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Editorial Voz de Lamego: A vida, a vinha e o vinho (generoso)

A diocese de Lamego é território de bons vinhos, não estivéssemos numa das regiões demarcadas mais antigas e mais conhecidas. Vinho generoso (tratado, fino, do Porto), que deu fama à região, mas também vinhos de mesa, brancos e tintos, vinho espumante. O pão não pode faltar à mesa dos portugueses, nem o vinho pode faltar às festas de verão, e das outras estações do ano, a casamentos e batizados, a aniversários. Mesmo com a proliferação de outras bebidas, o vinho continua a ser como que a base para as festas dos adultos!
Na Bíblia, a vida futura (o reino de Deus) é comparada a um banquete: “Sobre este monte, o Senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos” (Is 25, 6).
No Evangelho de São João, o início da vida pública de Jesus acontece nas Bodas de Caná. Maria, Sua Mãe, é convidada. Jesus e os discípulos também estão entre os convidados. A determinada altura, Maria dá-se conta que está a faltar um dos ingredientes indispensáveis para a festa, e vai dizê-lo a Jesus: “Não têm vinho”. Na aparente relutância de Jesus, a confiança de Maria que vai ter com os serventes e lhes diz: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Jesus manda que encham de água seis talhas, destinadas à purificação dos judeus, e manda que distribuam… a água transformada em vinho (Jo 2, 1-12). E o vinho é de primeira apanha! É possível fazer vinho sem uvas, mas não sem água! A qualidade e a abundância do vinho, fruto da bênção e da ação de Jesus é também antecipação e sinal de outra transformação: o vinho que se transformará no Seu sangue, abundância da vida nova e da Sua presença entre nós ao longo do tempo.
Que tem a ver o vinho com a vida? Muito! Além de nos convocar para a festa e para a partilha, ajuda-nos a perceber as relações entre as pessoas, também no seio dos casais, das famílias e da comunidade. A não ser alguém já “viciado”, a bebida é um convite à confraternização, à cumplicidade. A bebida desinibe e, não sendo em excesso, coloca as pessoas mais à vontade. Sendo vinho generoso, a amadurecer num pipo, precisa da vigilância do “vinhateiro”, que vai acrescentando mais vinho para não correr o risco de um dia encontrar o pipo seco! Assim, na vida, precisamos de ir acrescentando momentos, celebrações, encontros, amizade, para não ficarmos perdidos, sozinhos, a definhar! Precisamos dos outros e da sua companhia!
Por outro lado, quando o vinho, sobretudo em garrafa ou garrafão, é agitado, é necessário deixar que assente. A vida também precisa de tempos de repouso, paragem, reflexão, para que a turbulência (e as dificuldades) de momento não ofusquem a serenidade, o sentido e a confiança no futuro e nas pessoas. E, tal como vinho, a vida também precisa de respirar. Respirar e expirar o odor de Cristo, o sopro do Espírito.
A imagem da vinha está também muito presente na Sagrada Escritura. Isaías narra o cântico de amor à vinha, que é a casa de Israel, com todos os cuidados que Deus teve com ela: lavrou-a, limpou-a das pedras, plantou-a de cepas escolhidas, protegeu-a, erguendo uma torre ao centro e um lagar, vedou-a. O natural é que viesse a dar uvas, mas só deu agraços (cf. Is 5,1-7; Sl 79). Jesus utiliza a mesma imagem para falar do Reino de Deus.
O relacionamento num casal, na família, na comunidade, com os amigos precisa de ser cuidado em todo o tempo… é como a vinha, logo que acaba a vindima começa um novo ciclo: a poda e a empa, o despampar, a atenção ao “choro” das vides, às doenças que podem acontecer, ao clima, aos vários tratamentos, a poda em verde, tirando alguns ramos que não interessam e, posteriormente, cortar alguns cachos em excesso, potenciando a qualidade dos que ficam. Na vida precisamos deste cuidado permanente, para que o decorrer do tempo e as dificuldades não destruam o amadurecer do fruto…
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/34, n.º 4665, 6 de julho de 2022
Editorial Voz de Lamego: Dai-lhes vós de comer

Com a guerra imposta pela Rússia à Ucrânia, acresce um problema associado à guerra, a fome. As guerras, ao longo da história, como lembrou D. António Couto, na Lapa, no passado dia 10 de junho, já matou 3 biliões e 800 milhões de pessoas. A fome, por sua vez, continua a matar milhares de pessoas. Associada à guerra, a fome mata ainda mais pessoas.
Por um lado, a escassez de alguns alimentos, mormente cereais exportados da Ucrânia para muitos países e que, agora, em virtude das dificuldades ou impossibilidades de escoamento, aumenta exponencialmente o preço dos mesmos. Por outro lado, também os combustíveis (fósseis) subiram em flexa, devido aos preços exigidos pela Rússia ou às sanções económicas que impedem ou diminuem a disponibilidade aquisição. A guerra mostrou uma interdependência entre povos, não apenas na Europa ou no Ocidente, mas em todo o mundo. Os mais pobres são os primeiros a pagar a fatura da escassez.
Se folhearmos os jornais ou fizermos uma busca na internet, em sites fidedignos, veremos que os números são verdadeiramente assustadores, referidos a crianças. O número de pessoas que vive abaixo do limiar da pobreza é dramático. O dinheiro investido em armamento, como o que se está a verificar atualmente, erradicaria a pobreza na maioria dos países. Para erradicar a pobreza investem-se milhares de euros / dólares, para armamento investem-se biliões!
“A cada cinco segundos, morre no mundo uma criança com menos de 15 anos. As crianças dos países com a mortalidade mais alta têm até 60 vezes mais probabilidade de morrer nos primeiros cinco anos de vida do que as dos países com mortalidade mais baixa, segundo o relatório da ONU” (Unicef, 18 setembro 2018). “Uma criança morre a cada 10 minutos por falta de alimentos no Iêmen” (ONU News, 24 de setembro de 2021). “Mais de cem mil crianças estão em risco de morrer de fome em Tigré. Os números da subnutrição na região, que foi a mais afetada pela grande fome de 1984, aumentaram dez vezes, segundo estimativa da Unicef. Responsáveis pedem acesso ao local para entrega de ajuda alimentar urgente” (Público, 30 de julho de 2021).
A pandemia, as alterações climáticas, os conflitos violentos estão a multiplicar a fome em todo o mundo, não se vislumbrando sucesso para os diferentes projetos de erradicação da pobreza. A guerra na Ucrânia é só mais um triste e lamentável acontecimento que faz perigar a vida de milhares das pessoas, trazendo inquietação, revolta, medo, aumento do custo de vida, e desatenção aos pobres e excluídos, criando novas faixas de pobreza… o que, por sua vez, gerará mais conflitos.
Não podemos fazer tudo. Mas há sempre alguma coisa que poderemos fazer para ajudar, não apenas os que estão longe, mas os que vivem perto.
Na solenidade de Corpus Christi, em Portugal, celebrada na quinta-feira, 16 de junho, e em muitos países no último Domingo, fomos presenteados pela narração da multiplicação dos pães (Lucas 9, 11b-17). No evangelho, Jesus insinua-Se como o alimento para todos. Alimento abundante, que sobeja para que possa ser partilhado por outros, pelos que estão ausentes. Os apóstolos veem (sobretudo) o número: muitas pessoas, poucos alimentos, dinheiro insuficiente para tanta gente. Como é verdade ainda hoje: tanta gente que não tem como alimentar-se! A riqueza nas mãos de uns poucos. Jesus compromete-nos: «Dai-lhes vós de comer». Tanta gente. Cinco pães e dois peixes. Ontem como hoje. A questão dos números é relativa. Também hoje podemos operar verdadeiros milagres, pela partilha. Quando partilhamos do pouco que temos, dá para mais, dá para muitos, dá para todos. Deus conta connosco, com os nossos cinco pães e dois peixes e conta que sejamos nós a distribuir. Na vizinha Espanha, foi aprovada uma lei contra os desperdícios de alimentos. A ONU afirma que mais de um terço dos alimentos produzidos é desperdiçado. Pode incentivar outros países, e a sensibilizar as pessoas, a fazerem o mesmo. O excesso de desperdício é um atentado à escassez alimentar de muitas pessoas, em muitos países. Passa também por aqui a multiplicação dos pães: a partilha solidária.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/32, n.º 4663, 22 de junho de 2022
Editorial Voz de Lamego: no Corpo de Cristo…
Ligamo-nos espiritual e afetivamente, mas a partir do nosso corpo que nos identifica e nos diferencia dos outros, limitando-nos fisicamente, com fronteiras no aquém da nossa pele, riqueza que nos permite situar-nos diante dos outros. Somos CORPO. Não é uma parte separável que possamos dispensar quando nos apetece, mas integra-se na nossa identidade (corporal e espiritual).
Como é que comunicamos uns com os outros? Com a presença (corporal), com a voz, e com o timbre com que falamos, comunicamos com os gestos, com o olhar, com o sorriso, com as expressões do rosto e até com a postura do corpo. Como podemos constatar, o Corpo já é comunicação. Aliás, sem corpo, nem se colocaria a questão da comunicação entre pessoas. Por vezes temos pressentimentos, sentimos o que outro está a sentir, intuímos o que está para suceder, mas de novo as raízes: a estrutura das emoções, dos sentimentos e do pensar está no corpo que somos.
A filosofia grega acentuava o confronto entre a alma e o corpo. O corpo era um entrave à verdadeira vida. O espírito, a alma, tinha que dominar o corpo, até à libertação definitiva. Nas religiões/filosofias orientais vinga a ideia de libertação do corpo pela ascese, pelo ioga, por diversas técnicas, até atingir o nirvana, um estado de (quase) puro espírito, sem dor, acima do mundo material. A perspetiva bíblica é diferente, o ser humano é corpo e espírito. É dom da criação de Deus, que nos dotou de um corpo espiritual, ou de um espírito corpóreo. Não somos um espírito dentro de um corpo, a tentar escapulir como de uma prisão, libertando o espírito, deixando o corpo para trás. Somos PESSOAS, criadas pelos Deus Amor, e que nos quer bem. Em Jesus, é o próprio Deus que vem, e assume um Corpo.
Na idade média, foi ganhando forma a convicção de acentuar o mistério da Eucaristia, a presença real de Jesus na hóstia e no vinho consagrados. Começou pela elevação da hóstia (século XII), para que todos se prostrassem em adoração e pudessem ver o Corpo de Cristo. Era um passo, porém, a Eucaristia continuava “limitada” à celebração da missa e da comunhão, estando prevista a conservação da hóstia consagrada, inicialmente, apenas para as pessoas doentes e ausentes.
No século XIII, a adoração da Eucaristia acentua-se e sai à rua, ganhando progressivamente relevo a Procissão do Santíssimo Sacramento. O desejo de ver a hóstia dá lugar à celebração da realeza de Cristo, a presença do Senhor, que bendiz a cidade e as pessoas.
Celebrar o Corpo de Deus, significa acreditar num Deus que faz caminho connosco. Percorre as nossas ruas e vielas, as nossas estradas e avenidas. Ele encontra-nos onde nós vivemos, onde caminhamos. Deus não é um foragido, que Se esconde, mantendo-se à distância para não Se envolver, mas tem um ROSTO, um CORPO, uma PRESENÇA efetiva e real na nossa vida.
Esta é a vontade de Deus. Gera-nos para uma vida feliz. Dá-nos o Seu Filho, em tudo igual a nós, exceto no pecado, e que assume um Corpo humano, para realizar a vontade paterna. Vive entre nós. É morto. Ressuscita. Pelo Espírito Santo fica entre nós, no Seu Corpo e Sangue. Como dissera na última Ceia, vai morrer, vai para o Pai, e do Pai envia-nos o Espírito. Entrega-Se por inteiro. É-nos devolvido, pelo Espírito Santo na consagração. Sempre que nos reunimos em Seu nome, fazemos o que Ele fez naquela noite. Mais, reunimo-nos para fazermos o que Ele fez em toda a vida, o serviço permanente a favor dos outros. Somos responsáveis uns pelos outros. Celebrar a Eucaristia, como membros do Corpo de Cristo, a Igreja, comungando o Corpo de Cristo, partilhamos Cristo e tornamo-nos guardadores uns dos outros. Não podemos sentar-nos à volta da mesma mesa, unidos no Corpo, e depois sair cada uma para sua casa, para a sua vida, como se tivesse sido um encontro de estranhos e/ou inimigos. Somos responsáveis uns pelos outros. A abundância e riqueza do Corpo de Jesus há de levar-nos a partilhá-lo entre todos, para que a ninguém falte o alimento corporal e espiritual.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/31, n.º 4662, 15 de junho de 2022
Editorial Voz de Lamego: Não se perturbe o vosso coração

Há uma semana, o editorial tinha como título: só se vive uma vez. Tinha partido de uma música, conhecida, que passou num momento de festa e confraternização, após o matrimónio do meu irmão Augusto e da minha cunhada Paula. O que a letra sugeria, parece que ganhou um sentido mais premente.
Recuperando um pouco do editorial: “Se nós soubéssemos que amanhã já não estamos (fisicamente) por cá, talvez acelerássemos algumas tarefas e compromissos, para deixarmos resolvido, para vivermos. Como não sabemos, também não o devemos adiar, pois o futuro só a Deus pertence. Ele dá-nos o tempo atual como presente para desfrutarmos, para vivermos, para construirmos um mundo fraterno, que seja casa de todos e para todos. Há quem não viva hoje à espera de viver o amanhã, de melhores dias e melhores circunstâncias que não chegam ou quando chegam já é demasiado tarde”.
Estou certo que o meu irmão viveu dias muito felizes, muito preenchidos, dando o melhor, recebendo o melhor da vida, da família, dos amigos e, especialmente, da esposa. Muitas vezes, e nós padres fazemo-lo quase constantemente, repetimos o desafio a viver o dia de hoje como presente que Deus nos dá, pois não saberemos se amanhã estaremos (fisicamente) por cá. Então, sem medos, sem pressas, sem ansiedade, vivamos! Digamos hoje o que temos a dizer! Amemos hoje, cuidemos hoje, perdoemos hoje, pois o HOJE torna-se eterno.
Quando se aproxima a Sua hora, Jesus prepara e sossega os seus amigos mais íntimos: «Não se perturbe o vosso coração; acreditai em Deus e acreditai em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, ter-vos-ia dito que vos vou preparar um lugar? E, quando Eu tiver partido e vos tiver preparado um lugar, virei de novo e levar-vos-ei comigo, para que onde Eu estou, estejais vós também» (Jo 14 1-3).
As palavras de Jesus só serão compreendidas a posteriori. «Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11). E Jesus prossegue, dizendo: «Mas, porque vos disse estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração… haveis de chorar e lamentar-vos, mas o mundo alegrar-se-á; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza tornar-se-á alegria… vós agora sentis tristeza, mas Eu hei de ver-vos de novo, e o vosso coração alegrar-se-á, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria… Até agora, nada pedistes no meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa… disse-vos estas coisas para que em Mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem: Eu venci o mundo!» (Jo 16).
Parafraseando Toltói, a alegria é semelhante para todos, a tristeza cada um a vive à sua maneira. Não seremos capazes de nos colocarmos no lugar dos apóstolos, quando Jesus lhes diz que vai ser morto ou quando Jesus morre de facto. As palavras de Jesus são também para mim, para nós. O anúncio da partida, da separação física gera um emaranhado de sentimentos, um certo entorpecimento… a fé desafia-nos a acolher os desígnios de Deus, mesmo quando são inusitados, quando chegam fora do tempo que julgávamos ter. Jesus volta à vida, ainda que numa dimensão (dinâmica) diferente. Com Ele vivem os que com Ele partem. Assim o creio e assim o espero para o meu irmão Augusto, para que, vivendo em Deus, a Deus reze por todos aqueles que fizeram e fazem parte da sua vida. Agradeço a Deus os momentos que nos deu para apreciarmos a vida, desfrutarmos da presença, agradecermos as pessoas. Como naquele dia, há pouco mais de uma semana, na Sé de Lamego, diante de Deus, abençoando um compromisso para a vida… a mesma vida e a mesma bênção nos liguem ao mistério amoroso de Deus.
Agora a tristeza e o luto, mas logo, a alegria do reencontro, quando Ele vier e nos levar Consigo. Até lá… vivamos agradecidos por tantos momentos, agradeçamos vivendo, como se nunca tivesses partido, porque Deus te quer perto de nós, no nosso coração e na nossa vida. Vida! Sempre. Gratidão e Paz.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/28, n.º 4659, 25 de maio de 2022
Editorial Voz de Lamego: Só se vive uma vez!

Em meados dos anos 90, do século e milénio passados, um duo espanhol, Azucar Moreno, popularizou-se com este tema: Sólo se vive una vez! Deixamos o ritmo para quem o tiver, e partirmos deste desafio que perpassa na letra desta canção, cheia de vida. “Apaga o televisor… dá marcha ao coração… Se te importa o que dirão e se te querem enrolar, lembra-te bem: só se vive uma vez… Se te querem amargar com problemas… não te deixes convencer: só se vive uma vez”.
Saímos da Semana da Vida (8 a 15 de maio), num indelével convite a acolher, amar, proteger a vida, cuidar dos mais frágeis, as crianças e os idosos, os pobres e as pessoas portadoras de deficiência. Nestes dois meses de guerra, imposta pela Rússia à Ucrânia, multiplicam-se as pobrezas, gerando órfãos, pais que veem os filhos morrer, filhos que deixam os pais para trás, sem esperança de os voltarem a ver, mulheres cujos maridos, companheiros, namorados, noivos estão na linha da frente. Uma guerra gera orfandade e viuvez, gera luto e tristeza, e desolação, medo e vontade de vingança. Os estragos atuais terão reflexo nas próximas gerações. Os edifícios construir-se-ão, os corações levarão muito mais tempo e as famílias, muitas delas, ficarão destroçadas para sempre.
Neste cenário preocupante, o desafio a viver é mais premente. Se nunca sabemos a nossa hora, num contexto de guerra, que pode alargar-se a toda a Europa ou a todo o mundo, a incerteza agudiza-se. A fé, também neste caso, ajuda-nos a relativizar, sem desvalorizar o pecado da violência, da agressão gratuita, dos assassinos em massa em prol do poder, do controlo, da supremacia de uma ideologia ou de um país ou de um líder. A fé garante-nos que a vida não acaba com a morte e que também o tempo de morte e de trevas passará. A história mostra-nos longos períodos de guerra e de embotamento face à duração da mesma. Porém, para quem é agredido, violado, torturado, perseguido, expulso de sua casa, para quem é morto, ferido, ou vê os seus a serem feridos e mortos, não será o tempo a curar, a repor, a compensar, ainda que amenize a dor ou mesmo o desejo de vingança. Nas perdas humanas, só a fé garante a esperança na vida eterna, a certeza de novo reencontro, sem o qual a vida fica a meio, deficitária, por completar.
Se nós soubéssemos que amanhã já não estávamos (fisicamente) por cá, talvez acelerássemos algumas tarefas e compromissos, para deixarmos resolvido, para vivermos. Como não sabemos, também não o devemos adiar, pois o futuro só a Deus pertence. Ele dá-nos o tempo atual como presente para desfrutarmos, para vivermos, para construirmos um mundo fraterno, que seja casa de todos e para todos. Há quem não viva hoje à espera de viver o amanhã, de melhores dias e melhores circunstâncias que não chegam ou quando chegam já é demasiado tarde.
Jesus, numa página da Sua vida (histórica), tranquiliza os Seus discípulos, desafiando-os: «Não vos preocupeis com o amanhã, porque o amanhã preocupar-se-á consigo próprio. A cada dia bastam os seus males».
Mas atenção, não se trata de despreocupação ou de demissão, mas de compromisso e empenho em viver e em cuidar da vida, das pessoas, do mundo que é a nossa casa. Diz-nos Jesus, numa parábola: «A terra de um homem rico deu uma boa colheita. E discutia consigo próprio, dizendo: “Que hei de fazer, dado que não tenho onde recolher os meus frutos?”. Disse, então: “Vou fazer assim: destruirei os meus celeiros e edificarei uns maiores; lá recolherei todo o grão e os meus bens. E direi à minha alma: “Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos: descansa, come, bebe e regala-te!”. Mas Deus disse-lhe: “Insensato! Esta noite a tua vida ser-te-á reclamada. O que preparaste, para quem será?”. Assim acontece àquele que acumula para si e não se torna rico diante de Deus».
Se conjugarmos os dois textos, vivamos hoje, sem adiamentos, empenhados em sermos bênção e casa uns dos outros.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/27, n.º 4658, 18 de maio de 2022
Editorial: Levantai-vos! Vamos! Temos muito para andar…
A nossa diocese vive o ano pastoral neste desafio de Jesus aos Seus apóstolos: Levantai-vos! Vamos! (Mt 26, 46). No Jardim das Oliveiras, os guardas aproximam-se para O prender. Depois de intensos instantes de oração e súplica, Jesus desperta os seus amigos mais próximos, para que não se deixem abater pelo sono, pela noite, pela ansiedade ou pelo medo. As horas que estão pela frente não auguram nada de bom. À noite todos os gatos são pardos. A escuridão acentua o medo, pois o espaço é muito fechado, não se sabe quem está a rondar, se há alguém com uma emboscada preparada, ou se há animais perigosos por perto.
A noite proporciona, noutro contexto, recolhimento para a oração, para a escuta, para a introspeção. Pela noite ou de madrugada, Jesus retira-Se para orar. Foi assim também naquele dia, depois da Ceia, Jesus, levando os discípulos, dirige-se para o Jardim das Oliveiras. A oração é audível: Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice. Contudo, não Se faça como Eu quero, mas como Tu queres! Os discípulos não puderem vigiar com o Mestre nem uma hora! Adormeceram. Agora, Jesus desperta-os para se levantarem e envolve-os, e a nós também, no caminho a seguir: Vamos! Juntos. Conto convosco no Meu caminho!
O lema da diocese procurou sincronizar com o lema da Jornada Mundial da Juventude: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). A Anunciação dá lugar, rapidamente, à Visitação. O Anjo anuncia a Maria que Ela será mãe do Filho de Deus Altíssimo. Tranquilizando-a, o Anjo informa-a que também a sua prima Isabel, de idade avançada e para lá de todas as possibilidades, está grávida, já no sexto mês. A primeira decisão de Maria é partir. Levantar-se e partir apressadamente para a montanha ao encontro de Isabel, em direção a Ain Karim, povoação nas proximidades de Jerusalém.
Também acerca de Maria podemos usar as palavras do Profeta: «Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz” (Is 52, 7). Nossa Senhor leva uma mensagem de paz e de alegria. A felicidade tende a partilhar-se, multiplicando-se. Maria transporta o Príncipe da Paz e comunica essa bênção a sua prima Isabel. A celeridade de Maria em partir tem esta motivação de levar a Boa Nova, indo também inteirar-se das necessidades de Santa Isabel.
Iniciámos o mês de maio, mês dedicado especialmente a Maria. Ao dedicar-se uma jornada, uma novena ou um mês a Nossa Senhora, tem, pelo menos, dois propósitos. Por um lado, honrar, agradecer, suplicar e louvar a Deus por intercessão da Virgem Mãe. Por outro lado, deixarmo-nos interpelar por Ela, pelas Suas palavras, pela Sua vida. É desafio constante: fazei o que Ele vos disser… imitando-A: Faça-se a Tua vontade!
Numa das belas páginas da Bíblia, o profeta Elias, o grande profeta de Israel, faz-nos balançar entre a fé e o cansaço, entre a determinação e a desistência. Em fuga, sob ameaça da Rainha Jezabel, Elias vagueia pelo deserto durante um dia. No final, sentou-se debaixo de um junípero e clamou: “Basta, Senhor, tirai-me a vida, porque não sou melhor que os meus pais”. Deitou-se por terra e adormeceu. O Anjo do Senhor desperta-o e diz-lhe: “Levanta-te e come”. Comeu, o pão cozido, bebeu, o copo de água e voltou a adormecer. O Anjo voltou a despertá-lo: “Levanta-te e come porque tens um longo caminho a percorrer” (1Reis 19, 1-8). Desta feita, Elias levanta-se, come e, revigorado, põe-se a caminho, andando quarenta dias e quarenta noites até à montanha do Senhor, o Horeb.
Alimentemo-nos do Senhor, da Sua palavra, do Pão da vida, para que não nos falte o ânimo no caminho e que a presença da Virgem santa Maria nos anime nos momentos dolorosos.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/25, n.º 4656, 4 de maio de 2022
Editorial Voz de Lamego: Verdadeiramente este homem era justo

O centurião, ao ver o que se passava, exclamou, glorificando a Deus (Lc 23, 46-47).
Aparentemente, a história de Jesus, e a Sua vida entre nós, chegou ao fim!
Que é que terá visto, ouvido, sentido o centurião para dar glória a Deus logo depois de Jesus ter expirado?
Um desenlace anunciado pelo próprio Jesus, a entrega às mãos das autoridades religiosas e políticas, julgado e morto! Último suspiro! A violência a que foi sujeito, desde a prisão no horto das Oliveiras, à agressividade dos soldados, que O injuriam e n’Ele descarregam frustração e, chicoteando-O, a carregar a pesada Cruz, já com pouquíssimas forças, a crucifixão, a morte parece quase um alívio! Não há forças para mais. Ele sofre, mas quem está por perto, Maria e as outras mulheres, também sofrem. Não nos é possível imaginar a agonia de Nossa Senhora, pese embora a fé e a confiança em Deus. Será um misto de sentimentos, angústia pelo sofrimento que se expressa no rosto e no corpo de Jesus, Seu amado filho, nas tremuras e dificuldades em respirar, e, por outro lado, paz e esperança, sabendo que a morte nada é diante do poder de Deus, não é um termo, é passagem, é páscoa. Ela sabe, Ela sente, Ela confia que o Seu Filho, o Filho de Deus, morre (biologicamente) como ser humano, mas o Pai não O abandonará à morte, assisti-l’O-á, por ação do Seu Espírito, na Sua descida ao túmulo, para O ressuscitar.
Se a morte tivesse a última palavra, a história fixaria Jesus como uma memória a esquecer-se ao longo do tempo. Mas a história não acaba aqui. Não acaba na sexta-feira santa. O calvário é mais uma etapa, ainda que mais significativa e final, expressão última e plena da entrega de Jesus. A desolação dos discípulos, familiares e amigos, da gente simples da Galileia, há de dar lugar à luz e à alegria, à festa e à vida nova. Teremos que descer do morro, teremos que abandonar o lugar da morte, da desumanização, da injustiça e do pecado. E regressarmos à vida! À comunidade! Lá nos encontraremos com o Ressuscitado.
Pela madrugada, as mulheres… sempre mais cuidadosas nos pormenores, vão-se assegurar que o Corpo do Senhor, tanto quanto possível, receba os cuidados que a pressa de sexta-feira santa não permitiu. Num primeiro momento, nem pensam que serão incapazes de mover a pesada pedra que bloqueia a entrada do sepulcro. Agem antes de racionalizar as questões práticas. Não há tempo a perder, é o Mestre e, sobretudo, Amigo, que é preciso honrar. Depois, Deus há de prover! E Deus provém… o sepulcro está de portas abertas, como pôde ver Maria de Magdala, como podem testemunhar as mulheres, como podem verificar os discípulos, Pedro e o predileto, que podes ser tu e posso ser eu, se e quando despertarmos confiantes para o amor e a omnipotência de Deus.
Com as mulheres, com os discípulos, vamos ao lugar da morte! Ali, depois de horas densas e intensas, de enorme desolação, foi colocado o corpo de Jesus, desfigurado. Como se aproximava o sábado, pois o entardecer de sexta-feira, cultualmente, faz-nos entrar no grande sábado, não foi possível deixar o corpo de Jesus com os unguentos todos, que remetem para o respeito pelos mortos, para a amizade, para a vida que perdura, pelo menos, na memória agradecida. Cedinho, portanto, no primeiro dia da semana, novo dia, resplandecente de luz, de beleza e de vida, levantemo-nos, vamos nós também, e deixemo-nos envolver pelos sinais que estão ali, pelos sinais que Deus faz ver e sentir. Jesus não está ali! Ele precede-nos! Ele levantou-Se antes de nós chegarmos, ressuscitou! É tempo de desfazermos a ansiedade e o luto! Ele está vivo. Encontrámo-l’O, não no sepulcro, mas na Galileia, em Jerusalém, em Tabuaço e em Lamego, em Penude, na minha e na tua povoação, na Igreja e em casa, nas encruzilhadas da vida. É tempo de cantar e agradecer, é tempo de viver e anunciar a vida, a ternura, o amor, a compaixão. É tempo de fazer com que os destroços da morte se convertam em compromisso com a vida, agindo de tal forma, em palavras, gestos e obras, que prevaleça o diálogo e a verdade, a partilha e a comunhão, a solidariedade e a justiça, a bondade e a paz, a entreajuda solidária e a opção preferencial pelos mais desfavorecidos. Uma vez ressuscitados com Jesus, vivamos esta nova vida que nos identifica e compromete em amar a todos do jeito com que Deus nos ama, dando a Sua vida, em Jesus Cristo, até ao último fôlego. Levantemo-nos, é tempo de viver e testemunhar o Evangelho da Alegria e da Caridade.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/23, n.º 4654, 20 de abril de 2022
Editorial Voz de Lamego: A maior semana da nossa fé

Vivemos a Semana Santa, a maior da nossa fé, não pela duração das horas ou dos dias, mas pela intensidade e pelo significado fundante da comunidade cristã. Jesus entrega a Sua vida por inteiro! Nem a morte tem poder de lhe colocar um termo, pois a vida emerge em plenitude na Sua ressurreição. Cada Eucaristia é Páscoa, na qual celebramos um mistério que nos faz contemporâneos de Jesus, pois Ele vive agora, no meio de nós, pela força do Espírito Santo, em Igreja. A cada ano, de forma mais solene, vivemos os acontecimentos que marcam o culminar da Sua vida história, em dinâmica de entrega.
A semana é santa, porque Jesus é o Santo de Deus! Vem de Deus e dá-nos Deus. Santifica-nos e envolve-nos no Seu mistério de amor e no Seu ministério de serviço. Jesus percorre connosco as diversas situações da vida. São Paulo faz uma síntese perfeita: “Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou”.
Ele está no meio de nós como quem serve; amando, sujeita-Se às mesmas circunstâncias finitas, frágeis, limitadas; caminha lado a lado, entra connosco na cidade, ouve as nossas preces e os nossos gritos, aceita o nosso louvor, as nossas oferendas e a nossa conversão, a nossa alegria e a nossa cobardia. A realeza de Jesus é despojada de poder, de riqueza, de exuberância.
O Rei aclamado por uma multidão entusiasta e feliz, no início da semana, dá lugar a um Rei coroado de espinhos, injuriado por uma multidão enraivecida e embrutecida. O tempo que decorre nas últimas horas é mais demorado, doloroso, tenebroso.
Oportunamente, Jesus avisa os discípulos. O Filho do homem vai ser entregue aos anciãos, vai ser julgado, condenado e morto! Durante aqueles instantes, o coração dos discípulos estremeceu… mas a vida continua, e foram esquecendo a sentença que pesava sobre a Sua cabeça!
Aproxima-se a Páscoa (judaica). Jesus manda preparar a ceia pascal. Em casa, à volta da mesa, numa refeição festiva, recordando as maravilhas que Deus realizou, através dos tempos, a favor do Seu povo, Jesus faz ver que tudo se precipitará para o fim! “Não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o reino de Deus”.
Os discípulos percebem que alguma coisa não está bem, mas ainda não sabem a dimensão das palavras de Jesus, que institui o memorial, antecipando, no repartir do pão e do vinho, a Sua permanência no meio de nós, depois da Sua morte e ascensão para Deus. Ouvem Jesus a dizer que entre eles está alguém cujas intenções não são concordes com o Seu projeto. A casa começa a desfazer-se. Um deles levanta-se da mesa e sai de casa. Doravante a casa fica vulnerável, exposta, as portas não são forçadas, abrem-se por dentro. A história de famílias, comunidades e povos! Os inimigos, mais perigosos, porque mais silenciosos, estão dentro, na família, na comunidade, no povo, e dentro de nós!
O Mestre clarifica de novo a opção pelo serviço: Eu estou no meio de vós para servir e dar a vida. A disputa não é pelo poder, mas pelo amor. Os nossos propósitos são testados pela realidade! A oração é a garantia da nossa comunhão com Deus, o contexto que nos permite querer o que Deus quer! Pela oração fortalecemos as nossas escolhas.
Até à Cruz, a postura de Jesus é constante, realizar a vontade de Deus, expressar o Seu amor por nós, apontar-nos o caminho do perdão, do serviço e da ternura de forma a construir fraternidade.
Qua a vivência da Semana Santa nos faça perceber que a vida se ganha, gastando-se por amor, no serviço uns aos outros, ao jeito de Jesus, nossa Páscoa e nossa Paz.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/22, n.º 4653, 13 de abril de 2022
Editorial Voz de Lamego: A vida… ninguém ma tira, sou Eu que a dou

Como darmos o que não nos pertence?
Ou como suprimirmos o que não podemos dar?
A vida… a vida não depende, na origem, de nós, é-nos dada! Também não a podemos retomar! Poderemos interrompê-la? Uma interrupção significaria que, posteriormente, poderia haver regresso. Se a recebemos, se a acolhemos, não nos cabe acabar o que não começamos! Em relação aos outros, muito menos, pois ninguém nos designou para assumirmos um papel que não é nosso, pois não somos autores da vida.
O quinto mandamento é taxativo e não tem vírgulas, nem acentuações, não se sujeita a interpretações. Direto: “Não matarás”. É uma ordem divina. Na formulação da catequese, explicita-se: “Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo)”. Infelizmente continuamos a matar e a causar dano uns aos outros. Jesus Cristo é crucificado em cada vítima, em cada pessoa faminta, perseguida, escravizada, em cada pessoa negociada, vendida, violentada e morta.
Jesus ensina-nos a formular o mandamento pela positiva: amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo, ao jeito do Bom Samaritano que se faz próximo de quem está caído à beira do caminho, sem voz nem vez.
Na verdade, “o amor é a única maneira de compreender outro ser humano no fulcro mais íntimo da sua personalidade. Ninguém pode ter um conhecimento profundo e completo da essência do outro ser humano a menos que o ame. Por meio do seu amor, fica capacitado para ver os traços e as características essenciais da pessoa amada” (Viktor Frankl).
Viktor Frankl foi prisioneiro, durante quatro anos, nos campos de concentração nazi, durante a Segunda Guerra Mundial. Logo que libertado, enquanto psiquiatra, escreveu para pessoas com tendência para o desespero. “Vislumbrei então o significado do maior segredo que a poesia, o pensamento e as crenças dos seres humanos podem comunicar: a salvação dos homens consegue-se no amor e pelo amor. Compreendi como pode um homem a quem nada resta no mundo conhecer ainda assim a felicidade, mesmo que por breves instantes, na contemplação do ser amado”.
A segunda guerra mundial fez emergir a maldade e o egoísmo, a prepotência e a sobranceria, centrada, sobretudo, na liderança de Hitler. As nações uniram-se para evitar que se repetissem situações como as verificadas, de tortura, maus-tratos, escravização, mortes às dezenas e centenas de pessoas, enterradas em valas comuns. Foi o sonho de um homem, movido pela sede de poder ou, simplesmente, com os neurónios em curto-circuito! Como tem alertado o Papa Francisco, estamos na terceira guerra mundial, ainda que aos pedaços, em diferentes zonas do planeta, além da fome, do tráfico de órgãos e de pessoas, da multidão de refugiados, oriundos de diferentes países, a fugir da violência, da perseguição, por motivos políticos, económicos, étnicos e religiosos. A agressão violenta da Rússia ao país irmão, a Ucrânia, é mais um lamentável episódio que tende a repetir a mesma prepotência de Hitler, agora com outro nome, Vladimir Putin. A facilidade com que se tira a vida, justificando atos hediondos com palavras como defesa (preventiva) e libertação! Libertação de um povo que se sente livre e que não pediu para ser libertado.
Numa das páginas do Evangelho, Jesus clarifica: «Assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim também concedeu ao Filho que tivesse a vida em Si mesmo» (Jo 5, 17-30). Só quem tem a vida em si mesmo, pode, de facto, dar a vida! «O Pai ama-me, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de Mim, mas Eu a dou a Mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir» (Jo 10, 17-18.)
Analogamente, a vida dá-se, amando, gastando-a a favor dos outros. Quem guardar a vida para si, perdê-la-á e quem perder a vida, por Minha causa e do Evangelho, diz Jesus, ganhá-la-á (cf. Mt 10, 39; 16, 25).
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/21, n.º 4652, 6 de abril de 2022
Falecimento da Mãe do Padre João António

Os desígnios de Deus e a Sua hora nem sempre são coincidentes com os nossos. Na Sua benevolência e sabedoria, Deus, nosso Pai, chamou à Sua presença eterna, a D. Maria Teresa Teixeira, mãe do Padre João António Teixeira Pinheiro, Reitor do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios e Deão do Cabido da Sé de Lamego.
O Sr. Bispo, D. António, também em nome do presbitério de Lamego, manifesta a sua comunhão com o reverendo Pe. João e com os demais familiares e amigos, na certeza que o momento de luto se reveste de esperança na ressurreição dos mortos e da vida eterna. Nesta hora, a fé e a oração colocam-nos em sintonia com a glória de Deus, que em Cristo nos garante a eternidade na comunhão dos santos, como professamos no Credo.
A Eucaristia de corpo presente celebra-se hoje, 12 de março, pelas 15h00, na Igreja do Santuário dos Remédios. O cortejo fúnebre seguirá para São João de Fontoura, de onde é natural. Na Igreja paroquial também será celebrada Eucaristia, indo depois a sepultar.
Deus lhe dê o descanso eterno. Ao Pe. João e familiares, Deus lhes dê o conforto que vem da fé e a confiança firme na ressurreição.