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Editorial: Responsabilidade pessoal e estruturas de pecado
Deve-se, creio eu, a João Paulo II a nomenclatura de “estruturas de pecado”, sem escamotear a responsabilidade pessoal. A ética de João Paulo II é, na verdade, personalista. Crescendo numa época em que se manifestou o nacional-socialismo e, posteriormente, o comunismo marxista será fácil perceber que há estruturas, grupos, movimentos que favorecem e potenciam o pecado, a corrupção, o abuso, o controlo de quem está hierarquicamente abaixo, fazendo lóbi ou controlando meios de comunicação social, criando a opinião pública que se deseja…
Porém, a responsabilização de uma estrutura terá que ser individuado, com rostos e pessoas concretas. Ao longo da história, muitas foram as situações em que o todo absorveu a responsabilidade pessoal e desculpabilizou os que efetivamente agiram num ou noutro sentido. Por outro lado, a escravização de pessoas com a justificação de beneficiar o grupo, o partido e, hipoteticamente, o bem comum. Na prática, em diferentes regimes totalitários, o bem comum era sobretudo o bem das elites, governantes e militares. As pessoas do povo eram como os peões no xadrez, importantes mas facilmente sacrificáveis, desde que se mantivesse o regime!
Quando Hitler gizou o seu império, o controlo pela força, pelo medo, pela persuasão doutrinária, um dos objetivos foi eliminar o povo judeu, enquanto povo. Os judeus não precisavam de ter cometido algum crime, bastava que fossem judeus. Depois da segunda guerra mundial houve, numa primeira fase, a tentação de julgar os alemães como povo. Porém, cedo se optou por responsabilizar cada pessoa envolvida, com o respetivo grau de envolvimento.
Ao tempo de Jesus, havia uma certa responsabilidade parental, familiar, por um lado, e de cada grupo ou de todo o povo, por outro. Apresentam-Lhe um leproso, um cego, um surdo, um coxo, e logo Lhe perguntam: quem pecou, ele ou os pais? Jesus responde claramente que não se trata de herança do pecado (pessoal).
No livro do Génesis, o relato da criação diz-nos que Deus criou os animais terrestres, as aves do Céu, os animais marinhos, mas só o ser humano é criado à Sua imagem e semelhança, com a mesma capacidade de amar e ser amado, e apto a responder-Lhe. Daí a igualdade e semelhança. Verdadeiramente só respondemos a quem é semelhante a nós. O Homem está só e Deus dá-lhe uma auxiliar semelhante, da mesma carne.
A resposta (responsabilidade) só é possível em relação a alguém que está no mesmo patamar. O Homem – masculino e feminino – responde pelo seu semelhante, e perante Deus que o criou à Sua imagem e semelhança, e lhe confiou toda a criação, tornando-o também responsável por ela.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 88/41, n.º 4478, 25 de setembro de 2018
Editorial Voz de Lamego: Igreja, da identidade à missão
Quem és? Quem é a tua família? Donde vens? Quem te chamou? O que fazes? Que desejas? Para onde vais?
São questões que vamos fazendo às pessoas com quem nos encontramos. A serem respondidas, ficamos a saber mais acerca delas. Mas não apenas a conhecer, ficamos (mais) ligados e mais comprometidos, pois a pessoa do outro já não é estranha, não é apenas conhecida, mas situamo-la com as suas raízes, os seus sonhos e projetos, os seus medos, a razão por ser assim e a forma como ocupa o tempo!
Como cristãos, inseridos na Igreja e, concretamente, numa comunidade eclesial, também nos colocamos estas perguntas, procurando respostas e novas perguntas que devem alimentar a nossa fé, saciar a nossa sede, procurando ficar (sempre) sequiosos para continuarmos a buscar! Procurar como quem encontra. Encontrar como quem procura, sem parar. É essa a nossa condição de peregrinos.
Aproximamo-nos da apresentação (6 de outubro) do novo Plano Pastoral para a Diocese. Claro que um plano, como facilmente se entende, não resolve todas as dificuldades, não apresenta soluções mágicas ou iniciativas que, de uma assentada, tornem os cristãos mais cristãos e as comunidades mais vivas, dinâmicas, em que todos se sintam em casa e motivados para a outros levar a alegria do Evangelho. Serão, isso sim, linhas orientadoras e motivadoras para que, novamente, uma e outra vez, a conversão a Jesus Cristo, a escuta atenta ao Evangelho, a inserção nas realidades concretas, o compromisso com todos, particularmente com os que se encontram em situação mais frágil, se efetivem e se aprofundem na vida pessoal, familiar e comunitária. O primeiro passo é o da conversão, que pressupõe proximidade com Jesus e passa pela oração que cria a intimidade com Ele. Não há comunidades felizes, se não houver cristãos genuínos, isto é, aqueles cristãos que experimentaram e continua a viver o encontro pessoal com Jesus Cristo.
Para os próximos três anos teremos como referência a Igreja, não para colocar de parte o compromisso missionário e caritativo, mas, precisamente, para que a consciência do que somos como cristãos, na pertença a um povo, a uma comunidade, nos faça perceber ainda melhor que não podemos ser discípulos, ser cristãos, se não nos tornarmos missionários, apóstolos de outros. A alegria que comunicamos acentua a alegria que há em nós por sermos cristãos. Essa reflexão, e todas as iniciativas que à sua volta se proponham, ajudar-nos-á a perceber Quem nos chama e Quem nos envia, qual a mensagem e Quem anunciamos! Qual é a família que nos acolhe e qual a família que desejamos para que outros se sintam atraídos, e uma vez incluídos, se sintam ansiosos por espalhar, ao largo e ao longe, a alegria de serem de Cristo.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 88/40, n.º 4477, 18 de setembro de 2018
Editorial Voz de Lamego: os cristãos e as redes sociais
Ide e anunciai o Evangelho a toda criatura. As últimas palavras de Jesus têm de ser, inevitavelmente, comprometedoras. Para mim e para ti. Para cada um de nós que se assume cristão, seguidor, imitador de Jesus Cristo. Em toda a parte, em todas as circunstâncias, somos cristãos, trazemos a marca de Cristo que nos habita pelo Seu Espírito de Amor e de Verdade.
A Diocese, sob o impulso do nosso Bispo e a insistência do Papa Francisco, tem procurado tomar consciência deste dever em transparecer Jesus. Nas diferentes esferas da vida pessoal, familiar e profissional, na política, na cultura e no desporto, com o grupo de amigos ou em tempo de férias, o cristão terá que confrontar a sua vida, a sua postura, as suas palavras, os seus gestos, com a postura e a vida de Jesus.
Não deixo de ser cristão quanto enveredo pela vida político-partidária. Não deixo de ser cristão quando inicio um trabalho ou abro uma empresa. Não deixo de ser cristão por me tornar músico ou artista de televisão. Não deixo de ser cristão por ser patrão ou por ser empregado.
Pela mesma razão, não deixo de ser quem sou porque tenho presenças nas redes sociais, nos meios de comunicação social. Quando “assistimos” a um casamento ou batizado, vemos muitos que entram mudos e saem calados. Corrijo, entram a falar e saem a falar, mas durante a celebração estão a assistir como a um jogo de futebol. Alguns não estão familiarizados com as celebrações, outros, e essa é a admiração maior, optam por não responder por vergonha, acanhamento, por “respeitos” humanos.
O mesmo acontece nas redes sociais. Muitos perdem a noção de que são cristãos-católicos. O mundo digital há de ser oportunidade para aproximar pessoas e comunidades e não espaço para a fofoca, para a crítica destrutiva, para as calúnias, as suspeições. Os meios de comunicação social trazem-nos notícias de toda a espécie. As redes sociais multiplicam as notícias, através das partilhas, dos gostos, dos comentários. Como cristãos (e como cidadãos) deveríamos primeiramente verificar a fonte e a veracidade do que partilhamos.
Temos assistido às chamadas “fake news” (notícias falsas) acerca do Papa e da Igreja. E muitos de nós fazem o papel de sacristãos (sem ofensa para os verdadeiros) e rapidamente multiplicamos as insinuações, os boatos, as injúrias! O mal deve ser denunciado. Mas os profetas não se ficam pelo lodo e propõem a cura pelo bem, pela verdade e pela justiça, projetando caminhos de esperança nas pessoas e no mundo a que Deus nos envia. Há tantas coisas positivas para divulgar, anunciar e partilhar! Na paróquia, na diocese, na Igreja, na aldeia e na cidade! Para quê contribuirmos para semear o caos?!
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 88/39, n.º 4476, 11 de setembro de 2018
Editorial Voz de Lamego: O Ministério da Bondade
Hoje destacaria dois acontecimentos, a partir de duas figuras que encarnam e visualizam a ternura e a bondade: o Papa Francisco e a sua Viagem ao Encontro Mundial das Famílias, na Irlanda, e D. António Francisco dos Santos e a estátua erigida em Tendais, Cinfães, no dia do seu aniversário natalício, 29 de agosto (faria 70 anos de idade), em homenagem póstuma, cerca de um ano depois do seu falecimento, a 11 de setembro de 2017.
Ao longo do seu pontificado o Papa Francisco tem posto em evidência o Evangelho da Alegria, a alegria do amor e da família, a ternura de Deus transposta para a ternura nas relações humanas. Há uma revolução a fazer, a revolução do amor. Para lá chegar, voltou a sublinhar Francisco, é necessária a revolução da ternura. Trata-se de assumir a postura de Jesus, aproximando-se das pessoas, especialmente das mais vulneráveis e cuidar das suas feridas com amor. Os apelos são constantes, à reconciliação e à paz, à inclusão e ao respeito pela vida e dignidade humanas, apostando na cultura do encontro. Pode haver desencontro de ideais e de projetos de vida, mas haverá sempre pontos de contacto, de diálogo, de encontro, de enriquecimento mútuo.
Os gestos do Papa trazem o calor dos países latinos, no abraço, na carícia, no olhar, no diálogo que mantém com os fiéis que encontra, fazendo perguntas, rezando um pai-nosso, uma ave-maria, pedindo a bênção dos peregrinos…
Na viagem apostólica à Irlanda, os meios de comunicação social ressalvaram, mais uma vez, o escândalo dos abusos sexuais de menores por parte de membros da Igreja. Sem esconder nem secundarizar este fracasso, viu-se também o aproveitamento de alguns para denegrir a figura do Papa e de tudo o que ele representa. Alguns lóbis movimentaram-se para boicotar a participação da população que deveria acolher o Papa. As perguntas feitas ao Papa voltam sempre ao mesmo: aborto, eutanásia, homossexualidade… tentando encontrar algum falha, lapso, alguma nuance na linguagem… Tal como em relação a Jesus, ao Santo Cura d’Ars, ao Santo Padre Pio, a Bento XVI, também Francisco tem sido atacado por pessoas de fora mas sobretudo e escandalosamente por pessoas ligadas à Igreja. Seria interessante perceber as motivações dessas pessoas!
Destaque da Voz de Lamego desta semana, a homenagem a D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, anteriormente Bispo de Aveiro, e no início do seu pontificado Auxiliar de Braga. Na paróquia de onde é originário D. António, Tendais, na Zona Pastoral de Cinfães, Diocese de Lamego, aí se juntaram centenas de pessoas para lhe prestarem uma merecida homenagem póstuma. Deixou, nas terras onde serviu a Igreja, um rasto de bondade, de simpatia, de proximidade, de calor humano. Mas Cristo que era Cristo não agradou a todos, e também D. António Francisco enfrentou adversidades, algumas delas públicas, e também aqui (sobretudo) por parte de pessoas com responsabilidades dentro da Igreja.
A inveja é um pecado que destrói! A luz sempre ofusca e baralha aqueles que preferem caminhar nas trevas. Mas só a luz nos leva a Jesus.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 88/38, n.º 4475, 4 de setembro de 2018
Falecimento do Irmão dos Padres Manuel e José Manuel Ramos
Faleceu no dia 2 de Setembro, o irmão dos reverendos Padres José Manuel Ramos e Manuel Francisco Ramos, o Sr. Francisco José Ramos, aos 59 anos de idade, no Hospital de Penafiel, concelho onde vivia.
Em Penafiel, celebrou-se a Missa de corpo presente, seguindo o cortejo fúnebre para Ferreirim de Sernancelhe, de onde era natural, com a celebração da santa Missa, seguindo-se o sepultamento no cemitério local.
Em comunhão com o Sr. Bispo, D. António Couto, associamo-nos ao luto dos nossos irmãos sacerdotes e demais familiares e amigos, rezando ao Senhor da Vida, esperando a misericórdia eterna para o Sr. Francisco José.