Arquivo

Archive for Junho, 2020

Rita Gomes, natural de Tabuaço, vence competição internacional

Rita Gomes em entrevista à Andreia Gonçalves para a Voz de Lamego

Os tempos mudaram, e as competições de canto passaram acontecer online.

Rita Gomes, de Tabuaço, acaba de vencer o Star Rain Cup, representando Portugal num concurso internacional de canto, da associação internacional online “Star Rain Cup Spring – season 2020”, organizado pela associação alemã MTV BERLIM. Venceu com pontuação máxima.

Rita, explica-nos como tudo aconteceu…

Este foi um concurso internacional online, organizado pela associação alemã MTV BERLIM, onde competiram diversos artistas de vários países diferentes.

A convite do meu professor de canto, o grande Professor Joaquim Caetano, tive a oportunidade de concorrer. Como era online, não exigia uma performance em direto, mas sim o envio de um tema. Escolhi o tema “Love by Grace” da fabulosa cantora Lara Fabian, não só pela beleza inerente da canção, mas também pelo sentimento forte que esta transmite. Tive a felicidade e a sorte de ver o meu trabalho reconhecido e de, para além de a ser a grande vencedora do concurso, conseguir a pontuação máxima possível de todo o concurso. Devo admitir-te que, dado grande grau de exigência do concurso e a qualidade dos participantes, que fiquei muito surpreendida e contente pelo desfecho.

O sonho dá muito trabalho, certo?

Sem qualquer tipo de dúvida! Trabalho e dedicação!

Desde sempre tive o sonho da música, tendo desde pequenina investido nesse campo, ainda que não diretamente no canto, mas na parte da formação musical e na aprendizagem de instrumentos musicais.

Há uns anos decidi que seria importante iniciar aulas de canto com o objetivo de poder melhorar a minha capacidade vocal, conservar as minhas cordas vocais e fazer uma gestão responsável da sua utilização.

O trabalho não fica pelas aulas de canto, uma vez que, como estou envolvida em vários projetos musicais diferentes, passa muito pela necessidade de ensaiar com frequência e ter a capacidade de trabalhar, desenvolver e melhorar competências vocais em casa.

É um trabalho que me leva a despender de muito tempo, mas, como tão bem diz o ditado, “quem corre por gosto, não cansa”. De qualquer forma, se não envolvesse trabalho o sabor das vitórias não seria vivido com tanta intensidade.

No ano passado também participaste numa competição internacional. Como foi?

Sim! Na verdade, esta é a minha terceira participação em concursos além-fronteiras. Em 2018, fui representar Portugal num concurso em Tenerife, onde arrecadei o prémio “Voz da Europa”. Em 2019, fui a Itália, não fiquei no pódio, mas recebi 2 convites/bolsas para poder ir cantar ao Egipto e à Rússia. Devo admitir-te que é a fascinante a qualidade que encontramos nestes concursos

És mestre em farmácia pela faculdade de Coimbra. Mas, o sonho é a música?

Sou licenciada em Farmácia Biomédica, sou Mestre em Farmacologia Aplicada e encontro-me presentemente a trabalhar na área dos Ensaios Clínicos. Tanto a área da saúde como a área da música me fascinam. E espero conseguir continuar a conciliar ambas. Desde sempre que faço uma grande ginástica com os meus horários para conseguir dar 100% de mim em ambas as áreas. Felizmente, sou uma pessoa extremamente pró-ativa e dedicada, o que sempre me permitiu não descurar uma área em função da outra. Gosto de pensar que sou multifacetada e acho, muito sinceramente, que não conseguiria viver sem trabalhar nas duas áreas. É caso para dizer que tenho 2 amores.

Rita, a banda que tu integras permite-te ganhar muita experiência. A escola de palco é também importante?

Super importante. Não apenas numa perspetiva de crescimento vocal e profissional, mas também pessoal. Sinto que cresci muito, em todos os aspetos, com a banda. Aprendi a superar-me em muitos aspetos e fiquei surpreendida com a minha capacidade de adaptação. É importante ressalvar que tenho uma equipa fantástica ao meu lado e que, sem eles, nada seria possível.

Quem são as tuas referências musicais?

Celine Dion, Whitney Houston, Mariza, Aurea!

Como te vês daqui a 10 anos?

Não gosto de fazer planos a longo prazo. Gosto de viver o presente e aproveitar o que a vida me dá! Mas espero continuar a cantar, e evoluir cada vez mais.

Ter uma família que apoia este teu talento inato, torna o caminho mais aberto é facilitado?

Sou abençoada com uma família que para além de me amar acima de tudo, me apoia em todas as decisões que eu tomo. São os primeiros a aplaudir as minhas vitórias e a suportar-me quando as coisas correm menos bem. O suporte familiar é fundamental, é meio caminho andado para que as coisas corram bem. Acho que é todo esse apoio que me dá forças para continuar a lutar para ser cada vez melhor e me superar a cada dia.

Um álbum é algo que consideras fazer a curto prazo?

Sinceramente é um sonho que tenho desde sempre! Esperemos que em breve o possa concretizar

SABIA QUE:

Desde pequena que a música está presente na vida da Rita, tendo dado os primeiros passos aos oito anos quando teve aulas de formação musical, violino, guitarra e piano.
Aos onze anos de idade, após me ter sagrado vencedora de um concurso de karaoke, organizado em Tabuaço, pelo Hugo Miguel, surge o primeiro convite relacionado com o canto, para fazer parte da orquestra ligeira de Moimenta da Beira na qual permaneceu durante 5 anos.
Passou por vários projetos musicais, bandas de garagem, tunas académicas, que não só enriqueceram o seu percurso musical e pessoal como também a ajudaram a desenvolver armas para o futuro.
Atualmente, integra uma banda musical chamada SPS Band, a orquestra ligeira da Banda de Música de Sendim, canta em casamentos, faz noites de fados, concertos acústicos e apresentações a solo.
Para aumentar os seus conhecimentos práticos e teóricos ingressou no projeto “Pauta musical”, que tem como objetivo criar estrelas e dar-lhes as ferramentas necessárias para as ajudar a ter uma carreira musical.
Ambiciona conseguir lançar um CD de originais num futuro próximo.

in Voz de Lamego, ano 90/29, n.º 4564, 16 de junho de 2020

Editorial da Voz de Lamego: Qual a prioridade do país?

Até há pouco, a prioridade era defender a vida, custasse o que custasse. Fechámos escolas, bares, fábricas, concelhos, igrejas, proibimos visitas a lares, ajuntamentos na rua, participação em velórios e funerais, visitas aos hospitais, à cadeia. Era necessário fazer tudo para proteger os mais vulneráveis.

A prioridade foi zelar pela vida. Horas e horas gastas por médicos e enfermeiros e outro pessoal auxiliar para evitar a morte de pessoas com COVID-19, expondo-se, mas com o intuito único e sublime de cuidar da vida.

Na tempestade, o melhor das pessoas vem ao de cima, mas manifesta-se igualmente o pior.

Houve e continua a haver verdadeiros heróis… muitos no anonimado, que abriram as portas e foram ao encontro dos mais desprotegidos, a levar mantimentos ou medicamentos, e assegurando-se que não haveria pessoas esquecidas.

Agora que a pandemia parece mais controlada, mesmo que todos os dias surjam surpresas desagradáveis, o Parlamento traz-nos a temática da eutanásia como uma urgência em facilitar a morte e ajudar a morrer… até aqui havia que evitar a morte a tudo o custo… agora que já morrem menos pessoas, há que facilitar a morte, independentemente dos motivos, ou mesmo sem motivos. Até agora… não desistir de ninguém… agora que as contas estão mais equilibradas, para quê gastar recursos e energias para acompanhar aqueles que vivem em situações mais difíceis?

Para aqueles que veem a história como um eterno retorno, bem podemos dizer que a civilização parece estar a regredir até ao tempo dos faraós, dos reis e das rainhas, e dos imperadores, em que a vida valia conforme o estrato social, o género ou a idade, o poder ou o dinheiro… A vida de alguns valia pouco ou nada: escravos, mulheres, crianças, pessoas portadoras de deficiência ou simplesmente doentes, podiam ser excluídas da sociedade, maltratadas e até mortas, sem que houvesse necessidade de prestar contas… ainda há alguns países assim…

O cristianismo valorizou a vida, não a qualquer custo, mas enformada pela verdade e pelo amor, pela filiação divina. Somos filhos amados de Deus. Eu e tu. Todos. A criança, a mulher, o escravo, o grego, o chinês. Todos, sem exceção. O enfermo, o leproso, o estrangeiro. O que a todos une e identifica é a filiação divina, a dignidade de cada um, e a sua insubstituibilidade.

O direito à vida tornou-se essencial para qualquer sociedade. Foi um salto qualitativo na civilização. O direito à morte… significa que se abdica do direito à vida, por qualquer motivo ou mesmo que não haja motivo nenhum.

Será esta uma prioridade do país? Consigo coligir algumas prioridades: empregabilidade, produtividade, acesso facilitado aos cuidados de saúde, para as pessoas idosas e com menos recursos; recuperar a economia, promover uma efetiva justiça social… erradicar a pobreza; aumento significativo do ordenado mínimo nacional; pagamento do trabalho doméstico para mães/pais que optem ficar em casa a cuidar/educar os filhos, política de natalidade abrangente…

A despenalização, liberalização e promoção da eutanásia, como antes o aborto, será uma questão de dias… pois mesmo que no Parlamento não houvesse uma maioria para levar à prática esta lei, contra os estudiosos, os médicos, contra a filosofia, far-se-iam tantos referendos quantos fossem precisos até conseguirem outra maioria…

Contudo, como cidadãos e como cristãos só temos uma prioridade: amar e servir, cuidar, defender, proteger e celebrar a vida, não desistir de ninguém, não deixar ninguém para trás; salvar, curar, sarar… é a nossa missão.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/30, n.º 4565, 23 de junho de 2020

Editorial da Voz de Lamego: As cores da (in)tolerância…

Somos tolerantes. Intolerantes são os outros. Ou talvez sejamos as duas coisas, dependendo dos temas com que nos deparamos!

Existam pessoas, preenchidas de humildade e sabedoria, com a elasticidade generosa para acolher e respeitar os outros, mesmo divergindo, e capazes de integrar, aprendendo, as diferenças, como riqueza e não como estorvo ou sombra!

Quando nos autocaracterizamos, somos humildes, tolerantes, frontais… e ninguém nos dá lições de moralidade, lealdade, honestidade.

Os maiores teóricos da liberdade foram os maiores ditadores… à esquerda e à direita! Hitler, Mussolini, Lenine… Bolsonaro? Países em que imperou o fascismo ou o comunismo… Portugal, Itália, Rússia, China… e ninguém lhes poderia (então) dizer que eram ditadores… pois estavam a defender os direitos dos seus povos!

No dia 25 de maio morreu George Floyd, afro-americano, depois de um polícia de Minneapolis se ter ajoelhado sobre o seu pescoço, durante oito minutos e quarenta e seis segundos, enquanto estava deitado de bruços na estrada e a dizer que não conseguia respirar. De imediato se multiplicaram as manifestações contra o racismo, o abuso de poder e a descriminação. Pena foi, novamente, que algumas minorias extremistas se apropriassem da causa, como se não dissesse respeito a todos.

Um erro… não se corrige com outro. A violência não se corrige com violência, apenas a multiplica. Se a um excesso se responde com outro, o que resulta é destruição.

As manifestações integram muitas pessoas que nada têm a ver com as causas que as provocam. É lamentável. As boas intenções de uns são adulteradas pela inconsciência, burrice e oportunismo de outros. As diversas manifestações antirracistas, relevantes e oportunas, são ensombradas e perdem o sentido quando se escolhe o caminho da violência e do desrespeito pelos outros. Há cristãos que se converteram a movimentos religiosos e queriam reescrever a pertença religiosa, apagando o registo do batismo, quase como quando um relacionamento termina e se rasgam as fotografias… como se dessa forma também a memória fosse apagada.

Como portugueses talvez tivéssemos de criar um tribunal para julgar Afonso Henriques e os reis que lhe sucederam. Talvez tivéssemos que queimar livros, romances e poemas, rasgar fotos, desgravar sons e películas… talvez precisássemos de destruir praças e monumentos e não apenas colocar-lhes outros nomes!

A história enraíza-nos no que somos, assumindo que os nossos antepassados fizeram coisas boas e outras menos boas, o que também nos acontece e aos nossos contemporâneos. Porém, não nos cabe tanto julgar ou mesmo destruir a história, sabendo que se tivéssemos vivido nesses tempos poderíamos ter sido as vítimas ou os vilões! Quem o poderá saber?!

Sem renegarmos as nossas raízes, cabe-nos construir hoje a história, contribuir para um mundo mais solidário e fraterno, lançando novas raízes que integrem e incluam solidariamente os que seguem no mesmo barco que nós. Do passado, poderemos sempre colher lições… para não cairmos nos erros que destroem, e possamos avançar e progredir num caminho de humanização e integração…

Regressemos às cores da (in)tolerância. Seremos tolerantes quando deixamos andar e não queremos saber do outro?

Seremos tolerantes quanto respeitamos desde que não nos chateiem, não nos incomodem, não nos calquem os calcanhares e não nos cheguem mostarda ao nariz?

Sou tolerante… com os meus amigos e desde que não divirjam e/ou sejam da minha cor clubística, da minha área político-partidária, pertençam à minha religião!!!

O caminho da tolerância é aceitação do outro, com as suas qualidades e fragilidades, respeitando-o como pessoa, amando e cuidando.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/29, n.º 4564, 16 de junho de 2020

Editorial da Voz de Lamego: Saudáveis num mundo doente?!

Em dois momentos, o Santo Padre interpelou a humanidade com esta expressão: não é possível mantermo-nos saudáveis num mundo doente!

Antes da bênção Urbi et Orbi (sobre a cidade e o mundo), no dia 27 de março, diante de uma majestosa praça de São Pedro vazia, o Papa colocava-nos a pensar: “Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”.

Os momentos de crise levam-nos a refletir, sabendo que, passada a tempestade, logo continuaremos nos nossos afazeres e a ocupar-nos das nossas coisas. Nãos será muito diferente no período pós-pandemia. Porém, nada será igual, pois não é possível voltar ao antes e, por outro lado, o presente e o futuro carregam as perdas materiais e sobretudo humanas. Contudo, a esperança deve moldar-nos e a reflexão deve ajudar-nos a novos propósitos e compromissos. Haverá alguns que agirão de forma mais altruísta, o treino a que se sujeitaram e a alegria de terem contribuído para melhorar a vida de alguém ou mesmo salvado vidas, fazem-nos querer continuar. A reflexão pode ajudar outros a tomar consciência de que estamos no mesmo barco e que a tempestade atingiu a todos e se alguns escaparam entre os pingos podem ser apanhados em tempestades futuras, porque as consequências afetarão a todos, cultural e civilizacionalmente.

No dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, que se comemorou virtualmente a partir de Bogotá, na Colômbia, o Papa, em missiva enviada ao Presidente colombiano, voltou a insistir na indiferença de quem enterra a cabeça na areia: “A proteção do meio ambiente e o respeito pela biodiversidade do planeta são questões que nos afetam a todos. Não podemos fingir ser saudáveis ​​num mundo doente. As feridas infligidas à nossa mãe terra são feridas que também sangram em nós. Cuidar de ecossistemas exige um olhar para o futuro, que não se preocupe apenas com o momento imediato ou que busque um lucro rápido e fácil, mas que se preocupe com a vida e que busque a sua preservação para o benefício de todos”.

A visão da Igreja é holística, envolve toda a criação, pois toda a criação é dom de Deus confiada ao ser humano para cuidar. Excluir o ser humano para proteger a natureza, o ambiente, é uma lógica doente e infantil; por outro lado, a pessoa déspota em relação ao meio ambiente revela ignorância e estupidez. Só o ser humano é capaz de admirar e com-criar, louvando o Criador por esta obra sublime. O caminho é a ecologia integral. Proteger o ambiente sem prestar atenção aos mais desfavorecidos, aos explorados que não beneficiam dos frutos da criação, é hipocrisia fundamentalista. Proteger o ser humano é o primeiro passo para defender esta casa comum. Aliás, o conserto do mundo passa, inevitavelmente, pela conversão da pessoa.

“Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo… Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade»”. Por mais que queiramos espiritualizar a fé…. Jesus encarnou, assumiu um corpo, veio ao mundo e é no mundo que nos salva!

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/28, n.º 4563, 9 de junho de 2020

Editorial da Voz de Lamego: novo normal?!

Em novas situações emerge um novo vocabulário. É recorrente ouvirmos: “pandemia”, “distanciamento social”, “confinamento” e “desconfinamento”, “higienização”… entre outras!

Depois de uma grande tempestade, que desejamos? Regressar à normalidade, a uma normalidade possível, pois que nunca será igual, porque se perderam bens e, nalgumas situações, se feriram ou morreram pessoas, além do susto que pode gerar outra atitude: medo patológico (ainda que provisório) ou mudança das prioridades, sabendo que a vida (terrena) não é para sempre.

Em absoluto, mesmo quando não há tempestades, vamos despindo várias camadas e assumindo outras que nos fazem avançar, renovando as opções, normalizando as alterações e as novidades, numa espécie de espiral, integrando, debaixo da pele, o que nos acontece e, eventualmente, permitindo-nos estar mais preparados para outras situações.

Sob o reinado da Covid-19, já não se fala em regressar à normalidade, mas em assumir um novo normal, a tal normalidade possível, ajustando comportamentos e compromissos, sem esperar pelo controlo do novo corona vírus, mas convivendo com ele e não deixando de viver, de trabalhar, de confiar.

Em absoluto, nunca é possível voltar atrás, repetir os momentos, sejam negativos, que dispensamos, sejam positivos, que desejamos. A vida não se repete. “Nunca voltes ao lugar onde já fostes feliz”, como nos recorda, cantando, Rui Veloso, “Só encontrarás erva rasa / Por entre as lajes do chão / Nada do que por lá vires / Será como no passado / Não queiras reacender / Um lume já apagado”. Obviamente que a nossa memória emocional nos levará a recriar situações e momentos que nos fizerem bem e até podem, de facto, levar-nos a viver em dinâmica de bênção. Assim como assim, no entanto, estamos a avançar e não a repetir o passado, esse só podemos confiá-lo a Deus e mantê-lo na memória: se fomos felizes, podemos voltar a sê-lo. Temos pistas do que nos faz sentir em casa!

“Novo normal”. São duas palavras que me sugerem “conversão”, não como uma atitude pontual e definitiva, pode acontecer, mas como constante da nossa vida. Com efeito, precisamos de nos adaptar a novas situações, ora mais compassadas, ora mais urgentes, mas ainda assim, a vida continua, sempre nova, nunca se repete, não é igual para todos, nem todos ficarão bem, e os que ficarem bem, não ficarão em simultâneo ou na mesma medida. Numa perspetiva cristã, bem, bem, absolutamente bem, vamos ficar quando os nossos dias na terra estiverem cumpridos e Deus nos chamar a habitar eternamente com Ele. Estaremos a caminho de estar bem se confiarmos em Deus e nos “treinarmos” a amar, cuidar e servir…

Já aqui sugerimos, como leitura, “O desafio da normalidade”, do médico José Maria Cabral. É curioso, como buscamos tanto a novidade! Estamos com as antenas ligadas para vermos que modas vão surgir e como adaptarmos o penteado, a roupa, ou até a linguagem… e agora buscamos a normalidade. Por outras palavras, para voarmos precisamos de estar enraizados e certos de que poderemos voltar a poisar em chão seguro. A própria novidade assenta no que somos, temos e vivemos, só é novo comparado com o que já vimos ou experimentámos. Para nós cristãos, o normal é estarmos firmes pela fé e pela esperança, mas, sempre novo, a docilidade ao Espírito de Deus, abertos à ao futuro, para, hoje e a cada instante, renovarmos e concretizarmos o amor que nos liga aos outros.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/27, n.º 4562, 2 de junho de 2020