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Agenda Episcopal | D. António Couto, Bispo de Lamego
UM REPARO: MUDANÇAS
Nos últimos dias não faltaram imagens e sons para mostrar a aflição, a dor, a destruição e a morte que os incêndios causaram na zona centro do país. O calor que se tem feito sentir, a ausência de chuva, o descuido de uns e a malvadez de outros podem explicar os muitos fogos de um só dia. Mas o elevado número de vítimas mortais continua a ser difícil de compreender e de aceitar.
O Presidente da República (PR), qual porta-voz de um povo atónito e sofrido, expressou o pesar comum diante de tamanho sofrimento, exigindo mudanças que evitem situações semelhantes. Todos o ouviram e compreenderam. Resta esperar que as consequências não se saldem por uma ou outra demissão, algumas promessas e o silêncio quando começarem as chuvas.
A propósito do referido discurso, uma nota para sublinhar a clareza desafiadora do PR, quando pediu aos políticos que olhem e ouçam as gentes que moram longe da capital e do centro do poder, sem capacidades para fazer barulho e reivindicar. É verdade que, em tempos de campanhas eleitorais, passam por aí, distribuem beijos e abraços e semeiam promessas, mas depois a memória é afectada pela distância.
Uma notícia recente apresentava a região da beira interior – não muito longe de nós – como aquela que, a nível europeu, tem a população mais envelhecida. Com a destruição provocada pelos incêndios, talvez o abandono dos mais novos se acentue. Agora ainda se diz que há idosos; daqui a alguns anos talvez se fale apenas de casas abandonadas e de silvas.
Para contrariar tal tendência serão precisos apoios que ajudem a ficar, leis que favoreçam o investimento, mudanças que permitam ficar e acreditar.
JD, in Voz de Lamego, ano 87/47, n.º 4433, 24 de outubro 2017
Irmã Maria do Carmo – 25 anos de vida religiosa
No passado dia 14 de Outubro, foram comemorados os 25 anos de vida religiosa da nossa querida Irmã Maria do Carmo, enfermeira no Centro Social Filhas de São Camilo durante 10 anos da sua vida. Partiu para missão em Fátima há 2 anos atrás para o centro de enfermagem do Santuário para prestar apoio aos peregrinos.
Muitas são as memórias desta nossa querida Irmã, amiga de todos, de uma grande sensibilidade humana e uma excelente profissional de enfermagem. Em todos os momentos de emergência arregaçava as mangas e fazia o possível e o impossível para salvar o utente.
Na celebração eucarística comemoramos os 25 anos da Irmã Maria do Carmo como religiosa e também o dia da Fundadora Madre Vaninni (geralmente celebra-se no dia 16 de Outubro), data muita especial para a congregação. Contamos com o Sr. Padre José Fernando como celebrante, tendo como co-celebrantes nossos utentes e padres Monsenhor Germano Lopes e Padre Domingos Pereira. A missa foi animada pelo grupo coral do Centro Social, agradecendo desde já a colaboração do Sr. José Manuel da Costa como organista.
Muitas foram as histórias contadas pelo Sr. Padre José Fernando acerca das vivências desta nossa Irmã nesta comunidade, agradecendo por levar a cabo uma missão tão grandiosa de cuidar dos doentes e enfermos.
Após a celebração, houve um momento de convívio entre todos os funcionários, utentes e suas famílias, bem como amigos de longa data da Irmã Maria do Carmo. Recebemos as Irmãs Camilianas de Espanha.
Muitos foram os abraços e palavras de carinho manifestadas neste dia tão especial para esta Irmã e para a nossa Congregação.
Agradecemos Irmã Maria do Carmo pela sua vida dedicada à missão, pela sua grande paixão pelos idosos, pelo serviço prestado aos peregrinos que chegam ao Santuário de Fátima todos os dias, pela dedicação à nossa comunidade religiosa.
Pedimos ao Senhor que abençoe sempre esta nossa Irmã e que Nossa Senhora de Fátima a ajude a ser fiel e perseverante na sua vida religiosa consagrada camiliana.
Bem haja a todos que colaboraram nesta festa!
in Voz de Lamego, ano 87/47, n.º 4433, 24 de outubro 2017
Museu Diocesano de Lamego: Tertúlia de Outono – 2.ª Edição
No passado sábado, 21 de outubro, ocorreu a 2ª Tertúlia de Outono no Museu Diocesano de Lamego, sob convite da Dra. Celina Parente que muito tem apoiado as atividades culturais associadas à Exposição Doações e Ofertas à Coleção Contas de Rezar. Foram oradores o Prof. Horácio Peixeiro, Frei Arnaldo Araújo e Frei Herculano Alves que dissertaram, respetivamente, sobre “Uma imagem do rosário do século XVI – reflexo do pensamento do Humanismo cristão”, “A Coroa Seráfica Franciscana” e a publicação “A Bíblia em Portugal”. Estiveram em evidência representação de terços em imagens bem como estudos de dois franciscanos como assinalou o Diretor do Museu, Pe. Dr. João Carlos Morgado que fez a apresentação dos oradores, todos com múltipla formação universitária e autores de publicações relevantes.
O Prof. Horácio Peixeiro apresentou, com recurso a tecnologia digital, a imagem humana com um terço na mão que existe na Igreja Matriz da Atalaia. A imagem está esculpida numa edícula lateral, próxima da Capela-mor onde está gravada a data de 1528. O terço está perfeitamente esculpido seguindo as orientações, ao tempo, com a introdução dos cinco mistérios. Outro dado interessante é estar colocado na mão de um ser humano aparentemente anónimo, imaginamos um peregrino. Esta imagem expressa a conciliação entre a linguagem do Renascimento, que utiliza a mitologia clássica, e as ideias do Humanismo cristão, que advoga o regresso à pureza original do Evangelho e a uma igreja pobre, mais próxima da simplicidade primitiva. Outros elementos desta igreja da autoria do escultor e arquiteto João de Ruão foram mencionados e o Prof. Horácio Peixeiro brindou ainda a assistência com uma seleção de iluminuras pertencentes a Bíblias e Livros de Horas com figuras humanas, em geral frades, com terços. Resta-nos assinalar que a interpretação de todas estas imagens devidamente enquadrada cultural, técnica e artisticamente foi extremamente elucidativa da importância da representação do terço. Ler mais…
Visita Pastoral de D. António Couto em Tarouquela e em Espadanedo
A visita pastoral decorreu entre os dias 17 a 21 de Outubro. O Sr. D. António Couto visitou o o centro escolar de Tarouquela e a Escola da Lavra em Espadanedo onde foi presenteado com duas calorosas receções por parte de toda a comunidade escolar. Foi visível a importância que teve a visita do nosso Bispo pelo cuidado demonstrado na sua preparação. As crianças na sua simplicidade fizeram as suas perguntas, cantaram e manifestaram a sua alegria de receber, ao qual foram correspondidas pela ternura e a proximidade do pastor: “estudai sempre toda a vida e sede felizes”.
Visitou também as juntas de freguesias, recentemente eleitas, desejando um profícuo trabalho em prol daqueles que neles depositaram a sua confiança. Benzeu as instalações do lar residencial CAO e SAD Nossa Senhora de Lurdes em Espadanedo, instituição que acolhe pessoas portadoras de deficiência e que contou sempre, desde a sua criação, com a parceria da diocese de Lamego. Foram momentos de uma beleza extraordinária de proximidade e de comunhão. Teve um encontro também com a direção da associação recreativa e cultural de Tarouquela visitando as suas instalações e de modo particular a sala de ensaio da banda de Tarouquela que é um ícone da freguesia e uma referência a nível nacional. Ler mais…
Ferreiros homenageia Pe. Silvestre: 50 anos de trabalho paroquial
Rev. Padre Silvestre celebrou 50 anos de Sacerdócio em Ferreiros e pediu “Coragem no Caminho para a Santidade”
O dia 15 de Outubro de 2017, ficou marcado na Paróquia da Senhora das Candeias em Ferreiros de Avões. O nosso Rev. Pároco Joaquim Manuel Silvestre foi homenageado pelos seus 50 anos ao serviço das gentes desta Freguesia.
A homenagem teve início com a Missa Dominical, na qual crianças, jovens e adultos quiseram prestar ao seu Pároco uma prova de reconhecimento, pelos seus ensinamentos ao longo deste percurso, marcado no coração de todos. O desdobrável oferecido pelo homenageado aos presentes antes do início da missa, enriquecido pelo seu conteúdo, foi por todos lido e rezado simultaneamente no momento do Pai Nosso. As lembranças levadas pelas crianças ao altar no início da missa, nomeadamente um cestinho com 50 rosas, foram dum simbolismo de gratidão, simplicidade e amizade, que se estabeleceu reciprocamente no decorrer dos tempos. A beleza e o encanto predominavam na nossa Igreja, assim como o Grupo Coral que tão bem entoou, cânticos de alegria e de louvor, foram indicadores de júbilo, para quem caminhou lado a lado e esteve sempre presente nesta comunidade. Seguiram-se alguns testemunhos que fizeram recordar quanto foi importante nas nossas vidas, os valores religiosos, morais, culturais e sociais incutidos pelo nosso Rev. Pároco Joaquim Manuel Silvestre.
Seguiu-se um pequeno convívio, no Salão Paroquial, onde foi apresentado um vídeo retratando os passos dados por este Pároco ao longo de 50 anos. Viveram-se momentos de grandes emoções que evidenciaram o Bom Pastor de sempre e que há-de continuar a ser junto de todos nós.
Um bem-haja, Sr. Padre Silvestre, de todos os seus paroquianos.
Maria do Céu Teixeira, in Voz de Lamego, ano 87/47, n.º 4433, 24 de outubro 2017
Visita Pastoral de D. António Couto na Paróquia de Cinfães
Na Carta que o nosso Bispo, D. António Couto, dirigia à Zona Pastoral de Cinfães, para preparar a Visita Pastoral às suas 18 paróquias, dizia, referindo-se às palavras do Diretóriopara o Ministério Pastoral dos Bispos: «a Visita Pastoral é um acontecimento de graça que, de algum modo, reflete aquela visita com a qual o Supremo Pastor, Jesus Cristo, visitou e redimiu o seu povo», e acrescentava: «como vosso bispo, compete-me, através da Visita Pastoral, ser no meio de vós a transparência pura de Jesus Cristo, e ajudar a encher de mais amor e alegria a família de Deus».
Foi esta preocupação que fomos constatando durante a Vista Pastoral do Senhor D. António à Paróquia de São João Baptista de Cinfães que ocorreu entre os dias 10 e 15 de outubro.
A visita começou ao início da tarde do dia 10 com a receção na Câmara Municipal, tendo depois passado pelo Registo Civil, pelo Tribunal, pela GNR, pelo Clube Desportivo de Cinfães, pelos Bombeiros Voluntários, pelo Centro de Saúde, terminando o dia na Academia de Artes de Cinfães. A visita à Repartição de Finanças, à segurança Social e à Junta de Freguesia, também prevista para este dia, só pôde ser concretizada no final da manhã do dia 13.
Em cada Instituição o Senhor Bispo foi acolhido com carinho e alegria por todos, tendo correspondido com a saudação a cada um dos presentes. Depois, teve sempre uma palavra de apreço pelo trabalho desempenhado em favor das pessoas. Foi-se inteirando das carências de cada instituição e das dificuldades da interioridade, mas também de tantas coisas positivas que, apesar disso, conseguiam realizar em favor de todos. Procurou ter sempre uma palavra de ânimo para com todos, sublinhando a importância do serviço dedicado às pessoas, sobretudo às que mais precisam.
A visita às Escolas iniciou-se no dia 11 de manhã, na escola do 1º Ciclo da Vila e depois na Escola Secundária, tendo sido concluída no dia 13 de manhã com a passagem pelo Agrupamento de Escolas, pela Escola do 1º Ciclo de Tuberais e pela Escola Profissional.
Nestas Instituições o Senhor Bispo contactou com as respetivas direções, professores, alunos e funcionários. A todos foi saudando e deixando palavras de simpatia e reconhecimento pelo trabalho e dedicação. Com os alunos insistiu particularmente na importância de amarem aquilo que fazem, isto é, o estudo, exortando-os a que o façam com alegria e dedicação, sabendo valorizar este tempo que é o mais belo das suas vidas. Ler mais…
Assembleia Geral dos Jovens da Diocese de Lamego
No passado dia 21 de Outubro, realizou-se no Seminário Maior de Lamego a tão esperada Assembleia Geral dos Jovens da Diocese de Lamego que teve como objetivo principal analisar as respostas dadas pelos jovens da nossa diocese ao inquérito preparatório do Sínodo dos Bispos 2018 promovendo uma reflexão conjunta e em pequenos grupos sobre “Os jovens de hoje” e a “Pastoral juvenil numa diocese/paróquia do interior”.
Iniciamos o dia com um acolhimento e a breve apresentação de todos, seguindo-se a oração da manhã. Depois, para melhor compreendermos o 1º tema, tivemos o privilégio de ter como oradora a Diretora do Agrupamento de Escolas de Satão, Prof. Helena Castro. Escutamos e discutimos que, numa sociedade onde quase tudo é tecnológico, imediato e superficial, torna- se mais complicado para os jovens de hoje aceitar e saber lidar com os obstáculos e o sofrimento, desencadeando a frustração e a tomada de novos rumos, longe da “verdadeira felicidade” e do amor, gerando um “vazio disfarçado”. Concordamos que nos dias que correm, cada vez reina mais o individualismo/egocentrismo e que andamos sempre “à volta de nós mesmos”, não deixando muitas vezes espaço para os outros, para Deus e não partilhando com o mundo aquilo que de melhor há em nós. Surgiram então os desafios aos jovens cristãos: o de conhecermos bem a nossa fé para poder transmiti-la, o de sermos ativos mas sempre simples e humildes, de usarmos os valores que seguimos para, dentro de qualquer assunto, conseguirmos atuar da melhor forma, porque só assim somos capazes de construir o Reino de Deus, respeitando as diversas opiniões e partilhando a nossa experiência com outros.
Após uma manhã produtiva e um almoço aconchegante, deparamo-nos com o 2º tema que nos foi muito bem explicado pelo Sr. Padre Tó Jó que é o Diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações e Juventude de Viseu. Com ele, entendemos que, com as novas gerações, torna-se urgente haver um maior acompanhamento individualizado dos jovens, na diocese, paróquia, grupos, para melhor conhecer os seus quotidianos, inquietações e problemas, pois só assim haverá mais proximidade e entreajuda; assim como é importante a presença e incentivo dos pais na vida cristã dos seus filhos, não esquecendo os Animadores dos grupos que precisam cada vez mais de quem os anime, para continuarem o seu trabalho de cativar os jovens que cada vez mais se afastam. Compreendemos que temos de ser jovens com uma presença solidária e todos ligados entre grupos e movimentos para melhor aprendermos uns com os outros, devemos evitar a “síndrome do teleférico”, como nos dizia o Pe. Tó Jó, pois não devemos estar só de passagem, de “monte em monte”, mas procurar viver ativamente a essência da nossa vocação na nossa paróquia e diocese.
Ao longo de todo o dia, tivemos uma dinâmica onde pudemos preencher alguns ramos com folhas onde deixamos escrita a nossa opinião sobre os defeitos e qualidades dos jovens de hoje, quais as maiores dificuldades com que se depara a pastoral juvenil numa diocese/paróquia no interior e as grandes oportunidades a aproveitar, o que completou toda a restante reflexão obtida. Esta foi uma atividade necessária e enriquecedora, uma vez que nos levou a refletir que há muito por fazer e vários aspetos melhorar. Regressamos a casa com a esperança de que o Sínodo dos Bispos 2018 seja uma “alavanca” que nos desinstale e nos capacite para tomarmos as rédeas da História.
Inês Gonçalves, Almacave Jovem, in Voz de Lamego, ano 87/47, n.º 4433, 24 de outubro 2017
CONTINUAR A REFORMA | Editorial Voz de Lamego | 24 de outubro
CONTINUAR A REFORMA
No último dia deste mês assinalam-se os 500 anos das famosas “95 teses” do monge Martinho Lutero, as tais que, habitualmente, são apresentadas como causa para a Reforma que se seguiu.
Contudo, tal afixação, na porta da igreja do castelo de Vitemberga, não tinha como objectivo a desestabilização social que se seguiu nem indiciava, da parte do autor, qualquer vontade de ruptura eclesial. O propósito era convidar para uma disputa académica, comum naquele tempo. O professor universitário de Sagrada Escritura queria contribuir para a renovação da Igreja, a começar pelas cúpulas romanas, bem como afrontar a acomodação e denunciar certas práticas.
Nessa altura, e como noutros momentos da história da Igreja, Lutero começou por querer imitar o protagonismo de tantos que, pelo ensino proferido e pelo testemunho vivido, motivaram mudanças na vivência da radicalidade evangélica.
Desenvolvimentos posteriores e circunstâncias diversas levaram a que tal vontade se diluísse e fosse orientada para outras direcções, a que o próprio autor não conseguiu resistir. A ruptura impôs-se, com as consequências que todos conhecemos.
Ao assinalarmos tal data, duas notas.
Em primeiro lugar, o convite para alguma leitura que permita conhecer melhor o que se passou e favoreça a compreensão da realidade. Por aqui passa, também, a disponibilidade para participar no diálogo ecuménico e na oração pela unidade dos cristãos.
Depois, e bem longe de enaltecer as divisões que se seguiram, importa sublinhar a disponibilidade inicial de Lutero para denunciar determinadas práticas, participar no debate e apelar à conversão.
O confronto vivido no diálogo e preocupado com a verdade ajuda à clarificação de posturas e ensinamentos, corrigindo desvios ou aprofundando caminhos. Porque a fé e a sua vivência inscrevem-se no tempo e não são imunes ao desenrolar histórico da sociedade. Uma missão reformadora que continua.
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 87/47, n.º 4433, 24 de outubro 2017
Um reparo: justiça
A expressão “operação marquês”, usada para identificar uma investigação em curso, tornou-se habitual nas notícias, nos comentários e nas conversas dos últimos anos. Durante meses abundaram relatos de buscas, interrogatórios, fugas de informação, desmentidos, acusações, circuitos de dinheiro, esquemas de corrupção… com imagens dos investigados, alguns deles figuras públicas conhecidas noutras circunstâncias.
Quatro anos depois, o país acordou com a notícia do volumoso (4 mil páginas) despacho final do inquérito e a acusação de vários arguidos, entre os quais um antigo primeiro-ministro. Se o caso tem “pernas para andar”, só os próximos tempos o dirão. Se os agora acusados virão um dia a ser condenados ou não, só um julgamento justo o poderá determinar. Segue-se o trabalho das respectivas defesas e, posteriormente, a decisão de um juiz sobre o avançar ou não para julgamento que, a concretizar-se e segundo os entendidos, só terá início lá para 2019.
Contra a opinião de quantos duvidavam da capacidade da justiça investigar e acusar determinadas figuras, aí está a resposta. E esta pode ser uma primeira nota a reter: a justiça começa a não ter medo de investigar determinados esquemas que privilegiam alguns e de acusar os seus protagonistas, apesar do poder que os acompanha. Tal como na sua representação, a justiça deve ser cega.
Por outro lado, e segundo as previsões, o julgamento poderá prolongar-se por mais de uma dezena de anos. E as perguntas surgem de imediato: será que alguém se vai manter atento ao desenrolar do processo? As figuras envolvidas tenderão a perder visibilidade mediática, alguns poderão morrer antes do desfecho, outras notícias aparecerão na primeira página, a memória dos actuais leitores e espectadores vai perdendo capacidades… Mas tanto tempo significa que, mesmo inocente, o arguido terá a vida em suspenso. Será isso justo?
JD, in Voz de Lamego, ano 87/46, n.º 4432, 17 de outubro 2017