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Editorial da Voz de Lamego: novo normal?!

Em novas situações emerge um novo vocabulário. É recorrente ouvirmos: “pandemia”, “distanciamento social”, “confinamento” e “desconfinamento”, “higienização”… entre outras!

Depois de uma grande tempestade, que desejamos? Regressar à normalidade, a uma normalidade possível, pois que nunca será igual, porque se perderam bens e, nalgumas situações, se feriram ou morreram pessoas, além do susto que pode gerar outra atitude: medo patológico (ainda que provisório) ou mudança das prioridades, sabendo que a vida (terrena) não é para sempre.

Em absoluto, mesmo quando não há tempestades, vamos despindo várias camadas e assumindo outras que nos fazem avançar, renovando as opções, normalizando as alterações e as novidades, numa espécie de espiral, integrando, debaixo da pele, o que nos acontece e, eventualmente, permitindo-nos estar mais preparados para outras situações.

Sob o reinado da Covid-19, já não se fala em regressar à normalidade, mas em assumir um novo normal, a tal normalidade possível, ajustando comportamentos e compromissos, sem esperar pelo controlo do novo corona vírus, mas convivendo com ele e não deixando de viver, de trabalhar, de confiar.

Em absoluto, nunca é possível voltar atrás, repetir os momentos, sejam negativos, que dispensamos, sejam positivos, que desejamos. A vida não se repete. “Nunca voltes ao lugar onde já fostes feliz”, como nos recorda, cantando, Rui Veloso, “Só encontrarás erva rasa / Por entre as lajes do chão / Nada do que por lá vires / Será como no passado / Não queiras reacender / Um lume já apagado”. Obviamente que a nossa memória emocional nos levará a recriar situações e momentos que nos fizerem bem e até podem, de facto, levar-nos a viver em dinâmica de bênção. Assim como assim, no entanto, estamos a avançar e não a repetir o passado, esse só podemos confiá-lo a Deus e mantê-lo na memória: se fomos felizes, podemos voltar a sê-lo. Temos pistas do que nos faz sentir em casa!

“Novo normal”. São duas palavras que me sugerem “conversão”, não como uma atitude pontual e definitiva, pode acontecer, mas como constante da nossa vida. Com efeito, precisamos de nos adaptar a novas situações, ora mais compassadas, ora mais urgentes, mas ainda assim, a vida continua, sempre nova, nunca se repete, não é igual para todos, nem todos ficarão bem, e os que ficarem bem, não ficarão em simultâneo ou na mesma medida. Numa perspetiva cristã, bem, bem, absolutamente bem, vamos ficar quando os nossos dias na terra estiverem cumpridos e Deus nos chamar a habitar eternamente com Ele. Estaremos a caminho de estar bem se confiarmos em Deus e nos “treinarmos” a amar, cuidar e servir…

Já aqui sugerimos, como leitura, “O desafio da normalidade”, do médico José Maria Cabral. É curioso, como buscamos tanto a novidade! Estamos com as antenas ligadas para vermos que modas vão surgir e como adaptarmos o penteado, a roupa, ou até a linguagem… e agora buscamos a normalidade. Por outras palavras, para voarmos precisamos de estar enraizados e certos de que poderemos voltar a poisar em chão seguro. A própria novidade assenta no que somos, temos e vivemos, só é novo comparado com o que já vimos ou experimentámos. Para nós cristãos, o normal é estarmos firmes pela fé e pela esperança, mas, sempre novo, a docilidade ao Espírito de Deus, abertos à ao futuro, para, hoje e a cada instante, renovarmos e concretizarmos o amor que nos liga aos outros.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/27, n.º 4562, 2 de junho de 2020

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