Arquivo

Archive for Abril, 2020

Editorial da Voz de Lamego: lado a lado… na indiferença

Há mais vida além da pandemia do covid-19! Não há de ser o novo coronavírus a acabar com a humanidade; o que, em definitivo, acabará connosco será a indiferença, o egoísmo, a sobranceria, que se materializa na inveja, no desejo imoderado da posse, nos tiques ditatoriais de quem se sente e se situa acima dos demais!

Nada será como antes! Estamos todos de acordo. Mas será que os tempos que se avizinham serão melhores? As pessoas, finalmente, concluirão que estão no mesmo barco e que precisam e dependem umas das outras?

Têm surgido interpelações, iniciativas, reflexões, apelos à generosidade solidária e, antecipando o futuro, apontando prioridades, caminhos, possibilidades e urgências. Há, em alguns, um otimismo louvável, expresso e vivido como estímulo, como desejo, um caminho a seguir, como provocação para que os tempos de esforço, de sacrifício, de confinamento social, de tantos gestos de abnegação, na procura de soluções, na ajuda aos mais vulneráveis, na luta para confinar o vírus e proteger a vida das pessoas, cuidando para que ninguém seja esquecido, para que ninguém fique para trás, que se preste ajuda a quem precisa, presencial ou digitalmente, não sejam apenas um momento, mas como postura permanente na pós-pandemia.

Tantos são aqueles e aquelas que verdadeiramente deram e estão a dar a vida para salvar, para curar, para sarar os outros. Tantos, em tantas áreas, que não se furtam aos maiores esforços. Além dos que estão na linha da frente, na saúde, na segurança e na ordem, na alimentação, muitos outros estão disponíveis para ajudar, indo, ou, a partir de casa, aderindo a campanhas e iniciativas e deixam palavras de ânimo de incentivo, em diretos, diálogos e conversas, em concertos musicais, em declamação de poemas, em momentos de oração. E se o pão é necessário para sobreviver, a palavra e o ânimo serão fundamentais para viver. Pois só procuraremos o pão e o partilharemos se a nossa vida fizer sentido, se houver esperança, se soubermos que não estamos sós.

Como cristãos, cabe-nos, como antes, também agora, também depois, em todo o tempo, fazermos o melhor, o que está ao nosso alcance, mesmo que seja ficar em casa…

Nada será como dantes! Positiva e negativamente. Cada tempo é único. Há propósitos curiosos, parece que tudo vai ser diferente, e será, inevitavelmente, diferente, pois os tempos não se repetem! Um tempo novo, teremos que olhar mais para os outros, para as suas necessidades e sofrimentos, temos de fazer melhor, ser mais solidários, pensarmos nos mais frágeis, nos mais desfavorecidos… Mas quando passar a tormenta… há quem se tenha “habituado” ao bem e haverá quem volte ao que era antes.

Decisões tomadas em momentos críticos, dramáticos, sobre pressão, são decisões voláteis, que terminarão como começaram, com a mesma rapidez. Claro que nem tudo é branco ou preto, mas as opções fundamentais nascem da “conversão”, que as circunstâncias atuais podem facilitar, brotam de convicções, não se baseiam na pressão momentânea, mas na vontade firme de seguir um caminho, uma direção, contando com as circunstâncias de cada tempo. Em todo o caso, como se diz das grandes “concentrações de fé”, para alguns, podem haver o clique que faltava… afinal, já numa perspetiva mais religiosa, o Espírito de Deus sopra onde quer… 

Como cristãos, cabe-nos, como antes, também agora, também depois, em todo o tempo, fazermos o melhor, o que está ao nosso alcance, mesmo que seja ficar em casa… haverá tempo para seguir o desafio do Papa e nos levantarmos do sofá!

Pe. Manuel Gonçalves,

in Voz de Lamego, ano 90/22, n.º 4557, 28 de abril de 2020

A minha Páscoa – testemunho de uma jovem de 17 anos

Hoje, dia 12 de abril, foi a Páscoa do Senhor. Mesmo fechada em casa durante um mês inteiro, é impossível não sentir o calor da Ressurreição de Jesus Cristo. Apesar de todas as advertências que enfrentamos, as redes sociais inundaram-se de memórias de anos anteriores, celebrações eucarísticas transmitidas via Rádio e TV e centenas de felicitações referentes ao dia de hoje.

Como sacristã da paróquia onde estou inserida, e já com quase 13 anos a servir ao altar, não me consigo recordar de uma Páscoa tão infeliz. Esta, que é a época mais importante para os católicos cristãos, tornou-se em algo vulgar: não houve Quinta-feira Santa, muito menos Sexta-feira Santa. Não andei enfiada naquela típica azáfama, que eu sempre adorei, nos preparativos reconfortantes e nas horas de reflexão.

Antes de qualquer celebração, não tocava os sinos, mas sim as matracas. Andava pelas ruas da minha terra a ensurdecer o povo até criar calos nas mãos. Depois, sentava-me no segundo banco da igreja a rezar, a pedir concentração e fé. Assim que concluía o momento de oração pessoal, meia hora antes, preparava tudo o que era necessário para as eucaristias até ao mais ínfimo detalhe. Nada me escapava, e se escapava, não me perdoava. Estava determinada em tornar cada minuto dentro daquela igreja no mais profundo possível. O aroma do incenso, das velas a arder. A luz dos corações que ansiavam por misericórdia. Era a minha função, a minha missão.

Este ano, nada disso foi possível… à exceção de um momento: o toque dos sinos no Domingo de Aleluia. O toque dos sinos do campanário da igreja, que anunciam a todos que Ele vive! Nunca me senti tão privilegiada: poder dar a notícia a todos, através do meu toque, sem ter que dizer uma única palavra. A honra de saber entoar os sinos transbordava.

Lá no topo, vi todas as pessoas que moram nas redondezas da igreja a abrir as janelas, umas sorriam, outras choravam, outras rezavam. Mas estavam ali, a ver a única manifestação Pascal presencial que foi possível.

Dos sinos, olhei para a Torre do Relógio, mesmo em frente do meu olhar: a cruz que lá fora colocada, já não envergava um pano roxo, mas sim branco. Era mesmo verdade: Ele ressuscitara. Já não subia lá há meses, mas depois de sair da igreja, eu tinha que ir. Queria ver aquela cruz de perto. Queria tocar-lhe.

Depois de um mês fechada em casa, descer as escadas do campanário foram como facadas no meu peito: parar no topo da escadaria e contemplar o altar, tão vazio, mas tão cheio de Cristo. Sabia que ali encontraria, durante os 5 dias (de quinta a segunda-feira) o que necessitava para um ano pleno, e que recolheria ali as minhas forças, as minhas sandálias para a caminhada. Ao aproximar-me do Sacrário, a ficha caía cada vez mais rápido. “Meu Deus, porque me abandonaste?”. E as lágrimas escorriam pelo meu rosto, sem pedir autorização. Cada celebração era ressuscitada ao fitar cada uma das chagas de Cristo. Fitei aquela cruz de cima abaixo. E vi naquela igreja vazia cada rosto que possivelmente ali estaria, a observar atentamente cada pormenor de cada momento, a percorrer aquela “Via Crucis” em família. E imaginei como seria ter que sair a correr da igreja depois da missa de Domingo de Aleluia para almoçar à pressa e regressar o mais rápido possível, ser a primeira a regressar! E imaginei como seria a oração inicial, antes de partirmos para a Visita Pascal, e de igual modo depois da chegada. E ali, eu senti saudades. E de igual modo, Cristo.

Jeni Fidalgo, in Voz de Lamego, ano 90/21, n.º 4556, 21 de abril de 2020

Entrevista da Andreia Gonçalves ao fotógrafo Paulo Chaves

De Tarouca ao National Geographic

Um fotógrafo tem sempre uma maneira diferente de ver o mundo. Muitas vezes essa sensibilidade é trazida desde a infância ou de alguém que nos leva a descobrir essa paixão. Paulo Chaves vive em Tarouca, mas espalha o seu talento pelo mundo.

Paulo, quando foi a primeira vez, de que se lembre, ter fotografado algo ou alguém?

Descobri a fotografia já no secundário quando tive a disciplina de Jornalismo, onde o meu grande amigo Padre Matias, com o seu grande poder de comunicação e discurso cativante, me mostrou o mundo da comunicação e em especial a fotografia. Indicou-me o caminho para olhar o mundo com outros olhos, tentar captar a essência das coisas que nos rodeiam, muitas delas nem nos apercebemos da sua existência se não pararmos para as admirar e registar através da lente.

Passar momentos na câmara escura a revelar o que fotografamos é simplesmente uma escola para a vida. Agora é tudo mais fácil, nesta era digital, mas para mim a verdadeira escola da fotografia ainda é o rolo fotográfico, obriga a pensar a fotografia e ponderar todos os parâmetros técnicos e no fundo tentar criar algo que fique na memória.

Por essa grande influência que o Padre Matias teve nessa minha descoberta e pela grande amizade que nos une, no lançamento do meu primeiro livro fotográfico só podia o convidar a ele para fazer uma apresentação do livro.

Voltando à pergunta, se me lembro da primeira vez que fotografei algo ou alguém, sinceramente não me lembro, talvez porque não terá saído nada de jeito (risos) ou porque o que fotografei não teria grande interesse, agora o que me lembro bem foi de fazer as fotografias do primeiro jornal que foi publicado na Escola Secundária de Tarouca, no âmbito da disciplina de Jornalismo, essas sim lembro-me e claro guardo ainda um exemplar desse jornal.

Qual foi a viagem que mais o marcou?

A viagem que mais me marcou foi sem dúvida a primeira viagem que fiz à Suíça, onde os meus pais trabalhavam. Um grupo de pais juntaram-se e organizaram uma viagem de férias para os seus filhos na Suíça onde eles trabalhavam, foi sem dúvida uma viagem inesquecível, primeiro por estar com os meus pais, que só via de 9 em 9 meses, conhecer onde eles trabalhavam e claro descobrir as belezas daquele lugar, ainda hoje estou com vontade de repetir essa viagem, quem sabe um dia.

Se não estivesse ligado à fotografia talvez…

Senão estivesse ligado à fotografia talvez… a perceção da vida fosse muito diferente. Depois dessa fase na escola que me “apresentou” à fotografia ela ficou durante muitos e longos anos adormecida, claro que ia fotografando, mas nada de muito intenso. A minha atividade na música como técnico de som não deixava grande tempo para fotografias, exceto registar os momentos ao vivo das bandas onde trabalhava, mas pouco mais que isso e claro as normais fotos de família.

Foram cerca de 15 anos a percorrer os caminhos de Portugal em que a máquina muitas vezes me acompanhava, mas sem tempo para parar e fazer aquele clique de algum lugar bonito, a paragem só mesmo em frente ao palco e aí fazia o gosto ao dedo.

Em 2013 deixei de ser técnico de som (se é que alguma vez se deixa de ser), o bichinho continua cá e de vez em quando faço alguns trabalhos mas não com a intensidade do passado, e isso abriu definitivamente as portas para abraçar a fotografia, claro que na altura era só um passatempo, de certa maneira para fazer esquecer as saudades das correrias do verão a andar terra em terra a animar as festas, mas esse passatempo ficou com o passar do tempo cada vez mais sério e sem dúvida que fez mudar a minha vida.

Como se sente num mundo cada vez mais de aparências? Onde ganha força o fotógrafo e a fotografia?

Infelizmente cada vez mais o mundo é feito de aparências, onde o real e o irreal se misturam muitas vezes, chegando ao ponto de não se conseguirem distinguir. Eu tento sempre mostrar a realidade das coisas, seja numa fotografia de paisagem, monumento ou numa sessão fotográfica (se as rugas estão lá é porque fazem parte da vida, da história dessa pessoa). É claro que eu por opção prefiro mostrar o que de belo tem o mundo, principalmente as belezas do nosso país, mas também conheço muitas coisas que nada têm de belo, essas prefiro não fotografar, talvez também eu ajude um pouco neste mundo de aparências.

O nosso olhar das coisas é refletido a maior parte das vezes pelas nossas vivências, podemos não nos dar conta disso no primeiro momento, mas a nossa escolha de como retratar determinado assunto está intimamente ligado às nossas experiências e como vemos o mundo que nos rodeia e claro que eu não fujo à regra.

Neste mundo, invadido pelas novas tecnologias, qualquer pessoa pode fazer fotografias, mas existe uma grande diferença entre fotografia e imagem, ou seja, qualquer um pode fazer fotografia, seja com uma máquina fotográfica ou um smartphone, eu também faço muitas fotografias, mas fazer imagens é outra coisa, fazer algo que desperte os sentimentos às pessoas e não só aquela que fez determinada foto e a quem foi retratado, fazer uma imagem que perdure no tempo, resumindo, fazer arte, esse é o grande objetivo de um fotógrafo. Como já alguém disse, “se na minha vida fizer 3 ou 4 grandes imagens sou um fotógrafo realizado”, e é mesmo isso, tentar atingir a perfeição a todos os níveis. Pode perguntar-me se já fiz alguma dessas fotos, acho que já fiz uma, mas daqui a uns anos posso achar que afinal ainda não a fiz.

Essa é a força do fotógrafo, procurar o clique perfeito, mesmo nas coisas mais imperfeitas da vida que nos rodeia e através dessas imagens enviar uma mensagem que pode ter tanto significado hoje como daqui a 100 anos.

Findo a resposta a essa pergunta com o pensamento que sempre me guia no dia-a-dia de fotógrafo, “a minha melhor foto será a que fizer amanhã”.

Como fotógrafo os prémios atraem ou são apenas mais uma motivação para continuar a trabalhar com paixão?

Considero que os prémios são sempre uma motivação, dão força para continuar no caminho que escolhi, mas não são, nem de longe, o mais importante para continuar a fazer o que faço.

Publico uma ínfima parte do que faço nas redes sociais, Facebook e Instagram e, não raras vezes, no meio de centenas de comentários há alguns que me chamam especialmente à atenção, quando pessoas escrevem, por exemplo, que uma foto ou vídeo que publiquei lhes provocou lágrimas de alegria por voltar a ver aquele lugar onde foi feliz na sua infância, na igreja onde se casaram há 50 anos, ou quantos brasileiros, com raízes portuguesas, me agradecem por ter publicado uma foto da terra de seus avós que nunca visitaram, isso sim é uma grande motivação para continuar a fazer o que faço.

Existe um comentário que várias vezes aparece nas redes sociais às minhas fotos que é “as suas fotografias têm alma”, de tudo o que posso ouvir, este é o maior elogio que posso receber, significa que o que mostrei despertou sentimentos a outra pessoa, seja de alegria ou tristeza, mas certamente algo que a fez recordar algo ou motivação para conhecer esse lugar.

Quais os prémios que leva no currículo?

Ao longo dos anos tenho colecionado vários prémios, principalmente, o Prémio Anim’arte – Produção Artística Fotografia, ou seja, o fotógrafo do ano 2018 no Distrito de Viseu, uma distinção que muito me orgulha por ser escolhido por um vasto júri como o fotógrafo do ano.

Foi um prémio que me deixou muito feliz por ver o meu trabalho reconhecido em prol da divulgação da cultura e património português e sem dúvida um grande alento para continuar.

As fotografias que apresenta nas suas páginas correm o Mundo. Isso preocupa-o?

Não, muito pelo contrário, eu incito mesmo as pessoas que me seguem que as partilhem pelo mundo. As fotos que eu publico nas redes sociais são 99% de belezas do nosso Portugal e se as publico é para que as pessoas as vejam e quantas mais as virem melhor, quem conhece pode recordar esse momento e quem não conhece pode sentir vontade de vir a conhecer e é esse o meu principal objetivo, como algumas pessoas dizem, “você faz mais a título gratuito por divulgar os nossos monumentos do que aqueles que são pagos para o fazerem”, infelizmente muitas dessas pessoas têm toda a razão, vá lá que muitos Municípios dão valor ao que eu e muitos outros fazem para divulgar os encantos do nosso país, mas outros existem que não dão valor nenhum e ainda não se aperceberam do poder das redes sociais na divulgação dos seus territórios.

Por exemplo, uma foto que publiquei há alguns anos e que teve mais de um milhão de partilhas, sim um milhão, e esse Município nem uma palavra se dignou dizer, não foi para isso que eu a publiquei, mas que ficava agradado isso ficava, essa imagem acabou por ser publicada na revista National Geographic.

Mas voltando à pergunta, muito me alegra que as minhas fotos corram o mundo, é sinal que estou no bom caminho a mostrar o que de belo existe no nosso país.

Que preocupações leva quando vai fotografar?

Se as baterias estão carregadas e os cartões estão nas máquinas (risos).

Agora um pouco mais a sério, embora o que disse seja uma realidade, tento sempre preparar com antecedência qualquer deslocação que faça, procurando informações do lugar que vou fotografar, quer sejam outras imagens que podem servir de inspiração ou quanto mais não seja saber como lá chegar, e acreditem que muitos dos lugares que visito é preciso mesmo muita preparação para chegar a esses destinos, muitas vezes desconhecidos do grande público ou mesmo das pessoas perto dos locais que não lhes dão grande importância ou mesmo não os reconhecem como sendo interessantes.

No trabalho que desenvolvo há já dois anos para as Aldeias Históricas de Portugal, onde já se podem contar mais de 7000 fotos e centenas de vídeos obriga-me a preparar com antecedência um roteiro do que vou fazer e quando, sim porque a hora a que determinado lugar é fotografado é determinante para a qualidade do trabalho.

Outra preocupação é a segurança, porque todos os cuidados são importantes, principalmente na fotografia de paisagem onde, às vezes para se tentar conseguir a foto perfeita, podemos colocar a nossa integridade física em risco, e acreditem que nenhuma foto vale a pena nesse sentido, infelizmente existem pessoas que já não estão entre nós por causa dessas situações, primeiro a segurança.

Que história gostaria de contar a uma turma de crianças sobre as aventuras para alcançar uma foto que marcou a sua vida?

A resposta a essa pergunta segue no caminho do final da resposta anterior. Podia contar às crianças a história por detrás de uma das fotos que fiz no concelho de Lamego, especificamente na Barragem do Varosa. Há uns anos atrás, a referida barragem estava vazia deixando à luz do dia uma ponte medieval que está sempre submersa, fui lá visitar com a intenção de a fotografar, mas como seria de esperar o fundo da barragem sem água estava um perfeito lamaçal, e tendo em atenção a minha segurança, não a fui fotografar. Falei com um amigo fotógrafo, apaixonado pela natureza, que se deslocou, desde Lisboa, para vir comigo fotografar esse lugar e assim ser mais seguro do que andar lá sozinho e em boa hora o fiz. Estávamos nós no meio desse lamaçal com água pelo joelho, quando, sem que nada o fizesse esperar, simplesmente me afundei quase até à cintura nessa lama e se não fosse o meu colega as coisas não teriam sido fáceis de resolver, no final ficou essa memória de que devemos ter os máximos cuidados e se possível acompanhados por alguém e claro uma foto fantástica que partilho com vocês e que sei que trouxe muitas recordações a muita gente que pensava que nunca mais veria essa ponte onde muitos se banharam na infância e onde outros iam lavar a sua roupa.

E se lhe pedisse para me mostrar uma foto que me fizesse conhecer Portugal, qual seria?

Isso para mim é simples, o sorriso dos nossos idosos, a sua alegria de viver, o apego às suas raízes, às suas terras e histórias, é tão bom poder ouvir as suas histórias, recordar outros tempos e ouvir falar da sua terra com muito amor e um brilho nos olhos, e no final poder tirar-lhes uma foto que irá ficar sempre marcada pela conversa que tivemos.

O que o encanta no nosso património cultural?

A sua história, porque conhecendo a nossa história ficamos a conhecermo-nos melhor a nós próprios, seja um monumento, uma tradição ou as nossas gentes e esse é a nossa maior riqueza, tudo o resto perde a sua importância.

Se pudesse fotografar algo no planeta o que seria e porquê?

Existem tantas coisas belas para fotografar no nosso planeta, tantas paisagens de rara beleza, e para isso só o nosso país daria para uma vida. Tantos monumentos e tradições por todo este planeta para registar e assimilar as suas histórias, mas existe algo que para mim está acima disso tudo que é a minha família, em especial os meus pais, esposa e filha e poder estar sempre cá para lhes poder tirar fotografias, porque se puder fazer isso é porque eles estão cá e eu também, e não existe nada mais importantes para fotografar do que isso.

in Voz de Lamego, ano 90/21, n.º 4556, 21 de abril de 2020

COVID-19 – EMERGÊNCIA SOCIAL – Cáritas Portuguesa

  • Cáritas Portuguesa abre resposta de emergência social
  • 130 mil euros para apoio na aquisição de alimentos e bens essenciais a 2 000 pessoas

A Cáritas e a Igreja Católica não fecharam portas e estão comprometidas com a procura de soluções.
Face à emergência sanitária, a rede Cáritas em Portugal assumiu, em primeiro lugar, a preocupação de manter ativos todos os serviços essenciais à população implementando medidas de autoproteção nas respostas onde os utentes estão presentes e sem retaguarda familiar.

Hoje a Cáritas Portuguesa dá início a uma nova etapa na resposta à emergência social. A Cáritas Portuguesa disponibiliza uma verba de apoio às Cáritas Diocesanas que identificaram, neste momento, como principal dificuldade o acesso a bens alimentares. O atual programa de apoio terá um orçamento de 130.000,00€, proveniente de fundos próprios da Cáritas Portuguesa, dividido da seguinte forma: 100.000,00 € para vales e 30.000,00 € para apoios a situações pontuais urgentes. Este Programa de Resposta Social irá funcionar através da atribuição de vales de aquisição que permitam acesso de forma imediata a alimentos e bens essenciais.

“Acreditamos estar, desta forma, a dar um sinal à sociedade de que estamos atentos às suas dificuldades e poderemos apoiar a nossa rede agilizando a logística e a segurança das Cáritas Diocesanas no apoio às pessoas que as procuram e, ao mesmo tempo, a salvaguarda a dignidade, autonomia e privacidade dos beneficiários.” Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa.

A rede nacional Cáritas irá continuar a trabalhar para que todos os que estão em situação de maior vulnerabilidade tenham condições para uma subsistência com dignidade. A preocupação da Cáritas é proteger a dignidade das pessoas mais vulneráveis e garantir que tudo é feito para que estas possam recuperar a sua vida ou redesenhar o seu caminho.

“É um trabalho que nenhuma organização faz de forma isolada. Apoiamos as famílias em complementaridade com aquilo que é feito pelas autoridades nacionais e locais, bem como outras entidades, através de respostas de apoio social.

Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa.

Desde o início da atual crise provocada pela propagação do novo Coronavírus – COVID-19, que as 20 Cáritas Diocesanas sentem um aumento na procura de ajuda em cinco grupos considerados de apoio prioritário: população sénior, famílias e crianças em situação de vulnerabilidade, pessoas em situação de sem-abrigo, reclusos ou ex-reclusos em situação de inserção, migrantes em situação de vulnerabilidade social. Estima-se que esta medida chegue a 2 000 pessoas em todo o país.

A rede nacional Cáritas dá, anualmente, resposta a cerca de 100 mil pessoas no atendimento nacional e 40 mil pessoa em respostas sociais. Á maior preocupação é não deixar ninguém para trás!

Márcia Carvalho | marciacarvalho@caritas.pt

Editorial da Voz de Lamego: Cruzámo-nos a subir e a descer

As pessoas que encontro ao subir serão as mesmas que encontrarei ao descer. É uma expressão luminosa do Papa Francisco sobre os valores que aprendeu em casa com os pais: a humildade, respeito pelos outros, bondade para com todos.

Quando foi eleito Bispo, e depois Cardeal, procurou manter a mesma proximidade com todos, misturando-se entre o povo que lhe foi sendo confiado e, na grande metrópole de Buenos Aires, tratou de ter o cheiro das ovelhas, expressão que usa frequentemente. Proximidade com os sacerdotes e proximidade com os fiéis leigos. Na residência episcopal, recebia pessoalmente as visitas e oferecia-lhes um chá, bolos e, se necessário, cozinhava para “os convidados”. Ainda hoje, quando recebe alguém na Casa de Santa Marta faz do mesmo modo. Curioso quando, pela primeira vez, o vimos, como Papa a subir as escadas do avião, com a sua mala na mão, ou outros gestos similares, como ir pagar a conta do hotel onde esteve hospedado durante o conclave ou telefonar, sem intermediários, para várias pessoas.

A imagem é muito sugestiva. Imaginamos a vida como uma escada. Vamos subindo degraus. Passamos por algumas pessoas, enquanto estamos a subir, outras ficam para trás ou estão a descer. Mas haverá um momento em que nós estamos a descer, na mó debaixo, e vemos as mesmas pessoas, a subir. É uma imagem pragmática. Se hoje estamos bem, devemos lembrar-nos dos que estão mal ou menos bem, pois um dia podemos nós estar mal e eles bem e como gostaríamos que nos tratassem, quando estamos a descer ou estamos em baixo, assim os tratemos quando estamos nós em cima e eles em baixo. De algum modo corresponde à regra de outro: o que queres que te façam a ti, fá-lo tu aos outros. Como não lembrar a parábola de Jesus sobre o pobre Lázaro e o rico avarento. A vida eterna inicia-se no tempo presente, o que fizermos agora tem repercussão amanhã.

Se antes isto era verdade, agora faz ainda mais sentido. Estamos todos no mesmo barco, com um sublinhado importante, há alguns que continuem a ter mais ferramentas e melhores condições socioeconómicas para viver este tempo de “paragem” e os tempos que lhe seguirão. Os mais vulneráveis, em todas as situações, são os primeiros a sucumbir e sofrer a fustigação da tempestade. Porém, como temos visto, há momentos que não adianta ter uma fortuna, pois o vírus e a morte chegam de mansinho sem olharem para a marca de roupa ou do carro estacionado na garagem.

Por outro lado, havia muitas pessoas que estavam bem na vida, a viver sem grandes sobressaltos, mas esta pandemia revirou as suas vidas, sem contar o que estará para vir. A propalada expressão “vai ficar tudo bem” tem muito que se lhe diga. Tem o mérito de invocar a esperança, mas não mais do que isso, pois para alguns estão aí dias de grande caristia, de maior sofrimento e de incerteza. Pensemos, como se viu na crise económica, num casal com dois ou três filhos, com a casa para pagar e a universidade, com dois ordenados acima da média, de repente um deles ou os dois ficam desempregados!

Não deixemos ninguém para trás. Façamos o que está ao nosso alcance. Somos responsáveis uns pelos outros.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/21, n.º 4556, 21 de abril de 2020

Falecimento do Padre Hermínio dos Santos | 1933-2020

O Senhor Deus, Pai de Misericórdia Infinita, chamou à sua Presença o reverendo Padre Hermínio Bernardo dos Santos, antigo pároco de Samodães.

Nasceu a 12 de março de 1933, em Vila da Rua, concelho de Moimenta da Beira

Quando completou a instrução primária foi convidado pelo seu pároco para ser sacerdote e em 1945 entrou no Seminário Menor de Resende, seguindo para o Seminário Maior, três anos mais tarde, tendo terminado o curso filosófico, hoje equivalente ao 1.º ano do curso filosófico-teológico. Deixando, nessa ocasião o Seminário.

Viria a contrair matrimónio que durou quatro décadas, até à morte da esposa. Tiveram 10 filhos.

Foi funcionário dos correios, advogado e professor do ensino superior, mas o “chamamento do Senhor para trabalhar na Sua vinha” foi maior. Com a viuvez regressou ao Seminário, para completar os estudos superiores e ser ordenado sacerdote, o que viria a acontecer no 29 de julho de 2006, na Sé de Lamego. Tornou-se sacerdote aos 73 anos de idade.

Faleceu a 18 de abril de 2020, aos 87 anos de idade, no Lar Sacerdotal do Porto e foi sepultado no Domingo da Divina Misericórdia, 19 de abril, em Vila da Rua, seguindo as normas em vigor atualmente para os funerais.

O Senhor Bispo, D. António Couto, faz saber da sua oração e comunhão, agradecendo a Deus o dom da vida deste irmão sacerdote, com o todo o percurso de vida, na vivência do Matrimónio e na riqueza da paternidade, primeiro biológica e depois sacerdotal. Também em nome do presbitério de Lamego, D. António partilha este momento de sofrimento e luto, com os familiares mais diretos, mormente os seus descendentes e confia-o, na oração ao Deus da Vida, Aquele que ressuscitou Jesus Cristo, também a nós nos ressuscitará.

Que o Senhor lhe conceda o eterno descanso.

Editorial da Voz de Lamego: Descobrir e viver a Páscoa

A vida não se repete. Nem os acontecimentos. Nem as celebrações. Não há duas pessoas iguais. Não há dois momentos iguais. Por vezes ouvimos dizer: “bom, isto já aconteceu, não é nada que já não tivéssemos visto”, numa espécie de eterno retorno, como se situações do passado se pudessem voltar a repetir, quase milagrosamente. Em relação a esta pandemia, vamos ouvindo que não é novidade, já houve outras e até mais perigosas. É preciso ler a história e procurar compreender e relativizar as adversidades e tempestades do tempo atual! Sim, mas essa é apenas uma visão parcelar, que, obviamente, nos deve levar a retirar ensinamentos, a relativizar, ou a não absolutizar, a não dramatizar a situação atual como se fosse algo nunca visto que nos faça vislumbrar o fim do mundo. Em todo o caso, é uma situação nova, concreta, pela rapidez do contágio, e pelo facto de ter surpreendido as autoridades e as populações, quase como um tsunami ou um terramoto, além de todas as consequências que está a provocar na vida social, familiar, económica e eclesial.

Também não há duas Páscoas iguais e a deste ano é, seria, inevitavelmente diferente por todo o contexto que nos envolve e nos vai mantendo mais ou menos afastados com sucessivos apelos aos outros para que fiquem em casa, mesmo que, da nossa parte, arranjemos algumas formas de arejar, mais não seja em passeios, caminhadas ou corridas ditas higiénicas.

Páscoa, na verdade, há só uma, a morte e a ressurreição de Jesus, acontecida há dois mil anos, em Jerusalém. No decorrer da Última Ceia, Jesus antecipa e explica o mistério pascal e, preparando o futuro, faz-nos saber que oferece a vida por todos, o Seu corpo e o Seu sangue, para nos remir e reunir, para nos salvar e congregar, como família, na certeza de que sempre  que em Sua memória nos reunirmos e dissermos/fizermos o que Ele fez, nos tornaremos verdadeiramente participantes da Sua morte, oferenda por nós ao Pai, e da Sua ressurreição, certeza de que a Sua vida não foi em vão e não culminou no vazio!

Não repetimos a Páscoa de Jesus, mas tornámo-la atual, presente. Cristo, na Eucaristia, e demais sacramentos, torna-Se nosso contemporâneo. Ele deu-nos o Espírito Santo, agora o Espírito Santo dá-nos Jesus, torna-O presente, não como uma recordação histórica, longínqua, mas com uma Presença atual, com o mesmo mandato de então: Fazei isto em memória de Mim… como Eu fiz, fazei-o uns aos outros. A Missa leva-nos à missão. A oração conduz-nos ao serviço. O louvor a Deus agrafa-nos no cuidado aos irmãos. Celebrar Páscoa, hoje, é deixar-nos envolver pelo mistério de Deus, pela ação do Espírito Santo na Igreja e no mundo, cooperando para que Cristo que vive em nós viva nos outros também.

Os sinais da Páscoa podem ser ténues, mas estão aí, em cada um que faz o bem, que cumpre a missão de animar, transmitir confiança, ajudar os mais vulneráveis.

Não deixemos também nós, eu e tu, de mostrar os sinais e transparecer a certeza de que Cristo vive, em mim e em ti, no que dizemos e no que fazemos, sejamos portadores da alegria e da esperança, da fé e da caridade, do serviço e da bondade. Se mais não pudermos fazer, um sorriso, uma palavra de ânimo, um telefonema, uma mensagem enviada, a partilha do que os outros fazem de bem.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/20, n.º 4555, 14 de abril de 2020

Celebração da Vigília Pascal – Sé de Lamego – 11 de abril de 2020

No sábado santo, 11 de abril, o Senhor Bispo, D. António, presidiu, na Sé de Lamego, à Vigília Pascal deste ano de 2020 em que nos encontramos confinados a nossas casas em virtude da pandemia do COVID 19. A Eucaristia foi transmitida, via Facebook na página da Diocese em colaboração estreita com a Rádio Clube de Lamego.

Celebração da Paixão do Senhor – Sé de Lamego – 10 de abril de 2020

Na sexta-feira santa, teve lugar, na Sé de Lamego, a celebração da Paixão do Senhor, presidida pelo nosso Bispo, D. António, e transmitida pela rádio e via Facebook, pelas páginas da Diocese de Lamego e da Paróquia da Sé, seguindo a emissão da Rádio Clube de Lamego.

Ceia do Senhor – Sé de Lamego – 9 de abril de 2020

Como expectável, a celebração do Tríduo Pascal foi muito diferente de anos anteriores, com igrejas praticamente vazias. Daí também a aposta na transmissão das celebrações para que mais pessoas pudessem sintonizar-se com os mistérios celebrados, ainda que afastados pelas circunstâncias do tempo presente.

Na quinta-feira santa, 9 de abril, a celebração da Ceia Pascal, presidida pelo nosso Bispo, D. António Couto, na Sé de Lamego, com transmissão nas páginas da Diocese e da Paróquia da Sé, em colaboração com a Rádio Clube de Lamego, que transmitiu via rádio e também em vídeo direto pela respetiva página no Facebook.