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Pastoral Vocacional: A Igreja tem uma função mediadora e pedagógica
Para a maior parte dos nossos leitores, falar de “vocação” será sinónimo de percursos de vida enquanto consagrados (religiosos) ou ministros da Igreja (padres e bispos). Durante muitos anos, a pastoral vocacional procurou anunciar tal chamamento e recrutar candidatos que se enquadrassem no perfil aceite.
Mas o assunto é mais vasto e diz respeito a todo o ser humano. Afinal, Deus chama todos: para cada um há o chamamento à vida, à realização e à santificação. Nenhuma vida é um acaso ou um incidente, nem nenhuma vida pode ser considerada uma perda de tempo ou algo de insignificante. Apesar das circunstâncias em que é vivida, do grande ou do pequeno percurso feito, etc, cada vida é algo de único e cada um é responsável pela vida que recebeu como dom.
Neste contexto, de que falamos quando referimos “vocação”? Aqui fica uma definição possível: “A vocação é uma realidade constitutiva do ser humano, fruto do diálogo entre a palavra ‘eficaz’ do Criador, que escolhe-chama-envia-assiste, e a resposta ‘humilde’ do crente, que constrói a sua identidade em relação vital com os demais, em continuidade projetiva e em evolução dinâmica, até se converter em imagem de Cristo, membro ativo da Igreja, sinal vivente do Reino de Deus” (Mario Oscar Llanos, Pastoral vocacional na nova evangelização, p. 24).
Perante este conceito de vocação, facilmente percebemos que Deus espera correspondência, com ações, da parte da pessoa chamada, que deve entender-se como eleito-responder-cumprir a missão-ser fiel. Nesse sentido, “toda a vocação cristã é ‘particular’ porque interpela a liberdade de cada homem e gera uma resposta personalíssima numa história original e irrepetível” (NVNE, 19).
A mediação pastoral procurará ajudar cada um a acolher e a discernir a sua identidade, cumprindo a sua vida. Por causa desta mediação, a Igreja é chamada “mãe de vocações” porque “as faz nascer, com a força do Espírito, protege-as, nutre-as e sustenta-as. De modo especial, é mãe porque exerce uma preciosa função mediadora e pedagógica” (NVNE, 19d).
A Igreja cumpre tal missão de mediação quando ajuda e estimula cada crente a tomar consciência do dom recebido (vida) e da responsabilidade que o dom traz consigo. Mas também forma e provê a que cada um tenha a necessária e adequada formação. A oração, a pregação, a catequese, os diferentes grupos e movimentos, a formação permanente… tudo está ao serviço desta mediação e pode ser visto como cumprimento da eclesial missão pedagógica.
Comissão Diocesana Vocações e Ministérios,
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4302, ano 85/15, de 24 de fevereiro de 2015
FEC – 25 anos pela Dignidade Humana |> Renúncia Quaresmal
FUNDAÇÃO FÉ E COOPERAÇÃO
Na semana passada, publicámos a Mensagem quaresmal do nosso bispo, na qual éramos também convidados a partilhar com os mais pobres da Guiné Bissau parte da nossa renúncia quaresmal, numa iniciativa liderada pela Fundação Fé e Cooperação. Para melhor conhecermos esta entidade, aqui ficam algumas linhas.
A FEC – Fundação Fé e Cooperação é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento. Existe desde 1990 por vontade da Igreja Católica em Portugal e trabalha com comunidades e parceiros em Portugal, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, nas áreas da educação, saúde, capacitação institucional, educação para o desenvolvimento e advocacia social. Tem como missão promover o desenvolvimento humano integral, através da cooperação e solidariedade entre pessoas, comunidades e Igrejas, inspirada pelo Evangelho e pela Doutrina Social da Igreja. Em 2015 a FEC comemora 25 anos de ação e vamos conhecer melhor o programa das celebrações, que tem como lema “FEC – 25 anos pela Dignidade Humana”.
OS Centros de Recuperação Nutricional na Guiné Bissau
Os Centros de Recuperação Nutricional (CRN) foram criados pelo Padre e médico Alfredo Zamberletti, chegado à Guiné-Bissau (GB) logo após a independência (1974), fixando-se em Gabú, no leste do País. O facto desta zona interior da GB ser um das que ainda hoje apresenta dos piores indicadores de saúde do país levaram à criação destes centros, assim como das Casas das Mães, com o objetivo de fazerem face às situações de desnutrição grave de crianças e grávidas e promoverem a educação alimentar e, assim, melhorarem a utilização dos escassos recursos alimentares disponíveis a nível local. Hoje, na Guiné Bissau, existem 25 CRN, dispersos por todo o território das Dioceses de Bafatá e Bissau, geridos por congregações religiosas e sob a coordenação da Cáritas da GB. A Caritas GB representa a rede de CRN junto das autoridades locais, nomeadamente junto do Ministério da Saúde, com o qual foi assinado um protocolo de colaboração em 2011. Dada a reconhecida dificuldade de acesso da população da GB a cuidados de saúde, quer por motivos geográficos (distância e dificuldades de transporte), quer por motivos económicos (incapacidade de pagar as deslocações e os cuidados), quer por debilidade dos serviços públicos de saúde (escassez de recursos humanos qualificados e de equipamentos e diminuta capacidade financeira), as populações recorrem aos CRN na expectativa de acederem a cuidados que muitas vezes vão para além dos que aqueles podem prestar (por falta de recursos ou capacidade). Neste contexto, a existência destes Centros constitui um importante recurso face às condições de vida da população que importa valorizar. No sentido de melhorar a capacidade de resposta dos CRN (meios humanos e materiais, assim como diversidade e qualidade dos cuidados prestados) as Dioceses de Bafatá e Bissau, a Caritas da GB e a FEC estão a desenvolver em parceria o Projeto + Criança. Numa primeira fase pretende-se reforçar a resposta dos CRN às necessidades das populações em particular as mais vulneráveis. A médio prazo o projeto prevê a criação de um Observatório Nacional dos Direitos da Crianças com base na rede do CRN, uma vez que estes atuam como linha da frente na sinalização de crianças em risco, sendo estas posteriormente encaminhadas para estruturas especializadas, como a Casa Bambaram (Casa de acolhimento para crianças da Diocese de Bafatá).
Campanha da Quaresma: Projeto + Criança
No ano dos seus 25 anos a FEC quer celebrar a data reforçando os laços da Igreja Católica em Portugal com as Igrejas irmãs nos países Lusófonos, em concreto com a Igreja Católica na Guiné-Bissau e as suas comunidades. Somos uma Igreja Missionária e, por isso, a FEC marca as celebrações do seu 25º aniversário com uma ação concreta que une algumas dioceses de Portugal à Igreja Católica na Guiné Bissau, traduzida na Campanha de Quaresma, com o apoio das dioceses portuguesas que aderiram à iniciativa. Propôs-se às Dioceses de Portugal que a renúncia Quaresmal de 2015 reverta a favor do Projeto + Criança (projeto que visa potenciar o trabalho dos CRN da Igreja Católica no âmbito da vigilância à situação da criança, vigilância nutricional e de saúde, acesso a registo, educação parental, sistema de referenciação e encaminhamento de situações de risco), melhorando as infraestruturas e equipamentos dos Centros de Recuperação Nutricional da Igreja Católica na Guiné Bissau, em especial dos que apresentam mais necessidades.
Com esta campanha irão ser apoiadas diretamente 60.000 crianças, 10.000 famílias, 320 comunidades e serão formados 75 colaboradores e diretores dos CRN.
FEC, in Voz de Lamego, n.º 4302, ano 85/15, de 24 de fevereiro de 2015
VISITA PASTORAL de D. ANTÓNIO COUTO a Bigorne e a Pretarouca
Sua Exa Revmª, D. António Couto, Bispo da diocese de Lamego, deu início, nos dias 21 e 22 de fevereiro, à Visita Pastoral pelas 24 paróquias do arciprestado de Lamego, tendo escolhido iniciar a visitação pelas paróquias mais distantes do centro Urbano, Bigorne e Pretarouca.
No sábado, dia 21, pelas 10 horas, D. António Couto, acompanhado pelo pároco, padre Hermínio Lopes, chegaram à aldeia das Dornas para um contacto com os poucos habitantes desta comunidade.
Seguiu-se Pretarouca com a receção de boas vindas, seguida de uma pequena reflexão e oração no interior da igreja paroquial, bela, palavra sua.
Nesta aldeia visitou ainda as obras em curso na casa paroquial e a casa do povo, onde um pequeno lanche foi servido.
De seguida deslocaram-se para Bigorne, onde terminaria a visita deste primeiro dia.
No domingo, pelas 11 horas, D. António celebrou e presidiu à missa solene do 1º dia da Quaresma, na Igreja paroquial de S. Nicolau, Pretarouca.
Esta eucaristia foi concelebrada pelo Rev. padre Hermínio e liturgicamente animada pelo grupo coral da paróquia.
Perante uma assembleia participativa, feliz e emocionada, D. António, a partir da mensagem do papa Francisco para a Quaresma, sublinhou a importância do estar atento ao outro, do olhar o outro com o olhar com que Deus nos olha, do cuidar uns dos outros, combatendo o mar de indiferença de que o mundo atual tanto sofre.
No final da eucaristia, num gesto de gratidão, duas crianças entregaram a D. António, um ramo de flores e uma pasta com o cântico de entrada, adaptado para este dia de festa.
Foi uma visita muito especial, particular, participada e emotiva que culminou com um almoço de confraternização entre os paroquianos das duas paróquias visitadas, num agradável ambiente familiar, brindados com a presença do senhor Bispo, do pároco, senhor padre Hermínio e ainda do senhor presidente da junta da União de Freguesias de Bigorne, Magueija e Pretarouca, Gilberto Silva.
Adélia Bastos e Fátima Pedrinho
SAUDAÇÃO DO PÁROCO
Ex.mo e Revmo. Sr. D. António José da Rocha Couto, Digmo. Bispo da nossa Diocese de Lamego, nosso Pastor, seja muito bem vindo a Bigorne e a Pretarouca.
Creia, Senhor Bispo, que está o Pároco e, estão todos os paroquianos muito felizes pela presença e missão do Bispo diocesano entre nós.
Hoje, neste primeiro Domingo da Quaresma em que a liturgia nos garante que Deus está interessado em destruir o velho mundo do egoísmo e do pecado e oferecer aos homens um mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim, estamos em Festa.
Queremos com o Sr. Bispo construir a Família de Deus, sem contendas nem divisões. Hoje a nossa alma, engrandece e louva ao Senhor porque temos a Família fisicamente completa. E isso enche-nos de uma profunda felicidade e de uma alegre gratidão a Deus e ao Sr. D. António, por nos vir visitar.
Acolhemos com muita alegria aquele que vem em nome do Senhor. Senhor Bispo, dê-nos a sua Bênção de Pai e Pastor para alcançarmos uma Fé viva, uma Esperança firme e uma Caridade mais diligente.
Com muito carinho e amizade, agradecemos a visita, e prometemos filial obediência. Havemos de aprofundar sempre mais e melhor a unidade e comunhão com o nosso Bispo.
Pedimos ao Senhor, por intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe e dos Milagres e dos nossos Padroeiros S. Sebastião e S. Nicolau de Bari esta graça da unidade e lealdade na comunhão da fé e da caridade.
in Voz de Lamego, n.º 4302, ano 85/15, de 24 de fevereiro de 2015
QUERER OU SER NOTÍCIA | Editorial Voz de Lamego | 24 de fevereiro
Edição de 24 de fevereiro, a Voz de Lamego presenteia-nos com grande diversidade de notícias, textos, reflexões. A primeira página destaca a Visita Pastoral de D. António Couto a duas das mais pequenas comunidades do Arciprestado de Lamego (e da própria Diocese), Pretarouca e Bigorne, cuja notícia é aprofundada no interior. Saliente-se a primeira CONFERÊNCIA QUARESMAL de D. António, na Sé Catedral, convidando já para a próxima, no Domingo, 1 de março, pelas 17h00. Na primeira página, a evocação do 94.º Aniversário de Monsenhor Germano, no passado dia 20 de fevereiro, e que contou com a presença do nosso Bispo, D. Amtónio, e do Bispo Emérito, D. Jacinto, no Seminário Maior de Lamego para lhe cantarem os parabéns, felicitando-o neste dia.
O Editorial fala-nos do bem silencioso e do barulho que o mal acentua.
QUERER OU SER NOTÍCIA
A afirmação “o bem não faz barulho e o barulho não faz bem” facilmente se confirma diante das notícias que chegam ou se experimenta quando se vive perto da agitação e do ruído. Em relação aos factos divulgados, desde cedo nos habituámos a olhar para a notícia como o relato de algo insólito, não comum, isto é, a mordedura só se torna conhecida se for protagonizada pelo homem e não pelo cão!
A toda a hora, em todo o mundo, há homens e mulheres que fazem o bem e elevam a humanidade. Às vezes são notícia e recebem prémios. Mas a grande maioria será sempre jornalisticamente anónima, porque faz o que é expectável e bom, para si e para os outros.
Ao mesmo tempo, no mesmo mundo, há também aqueles que, protagonizando factos que não são expectáveis, se tornam conhecidos e são notícia pelo mal que fazem. E, pior ainda, diante do ritmo noticioso, do aparecimento de novos incidentes e protagonistas ou do aparente esquecimento, parece que persistem no mal para serem notícia.
Vem isto a propósito da violência e do extermínio protagonizados pelos terroristas do autoproclamado “estado islâmico”. O registo e divulgação dos assassinatos cometidos quererão amedrontar possíveis adversários, motivar fugas ou sujeitar quem os observa. Mas tamanho cuidado e empenho em encenar e divulgar o mal feito, bem como a introdução de formas diferentes de matar, traduzem uma vontade de querer ser notícia, ser conhecido e marcar a atualidade.
No mês passado, o mundo assinalou os 70 anos do encerramento de um, tristemente famoso, campo de extermínio para judeus. Nos nossos dias, em diversos pontos do globo, há cristãos que continuam a ser exterminados, vítimas de indivíduos que fazem o mal, também, para serem notícia.
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, n.º 4302, ano 85/15, de 24de fevereiro de 2015
Conferência Quaresmal de D. António Couto, na Sé Catedral
ATENÇÃO PARA ESCUTAR DEUS E CONHECER OS IRMÃOS
Cumprindo o programado no Plano Pastoral Diocesano, D. António Couto esteve na Sé para dirigir aos fiéis diocesanos a sua primeira conferência quaresmal, que também poderia chamar-se catequese quaresmal, no sentido de que alguém nos fala de Deus e nos ensina o caminho para chegar até Ele e aos irmãos.
Após uma breve introdução e saudação feitas pelo pároco da Sé, Cón. José Manuel Ferreira, a assembleia entoou um cântico e preparou-se para escutar o Pastor da diocese, recém-chegado da visita pastoral às paróquias de S. Sebastião de Bigorne e de S. Nicolau de Pretarouca, no arciprestado de Lamego.
Da banalidade insensível à beleza divina
A conferência, primeira das cinco programadas, incidiu sobre a necessária atenção para escutar Deus e conhecer os irmãos. Porque sem a atenção devida, Deus e os seus desígnios e convites podem permanecer desconhecidos, assim como a vida do outro, com as suas circunstâncias, pode permanece estranha. E será essa atenção que permitirá, no dizer do conferencista, “passar da banalidade insensível e da indiferença para a beleza divina no rosto de quem vem até nós”. Decorrente da atenção a Deus estará sempre a atenção ao outro, a quem somos convidados a mostrar o caminho, avisando dos perigos e incentivando nas dificuldades, para que a “porta do sentido da vida” não permaneça fechada e se mantenha aberta a porta do amor.
Um esforço que não se esgota num momento, mas que deve ser contínuo e marcar “viagem da nossa vida”, (duração expressa no número quarenta), uma viagem intransitiva nem sempre livre da rigidez que só perturba e que, nas palavras do Papa, contribui para a “globalização da indiferença”. Eis um dos objetivos da Quaresma, “desinstalar vícios e instalar a verdade, o amor e a justiça” que dignifiquem quem os vive e deles beneficia.
Mas a atenção ao outro não se esgota diante do que se diz, mostra ou pede, mas concretiza-se também quando se esforça para intuir e perceber as perguntas e os pedidos que o mesmo não ousa formular. Sem atenção e tempo, tudo pode ficar escondido e a mudança e o auxílio podem não surgir oportunamente.
Esta atenção, devida e vivida perante Deus e o outro, contribui para que a nossa presença no grupo ou na comunidade eclesial seja proveitosa, muito diferente de uma presença para “passar o tempo”, aumentando significativamente a nossa “responsabilidade da prática religiosa”.
Atravessar para convidar
A propósito da visita pastoral às 24 paróquias do arciprestado que está a decorrer, D. António lembrou a missão do profeta Jonas, enviado aos ninivitas para os convidar à conversão. Uma missão cumprida em três dias e com resultados práticos em quarenta. Jonas, cujo nome se pode traduzir por “pomba” é enviado a uma cidade estrangeira para anunciar a novidade de uma vida que desponta quando se estabelece a necessária sintonia e responsabilidade para com Deus e para com os outros.
A visita pastoral às duas paróquias da cidade, Santa Maria de Almacave e Nossa Senhora da Assunção da Sé, levará quinze dias, mais do que os gastos em Nínive, mas com o mesmo desejo: convidar os paroquianos e demais residentes a descobrirem a novidade que Deus a todos oferece. Uma vida nova que se apresenta bela, mas frágil, tal como frágil era a arca que protegeu Noé do dilúvio e Moisés do afogamento no Nilo.
A nossa vida é como um ramo novo, frágil e tenro, de onde é preciso retirar as “folhas amarelecidas”, a tal indiferença que, no dizer do Papa Francisco, está hoje globalizada.
Convite à participação
Referir a profundidade com que habitualmente D. António Couto trata cada tema, bem como a arte poética e musical com que dispõe as palavras, escritas ou ditas, é já um refrão conhecido. Respeitando a vontade do autor, certamente que também estas conferências poderão vir a ser publicadas ou largamente divulgadas, para proveito de todos e única forma de a todos dar a conhecer a singularidade do que na Sé se ouviu no domingo passado, às 17h00.
No próximo domingo terá lugar a segunda conferência, no mesmo horário e local. Fica o convite pelo muito que se pode aprender e crescer em Igreja.
Joaquim Dionísio, a publicar na Voz de Lamego, n.º 4302, ano 85/15, de 24de fevereiro de 2015
PASTORAL VOCACIONAL: entrar e sair sem compromisso
Muitos são os textos que tentam caracterizar a nossa sociedade, analisando e descrevendo a atualidade, ao mesmo tempo que fornecem pistas para nos ajudar a perceber como chegámos aqui. Mas, no fim de contas, a nossa época não é melhor ou pior que outras; há características que a singularizam e marcam a geração que lhe dá corpo. Aqui ficam algumas notas repescadas no que se vai vendo e lendo, possível ajuda para ler a realidade e comunicar com os nossos contemporâneos.
Apesar dos grandes avanços e das inúmeras possibilidades, afinal o progresso não é infinito e as ideologias têm pés de barro. Diante de semelhante constatação, o pessimismo pode instalar-se, desalojando perspectivas de futuro. A isso se soma a grave crise económica que a todos afeta e deixa marcas. Por isso, alguém chamou ao nosso tempo a “época das paixões tristes”. Contudo, talvez a presente crise permita enfrentar a irracionalidade do consumismo e a colocar mais razão na tarefa educativa.
Marcados por um quotidiano precário, facilmente se observa o crescimento de uma “geração incrédula” e onde a “visão vocacional da vida” se dilui numa imediatez que é dominada pelo episódico e com carácter provisório. Fazemos parte de uma geração que tem medo de ficar de fora, de não saber as coisas, de não estar atualizada e, por isso, aumenta a dependência da internet, da violência e da falta de respeito pela privacidade.
As relações humanas também são marcadas por uma “visão utilitarista do leasing”, em objecto de uso enquanto serve para mudar logo que possível. O que leva a uma crise das relações baseadas na reciprocidade e no dom de si. Observa-se muita emoção, mas sem interação, passando-se facilmente da proibição à tolerância permissiva, enfrentando com dificuldade o quotidiano e caindo numa fácil tendência para escolher atalhos evasivos do “tudo e rápido” marcado por um narcisismo e dependência.
O individualismo observável, subjectivo e consumista, não permite ou favorece a descoberta dos outros e do Outro. A família deixou de ser uma realidade que exige posturas éticas e impõe comportamentos, passando a ser alguém que escuta e consente, não transmitindo ou ousando valores, ficando bloqueada diante de filhos belos, mas frágeis. Uma infância “passada entre algodões”, hiperestimulada, com poucos reflexos com o Outro, sem guia nem regra, faz aparecer nos mais novos um “sentido de omnipotência”.
Há uma falta de definição pessoal que se visualiza no sentir ético da consciência, onde se vive uma espécie de ecletismo hedonista, sem ideais absolutos. Numa linguagem informática, corre-se o risco de encarar a vida como realidade onde se pode entrar e sair sem compromisso.
Comissão Diocesana Vocações e Ministérios,
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4301, ano 85/14, de 17 de fevereiro de 2015
Educar na sobriedade e na temperança
«Não é nada lógico dar aos meus filhos tudo aquilo que eles me pedem. Se o fizesse, converter-me-ia num “pai fixe”, mas esta expressão parece-me sinónima de “pai cúmplice”. Estaria a ser conivente com a sua falta de sobriedade. Penso que nós, pais, necessitamos da virtude da fortaleza para não transigirmos com os caprichos dos nossos filhos».
Sábias palavras pronunciadas por um pai de uma família numerosa. Nos dias de hoje, é necessária valentia da parte dos pais para proporem aos seus filhos um estilo de vida sóbrio e temperado. Um estilo de vida que não está nada na moda!
Primeiro, devem fazê-lo com o próprio exemplo. Já diz o famoso ditado: “quem não vive o que ensina, não ensina nada!”. Além disso, somente se os pais são sóbrios é que percebem que a sobriedade é um bem de enorme valor para os seus filhos.
Depois, é necessário dar aos filhos razões válidas pelas quais vale a pena viver um estilo de vida assim. Sendo conscientes de que as mensagens que os filhos recebem todos os dias na publicidade, nos meios de comunicação, dos colegas da escola vão, habitualmente, em sentido contrário: quanto mais consumires, mais feliz serás!
Raciocinar com os filhos com paciência. Que cada filho compreenda que é amado pelo que é, não por aquilo que tem ou pela sua “imagem”. Criar uma atmosfera familiar na qual se note que o verdadeiramente importante são as pessoas e não as coisas.
Um ponto de capital importância neste esforço educativo é estimular a generosidade dos filhos com os mais necessitados. Fazê-los compreender que, geralmente, somente uma pessoa que é sóbria e temperada, consegue ter sensibilidade para as necessidades dos outros e fortaleza para os ajudar com generosidade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4301, ano 85/14, de 17 de fevereiro de 2015
Ano de Vida Consagrada | Lamego | Dominicanas
Mosteiro de Nossa Senhora da Eucaristia
Monjas Dominicanas de Clausura
Na sua origem, as religiosas Dominicanas Contemplativas vivem segundo o carisma do próprio S. Domingos de Gusmão, Fundador da Ordem dos Pregadores, que fundou o primeiro convento em Prouille (França) que foi inaugurado no mês de dezembro, decorria então o ano de 1206. As Monjas da Ordem de Pregadores, nasceram nesse ano, quando São Domingos associou à sua “santa pregação” pela oração e penitência, mulheres convertidas à fé católica, reunidas no Mosteiro de Santa Maria de Prouille e consagradas somente a Deus. Pela sua maneira de viver a perfeita caridade para com Deus e para com o próximo, a monja Dominicana é chamada colaborar na salvação de todos os homens, seus irmãos. Chamadas por Deus, a exemplo de Maria, irmã de Lázaro, as monjas permanecem aos pés de Jesus, escutando as suas palavras. Esquecendo-se do que deixaram para atrás, entregam-se radicalmente ao que abraçam mediante a profissão dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, consagrando-se a Deus por votos públicos. Com pureza e humildade de coração, com fervorosa e assídua contemplação, amam a Cristo que está no seio do Pai.
A sua presença em Portugal, da qual o Mosteiro de Nossa Senhora da Eucaristia em Lamego é herdeiro, foi restaurada em 30 de Abril de 1932 com a chegada a Leixões (Porto) do navio onde viajaram desde Bordeus (França) quatro religiosas dominicanas de clausura vindas do convento de Prouille e que com a ajuda de algumas almas beneméritas se instalaram então em Vila do Conde onde foi celebrada a primeira Missa conventual no dia 7 de Maio de 1932. Após várias tentativas e numa constante busca por um local mais adequado à vida em clausura ficaram instaladas na casa de Santa Ana em Azurara onde em 29 de Setembro de 1934 estabeleceram a Clausura papal, própria dos conventos femininos contemplativos. Nesse dia, houve a tomada de hábito das primeiras três noviças e os votos perpétuos de uma das Irmãs. Puderam também aí iniciar a Adoração Eucarística Perpétua pois haviam dado ao Mosteiro o título de Mosteiro de Nossa Senhora da Eucaristia. Em 24 de Dezembro de 1952 e depois de por muito terem passado devido ao clima extremamente húmido de Azurara, instalaram-se na Quinta dos Cisnes em Azevedo-Campanhã, nos arredores do Porto, onde iniciaram algumas das tarefas que ainda hoje executam, tais como a feitura de hóstias. Do Porto vieram para a Cidade de Lamego, a partir de 1996, sendo para isso convidadas pelo Monsenhor Ilídio Fernandes e o Dr. Fausto Montenegro que foram os grandes impulsionadores da sua presença na Diocese de Lamego, com a aprovação eclesiástica do Sr. D. António Castro Monteiro que à data era o Bispo da Diocese. Durante todos estes anos de existência em Lamego, este Mosteiro de Nossa Senhora da Eucaristia tem sido o pulmão espiritual da Cidade e Diocese de Lamego.
Situado no cume do Monte de Santo Estevão, no cimo do Parque dos Remédios, este Mosteiro encontra-se “aberto” á hospitalidade de cada um dos amigos que o visita. Dele podemos sempre trazer uma palavra amiga e o bom conselho das Irmãs. Todas elas se encontram de idade avançada, mas de espirito sempre jovem, deixam sempre palavras de esperança e de carinho para cada um que as visita. Todos os dias é celebrada às 8:300, na sua capela, a Eucaristia onde participam muitos cristãos da cidade. A visita às Irmãs é possível das 10:00 ás 12:00 e das 14:00 ás 18:00. O grande dia de festa da Comunidade Conventual é o dia 8 Agosto, dia do Pai S. Domingos. É celebrada missa solene, normalmente presidida por Sua Exa. Rev.ma. o Sr. Bispo de Lamego,à qual se segue um pequeno convívio com as monjas no claustro do mosteiro. Ler mais…
CONFERÊNCIAS QUARESMAIS | CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS
Sé Catedral de Lamego – aos Domingos – 17h00
22 de fevereiro | 1, 8, 15 e 22 de março | 2015
Nos primeiros cinco domingos da Quaresma (22 de fevereiro, 01, 08, 15 e 22 de março), o nosso bispo, D. António Couto, proferirá outras tantas conferências, na Sé, às 17h. O nome “catedral”, atribuído à igreja-mãe da diocese, deve-se ao facto do Pastor diocesano ali ter a sua “cadeira”, o seu espaço de anúncio e ensinamento. Assim, os referidos encontros, para os quais todos somos convidados, serão uma oportunidade para o bispo se dirigir à porção do Povo de Deus que lhe está confiada. Ao longo das próximas semanas, o nosso jornal procurará fazer eco da mensagem proclamada, apesar de poderem vir a existir outras formas de divulgação para os temas a tratar.
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4301, ano 85/14, de 17 de fevereiro de 2015
PALAVRAS QUE SÃO MARCOS – Novo Livro de D. António Couto
- Há livros que marcam. Há livros que são marcos.
Este livro sobre São Marcos está destinado a ser marcante.
- Nele, o Autor oferece não apenas uma hermenêutica científica, mas também uma luminosa hermenêutica existencial.
Num registo a que há muito nos habituou, D. António Couto surge de novo como um generoso fornecedor de significações e um atento perscrutador do eco do Sentido.
- O aprumo da técnica interpretativa não dispensa sequer alguma imagética e faz ressoar até uma certa poética.
No conjunto, tudo entronca fecundamente na missão de teólogo e no serviço de pastor.
- Nas árduas estradas do tempo, o povo de Deus tem fome, o povo de Deus está faminto.
O povo de Deus precisa de quem lhe dê pão (também) em forma de palavra.
- Esta obra documenta que a Palavra que ensina também alimenta.
Grande mérito de D. António Couto é o de não se limitar a falar da Palavra; ele faz falar a Palavra.
- Com ele, os textos adquirem vida e ganham voz.
Daí, por exemplo, a insistência no dizer Jesus, nos dizeres de Jesus e nos dizeres sobre Jesus.
- São dizeres maiúsculos — e em maiúscula aparecem muitas vezes — que não podem ser correspondidos por uma vivência minúscula.
Basta reparar no nome «Evangelho». Na sua origem, não evoca a imagem de um livro, mas, muito mais, «a imagem do mensageiro que corre para transmitir uma notícia».
- O Evangelho está escrito em livro para ser, permanentemente, inscrito na Vida.
Esta, a Vida, tem de procurar ser tão maiúscula como o Evangelho que lhe é proposto.
- É nos caminhos da Vida que Jesus nos interpela como outrora interpelou os discípulos no caminho de Cesareia (cf. Mc 8, 27).
O caminho é o lugar do encontro, do convite e do seguimento.
- Eis, em síntese, um belo guião para entrar, com saudável afã, no «Evangelho de Jesus Cristo», oferecido por São Marcos (cf. Mc 1, 1). Mais um excelente trabalho, a juntar a tantos outros e a prenunciar seguramente outros tantos.
Quem sabe se, um dia como corolário, o Autor não nos surpreenderá com uma espécie de «Summa Biblica»?
Pe. João António, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4301, ano 85/14, de 17 de fevereiro de 2015