tempo. Há dias fui a uma Missa, a um casamento, e gostei. O padre era engraçado, falava bem, divertiu-nos bastante. Se todos os padres fossem assim, as igrejas estavam cheias, até eu ia mais vezes à Missa. Contou uma anedota que pôs toda a gente a rir. Assim vale a pena.
Já todos ouvimos estes argumentos. Uma e outra vez. E identificamo-nos com algumas destas explicações e até acrescentaríamos outras. É certo que o sacerdote não é simplesmente um autómato, a sua maneira de ser e de estar e de falar pode cativar mais ou fazer com que as pessoas se sintam acolhidas, reconhecidas, parte importante na celebração. Porém, a Eucaristia, como os demais sacramentos, não é obra do padre, não tem a ver com apetites ou desejos, ainda que os tenhamos, tem a ver com fé, com compromissos, tem a ver com amor. Por vezes, somos convidados e não nos apetece muito sair de casa ou apetecer-nos-ia estar noutro lugar, mas vamos por amizade, por consideração, por estima (ou por dever profissional). A Eucaristia é, antes de mais, um convite a que respondemos. É Deus que nos convoca. Convoca-nos através da Igreja, que também somos, mas é um convite. Se temos fé, acolhemos o convite. Se amamos a Deus de todo o coração vamos querer estar onde Ele nos quer, num espaço e num tempo em que nos reunimos como família, como assembleia. Trata-se de responder a um convite, no qual todos contamos, como filhos, como amigos de Jesus.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/20, n.º 4651, 30 de março de 2022
Falecimento do Pai do Pe. Basílio Firmino

Só Deus é Deus! Jesus traz-nos Deus e mostra-nos o rosto do Pai em Si mesmo, um rosto misericordioso, que ilumina o nosso peregrinar sobre a terra. Antes de morrer, e prevendo para breve a Sua morte, Jesus garante aos Seus discípulos, garante-nos, a vida eterna. Em Casa do Pai há muitas moradas! Ele vai e prepara-nos uma morada. Também Ele morre, ressuscitando três dias depois.
O Deus de bondade infinita, Pai de Jesus e Pai nosso, chamou para as moradas eternas o Sr. Firmino Augusto, pai do reverendo Pe. Basílio da Assunção Firmino, pároco da Mêda e de Outeiro de Gatos.
O Sr. Bispo, D. António Couto, e o presbitério de Lamego a que preside, manifesta a sua amizade e proximidade ao Pe. Basílio e aos seus familiares, amigos e paroquianos, confiando o Sr. Firmino à misericórdia de Deus, na esperança da vida eterna e da ressurreição dos mortos, e convida-nos a todos à comunhão pela oração, agradecendo a Deus o dom da vida e pedindo-Lhe que afague e abençoe os familiares que agora sentem a partida.
Celebração da Santa Missa, de corpo presente, nesta segunda-feira, pelas 10h30, na Igreja Paroquial do Ourozinho (Zona Pastoral de Penedono), seguindo-se o funeral no cemitério local.
Deus dê o descanso dos justos a este nosso irmão, o Sr. Firmino e a nós nos desperte para juntos caminharmos e sermos Igreja.
Editorial Voz de Lamego: Levantai-vos! Vamos… seguir a Estrela

Na Epifania do Senhor, a liturgia da Palavra apresenta-nos um grupo de Magos que vem do Oriente (cf. Mt 2, 1-12). Vêm de longe, dos confins da terra, guiados por uma estrela. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O».
Os Magos são buscadores de Deus. Há quem se afaste de Deus através dos estudos. Há quem, pela ciência, se encontra com o Criador, o Senhor que faz belas todas as coisas. Os magos deixam-se surpreender por aquela estrela. Sabem que é diferente. O Rui Veloso, numa magnífica canção, diz que já não há estrelas! Mas a verdade é que continua a haver estrelas. Algumas guiam-nos para Belém, outras guiam-nos para ninguém.
Há quem tenha a graça de encontrar Deus, através da família e/ou do ambiente em que nasceu e cresceu, por meio de algum acontecimento impactante, na oração intensa, na sinceridade da procura. Há quem já tenha ouvido falar d’Ele. Aquela estrela despertou os Magos e fez com que eles se pusessem a caminho. Esta é a atitude que deveremos imitar: estar atentos aos sinais que vêm de Deus; discernir sobre as estrelas para seguirmos as que nos levam a Jesus; coloquemo-nos a caminho. Talvez muitos tenham visto a estrela, mas só os magos se puseram a caminho. Herodes, por exemplo, deixou-se ficar na segurança e no conforto do Palácio.
Por outro lado, sejamos também estrelas para os outros, pelas palavras e pela vida, facilitemos o seu caminho para Jesus, deixemos que a luz do alto resplandeça através de nós.
Um homem tinha um cavalo que ficou cego e, por conseguinte, se tornou-se inútil. Que fez este homem? Comprou outro cavalo e colocou-lhe uns guizos que passaram a servir de orientação para o cavalo cego. Assim, quando eram horas de ir para a padraria, o cavalo cego seguia o cavalo com os sinos. Quando era hora de recolher, a mesma coisa. O dono não desistiu do cavalo só porque agora já não tinha a mesma “utilidade”. Assim procede Deus connosco, coloca “estrelas” que nos guiam ou “cavalos com guizos”. Outras vezes teremos que ser nós as “estrelas” ou os cavalos com guizos que ajudam outros a orientar-se e seguir por caminhos que levem a Jesus.
Vivemos num mundo, hoje mais do que no passado, em que os desafios são vários e as propostas são milhentas, algumas revestidas a ouro, mas que escondem egoísmo, maldade e jogos de poder. Há que saber discernir e para tal o primeiro passo é a oração, a invocação do Espírito Santo.
A alegria dos Magos redobra quando veem a estrela a fixar-se onde se encontra o Menino. Entram em casa e veem o Menino, com Maria, Sua Mãe. Prostram-se diante d’Ele e adoram-n’O, abrem os seus tesouros e dão-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Deus não nos pede o impossível, pede-nos o melhor de nós. Os Magos dão o melhor que têm, os seus tesouros. Não guardam para si o que pertence ao Senhor. Os presentes têm também um simbolismo que fazem reconhecer a realeza, a divindade e a humanidade (mortalidade) d’Aquele Menino.
O encontro com Jesus faz-nos regressar à vida com outra alma. Como os Pastores, também os Magos voltam para os seus afazeres, mas regressam por outro caminho. Nada será como antes. Isto diz-nos respeito. A alegria já é imensa quando as estrelas nos falam, apontam, nos mostram Jesus! A alegria há de preencher-nos por inteiro no encontro com Jesus. Este encontro há gerar vida nova na vida de todos os dias, na opção firme pela verdade, pelo bem, pelo serviço, pelo amor ao nosso semelhante.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/08, n.º 4639, 5 de janeiro de 2022
Pe. António Martins Teixeira > 1926 – 2022
Faleceu, aos 95 anos de idade, o Pe. António Martins Teixeira, conhecido na diocese, e sobretudo em terras de Resende, como o “Sr. Abade”. Nasceu no Touro, Vila Nova de Paiva, a 27 de junho de 1926, vindo a falecer a 4 de janeiro de 2022.
D. António Couto, Bispo da Diocese de Lamego, em seu nome e do presbitério diocesano, endereça sentidas condolências aos familiares e amigos e às comunidades que o Monsenhor António Teixeira serviu ao longo dos anos.
O Sr. Bispo confia-o à misericórdia de Deus, certo da ressurreição dos mortos e na vida eterna. O Pe. Martins serviu a Igreja e o Evangelho com alegria e despojamento. Aquele em que acreditou e serviu no tempo, Jesus Cristo, acolhê-lo-á, agora, na eternidade.
As Exéquias solenes terão lugar nesta quarta-feira, pelas 11h00, na Igreja Paroquial da Imaculada Conceição, em Resende. O corpo seguirá para a Paróquia do Touro. Pelas 15h30, será celebra Eucaristia, na Igreja Matriz, seguindo-se o funeral.
Deus Se compadece do Sr. Abade e lhe conceda o descanso dos jutos, e a nós, que ainda peregrinamos sobre a terra, especialmente familiares e amigos, a consolação das palavras sagradas e a esperança firme na vida eterna que se inicia com o compromisso batismal em todos os dias da nossa vida.
Editorial: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39)

É o tema escolhido pelo Papa Francisco para preparar e viver as Jornadas Mundiais da Juventude, que se realizam em Portugal, em agosto de 2023. Esta expressão faz a ponte entre a Anunciação do Anjo a Nossa Senhora e a Visitação à Sua primeira Isabel (cf. Lc 1, 39).
O Evangelho de São Lucas abre praticamente com visitação do Anjo Gabriel a Zacarias e a Maria, uma virgem desposada com um homem chamado José. Cada uma das visitações traz um anúncio. Zacarias e Isabel vão ser pais, apesar da idade avançada. Para eles, a idade de serem pais já tinha passado, já se tinham conformado com essa “maldição”. Apesar disso, são tementes a Deus, justos e cumpridores da Lei, procedendo irrepreensivelmente segundo os mandamentos e preceitos do Senhor. A Deus nada é impossível. Deus opera para além dos nossos limites racionais e torna viável o que é inalcançável, favorecendo-nos com a Sua benevolência. É inacreditável. Zacarias fica sem palavras. Não há palavras que possam expressar o inaudito que nos chega de Deus. Estamos longe de nos apercebermos de quanto bem Deus faz por nós ou coloca ao nosso alcance!
A visitação do Anjo a Maria tem um propósito que alterará para sempre a história da humanidade. Mesmo para os que não acreditam, contestam ou se manifestam indiferentes, Aquele que está para vir ao mundo deixará marcas na pequena cidade de Nazaré, em Belém, em Jerusalém e no mundo inteiro. Nada, nunca será como antes. “Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo… conceberás e darás à luz um filho, e chamá-lo-ás Jesus. Ele será grande e será chamado Filho de Deus Altíssimo”. Sim, como é possível! Deus a nascer de uma jovem, humilde, campónia, como será isso? Diante de tão grande assombro, Maria confia no anúncio que lhe é feito e predispõe-se a ser parte do mistério salvífico: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Deus chama, desafia, espera por nós, confiando no nosso discernimento! Maria responde e confia na fé que A liga a Deus. O seu “sim” assenta na intimidade com o Senhor. Ela alimenta-se de oração, é cheia de graça!
A palavra de Deus desinstala-nos, inquieta-nos, põe-nos em movimento. Mau será quando a Palavra de Deus já não nos inquietar, quando nos deixar ficar como antes e/ou sentadinhos à espera que a vida aconteça. A palavra de Deus é viva e eficaz! Mas a sua eficácia também depende do nosso sim, da nossa vontade em Lhe respondermos. Esta resposta tem duas direções: Deus e próximo.
A Virgem Maria mostra-nos como se faz!
Depois de tão grandes novas, Ela podia fazer-se grande, orgulhar-se de ter sido a escolhida, mas continua ser serva, disposta, em tudo, a ser prestável. Não reserva tempo para refletir, para festejar, para medir as consequências, as dificuldades que possam vir pela frente. Não pensa no futuro. Sabe que pode confiar. Confia absolutamente em Deus. Maria levantou-se, diz-nos o Evangelho, e foi apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá (Ein-Karim, seis quilómetros a oeste de Jerusalém), e entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Ao dirigir-se aos jovens, e toda a mensagem se adequa a cada um de nós, o Papa Francisco tem-lhes dito, insistentemente, para se levantarem do sofá. Maria levanta-se e parte apressadamente, como mulher da caridade, vai ajudar Isabel nos últimos tempos de gravidez, e como mulher missionária, transportando a Alegria que contagia aqueles que encontra. Isabel fica cheia do Espírito Santo: “Eis que quando a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança soltou de júbilo no meu ventre”.
Como Maria, levantemo-nos e vamos apressadamente anunciar o Evangelho, com a voz e com a vida.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/06, n.º 4637, 14 de dezembro de 2021