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Papa FRANCISCO > 15 DOENÇAS para um exame de consciência
Quinze doenças e tentações para um exame de consciência
Papa à Cúria
O Papa Francisco recebeu em audiência na Sala Clementina os membros da Curia Romana para os tradicionais votos de Boas Festas. No seu discurso o Santo Padre referiu as quinze doenças da Cúria, convidando todos a pedirem perdão a Deus que “nasce na pobreza da gruta de Belém para nos ensinar o poder da humildade”. A Igreja não pode viver sem ter uma relação vital, pessoal e autêntica com Cristo.
O Papa pede um verdadeiro exame de consciência na preparação do Natal. Ao apontar estas quinze doenças ou tentações, o Papa Francisco esclarece que não dizem respeito apenas à Cúria Romana mas são um perigo para qualquer cristão, diocese, comunidade, congregação, paróquia e movimento eclesial. Falando em “catálogo das doenças”, na esteira dos padres do deserto, o Papa passou a apresentar as quinze doenças ou tentações:
– Sentir-se imortal ou indispensável. “Uma Cúria que não faz auto-crítica, que não se atualiza é um corpo enfermo”. É o “complexo dos eleitos, do narcisismo”;
– Martalismo (de Marta, a doença do excesso de trabalho). Os que trabalham sem usufruírem do melhor. A falta de repouso leva ao stress e à agitação;
– A mentalidade dura. Quando se perde a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e nos escondemos atrás de papéis, deixando de ser “homens de Deus”;
– A excessiva planificação. “Quando o Apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que assim as coisas progridem torna-se num contabilista”. É a tentação de querer pilotar o Espírito Santo;
– Má coordenação. Quando se perde a comunhão e o “corpo perde a sua harmoniosa funcionalidade”;
– O Alzheimer espiritual. Esquecer a história do encontro com Deus. Perda da memória com o Senhor. Criam muros e são escravos de ídolos;
– Rivalidade e vã glória. Quando o objetivo da vida são as honrarias. Leva-nos a ser falsos e a viver um falso misticismo;
– Esquizofrenia existencial. “Vivem uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do progressivo vazio espiritual que licenciaturas e títulos académicos não podem preencher”. Burocratismo e distância da realidade. Uma vida paralela.
– Mexericos. Nunca é demais falar desta doença. Podem ser homicidas a sangue frio. “É a doença dos velhacos que não tendo a coragem de falar diretamente falam pelas costas”. Defendamo-nos do terrorismo dos mexericos;
– Cortejar os chefes. Carreirismo e oportunismo. “Vivem o serviço pensando unicamente naquilo que devem obter e não no que devem dar”. Pode acontecer também aos superiores;
– Indiferença perante os outros. “Quando se esconde o que se sabe. Quando, por ciúme, se sente alegria em ver a queda dos outros em vez de os ajudar a levantar”;
– Cara fúnebre. Para ser sérios é preciso ser duros e arrogantes. “A severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e insegurança”. “O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortês, serena, entusiasta e alegre e que transmite alegria…”. “Como faz bem uma boa dose de são humorismo”;
– Acumular bens materiais. “Quando o apóstolo tentar preencher uma vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para se sentir seguro”;
– Círculos fechados. Viver em grupinhos. Inicia com boas intenções mas faz cair em escândalos;
– O lucro mundano e exibicionismo. “Quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poder”.
O Papa Francisco concluiu o seu discurso recordando ter lido uma vez que “os sacerdotes são como os aviões: só são notícia quando caiem…“. “Esta frase” – observou o Papa – “é muito verdadeira porque delineia a importância e a delicadeza do nosso serviço sacerdotal. Um só sacerdote que cai pode causar muito mal a todo o Corpo da Igreja“.
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4294, ano 84/56, de 23 de dezembro de 2014
O NATAL DO ZÉ DA LAVRA | Conto de Natal
Era filho único.
Quando andava nos dez anos, ao voltar da escola, viu a mãe estendida no chão do quarto, esvaída em sangue, e já morta.
O pai, procurado pela guarda republicana, apareceu mais tarde, também morto, numa curva do Cabrum, preso a uns arbustos.
Na sequência de suspeitas e ciúmes, e depois de ralhos e maus-tratos, o pai dera um tiro na mulher, fugira desarvorado para o ribeiro, e afogara-se no poço dito “sem fundo”.
Acolhido em casa do tio Afonso e da esposa Madalena, em Mariares, aí se refugiou e aí passou a viver.
Pobres em recursos e incapazes de afetos, depressa o mandaram para o Douro, para as quintas dos ingleses.
Ia às vindimas, vinha aos Santos; ia às azenhas, voltava ao Natal.
Lá na quinta, dormia no palhuço do cardenho, comia broa com sardinha, e trabalhava todo o dia, de sol a sol. Mas a mulher do caseiro, conhecedora da má sorte do mocinho, acarinhava-o como filho, dava-lhe bons conselhos, e o rapaz pôde aprender com ela como é bom amar, e como é bonito ser bom.
Não era assim em casa dos tios. Aí, beijava-se pouco e ralhava-se muito.
Num certo Natal, o Zé da Lavra, em vez de ir para os tios, foi parar a casa do “Ceguinho”.
O “Ceguinho”, invisual de nascença, vivia só e sem família, sem carinho nem conforto. Chegado do Douro, o Zé abraçou o velhinho, ajuntou a lenha, acendeu o lume e, pouco depois, já as batatas ferviam e o bacalhau cheirava. Duma tosca e velha mesa ao lado, chegava o delicado odor do arroz doce e o gostoso sabor do alho e do vinagre.
Comida a Ceia, o velhinho disse ao moço:
– Zé, este foi o melhor Natal da minha vida! Sempre passei esta noite sozinho! Como hei-de eu agradecer-te, meu filho?
– Muito simplesmente, senhor Francisco. Com um abraço. Abraços, foi coisa que nunca tive! Foi coisa que nunca me deram!
Concretizado o abraço, rezaram a oração de ação de graças, louvaram a Bondade de Deus por ter nascido, e ficaram até ao meio da noite a jogar pinhões e rapas e a cantar os dois, velhos cânticos de Natal.
No dia seguinte, a conselho do velhinho, o Zé subiu a velha calçada da aldeia pintada de neve e escorregadia do gelo, e foi à Santa Missa de Natal à igrejinha do lugar.
Ao ver aquela gente boa, fiel, alegre e simples, a cantar e a rezar a glória de Deus, a bondade de Jesus, o silêncio de José, e a beleza da Virgem -Mãe, o moço não se conteve, cantou e rezou também, e sentiu-se verdadeiramente feliz!
Chegado o momento apropriado, integrou-se acanhado e tímido na fila que ia beijar o Menino. Ao beijá-LO, viu os Seus olhos sorrir-lhe, e ouviu-O dizer-lhe assim, com voz terna, infantil e divinal:
– Parabéns, José! Feliz Natal para ti e para o “Ceguinho”!
– Feliz Natal para todos os que sabem adorar, louvar, amar, agradecer e cantar!
Pe. J. Correia Duarte, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4294, ano 84/56, de 23 de dezembro de 2014
NATAL 2014: Mensagem de D. António José da Rocha Couto
NÓS OS DOIS
Desde que sei
Que sou como um fiozinho de erva
Que de manhã reverdece e à tarde seca,
Que aprendi a suportar o peso
Do milagre.
Hoje tudo é mais claro
Tudo é mais nítido.
Mas no tempo em que os pinheiros
Eram altos
E os meus olhos de um verde cristalino,
No tempo em que o tempo
Era incandescente
E fazia carrancas ao destino,
Aí, oh meu país inocente
E pequenino,
Era eu que era mais divino
Ou era Deus que era mais menino?
- Sim. Enquanto tu descias a este chão de pó, e afanosamente o modelavas (Génesis 2,7), eu subia em sonhos a escada de Jacob (Génesis 28,12), e às escondidas, comia o teu céu de pão-de-ló. Deslumbramento teu no sótão deste chão, quando, no lusco-fusco da vidraça, descobriste o meu pião enrolado na baraça. Deslumbramento meu, quando, distraído, brincava no teu céu, e quase escorregava pelo firmamento.
- Valeu-me então um anjo que estava de passagem, e me deu a mão. Percebi depois que regressava do jardim do éden (Génesis 2,8), de regar a tua plantação (Isaías 61,3). Contou-me tudo. Falou-me de Abraão, de um rio que abriste no deserto (Isaías 43,19), da avenida florida que atravessa o mar a céu aberto (Sabedoria 19,7), da estrada traçada no deserto onde habitualmente andas a pé (Isaías 35,8), e sobretudo das flores que fizeste florescer em Nazaré (de natsar, florescer).
- Fomos depois os dois até Jerusalém, e vimos-te a escolher no ribeiro manso as pedras trabalhadas na torrente (1 Samuel 17,40). Olhavas para elas demoradamente em tuas mãos deitadas, e só depois as adornavas com tinta cor de rímel (Isaías 54,11), e as sentavas carinhosamente à tua mesa, em tua casa, onde ardia e não se consumia uma sarça acesa (Êxodo 3,2).
- Juntaram-se, entretanto, a nós milhares de anjos deslumbrados. Pus-me todo atento e parabólico, e pude ver o vento que o seu bater de asas produzia, e vi ainda que é essa energia que alumia as casas, muito mais do que qualquer rede de alta tensão ou parque eólico. Foi então que o anjo que comigo viajava me indicou um caminho hiperbólico (1 Coríntios 12,31).
- Entrei nesse caminho. Mas rapidamente vi que não ia sozinho. Ias tu, Senhor, comigo. Chamava-se amor esse caminho aberto no deserto (Atos 8,26). Confesso que nunca tinha estado tão perto da água viva e tão perdido no meio do sentido (Atos 8,36). Tão refém deste Deus nascido em Belém.
- Meu irmão de Dezembro, levanta-te, olha em redor e vê que já nasceu o dia, e há de andar por aí uma roda de alegria. Se não souberes a letra, a música ou a dança, não te admires, porque tudo é novo. Olha com mais atenção. Se mesmo assim ainda nada vires, então olha com os olhos fechados, olha apenas com o coração, que há de bater à tua porta uma criança. Deixa-a entrar. Faz-lhe uma carícia. É ela que traz a música e a letra da canção. Ela é a Notícia.
Desejo a todos os meus irmãos, sacerdotes, diáconos, consagrados/as e fiéis leigos, doentes, idosos, jovens e crianças da nossa Diocese de Lamego e da inteira Igreja de Cristo, um Santo Natal com Jesus e um Novo Ano cheio das Suas maravilhas. E vamos todos construir com mais amor a família de Deus.
Vem, Senhor Jesus. Bate à nossa porta.
+ António, vosso bispo e irmão
Festa de Natal no Seminário Maior de Lamego
Seminário Maior de Lamego | Ceia de Natal
Na passada sexta-feira, dia 19 de dezembro, ocorreu no Seminário Maior de Lamego a Ceia de Natal de/para toda a família.
Depois da chegada de Braga, do último dia de aulas, às 18:30h celebramos a Eucaristia, presidida pelo nosso bispo, D. António Couto. Nesta celebração teve lugar a instituição de ministérios a alguns dos nossos seminaristas: no ministério de Leitor o Diogo André Costa Rodrigues, natural da paróquia de Lazarim, e o Luís Rafael Teles Azevedo, natural da paróquia de Vila da Ponte; no ministério de Acólito o Ângelo Fernando Gregório Ramos Santos, natural da paróquia de Vila Nova de Souto d’El-Rei, e o Joel Pedro Silva Valente, natural da paróquia do Granjal.
Durante a homilia, o nosso bispo, referiu que o leitor é aquele que tem como função ler e viver a Palavra de Deus, para assim viver sempre nas mãos de Deus, Ele que é “figura” para a vida de todos. Do mesmo modo, apontou também que o acólito é aquele que é instituído para servir ao altar. Este servir, nas palavras de D. António Couto, é servir Deus e os irmãos, é andar à volta de Deus, na sua presença, para que sejamos uma bênção para todos os irmãos.
Terminada a Eucaristia seguiu-se o jantar de Natal, onde as batatas e o bacalhau não faltaram. Este jantar é sempre momento de alegria e convívio, não só com as famílias, mas também para com as congregações religiosas da cidade e outros convidados, que neste dia não querem deixar de estar presentes. No fim do jantar ainda houve tempo para nos deleitarmos sobre alguns cânticos e poemas de Natal.
Foi, sem dúvida, um dia bastante rico. Aos novos instituídos, que o Senhor abençoe, proteja e dê coragem a todos, para que possam chegar com mais confiança e ânimo ao sacerdócio.
Vítor Carreira, IV Ano, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4294, ano 84/56, de 23 de dezembro de 2014
Festa de Natal no Seminário Menor de Resende
Chama…
O mundo vai rodando,
Não para de girar.
Os dias e os anos vão passando.
As estações sempre a mudar.
Uma nova luz surge
No seio do frio invernal:
Uma chama que arde forte
E viva vai aumentando,
No primeiro Natal.
Mas os anos vão passando
E os tempos mudando.
E as gerações se transformam.
E o amor enfraquece…
Sofre…
Morre…
Já não aquece.
Então a luz a Terra contempla
O seu tormento se dilata,
Pois a escuridão a envolvera
E, assim, aos poucos a mata.
Mas, então, chega a clara noite
Em que nasce o Salvador:
Os corações se abrem
E partilham o amor.
A tristeza passa a alegria,
A ofensa a perdão.
A luz se deflagra
E acaba a escuridão.
Mas o mundo vai rodando,
E não para de girar.
Os dias e anos vão passando.
As gerações sempre a mudar.
E a chama eternamente pena.
Todo o tempo a diminui…
Apenas nesse Nascimento
Se, intensamente, restitui.
Só neste dia o mundo se abre
E se deixa entregar à luz…
Só neste dia o amor é mais forte…
Só neste dia o bem o conduz…
O tempo nunca vai parar.
A luz sempre vai arder
E mais intensa se tornará,
Se no coração se atear,
E para sempre aí queimar,
Em todo o humano ser.
Ilídio M. C. Ferreira, Seminarista do Seminário de Resende,
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4294, ano 84/56, de 23 de dezembro de 2014
NATAL, DOM DE DEUS | Editorial Voz de Lamego | 23 de dezembro
Em vésperas de Natal, a edição desta semana da Voz de Lamego, como expectável, é dedicado especialmente ao Natal, nas reflexões propostas, na divulgação de notícias e de eventos. No entanto, outros motivos de relevo, como a Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial da Paz, a participação de D. António Couto nas Ceias de Natal do Seminário Maior de Lamego e do Seminário Menor de Resende; a instituição de ministérios.
Também o Editorial nos fala de Natal, como Dom do amor de Deus. Natal uma festa que não conhece fronteiras:
NATAL, DOM DE DEUS
Somos testemunhas da alegria que o nascimento de uma criança suscita numa família. Diante da maravilha que é a vida, tudo ganha um sentido novo e festivo. A atenção dispensada ao novo pequeno ser, tão frágil e o mais belo do mundo, é contínua. E o amor que a sua chegada fez aparecer no coração de todos é acompanhado por uma enorme alegria.
Com a criança que nasce, a nova vida que os seus pais vivem chama-se, de verdade, “esperança”. Não a esperança motivada pelos maus momentos que fazem acreditar em melhores dias. Nem a esperança motivada pela tristeza que nos invade e nos leva a esperar uma eventual felicidade. Aqui trata-se de uma esperança que faz viver aqueles pais e demais familiares o “hoje” de maneira plena.
Com um nascimento, tudo adquire um sentido belo e pleno. E os que rodeiam o novo ser comprometem-se totalmente, aqui e agora, com o que nasce. A criança mobiliza o amor, a atenção, a alegria. Com ela, a esperança verdadeira nasceu.
Eis o mistério do Natal!
A história de Israel é orientada para a vinda do Messias, esperado com paciência e ardor. O Natal é o fim dessa espera, a concretização de uma promessa num hoje que se vive com alegria. O menino que contemplamos na simplicidade e pobreza do presépio mostra-nos que Ele não quer rivalizar com outros bens. Ele é a verdadeira esperança. Com ele vem uma nova vida!
Natal é a festa de uma numerosa família que não conhece fronteiras, espaços ou tempos. Uma família sempre em construção, tais sãos os muros que separam os homens. Uma família que se constrói a partir do acolhimento do amor de Deus, dom concedido a todos pela incarnação do Verbo.
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4294, ano 84/56, de 23 de dezembro de 2014
Sugestão de Leitura | novo livro de D. António Couto > ano B
SUGESTÃO DE LEITURA DA VOZ DE LAMEGO:
O nosso bispo, D. António Couto, oferece-nos mais uma ajuda para melhor compreendermos os textos bíblicos que escutamos semanalmente. Dando continuidade ao trabalho já publicado para o Ano A, eis que um novo livro chega para nos acompanhar neste Ano B, que estamos a viver desde o primeiro domingo do Advento.
Tal como afirma o próprio autor, na introdução, trata-se de um contributo para “aqueles que gostam de saborear os textos bíblicos que a Liturgia nos oferece”.
A mesma introdução alude ainda ao aparecimento próximo de um livrinho para melhor conhecermos e compreendermos o evangelista deste ano, “Introdução ao Evangelho segundo Marcos” e que, juntamente com este, formará um todo.
Título: Quando Ele nos abre as Escrituras domingo após domingo. Uma leitura bíblica do Lecionário Ano B.
Autor: D. António Couto
Edição: Paulus Editora
Tamanho: 215 x 145 mm, 399 p.
Preço: 20 euros
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4293, ano 84/55, de 16 de dezembro de 2014
Há um ano > D. António Couto: Introdução ao Evangelho de São Mateus
D. ANTÓNIO COUTO. Introdução ao Evangelho segundo Mateus. Paulus Editora. Lisboa 2014. 112 páginas.
Depois da publicação do “Quando Ele nos abre as Escrituras. Domingo Após Domingo. Uma leitura bíblica do Lecionário (Ano A)”, inteirinho dedicado à liturgia de Domingo, centrado essencialmente no Evangelho, cujo evangelista principal, de domingos e solenidades é são Mateus, eis agora mais uma preciosa ajuda para entender o Evangelho da Igreja, isto é, o Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus.
Com a seriedade com que nos habitou, com a profundidade que lhe reconhecemos, D. António faz-nos entrar DENTRO do texto do Evangelho mas também dentro da HISTÓRIA de Jesus Cristo, de uma forma muito, muito, acessível, simples e muito poética. Cada texto traz a sabedoria das Escrituras Sagradas, explicada, exemplificada, com ligações à história de Israel e à história da Salvação. Texto de Mateus mas ligado a outros textos e contextos.
Os grandes discursos de Mateus, diversos acontecimentos que nos “agrafam” a Jesus, levam-nos àquele tempo, ou melhor trazem Jesus até nós, pois que Ele caminha connosco, queiramos nós escutá-l’O e segui-l’O e ainda seremos poucos para a sua seara. Ele diz o Pai, como o Espírito Santo diz o Filho e o Pai, mas também nos diz a nós. Estamos lá à beirinha de Jesus, escutando, interrogando-o, hesitando, duvidando, caminhando, ansiosos, de olhares perdidos que Ele faz questão em encontrar.
O que surpreende sempre nos textos de D. António, para lá da vasta cultura bíblica, é a forma poética e ritmada de dizer, de explicar, de nos envolver nas belíssimas páginas do Evangelho, da Escritura Sagrada. Este é mais um extraordinário exemplo, como quem trabalha a prata e o ouro, ou quem de tosca pedra tira belas estátuas, ainda que aqui a imagem seja desajustada, pois a pérola é o próprio Evangelho. Mas é possível que a beleza do Evangelho se torne ainda mais transparente e acessível com este estudo de D. António. Vale a pena ler, meditar, deixar-nos guiar para dentro das páginas do livro e sobretudo fazer com que as páginas do Evangelho continue a escrever nas nossas vidas, dentro do coração de cada um.
Já recomendámos a leitura dos comentários da Liturgia do DOMINGO: AQUI. Do mesmo modo poderá seguir as reflexões de D. António através do seu blogue pessoal: Mesa de Palavras – AQUI. Embora possam ser textos próximos, o autor e as leituras são as mesmas, mas o blogue permite uma ou outra atualização, que aqui ou acolá mais nos conduz ao Evangelho de Jesus.
A Livraria Fundamentos também recomenda este belíssimo trabalho: AQUI.
Livro sugerido no blogue CARITAS IN VERITATE: Aqui
PERIGO DO “NIM” | Editorial Voz de Lamego | 16 de dezembro
A poucos dias da celebração do Natal de Jesus Cristo, a edição desta semana transparece, desde logo, a luminosidade deste tempo, que se expressa nas imagens e nos textos, nos desejos e nos comentários. Desde logo, chamada de atenção para a MENSAGEM DE NATAL DE D. ANTÓNIO COUTO a abrir o Jornal, na primeira página.
Mas muitos outros motivos, entre notícias e as habituais reflexões, apresenta a edição do Jornal da Diocese de Lamego. Aqui fica, para ambientar, o Editorial:
PERIGO DO “NIM”
Na caminhada para a celebração do Natal faz-nos companhia a figura de João Baptista, de quem continuamos a ouvir o convite para mudar, para crescer, para avançar. Anunciando a presença d’Aquele que salva e apontando para o baptismo no Espírito Santo, o precursor cumpre a sua missão.
As poucas linhas que os evangelhos lhe dedicam são suficientes para o visualizarmos na sua simplicidade, o ouvirmos em interpelações provocadoras, o acompanharmos até à prisão e ali testemunharmos a sua morte.
Apontando para a verdadeira Luz, com humildade, apresenta-se como testemunha d’Aquele a quem nem sequer é digno de “desatar a correia das sandálias”. E se é verdade que protagoniza uma “pastoral de estaca”, na medida em que espera que venham ter com ele, não deixa de ser referência pela responsabilidade com que assume a sua missão e eleva a voz para anunciar e denunciar.
A frontalidade diante da vida e a clareza nas respostas merecem destaque, não se escondendo em declarações dúbias ou em palavreado que pode significar tudo e também o seu contrário. O seu posicionamento não deixa dúvidas e a coerência acompanha-o. Com posturas claras e escolhas nem sempre fáceis, a sua coragem marca-nos.
O Apocalipse, último livro da Bíblia, tece duras críticas a todos quantos evitam compromissos, que nem são quentes nem frios, mas vencidos pela tentação do silêncio, da fuga e da facilidade.
A fé exige opções, não é neutra. Querer preservar-se do risco de escolher pode ser apenas sinónimo de comodismo e não de prudência. Eis as “pessoas nim”, que estão algures entre o não e o sim, incapazes de dizer e de dizer-se com clareza, humildade e verdade.
O Advento é também oportunidade para, com frontalidade, clarificar e assumir.
Pe. Joaquim Dionísio, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4293, ano 84/55, de 16 de dezembro de 2014
NATAL 2014: Mensagem de D. António José da Rocha Couto
NÓS OS DOIS
Desde que sei
Que sou como um fiozinho de erva
Que de manhã reverdece e à tarde seca,
Que aprendi a suportar o peso
Do milagre.
Hoje tudo é mais claro
Tudo é mais nítido.
Mas no tempo em que os pinheiros
Eram altos
E os meus olhos de um verde cristalino,
No tempo em que o tempo
Era incandescente
E fazia carrancas ao destino,
Aí, oh meu país inocente
E pequenino,
Era eu que era mais divino
Ou era Deus que era mais menino?
- Sim. Enquanto tu descias a este chão de pó, e afanosamente o modelavas (Génesis 2,7), eu subia em sonhos a escada de Jacob (Génesis 28,12), e às escondidas, comia o teu céu de pão-de-ló. Deslumbramento teu no sótão deste chão, quando, no lusco-fusco da vidraça, descobriste o meu pião enrolado na baraça. Deslumbramento meu, quando, distraído, brincava no teu céu, e quase escorregava pelo firmamento.
- Valeu-me então um anjo que estava de passagem, e me deu a mão. Percebi depois que regressava do jardim do éden (Génesis 2,8), de regar a tua plantação (Isaías 61,3). Contou-me tudo. Falou-me de Abraão, de um rio que abriste no deserto (Isaías 43,19), da avenida florida que atravessa o mar a céu aberto (Sabedoria 19,7), da estrada traçada no deserto onde habitualmente andas a pé (Isaías 35,8), e sobretudo das flores que fizeste florescer em Nazaré (de natsar, florescer).
- Fomos depois os dois até Jerusalém, e vimos-te a escolher no ribeiro manso as pedras trabalhadas na torrente (1 Samuel 17,40). Olhavas para elas demoradamente em tuas mãos deitadas, e só depois as adornavas com tinta cor de rímel (Isaías 54,11), e as sentavas carinhosamente à tua mesa, em tua casa, onde ardia e não se consumia uma sarça acesa (Êxodo 3,2).
- Juntaram-se, entretanto, a nós milhares de anjos deslumbrados. Pus-me todo atento e parabólico, e pude ver o vento que o seu bater de asas produzia, e vi ainda que é essa energia que alumia as casas, muito mais do que qualquer rede de alta tensão ou parque eólico. Foi então que o anjo que comigo viajava me indicou um caminho hiperbólico (1 Coríntios 12,31).
- Entrei nesse caminho. Mas rapidamente vi que não ia sozinho. Ias tu, Senhor, comigo. Chamava-se amor esse caminho aberto no deserto (Atos 8,26). Confesso que nunca tinha estado tão perto da água viva e tão perdido no meio do sentido (Atos 8,36). Tão refém deste Deus nascido em Belém.
- Meu irmão de Dezembro, levanta-te, olha em redor e vê que já nasceu o dia, e há de andar por aí uma roda de alegria. Se não souberes a letra, a música ou a dança, não te admires, porque tudo é novo. Olha com mais atenção. Se mesmo assim ainda nada vires, então olha com os olhos fechados, olha apenas com o coração, que há de bater à tua porta uma criança. Deixa-a entrar. Faz-lhe uma carícia. É ela que traz a música e a letra da canção. Ela é a Notícia.
Desejo a todos os meus irmãos, sacerdotes, diáconos, consagrados/as e fiéis leigos, doentes, idosos, jovens e crianças da nossa Diocese de Lamego e da inteira Igreja de Cristo, um Santo Natal com Jesus e um Novo Ano cheio das Suas maravilhas. E vamos todos construir com mais amor a família de Deus.
Vem, Senhor Jesus. Bate à nossa porta.
+ António, vosso bispo e irmão