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A Catedral de Lamego em livro
Nove investigadores nacionais e estrangeiros, especialistas em diferentes áreas de trabalho como a História, a História da Arte, a Arquitetura, a Conservação e o Restauro dão forma às quase 300 páginas disponíveis a partir de 27 de setembro, online. O livro agora publicado resulta, em parte, do Encontro Internacional “Espaço, Poder e Memória: a Sé de Lamego em oito séculos de história”, realizado no Museu de Lamego, em abril de 2010.
Construída a partir da segunda metade do século XII, a Sé de Lamego é uma das catedrais mais antigas e emblemáticas do panorama historiográfico e artístico português. Porém, e em contraste com essa importância, os estudos que nas últimas décadas têm sido dedicados a este complexo catedralício e às suas sucessivas fábricas construtivas são resultado de investigações pontuais e dispersas, não existindo até ao momento uma síntese coerente e atualizada que ofereça uma interpretação de conjunto sobre a Sé de Lamego e os seus mais de 800 anos de história.
Procura-se com este livro preencher de algum modo essa lacuna e contribuir para o aprofundar da investigação e do debate interdisciplinar sobre as catedrais portuguesas, através de uma monografia dedicada à Sé duriense assente no rigor científico e na interligação temática e cronológica de diferentes abordagens, que constitui uma renovada e abrangente fonte de estudo e de informação também adequada e acessível ao público em geral.
O esforço de síntese e de contextualização encontra-se presente nesta obra, que percorre diferentes períodos temporais, da Idade Média à Época Contemporânea, articuladas numa organização temática representativa dos principais momentos históricos, construtivos e artísticos que moldaram a catedral de Lamego durante os seus oito séculos de existência, desde a pouco conhecida fase inicial de restauração da diocese e a subsequente construção da catedral românica e gótica, o período áureo da renovação renascentista da Sé, os séculos da Contra-Reforma, não esquecendo também a sua história recente, marcada pelas intervenções da Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais e pelas campanhas de restauro que a catedral de Lamego conheceu ao longo do século XX.
“Espaço, poder e memória. A Catedral de Lamego, sécs. XII a XX” é uma publicação do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, em parceria com o Museu de Lamego.
De forma a chegar a um público o mais abrangente possível, a obra é de acesso livre.
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Entrevista a Papa Francisco
Santa Marta, segunda-feira, 19 de Agosto, às 9.50
É segunda-feira, 19 de agosto. O Papa Francisco marcou encontro para as 10.00 na Casa de Santa Marta. Eu, no entanto, herdei do meu pai a necessidade de chegar sempre mais cedo. As pessoas que me acolhem instalam-me numa pequena sala. A espera dura pouco, e, depois de uns breves minutos, acompanham-me ao elevador. Nesses dois minutos tive tempo de recordar como em Lisboa, numa reunião de directores de algumas revistas da Companhia de Jesus, surgiu a proposta de publicar conjuntamente uma entrevista ao Papa. Tinha conversado com os outros directores, ensaiando algumas perguntas que exprimissem os interesses de todos. Saio do elevador e vejo o Papa já à porta, à minha espera. Na verdade, tive a agradável impressão de não ter atravessado portas.
Entro no seu quarto e o Papa convida-me a sentar numa poltrona. Ele senta-se numa cadeira mais alta e rígida, por causa dos seus problemas de coluna. O ambiente é simples, austero. O espaço de trabalho da escrivaninha é pequeno. Toca-me a essencialidade não apenas dos móveis, mas também das coisas. Vêem-se poucos livros, poucos papéis, poucos objectos. Entre estes, um ícone de São Francisco, uma estátua de Nossa Senhora de Luján (padroeira da Argentina), um crucifixo e uma estátua de São José adormecido, muito semelhante àquela que tinha visto no seu quarto de reitor e superior provincial no Colégio Máximo de San Miguel. A espiritualidade de Bergoglio não é feita de «energias harmonizadas», como ele lhe chamaria, mas de rostos humanos: Cristo, São Francisco, São José, Maria.
O Papa acolhe-me com o mesmo sorriso que já deu várias vezes a volta ao mundo e que abre os corações. Começamos a falar de tantas coisas, mas sobretudo da sua viagem ao Brasil. O Papa considera-a uma verdadeira graça. Pergunto-lhe se descansou. Ele diz-me que sim, que está bem, mas, sobretudo, que a Jornada Mundial da Juventude foi para ele um «mistério». Diz-me que nunca foi habituado a falar para tanta gente: «Consigo olhar para as pessoas, uma de cada vez, e entrar em contacto de modo pessoal com quem tenho na minha frente. Não estou habituado às massas». Digo-lhe que é verdade e que se vê, e que isto impressiona toda a gente. Vê-se que quando está no meio das pessoas, os seus olhos, de facto, pousam sobre cada um. Depois as câmaras televisivas difundem as imagens e todos podem vê-lo, mas assim ele pode sentir-se livre para ficar em contacto directo, pelo menos visual, com quem tem diante de si. Parece-me contente com isso, por poder ser aquilo que é, por não ter de alterar o seu modo habitual de comunicar com as pessoas, mesmo quando tem diante de si milhões de pessoas, como aconteceu na praia de Copacabana.
Homilia do Sr. D. António Couto na Solenidade de N. S. dos Remédios
Miqueias 5,1-4
Salmo 13(12),6; Isaías 61,10
Romanos 8,28-30
Mateus 1,1-16.18-24
1. O Salmo 13 que hoje cantamos como Salmo responsorial pediu emprestado a Isaías 61,10 o refrão que repetimos: «Exulto de ALEGRIA no Senhor!». Traduzido mais literalmente soaria com mais força ainda: «Transbordo de ALEGRIA no Senhor»! Típico da gramática desta ALEGRIA, é que não se trata de uma alegria nossa, que em nós nasce, que em nós começa e em nós acaba. Trata-se de uma ALEGRIA que vem de Deus, e por inteiro nos atravessa, nos enche a alma, nos enleva e nos eleva até Deus. Sim, é em Deus que esta ALEGRIA tem o seu começo e o seu fim. Bonito é que a figura que celebramos neste Dia, Maria, também tenha pedido este versículo emprestado a Isaías para conseguir compor, no Magnificat, a torrente da ALEGRIA que lhe inunda a alma e lhe faz pulsar a um ritmo novo o coração: «o meu espírito exulta de ALEGRIA em Deus, meu Salvador!» (Lucas 1,47), assim canta Maria. Quer isto dizer, meus amados irmãos, que a ALEGRIA verdadeira não é do nosso mundo, não é daqui, não se compra nem se vende em pacotes servidos em shows. Típico do show é servir uma alegria líquida e passageira, que tem a duração de um gelado a liquefazer-se nas mãos de uma criança. Esta alegria ténue e líquida tem a duração de um grito histérico. A ALEGRIA que vem de Deus, que jorra do coração de Deus, não se compra nem se vende, não se liquefaz, ninguém vo-la pode tirar (João 16,22), dura até à vida eterna. É a ALEGRIA que podeis serenamente contemplar, amados irmãos, no rosto, na voz e nos braços de Maria.
2. Sim, irmãos muito amados, a ALEGRIA que podeis contemplar no rosto de Maria vem de Deus, é Eterna como Deus, é a ALEGRIA que se vive na Casa de Deus, e é por isso que Maria vos encanta e me encanta, não um dia, mas sempre. Meus irmãos mais pequeninos, mais simples, mais humildes, vou revelar-vos um segredo que afinal vós já sabeis muito bem, tão bem que foi convosco que o aprendi. Sim, vós viestes aqui nove dias seguidos, às seis da manhã, e enchestes completamente este Santuário, esta Casa de Deus e de Maria. Cheios de ALEGRIA viestes, cheios de ALEGRIA regressastes a vossas casas, cheios de ALEGRIA voltastes aqui no dia seguinte, no dia seguinte, no dia seguinte. Apetece-me glosar aqui um intenso dizer de Jesus às multidões, registado no Evangelho de Mateus: «O que viestes ver aqui, irmãos? Uma cana agitada pelo vento? Mas o que viestes ver? Alguém vestido com roupas finas? Mas os que se vestem com roupas finas vivem nos palácios dos reis. Então, o que viestes ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que um profeta» (Mateus 11,7-9). Viestes ver Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, rainha dos Profetas. Viestes ver a ternura maternal de Deus, visível no colo de Maria. Viestes rezar. Viestes entregar a Maria as vossas dores e as vossas flores.