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Archive for Abril, 2018

DIGNIDADE DOS TRABALHADORES | Editorial Voz de Lamego

DIGNIDADE DOS TRABALHADORES

A exemplo do que acontece noutros países, também os portugueses param para viver a festa dos trabalhadores, no primeiro dia de Maio, recordando as lutas sociais e a repressão sangrenta que nesse dia, em 1886, aconteceu nos EUA.

A Igreja não poderia deixar de participar nesta jornada. Por isso, em 1955, Pio XII instituiu a festa de S. José Operário, convidando à dignificação do trabalho e de todos os trabalhadores, bem como à contemplação de José, aquele a quem Deus confiou Jesus.

E José nem será uma referência se atendermos apenas à performance do trabalho por muitos defendida: o mais rápido, o mais forte, o que ultrapassa os outros. Na carpintaria de Nazaré estamos longe do culto da competitividade, dos objectivos sobre-humanos, da idolatria da carreira, do êxito profissional a todo o custo… Isso levaria apenas ao stress ou às intermináveis horas suplementares nem sempre pagas, com as consequências negativas desse modo de vida profissional: famílias abandonadas, ausência face aos filhos, desgaste e perda de saúde, depressões… Uma carreira profissional merecerá tais sacrifícios? No fim, o que fica?

Os evangelhos dizem pouca coisa sobre José e, ele próprio, nada diz. Mas adivinhamos facilmente que ele faz o seu trabalho, sem correrias, obcecado com o sucesso ou o lucro. José é um trabalhador comum, “um bom pai de família”, no que isso tem de mais simples. Educou Jesus, ensinou-lhe a sua profissão, proporcionou-lhe uma existência tranquila, não particularmente rica, mas não necessariamente pobre. Um modelo pacífico e acessível, muito longe do culto da performance dos tempos modernos.

A idolatria do trabalho é a antítese do trabalho tal como o exemplifica S. José. O trabalho é alegria e sofrimento, serviço da comunidade e aproximação de Deus: eis o que podemos aprender na escola de Nazaré.

Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/21, n.º 44587, 24 de abril de 2018

CONVITE À SANTIDADE | Editorial Voz de Lamego | 17 de abril de 2018

CONVITE À SANTIDADE

Numa época marcada pelo provisório, pela perda de sentido e pelo narcisismo, o Papa Francisco convida a humanidade em geral e os cristãos em particular a estarem disponíveis para responder ao chamamento à santidade.

A proposta agora apresentada na Exortação Apostólica “Alegrai-vos e Exultai” não é nova e insere-se na missão eclesial de “promover o desejo da santidade” (177). Um apelo oportuno para responder aos riscos e desafios actuais, nomeadamente “a ansiedade nervosa e violenta que nos dispersa e enfraquece; o negativismo e a tristeza; a acédia cómoda, consumista e egoísta; o individualismo e tantas formas de falsas espiritualidades sem encontro com Deus que reinam no mercado religioso” (111).

Nos caminhos da vida, com ritmos e contextos diferentes, cada um poderá exercitar a vontade de agradar a Deus, deixando-se guiar pelas bem-aventuranças e praticando a caridade. Um percurso que aproxima do Criador e dos outros e não dispensa dos compromissos com a criação.

O itinerário não está isento de dificuldades e insucessos, mas a abertura à transcendência, o assumir humilde dos limites e a determinação perseverante permitirão avançar e crescer. Porque se é verdade que não estamos sós nem desamparados, temos consciência de que “a graça não nos faz improvisadamente super-homens” (50), sendo indispensável o esforço individual. “Aquele que te criou sem ti não te pode salvar sem ti” (St. Agostinho). A santidade dá trabalho!

Como sempre, o Papa escreve de maneira simples (diferente de simplista) um texto pouco extenso, atento ao mundo actual e preocupado com o essencial. Não diz tudo, mas convida todos.

Apesar dos comentários ou resumos que sempre aparecem, importante seria fazer uma leitura integral do texto, deixando-se interpelar pela totalidade e não ficando limitado ao que outros julgaram ser oportuno sublinhar. A comunhão com o Papa também passa pela leitura dos seus textos!

Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/20, n.º 4457, 17 de abril de 2018

Modelo cristão de felicidade como alternativa: Alegrai-vos e exultai

Exortação apostólica Gaudete et Exsultate

O Papa Francisco publicou ontem a sua nova exortação apostólica (documento pontifício de índole catequética), dedicada à santidade, na qual propõe um modelo cristão de felicidade como alternativa ao consumismo, à pressa e à indiferença face ao outro. “Se não cultivarmos uma certa austeridade, se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de consumo nos impõe para nos vender coisas, acabamos por nos transformar em pobres insatisfeitos que tudo querem ter e provar”.

A exortação apresenta-se como um “apelo” renovado à santidade como proposta radical de vida. “O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”.

A terceira exortação apostólica do pontificado defende a necessidade de travar a “corrida febril” da sociedade contemporânea para recuperar espaço para Deus e tempo para os outros. “Tudo se enche de palavras, prazeres epidérmicos e rumores a uma velocidade cada vez maior; aqui não reina a alegria, mas a insatisfação de quem não sabe para que vive”, adverte o pontífice, que fala na tentação de “absolutizar o tempo livre”.

Francisco diz que, nesta sociedade, “volta a ressoar o Evangelho” para oferecer “uma vida diferente, mais saudável e mais feliz”, a santidade. Esta, explica, não está reservada apenas a algumas pessoas, mas encontra-se “por toda a parte”, nas famílias, no trabalho, naquilo a que o Papa chama como “classe média da santidade”, inclusive “fora da Igreja Católica e em áreas muito diferentes”.

O Papa elogia os “estilos femininos de santidade” que se manifestaram, ao longo da história, em “tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho”

A ‘Gaudete et Exsultate’ recomenda a santidade dos “pequenos gestos”, que impede de falar mal dos outros, olha para o pobre e reserva tempo para a oração. O texto elogia a “ousadia” nas comunidades católicas e diz que a santificação é um caminho comunitário, “contra a tendência para o individualismo consumista que acaba por isolar, na busca do bem-estar à margem dos outros”.

O Papa elenca “grandes manifestações do amor a Deus e ao próximo” que devem contrariar uma cultura marcada pela “ansiedade nervosa e violenta”, “o negativismo e a tristeza” ou o individualismo, rejeitando “tantas formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus que reinam no mercado religioso atual”.

in Voz de Lamego, ano 88/19, n.º 4456, 10 de abril de 2018

Almacave Jovem – retiro 2018

Foi no fim de semana de 6 a 8 de abril que o grupo Almacave Jovem se reuniu no Seminário Menor de Resende, juntamente com os jovens que se preparam para receber o Sacramento do Crisma, para o retiro anual.

Fruto de alguma “crise” de fé a que todo o cristão está sujeito, esta atividade a que o nosso grupo de jovens se tem habituado a realizar desde a sua própria criação, foi o momento pelo qual todos esperávamos há um ano. O retiro realizado com os crismandos da paróquia é um momento de introspeção e intimidade com Alguém que nos esquecemos muito facilmente no meio de tantos problemas da nossa vida atual: Deus.

Ainda antes de iniciarmos a viagem com destino a Resende, fomos perguntando aos jovens crismandos quais eram as suas espectativas acerca das temáticas/ objetivos deste encontro e como já é hábito, as respostas foram sendo dadas com alguma reticência. No entanto, com o desenrolar de toda atividade, de todos os momentos de reflexão, descontração, dinâmicas de grupo, cânticos, jogos, risadas e até algumas lágrimas, o que era um aglomerado de pessoas estranhas e sozinhas, num sítio desconhecido e longe das nossas casas, tornou-se uma família, com Ele.

Todos juntos descobrimos que temos um talento! Aprendemos que essa maravilhosa benção que Deus nos deu está dentro de nós, bem escondida e que apenas temos de a descobrir, e usá-la ao serviço de quem nos rodeia. Aquilo que é fácil para nós pode ser de extrema dificuldade para o próximo. Se somos felizes, vamos contagiar com a nossa energia quem está mais em baixo. Se temos a nossa fé fortalecida vamos ao encontro de quem duvida d’Ele, sendo samaritanos na nossa família, escola, trabalho, grupo de amigos, etc. Pouco a pouco fomos percebendo melhor a temática de todo o retiro: a caridade, o viver para servir o outro, à imagem de Jesus.

No Domingo à tarde, já com os nossos familiares presentes, despedimo-nos do Seminário de Resende por mais um ano, prometendo praticar tudo o que aprendemos neste fim de semana, comprometendo-nos em “ser” caridade, agora fortalecidos com a esperança de vermos os crismandos integrados no nosso grupo de jovens.

Bryan Fonseca, Almacave Jovem, in Voz de Lamego, ano 88/19, n.º 4456, 10 de abril de 2018

SÍNODO DOS JOVENS | Editorial Voz de Lamego | 10 de abril de 2018

SÍNODO DOS JOVENS

No próximo outono, a Igreja reunirá mais uma assembleia sinodal, em Roma, desta vez para olhar a realidade juvenil. Uma assembleia que, embora maioritariamente constituída por bispos, contará com jovens de todo o mundo, nomeadamente através dos contributos previamente enviados, e, sobretudo, com a presença do Espírito Santo.

Como sempre, o Papa convocou o Sínodo e definiu o tema. Depois da família, agora os jovens, assunto que motivou uma conversa entre o Papa e Thomas Leoncini, da qual surgiu o livro “Deus é jovem”, onde Francisco retoma algumas das suas.

E assim voltamos a ouvir certos apelos: “sair do sofá”, “assumir a vida”, “ir além da cultura do usar e deitar fora”, “falar com coragem”, “ser protagonista”, “sentir-se em casa quando se está na Igreja”, “participar na revolução da ternura”, “assumir o poder como um serviço”, “fazer e não apenas dizer”, “olhar os outros como uma grande família”…

Mas ouvimos também Francisco caracterizar o nosso tecido social como uma “sociedade desenraizada”, onde “o mundo virtual deixa os jovens voláteis”, em que se promove uma “cultura narcisista”, marcada pelo “pensamento único”, que dá “demasiada importância ao efémero” e cultiva uma “estética artificial”…

Como proposta, o Pontífice destaca a possibilidade de uma “filosofia da bofetada cultural” que promova a diferença, o encontro/diálogo entre gerações capaz de originar “velhos que sonham e jovens que profetizam” ou, ainda, o assumir da “artesanalidade” (fazer-se com criatividade)…

E já na parte final, quando questionado sobre a formação cultural dos jovens, sugere que esta articule três linguagens: “da cabeça”, “do coração” e “das mãos”. E sugere aos mais novos: “aprende o que ouves e faz”, “ouve o que pensas e faz”, “faz aquilo que pensas e escuta”.

A proximidade do Sínodo pode motivar esta e outras leituras e algumas das afirmações podem ajudar a pensar.

Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/19, n.º 4456, 10 de abril de 2018

Falecimento da Irmã do Padre Manuel Pedro (já falecido)

O Senhor Deus, Pai de Misericórdia Infinita, Senhor da Vida e da Morte, chamou a Si a Sra. D. Maria do Céu Almeida, irmão do (falecido) Padre Manuel Pedro de Almeida.

O Senhor D. António Couto, também em nome do presbitério de Lamego, manifesta o seu pesar à família, amigos e comunidade à qual pertence, e une-se na oração, na fé e na esperança que em Deus esta nossa irmão encontra o descanso eterno.

A Missa Exequial será celebrada a 7 de abril, pelas 17ho0, na Capela de Nossa Senhora da Guia, na Paróquia de São João de Fontoura, na Zona Pastoral de Resende.

Unamo-nos na oração, confiantes na bondade de Deus que ressuscitou Jesus!

CELEBRAR E DEFENDER | Editorial Voz de Lamego | 3 de abril de 2018

Medjugorje, Bosnia and Herzegovina 2016/11/13. Painting of Chris

CELEBRAR E DEFENDER

Os cristãos vivem, todos os anos, a alegria de ouvir o relato, “Jesus, crucificado sob Pôncio Pilatos, está vivo”, e celebram a grande festa da Páscoa, fundamento da nossa fé, das nossas práticas, orações e tomadas de posição sobre as grandes questões da vida.

Cristo levantou-se do túmulo onde fora depositado e saiu para inaugurar um mundo novo. A festa da vida que triunfa da morte, do amor que se oferece, livre e gratuitamente, a todos.

Viver a Páscoa é celebrar um amor mais forte que a morte, que vence o ódio e abre a via do perdão, que aprisiona a mentira e o egoísmo e abre caminhos de vida.

Mais do que uma história bela, pois há nela a condenação injusta e a crueldade da crucifixão, é uma história verdadeira, testemunhada por homens e mulheres que acreditaram em Jesus ao ponto de se tornarem Seus discípulos. Uma história verdadeira com origem em Deus e no seu amor pela humanidade. O amor é o segredo: não pode morrer.

O túmulo vazio e aberto convida a entrar e a confiar, apesar das dúvidas e limites, oferecendo novas razões para esperar. Em Jesus, a morte vencida dá um sentido à vida. Com Deus nenhum medo pode ter a última palavra, mesmo se as circunstâncias mostram o contrário. Deus ultrapassa os nossos medos. Somos discípulos da vida mais forte que a morte.

Acreditamos nesta vida que vem de Deus, nesta vida tantas vezes maltratada, ameaçada e nem sempre defendida e promovida (conflitos, interesses, legislação…).

A Ressurreição oferece-nos a contemplação da vida nova. Uma vida que Deus nos confia e que deve ser assumida, tomada em mãos e cuidada.

Celebrar a Ressurreição é também defender a vida, a própria e a dos outros, em todo o tempo e lugar.

Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/18, n.º 4455, 3 de abril de 2018