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Pe. Manuel Pinto Almeida – Partiu um amigo
Corria o ano de 1949 e nova reboada de uns quarenta jovens dirigiu os seus passos para o Seminário de Resende. Vinham dos quatro cantos da Diocese, e já não é fácil dizer de onde vinham todos eles.
Também vinha um chamado Manuel Pinto de Almeida, que descia das alturas da Panchorra, concelho de Resende, que a pé percorreu os caminhos que ali o trouxeram; a serra nada mais oferecia aos que por ela passavam e que dela saíam para outro qualquer lugar. Também eu fazia parte do grupo, mas vindo do outro extremo da Diocese, no concelho de Vila Nova de Foz Côa.
O grupo foi diminuindo; inadaptação de uns, saudades de outros, passámos ao Seminário de Lamego; tínhamos recebido dois do curso anterior, porque a saúde os reteve em casa; o grupo diminuía, mas ia-se recompondo na vida de cada ano escolar. No oitavo ano (era a contagem dos anos de estudo de então), só quatro entrámos no Curso Teológico: lá estava o Pinto de Almeida. No dia da ordenação sacerdotal, 15 de Agosto de 1961, o grupo de quatro subiu a pé para o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, para a Ordenação Sacerdotal; o grupo, aí, sofreu novo revés, pois um dos quatro não avançou, quando esperávamos o avanço de todos, que não éramos muitos.
Começou, então, nova etapa da vida de um grupo que se foi reduzindo ao longo de doze anos, agora com um futuro que tinha tanto de certo como de incerto; vida pastoral que chamava por nós, às vezes em lugar nunca sonhado, muito menos visitado e conhecido. E o P.e Manuel foi para o concelho da Mêda, num dos extremos da Diocese; para lá dos limites da sua paróquia de residência começava o concelho de Trancoso e a Diocese da Guarda. Casteição e Paipenela eram as suas duas paróquias, a que se juntava o lugar anexo dos Chãos. E lá ficou o nosso antigo companheiro, amigo, padre e pároco, um dos três que chegaram ao fim, receberam o Sacerdócio e partiram para a missão a que foram chamados e para a qual foram enviados, para usar a palavra de agora. Ler mais…
Editorial Voz de Lamego: À Porta do Natal
Estamos temporalmente às portas do Natal e, o que será preocupante, podemos ficar à porta (religiosa e espiritualmente), à porta do Natal. A Voz de Lamego, através de crónicas habituais ou pontuais, sublinha o risco de celebrarmos o Natal sem o aniversariante, Jesus, sem a adequação da vida ao mistério de abaixamento e proximidade de Deus, que, em Jesus, Se faz irmão, Se faz igual a nós.
Numa partilha das redes sociais – nas quais cabe a cada um optar pela positividade ou pela maledicência –, apareceu a seguinte publicação: “No Natal lembra-te que o aniversariante não desceu por uma chaminé para te dar presentes… passou pela CRUZ para te dar a salvação”.
Pessoas simples (e sábias, em muitas ocasiões) dizem que tudo é necessário. Com conta peso e medida. A festa e a feira. O trabalho e o sacrifício.
Por todo o lado se veem luzes, pais-natais, enfeites, feiras, promoções de Natal. Dar presentes. Surpreender o outro. Apreciar o melhor da vida. E até antecipar rendimentos! Podemos valorizar o Pai Natal e ficarmo-nos pelas chaminés. Podemos ficar com as luzes, vivendo sem luz e sem brilho no nosso interior e na relação com os outros. Como diz o poeta, Natal pode ser todos os dias. Como dirão os cristãos, Natal é quando Deus quer. E Deus sempre quer nascer no mundo, fazer-Se presente, e assumir-nos como irmãos em Jesus, o Deus-Menino.
As luzes da árvore de Natal podem remeter-nos para a verdadeira Luz que vem ao mundo iluminar todo o homem, como ainda há dias sublinhava o Santo Padre. Mas será importante nunca descurar a beleza, a pobreza e a simplicidade do Presépio; a grandeza que Se manifesta na fragilidade de um bebé e no despojamento de uma manjedoura.
Natal é a festa da família e tudo o que faça apelo à família, à fraternidade, ao amor e ao calor que nos aproxima será positivo! Se encontrarmos uma razão extra para estarmos com a família, ainda bem, também aí Deus poderá desafiar-nos a encontrar outras oportunidades. Se nos tornarmos especialmente solidários nesta época, ainda bem, pode ser que Deus nos desperte para a fragilidade do nosso semelhante!
Neste Natal podemos ficar à porta da Igreja, no adro, maravilhados com as luzes, mas sem tempo para a Luz, sem tempo para a festa de Natal com Jesus… Mas quem sabe, se ao aproximar-nos tanto das portas da Igreja, Deus não nos abre o coração e nos impulsiona a entrar?!
Santo Natal a todos os que fazem a Voz de Lamego (na edição, publicação, colaboração de textos, notícias e fotos, na publicidade, nas assinaturas, na leitura e nas achegas) e a todas as famílias da nossa mui nobre Diocese de Lamego.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/04, n.º 4490, 18 de dezembro de 2018
Editorial Voz de Lamego: O telemóvel desliga-nos do mundo
Hoje não passamos sem o telemóvel. A afirmação era válida para os adolescentes e jovens, mas estendeu-se às crianças, aos adultos, aos idosos. Em todos os lugares, em todos os momentos se vê alguém com o telemóvel, a falar, a receber e enviar mensagens, a percorrer as publicações, a comentar, a likear publicações, a partilhar momentos, a jogar (hoje talvez menos)!
Nas escolas, nas igrejas, a conduzir. Há dias passei por um ciclista, a sair da trajetória, com uma mão no guiador e outra no telemóvel… Nas celebrações cristãs, não faltam os telemóveis, para tirar fotos, para entrar em direto para que os amigos facebookianos ou instagranianos possam ver e escutar. Um batizado, um matrimónio tem mais fotógrafos, cada qual com o seu telemóvel, ou com dois, do que crentes! Não é raro o telemóvel tocar. Admirável quando nos funerais toca o telemóvel com a música do Quim Barreiros ou outra com melodias festeiras! Para já não falar que algumas pessoas atendem o telemóvel onde quer que se encontrem. Também na Igreja. Numa reunião! Antes, pelo menos pediam licença e saíam, mas já há quem atenda e até faça questão que os outros participem da chamada. É um direito! Em algumas igrejas, à entrada, aparecem belos cartazes: Deus fala / chama, mas não por telemóvel! Já há escolas a proibirem os telemóveis a alunos e a professores!
Mais importante que viver um acontecimento, é, sem dúvida, registá-lo (claro que também é importante a notícia que se elabora, as fotos e as filmagens que se fazem, que o digamos nós no Jornal!).
Para os pais era uma guerra fazer com que os filhos largassem o telemóvel. Ainda vejo algumas. O telemóvel parece ligar-nos ao mundo inteiro, mas desliga-nos de quem está à nossa volta, desliga-nos da família e dos amigos e do que nos rodeia. As refeições, oportunidades para dialogar, para desgostar a comida e da presença dos amigos, são feitas à pressa, por vezes nem se olha para o que se está a comer!
Na semana passada, a Rádio Renascença, na rubrica “O mundo em três dimensões”, apresentou uma campanha de uma cadeia britânica de restaurantes que oferece refeições a crianças cujos pais desliguem o telemóvel à refeição. Curioso e admirável mundo novo! Um inquérito a 1.500 pessoas concluiu-se que uma em cada 5 crianças se queixava que os pais preferiam usar os telemóveis do que conversar. E 10% dos pequenos até confessou a tentativa de esconder o telefone dos pais.
Antes, os pais pegavam no telemóvel e mostravam imagens ou um vídeo para os filhos se calarem e não fazerem birra. Agora são as crianças a querer que os pais larguem os telemóveis e conversem com eles! Curioso e admirável.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/03, n.º 4489, 11 de dezembro de 2018
Falecimento do Pe. Manuel Pinto Almeida
O Senhor Deus, Pai de Misericórdia Infinita, chamou à Sua presença, na eternidade, o Pe. Manuel Pinto Almeida.
Natural da Panchorra, concelho de Resende, onde nasceu em 3 de dezembro de 1938. Foi ordenado sacerdote a 15 de agosto de 1961. Foi durante alguns anos responsável da Casa de São José, onde passou os últimos meses agora em regime de Lar, mas igualmente sob a tutela da Diocese de Lamego.
Na segunda-feira será celebrada Missa Exequial na Igreja da Graça, em Lamego, pelas 11h00, e seguirá para a Panchorra, onde será celebrada também Eucaristia com o corpo presente, sendo sepultado no cemitério local.
O Senhor Bispo, D. António Couto, em comunhão com todo o presbitério e com a Diocese de Lamego, manifesta aos familiares e amigos do Pe. Manuel as suas condolências, agradecendo o dom da sua vida e da sua vocação e ministério sacerdotais, confiando-o nas mãos de Deus Pai, Senhor da Vida e da Morte.
Que Deus lhe conceda o eterno descanso.
Editorial Voz de Lamego: Sob a proteção da Imaculada Conceição
No dia 8 de dezembro, assinalamos a celebração festiva da Imaculada Conceição, Padroeira e Rainha de Portugal, fazendo sobressair a ligação afetiva dos portugueses à Virgem Imaculada.Como em tantas outras referências religiosas, culturais, políticas, com as novas gerações atenuam-se as pertenças e, por vezes, os motivos originários de uma tradição, de uma comemoração, a razão de ser de um feriado ou de um dia santo. O dia 8 e dezembro enraíza-se na história de Portugal e, claro, na identidade religiosa e cultural do povo português, mesmo com a vontade de alguns blocos quererem disfarçar, esconder, apagar tudo o que possa ter referências religiosas, excetuando nos momentos de aproximação eleitoral, onde é necessário não fazer muitas ondas.No dia 25 de março do ano de 1646, D. João IV, numa cerimónia solene, em Vila Viçosa, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, depunha a coroa a favor de Nossa Senhora. A partir de então o Rei não mais colocaria a coroa. Em contrapartida, a coroa era colocada num trono, ao lado do trono real, relembrando que Nossa Senhora da Conceição era a Padroeira e Rainha de Portugal.O Rei assinalava a forte devoção dos portugueses. Os acontecimentos que conduziram o país a recuperar a soberania, com a coroação de D. João IV, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço, estão fortemente ligados à devoção de Nossa Senhora. O Santo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira (São Nuno de Santa Maria), artífice da vitória de Portugal sobre os nossos vizinhos espanhóis, fundou a Igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, oferecendo também a imagem de Nossa Senhora da Conceição.É uma devoção que vem de longe, sancionada em definitivo a 8 de dezembro de 1954, pelo Papa Pio IX, rodeado por 92 bispos, 54 arcebispos, 43 cardeais e uma imensa multidão, definiu como dogma de fé o grande privilégio da Virgem:“A doutrina que ensina que a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada imune de toda mancha de pecado original no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus todo-poderoso, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, é revelada por Deus e por isso deve-se crer firme e constantemente por todos os fiéis”O projeto de Deus é concretizável pela resposta humana, por esta primeira resposta de Maria. Maria acolhe a Palavra de Deus e fá-la crescer no seu ventre e na sua vida.A condição para sermos morada do Deus altíssimo é imitar Maria, em humildade e prontidão para servir: realize-se em mim a Tua vontade. Vem, nasce em mim, ilumina-me com a Tua bondade, dá-me o Teu perdão, guia-me para Ti, faz-me reconhecer-Te e a amar-Te em cada irmão.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/02, n.º 4488, 4 de dezembro de 2018