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Aniversário de Tomada de Posse de D. António Couto

nan_7845Nomeado pelo Papa Bento XVI, no dia 19 de novembro de 2011, D. António José da Rocha Couto assumiu  no dia 29 de janeiro, a cátedra de Lamego, sucedendo a D. Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, que esteve à frente da diocese durante 12 anos. D. Jacinto tomou ao seu encargo a diocese em 19 de março de 2000. Tendo completado 75 anos de idade em 11 de setembro de 2010, pediu a resignação, que foi aceite pelo Papa, mantendo-se, depois da aceitação da resignação, como Administrador Apostólico da diocese.

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A cidade de Lamego encheu-se de cor e sobretudo de cristãos para acolher o seu novo Bispo.

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Pelas 15h30, D. António, recebido pelo Administrador Apostólico, pelo Mons. Vigário-Geral e pelo Presidente  da Câmara Municipal de Lamego, no Seminário Maior de Lamego, segue no carro da Diocese até à Sé Catedral. Aqui é recebido por uma multidão em festa. À entrada para a Sé é saudado pelo Deão do Cabido e pelo Sr. Presidente da Câmara de Lamego.

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Pelas 16h00 o início da celebração eucarística. D. Jacinto presidiu à Procissão de entrada. Depois da saudação inicial, a Bula de Nomeação foi lida pelo Núncio Apostólico em Portugal e o Sr. D. Jacinto cedeu o lugar da presidência ao Sr. D. António, dirigindo-lhe algumas palavras de passagem de testemunho, como Bispo cessante e como diocesano (lembremos que D. Jacinto é natural da Diocese de Lamego e pertence ao presbitério desta diocese). A partir do momento em que assume a presidência da celebração, D. António passa também a presidir como Pastor à Diocese de Lamego

Presentes na tomada de posse, os Bispos de Portugal, muitos sacerdotes de Lamego, do Porto, de onde D. António é natural (Marco de Canaveses), de Braga, onde esteve nos últimos 4 anos como Bispo Auxiliar, dos Missionários da Boa Nova, autoridades civis da cidade e da diocese, muitos cristãos. A Sé Catedral foi pequena para acolher tanta gente. Muitas pessoas acompanharam a celebração em frente à Sé através dos plasmas aí colocados para este efeito.

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D. António deixou claro que o mensageiro, o enviado, mais que a mensagem, comunica Aquele que O envia…

Quase a terminar a celebração, a leitura da ATA de tomada de posse, pelo Chanceler da Cúria, Mons. Germano José Lopes.

Como cristãos, pedimos a Deus que esteja com o D. António e com as Suas preocupações pastorais. O Bispo é e referência de comunhão com Jesus Cristo, com as outras dioceses e seus bispos e com o Papa, sucessor de Pedro.

Fotos: KYMAGEM. Poderá ver mais fotos AQUI (também da Kymagem)

Homilia de D. António Couto na despedida da Virgem Peregrina

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EUCARISTIA NA DESPEDIDA DA VIRGEM PEREGRINA DE FÁTIMA

  1. Vê-se uma beleza a perder de vista quando se vê o mundo pelos olhos de Jesus e de Maria. Entrando nesse mundo novo e belo, vemos logo que só se nos oferece uma alternativa: ser alcançado por Deus, sem fugir dele,/ ou fugir de Deus, em vão, porque Ele nos agarra na mesma.

  1. Aos judeus, que dizem conhecer bem a identidade de Jesus, porque conhecem o seu pai e a sua mãe (João 6,42), Jesus responde, apontando para o seu verdadeiro Pai, que os judeus desconhecem: «Ninguém pode vir a Mim (eltheîn prós me), se o Pai, que me enviou, não o arrastar (élkô)» (João 6,44). Os judeus falam do pai de Jesus, José. Mas Jesus fala do seu verdadeiro Pai, Deus. Aos judeus, Jesus aponta o seu verdadeiro Pai, o único que nos arrasta até Jesus, o pão vivo descido do céu, que é a sua «carne», isto é, biblicamente falando, a sua forma de viver, a sua verdadeira identidade. Lição para todos nós: não basta conhecer Jesus em termos genealógicos, históricos e geográficos. É preciso conhecer o Jesus descido do céu, e aderir à sua forma de viver, fazer nossa a sua vida, deixar entrar em nós a vida eterna, aquele pão descido do céu. Não basta falar de Jesus; é preciso «vir ter com Jesus». Mas ninguém pode vir ter com Jesus, se o Pai não o arrastar até Ele. O IV Evangelho ensina-nos que é Jesus que explica o Pai (João 1,18) e que conduz ao Pai (João 14,6). Na passagem do Evangelho de hoje, ficamos a saber também que é o Pai que explica Jesus e que conduz, por arrasto, a Jesus.

  1. Vê-se bem, por debaixo do falar de Jesus, o teclado do Antigo Testamento. Em dois momentos. Um é aquele: «Todos serão ensinados por Deus» (João 6,45), que é uma citação de Isaías 54,13. O outro é aquele: «Ninguém pode vir a Mim (eltheîn prós me), se o Pai, que me enviou, não o arrastar (élkô)» (João 6,44), que tem por debaixo Jeremias 31,3 [38,3 LXX], que refere textualmente: «Com um amor eterno Eu te amei; por isso te arrastei (mashak TM; élkô LXX) com carinho (hesed)». É demasiado pobre não reparar nisto. É demasiado belo reparar nisto. Há neste amor de Deus por nós uma paixão declarada, força ou coação que o verbo arrastar traduz bem. Mas a expressão completa é: «arrastar com carinho». Entendamos então, amados irmãos e irmãs, que Deus luta por nós, arrasta-nos tantas vezes, mas sempre com carinho!

  1. No Evangelho de hoje, os judeus «murmuram» de Jesus, afastando-se dele. Murmurar é pensar mal e dizer mal de alguém. Dizer bem, bendizer, é unir. Dizer mal, maldizer, é separar. Como os judeus, também Elias «murmura», diz-nos o célebre texto de 1 Reis 19,4-8, que hoje tivemos a graça de ouvir. No dizer de Elias, Deus não age como devia agir, o mundo está todo pervertido, anda tudo ao contrário, e já não faz sentido continuar a viver. Porque Deus não age como ele quer, porque o mundo não é como ele quer, Elias, desgostoso e desanimado, corre para a morte, que ele vê como a única saída para a sua vida sem sentido. Tudo somado, e como ele diz, Elias não é mesmo melhor do que os seus pais (1 Reis 19,4), os do tempo do Êxodo e da travessia do deserto, e, tal como eles, também murmura, falando mal de Deus, dos outros e do mundo. Às vezes, também nos assalta este pensamento perverso: «está tudo errado, menos nós!».

  1. Mas Deus, o verdadeiro Deus, não fala mal de Elias, mas ama Elias, e vai conduzi-lo, isto é, arrastá-lo com carinho, ao caminho certo. Não deixa morrer Elias, e vai dar-lhe lições de vida verdadeira. Deus também não fala mal de nós, mas ama-nos. Na linha do que bem nos fala hoje o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios (4,30-5,2): «Nada de azedumes, irritação, cólera, insultos, maledicências, maldade» (Efésios 4,31). Em vez disso, Paulo quer que nós sejamos «imitadores (mimêtês) de Deus, como filhos amados (tékna agapêtá)» (Efésios 5,1). Outra vez: Deus não fala mal de nós, mas ama-nos! E, porque nos ama, arrasta-nos, luta por nós, já não pode viver sem nós!

  1. Sejamos então nós também, amados irmãos e irmãs, não murmuradores, mas imitadores, de um Deus que nos ama e por amor nos arrasta, lutando por nós até ao fim:

Tão pouco e tanto

Nos pede Jesus,

E para espanto nosso,

O Filho de Maria

Vem vestido de irmão nosso

De cada dia.

Ele anda por aí,

Ao frio e ao calor,

Rico e pobrezinho,

Nosso Senhor.

Vem, Jesus,

Senhor do mundo,

Do sol e da lua,

Bate à minha porta,

Entra em minha casa,

E que, por graça,

Possa eu entrar também na tua.

E também Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, Virgem Peregrina de Fátima, hoje no meio de nós, se fez «imitadora» de Deus e do seu Filho Jesus, sem reticências, sem «ses» e sem «mas»:

Assim te entregaste a Deus,

De coração inteiro,

Como um tinteiro

Todo derramado numa página.

Sim, tu és a mais bela página de Deus,

A Deus doada, apresentada, dedicada,

Mãe da vida consagrada,

Ensina-me a tua tabuada,

A tua suave e terna alegria,

A luz do Evangelho que te aquece e alumia.

Eu te saúdo, Maria,

Neste dia da tua peregrinação.

E porque os teus filhos, estes teus filhos queridos, sabem bem o valor e o calor de uma Mãe como tu:

Vão os teus filhos

Em procissão de amor,

Atrás do teu andor,

Na mão uma flor.

Recebe-a, mãe,

E acolhe-nos sob a tua proteção,

Hoje e em cada dia,

Ave-Maria.

E pelo teu amor de mãe, Senhora,

Recebe, nessa flor, a nossa gratidão,

Enche os nossos pés de prontidão,

As nossas mãos de paz,

Os nossos lábios de oração,

Os nossos gestos de perdão.

E caminha connosco,

Dá-nos a mão,

No que falta cumprir da nossa procissão. Amen!

Lamego, Eucaristia na despedida da Virgem Peregrina de Fátima, 9 de Agosto de 2015

+ António, vosso bispo e irmão

ORDENAÇÕES PRESBITERAIS

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A Igreja Diocesana de Lamego está em festa e dá graças ao Senhor pela alegria de ver chegar ao ministério sacerdotal dois dos seus membros que um dia escutaram a voz do Bom Pastor que os chamou e agora envia para a Sua messe, como sacerdotes.

No passado dia 5 de Julho, Domingo, na nossa Sé Catedral, D. António Couto ordenou presbíteros, o Diácono Fabrício António Pinheiro Correia, natural da Paróquia do Santíssimo Salvador de Penajóia, Lamego. Fez o seu estágio pastoral, durante o último ano, no Seminário Menor de Nossa Senhora de Lourdes, Resende; e o Diácono Valentim Manuel Moreira Fonseca, natural da Paróquia de Nossa Senhora das Candeias de Ferreiros de Avões, Lamego. No último ano realizou o seu estágio pastoral nas paróquias de Nossa Senhora do Pranto de Vila Nova de Foz Côa, Santo Amaro e São Pedro de Mós do Douro, da Zona Pastoral de Vila Nova de Foz Côa.

Pelo dom do Espírito Santo recebido na sagrada ordenação, os presbíteros tornam-se indispensáveis cooperadores e conselheiros do Bispo, no ministério e múnus de ensinar, santificar e apascentar o Povo de Deus, a partir do mesmo e único sacerdócio e ministério de Cristo (Cf. PO 7).

Às comunidades de origem destes neosacerdotes, particularmente às suas famílias, párocos e catequistas, bem como às comunidades onde estiveram a trabalhar em tempo de estágio pastoral, fica aqui uma palavra de verdadeira amizade e gratidão, como também se pede que continuem a rezar para que mais e santas vocações sacerdotais e vocações de especial consagração, surjam  na nossa Diocese de Lamego.

Ao Padre Fabrício e ao Padre Valentim manisfestamos o desejo sincero de os ver felizes no exercício humilde, generoso e diligente da sua missão sacerdotal e rogamos a Deus e a Nossa Senhora que os acompanhem na nova etapa da suas vidas que agora se inicia.

Pe. Vasco Pedrinho, in Voz de Lamego, n.º 4320, ano 85/34, de 7 de julho de 2015

Novos Sacerdotes

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A Sé de Lamego acolheu os muitos fiéis que ali se deslocaram na tarde do primeiro domingo de julho para participarem na ordenação sacerdotal dos diáconos Fabrício Pinheiro e Valentim Fonseca. Uma celebração presidida por D. António Couto e que contou também com a presença de D. Jacinto Botelho, cerca de oito dezenas de sacerdotes e muitos familiares e amigos que vieram de várias paróquias da diocese.

O nosso presbitério soma mais dois membros e a Igreja pode contar com dois novos sacerdotes que, nos próximos dias, ficarão a saber qual a missão pastoral que a diocese lhe confia. Num tempo em que vai diminuindo o número daqueles que se dispõem a servir a Igreja como ministros ordenados, damos graças a Deus por estes dois jovens, bem como pelas respectivas famílias e por todos quantos participaram na sua caminhada vocacional e formativa.

A cerimónia teve início às 16h e contou também com alguns sacerdotes e seminaristas de dioceses vizinhas, companheiros de formação no extinto Instituto e no agora Seminário Interdiocesano. Acontecimentos como este, aqui ou noutro local, servem também para experimentar a comunhão e a proximidade sempre bem vindas. Uma palavra também para sublinhar a presença e desempenho do Coro da Catedral, orientado pelo padre Marcos Alvim, cujas afinadas vozes contribuíram para a beleza da celebração festiva.

No final da cerimónia, depois de terem ido à sacristia e terem sido saudados pelos sacerdotes presentes, os novos presbíteros voltaram ao interior da Sé para serem saudados individualmente pelas muitas centenas de amigos presentes. Habitualmente, este momento é vivido no claustro, mas, em virtude das obras de restauro em curso, aquele espaço está encerrado.

Ao longo dos próximos dias os novos sacerdotes vão celebrar em vários locais, percorrendo espaços que conhecem desde o tempo de seminaristas. Nas suas comunidades de origem vão também presidir à Eucaristia, a “Missa Nova”: o Padre Fabrício, na Penajóia, no próximo domingo e o Padre Valentim, em Ferreiros de Avões, no domingo seguinte, dia 19.

O nosso jornal associa-se a todos os diocesanos que se alegram com este feliz acontecimento, ao mesmo tempo que felicita os novos sacerdotes e lhes deseja uma vida sacerdotal vivida com alegria e em atitude de serviço à Igreja que os ordenou, na fidelidade ao Senhor da Messe que os chamou e agora envia.

JD, in Voz de Lamego, n.º 4320, ano 85/34, de 7 de julho de 2015

ORDENAÇÕES SACERDOTAIS | HOMILIA DE D. ANTÓNIO COUTO

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  1. Refere uma indicação do Pontifical Romano acerca da Ordenação dos Presbíteros que o Bispo faz a homilia, dirigindo-se ao povo e aos Eleitos, falando-lhes do ministério dos presbíteros, a partir do texto das leituras lidas na liturgia da palavra (n.º 123). É o que vou tentar fazer, caríssimos fiéis leigos, caríssimos Eleitos Fabrício e Valentim, caríssimos sacerdotes e diáconos, consagrados, seminaristas.

  1. Ezequiel é um profeta. Portanto, é frágil. Portanto, não é autorreferencial, não vive de si e para si, mas vive da força de Deus (é o que significa o nome de Ezequiel), que o atravessa e nele se manifesta como uma nascente, como uma música suave e melodiosa em palavras de namoro decantada (Ezequiel 33,32). Eis Ezequiel entre os exilados de Tel ʼAbîb, na Babilónia, com a sua harpa dependurada nos salgueiros do rio Cobar, atual Shatt Ennil, um canal de irrigação feito sair do rio Eufrates para irrigar a cidade de Nippur. É ali, àquela colina de Tel ʼAbîb, ou da primavera ou das espigas, que acorrem os judeus ali exilados para ouvir aquela doce melodia que o vento do Espírito faz ressoar, repassando as cordas da harpa de Ezequiel ali dependurada. É por 93 vezes que Ezequiel é interpelado por Deus com a locução «filho do Homem», para abrir logo ali duas avenidas: uma, que liga Ezequiel, «filho do Homem», ao «Homem» de Génesis 1, que recebe de Deus o mandato de cuidar com doçura da inteira criação, até pôr cada criatura a cantar com renovada emoção aquele: «Louvado sejas, meu Senhor…», que São Francisco de Assis, já cego, nos ensinou a entoar; outra, que abre caminho para aquele Jesus, manso e humilde de coração, que atravessa os Evangelhos, e que, por 82 vezes, se diz a si mesmo com a locução «Filho do Homem», assumindo o Homem, desde Génesis 1, e nele imprimindo a verdadeira imagem do Deus invisível (Colossenses 1,15).

  1. É este Jesus que vemos no Evangelho de hoje (Marcos 6,1-6), a sair de lá (ekeîthen) (Marcos 6,1), de lá, de Cafarnaum, da casa de Jairo, onde o tínhamos deixado no Domingo passado (Marcos 5,35-43). Sai da casa de Jairo, onde tinha encontrado e levantado do sono da morte uma sua irmã verdadeira, Talitha (feminino de Talyaʽ, que significa “Servo”, “Cordeiro”, “Pão” e “Filho”, decifrando claramente Jesus), e dirige-se agora para a sua pátria (pátris) (Marcos 6,1), ao encontro dos seus familiares e conterrâneos. Esta ida à sua pátria, ao encontro dos seus familiares e conterrâneos, tem o seu ponto alto no dia de sábado, e a sinagoga é o lugar desse encontro (Marcos 6,2). Trata-se, no Evangelho de Marcos, da primeira ida de Jesus à sua pátria, e é também a última vez, neste Evangelho, que Jesus ensina numa sinagoga (Marcos 1,21.23.29.30; 3,1; 6,2). É ainda significativo que o sábado seja mencionado, neste Evangelho, apenas mais uma vez, precisamente naquela manhã de Páscoa, «passado o sábado» (Marcos 16,1).

  1. E, portanto, tudo neste texto, neste encontro, assume um carácter denso e decisivo. Desde logo a escolha do termo pátria (pátris), que carrega consigo um significado mais intenso e mais amplo do que o mais habitual de «povoação», «lugar» ou «aldeia» (chôra, tópos, kômê). Com esta forma de dizer, este decisivo encontro com Jesus não fica apenas circunscrito a uma pequena região da Galileia, mas prefigura já o encontro de Jesus com o inteiro Israel. E a rejeição que lhe é movida ali, na sua pátria (Marcos 6,2b-4), aponta já para a rejeição que lhe será movida pelo inteiro Israel. Indo mais fundo: são mesmo já visíveis, desde aqui, as resistências ao Evangelho radicadas no nosso coração, e que o Quarto Evangelho porá a claro, dizendo de Jesus: «Veio para o que era seu, e os seus não o receberam» (João 1,11). Mas também esta primeira ida de Jesus à sua pátria, e esta última vez de Jesus a ensinar na sinagoga, e este sábado que aponta para aquele último «passado o sábado» (Marcos 16,1), devem despertar em nós evocações e apelos decisivos. Tudo o que tem sabor a primeiro e último carrega, como sabemos, um particular peso específico, uma carga ou descarga única de emoção. Sim, é a primeira vez que Jesus nos vem visitar! É a última vez que vemos Jesus a ensinar na nossa terra! E este sábado já a passar, já passado, deixa-nos à beira do tempo novo da ressurreição e da missão!

  1. É aí que vos deixo, caríssimos Eleitos Fabrício e Valentim, no limiar mistério e do ministério, no limiar da missão. A última vez como Diáconos, a primeira vez como Presbíteros. Fazei sempre tudo com particular intensidade e emoção. Como se fosse sempre a primeira vez, como se fosse sempre a última vez! A vossa missão é simultaneamente crepuscular e auroral. Morrei para vós mesmos; dai vida aos vossos irmãos e irmãs. Como Moisés. No último dia da sua vida, não chora, não se lamenta, não olha para trás, mas empurra o povo de Israel para a Terra Prometida. O Livro do Deuteronómio cabe todo, narrativamente, no último dia da vida de Moisés. Podia ter o tom de uma despedida, mas é uma das mais belas auroras que algum dia despontou nas páginas da Escritura. Assim também Ezequiel, assim Jesus, assim Paulo. Todos completamente ao dispor de Deus e dos seus irmãos e irmãs. Dizia Deus, hoje, para Paulo: «Basta-te a minha graça» (2 Coríntios 12,9), a que Paulo responde bem, confessando: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Coríntios 12,10).

  1. Caríssimos irmãos e irmãs, caríssimos sacerdotes e diáconos, caríssimos Eleitos. Permiti que vos deixe ainda uma advertência: amai mais, louvai mais, admirai-vos mais, estremecei mais, espantai-vos mais! Todos teremos certamente reparado que aqueles conterrâneos de Jesus sabiam tudo acerca de Jesus: a sua terra de origem, os nomes dos seus familiares, profissão e residência. Sabiam isto tudo, mas não sabiam de onde (póthen) lhe vinha aquela sabedoria única e os prodígios que realizava.

  1. Permiti ainda que vos diga, caríssimos irmãos e irmãs, que às vezes, por termos os olhos tão embrenhados na terra, nas coisas da terra, não conseguimos ver o céu! Veja-se a iluminante cena da cura do cego de nascença, narrada em João 9. Em diálogo com o cego curado, os fariseus acabam por afirmar acerca de Jesus: «Esse não sabemos de onde (póthen) é» (João 9,29), ao que o cego curado responde, apontando assim a cegueira deles: «Isso é “espantoso” (tò thaumastón): vós não sabeis de onde (póthen) Ele é; e, no entanto, Ele abriu-me os olhos!» (João 9,30). Que é como quem diz: só não vê quem não quer! Tal como o cego, e fazendo uso da mesma linguagem, também Jesus «estava espantado» (ethaúmazen), lê-se no Evangelho de hoje, com a falta de fé dos seus conterrâneos (Marcos 6,6). Note-se bem que a falta de fé aqui assinalada não é apenas a negação de Deus. É a rejeição de Jesus em nome de uma errada concepção de Deus. Podemos mesmo dizer que se rejeita Jesus para salvar a honra de Deus! Veja-se bem até onde pode chegar a nossa cegueira!

  1. Amados irmãos e irmãs, caríssimos Eleitos. Tomai hoje verdadeiramente conta de Jesus, que Ele tomará conta de vós! Tomai hoje verdadeiramente conta do Evangelho, que o Evangelho tomará conta de vós! Caríssimos Eleitos, vivei com amor, estremecimento, espanto e emoção os sacramentos que realizareis, sobretudo a Eucaristia e a Reconciliação. Como diz o Pontifical Romano, «Recebei a oferenda do povo santo para a apresentardes a Deus. Tomai consciência do que vireis a fazer; imitai o que vireis a realizar, e conformai a vossa vida com o mistério da cruz do Senhor». Amen.

Lamego, 05 de julho de 2015, Dia do Senhor e de Ordenações Sacerdotais

+ António, vosso bispo e irmão

À Conversa com o Diácono Valentim Fonseca

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1 – Para os nossos leitores, quem é o Diác. Valentim Fonseca?

Sou natural da freguesia de Almacave – Lamego, residente na Freguesia de Ferreiros, onde dei os primeiros passos, aprendi o saber das gentes entre a serra e o Douro.

Frequentei a escola primária na mesma freguesia. Aprendi nos bancos corridos da Igreja o que é ser cristão.

Dou graças a Deus por ainda estar entre nós a minha professora primária, bem como a minha catequista do primeiro ano da catequese. Com a minha professora aprendi a ser pessoa socializante, com a minha catequista aprendi a ser cristão assíduo.

Sou o mais novo de 10 filhos, nasci no seio de uma família profundamente cristã e participativa na vida da paróquia. Desde muito cedo comecei a ajudar na catequese paroquial e no Movimento da Mensagem de Fátima.

Desde tenra idade senti que a minha vocação era o sacerdócio, talvez pelo facto do meu irmão mais velho ter frequentado durante dois anos os Missionários Combonianos.

Estudei na Escola Profissional, na altura Agrícola, de Lamego onde muito conversei com o Monsenhor Ilídio, que Deus o tenha em sua presença. A minha vocação foi-se manifestando, durante este tempo.

Fiz o ensino secundário e curso de Teologia na cidade de Braga.

De volta a Lamego em 2007 iniciei o Curso Superior de Gestão Turística, Cultural e Patrimonial. Numa das atividades desenvolvidas neste curso foram umas férias Culturais, no Mosteiro de Salzedas, sendo Pároco o saudoso Sr. Pe. António Seixeira, e que muito me ajudou na entrada no Seminário de Lamego.

Trabalhei e cooperei na Obra Kolping de Portugal, como coordenador das famílias Kolping. No contacto com os párocos mais motivação senti em seguir em frente.

Não me poderia esquecer de falar de quem me abriu a porta para o cristianismo, o meu Pároco que me administrou o Santo Sacramento do Batismo, a 8 de dezembro de 1978. Nele vejo um sacerdote dedicado ao rebanho a ele confiado há já 48 anos, como bom pastor. Neste ano em que celebra os seus cinquenta anos de Sacerdócio rezo ao Senhor para que continue a comular com as suas bênçãos. O Senhor Padre Silvestre foi a pedra fundamental para a minha ordenação. Desde já o meu profundo agradecimento ao Sr. Pe Silvestre, pela força que sempre me deu, foi a mão de Deus que operou através deste seu servo.

No meu lema escolhido para a Ordenação Presbiteral “Vem e Segue-Me”, ouço a voz do meu pároco a que siga o Senhor da Messe.

Ajudai-me Senhor Jesus, nesta nova fase da minha vida, vida que espero que continue a ser uma entrega de serviço aos irmãos na Tua Igreja.

2 – Como tem sido o teu estágio pastoral?

O meu serviço desenvolvido no estágio pastoral prendeu-se com o apoio directo à catequese, aos Jovens, à Liturgia, ao Sr. Padre António Ferraz, no seu múnus de Pároco desta paróquia de nossa Senhora do Pranto de Foz-Côa.

Por terras do Douro Superior realizei o meu estágio Pastoral, numa terra distante da minha terra natal, novas gentes, novas realidades, novos costumes. Todas estas realidades no início fizeram com que ficasse muito apreensivo quanto a esta fase muito importante no meu processo de crescimento e de aprendizagem, com quem já tem mais de duas dezenas de anos de experiência de serviço em prol das comunidades confiadas ao Sr. Pe. Ferraz.

No decorrer deste tempo de formação/preparação, tentei manter o contacto com todos, pois só através de um conhecimento das realidades locais se pode desenvolver um trabalho mais assertivo. Neste tempo deu para ouvir as pessoas nos seus anseios e canseiras do dia-a-dia, numa região profundamente marcada pela desertificação e elevada emigração.

Tornou-se um estágio muito produtivo, tanto no conhecimento como na prática. Desde já o meu sincero obrigado ao Sr. Padre António Ferraz pelo acompanhamento e ajuda dada neste ano.

3 – A partir da experiência entretanto conseguida, como vês a formação recebida no Seminário e na Faculdade de Teologia?

A Formação recebida no Seminário torna-se imprescindível, para o serviço. Ao colocar os seminaristas em estágio pastoral a partir do terceiro ano, no contacto com novas realidades, ver formas concretas de actuar no terreno, vai dando aos seminaristas um conhecimento mais aprofundado, o saber ser.

A Faculdade de Teologia ajuda no saber científico, o saber fazer, através do conhecimento das matérias abordadas no curso de Teologia faz com que na realidade se aplique aquilo, que muitas vezes durante o curso, achamos não ser relevante, embora na prática se torne exequível.

Aliando estas duas realidades, Seminário e Faculdade de Teologia os candidatos ao sacerdócio, no fim do seu percurso levam uma experiência, não indo completamente alheios às realidades que os esperam no seu serviço pastoral. Embora realisticamente a realidade ainda pode trazer alguns dissabores, que com a ajuda de Deus e dos irmãos no sacerdócio se consegue superar.

4 – Uma palavra para os nossos seminaristas e aos que estão a pensar entrar no seminário?

Aos nossos seminaristas e a todos os que estão a pensar entrar no seminário, gostaria de deixar uma breve palavra de encorajamento, vivemos numa sociedade que nos oferece mil e uma coisas, mas devemos centrar o nosso querer no Bem maior e Supremo que é a nossa Verdadeira Vida, Jesus Cristo, Aquele que no acto extremo de Amor entregou a sua vida por cada um.

Cristo continua a chamar, “Vem e Segue-Me”, saibamos nós responder ao seu chamamento com grandeza de ânimo confiando no poder da Oração e protecção.

in Voz de Lamego, n.º 4320, ano 85/33, de 30 de junho de 2015

Pe. António Vieira na Igreja Catedral de Lamego

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SI VIS, POTES

Si vis, potes (Se quereis podeis).

Assim se iniciou, no passado dia 20 de junho, com mais de uma centena de assistentes, na Catedral de Lamego, a encenação do Sermão da Terceira Dominga Post Epiphaniam do Padre António Vieira. Todo o sermão reflete e faz-nos refletir sobre todas as relações existentes entre o querer e o poder.

A intemporalidade do tema foi o que motivou para esta leitura encenada, pontuada por momentos musicais ao vivo, luz e técnicas da oratória.

Esta ideia surge no âmbito da Rota das Catedrais no Norte de Portugal, havendo uma parceria entre a Direção Regional de Cultura do Norte e os Cabidos e Fábricas da Igreja.

A encenação deste projeto está ao cargo e interpretação de José Alonso. Toda a dramaturgia segue o conceito existente na oratória do barroco que aponta para uma maior eloquência e exuberância da palavra dita, muito diferente da formalidade discursiva renascentista.

É bom que muitas outras atividades deste género possam surgir, de forma a que possa haver e se possa valorizar a nossa História, os nossos espaços e as nossas gentes. Mais que um momento recreativo, esta encenação foi um momento de profunda meditação. Bem-haja a todos quantos estiveram e estão envolvidos na propagação de tais atividades.

Termino com um texto do Sermão da Terceira Dominga Post Epiphaniam, “Se buscamos com verdadeira consideração a causa de todas as ruínas e males do mundo, acharemos, que não só a principal, senão a total e única, é não acabarem os homens de concordar o seu querer com o seu poder: si vis potes. A raiz deste veneno mortal, nascida não só na terra, senão também no Céu, é a inclinação natural com que toda a criatura, dotada de vontade livre, não só apetece sempre ser mais do que é, senão também querer mais do que pode”, pregado na Sé de Lisboa na data provável de 1662.

Diác. Fabrício Pinheiro, in Voz de Lamego, n.º 4319, ano 85/32, de 23 de junho de 2015

Homilia de D. António Couto na festa do Sagrado Coração de Jesus

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(Imagem de Arquivo)

CORAÇÃO PARA SEMPRE ABERTO

  1. Passa hoje, no calendário litúrgico desta sexta-feira, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que assinala a presença viva, próxima e intensa de um amor sublime e de uma esperança nova, refletida no rosto, no coração e no horizonte de cada ser humano. Esse horizonte novo brota do coração aberto de Jesus Cristo, fogo ardente de amor e de sentido que enche de luz os nossos passos, tantas vezes andados na penumbra e no escuro. São Paulo diz bem aos cristãos de Éfeso que, antes de terem sido encontrados por Jesus Cristo, viviam «sem esperança e sem Deus no mundo» (Efésios 2,12). A questão, entenda-se bem, já não é apenas viver sem Deus, no desconhecimento (agnôsía) de Deus. É viver sem Deus no mundo, no meio de nós, pertinho de nós, connosco. Sim, se repararmos bem, sem a presença de Deus no mundo, também a nossa habitação fica desabitada, uma espécie de câmara escura, e fica sem sentido a nossa vida. Sem Deus no mundo, pode haver apenas pequenas e inúteis deduções, como quem deduz o céu da terra ou o Último do penúltimo.
  1. Com Deus no mundo, muda tudo. É o céu que desce à terra, é o Último que enche de sentido o penúltimo. Fica habitada a nossa habitação, e um sentido novo rebenta o nosso escuro duro. Sim, o coração aberto do Deus humanado enche-nos de luz e de esperança. Enche-nos de Jesus, de cujo lado aberto saiu sangue e água (João 19,34): o sangue do Cordeiro que assinala as umbreiras das nossas casas (Êxodo 12,22-23) e lava as nossas túnicas brancas (Apocalipse 7,14); a água, que é o Espírito Santo, que vem para nós da humanidade crucificada e glorificada de Jesus, e alumia a nossa inteligência e o nosso coração de filhos, ensinando-nos a dizer: Ab-ba! Do lado aberto do primeiro Adam adormecido nasceu Eva (Génesis 2,21-22). Do lado aberto do novo e último Adam adormecido nasce a Igreja!
  1. Aí está então, amados irmãos e irmãs, o mistério por Deus dado a conhecer e a amar (Efésios 3,8-19) (o conhecimento incha; só o amor edifica), a fonte da nossa vida verdadeira, as nossas habitações (êthos) habitadas de sentido, os nossos hábitos (éthos) luminosos e branqueados. Habitação diz-se, na língua grega, êthos. A habitação é a casa, é a Igreja, a Casa bela habitada por filhos e irmãos. Hábito diz-se éthos, de onde vem «ética», que é a norma para viver na Casa, é o amor e a alegria de que os filhos e irmãos, que vivem na Casa, devem andar sempre revestidos. Habitação e hábito! Oh admirável mundo novo, belo e sublime, que Deus não se cansa de oferecer aos seus filhos amados.
  1. Veja-se outra vez este admirável solilóquio divino, que o Livro de Oseias hoje nos oferece. Diz Deus: «Quando Israel era um menino, Eu o amei. Fui Eu que ensinei a andar Efraim, que os tomei nos meus braços, mas não conheceram que era Eu que cuidava deles! Com vínculos humanos Eu os atraía. Com laços de amor, Eu era para eles como os que erguem uma criancinha de peito contra a sua face, e me debruçava sobre ela para lhe dar de comer» (Oseias 11,1-4).
  1. Um Deus maternalmente debruçado sobre nós. A tão admirável amor condescendente, só podemos responder com adoração e contemplação, dizendo com São Paulo: «Àquele, cujo amor, agindo em nós, é capaz de fazer muito mais, infinitamente mais do que possamos pedir ou conceber, a Ele seja dada a glória na Igreja e em Cristo Jesus, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos. Ámen» (Efésios 3,20-21).
  1. Sagrado Coração de Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao vosso, neste dia belo e luminoso em que consagramos ao vosso Coração para sempre aberto a nossa Diocese de Lamego, as suas crianças, jovens, adultos e velhinhos.

Lamego, 12 de junho, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

+ António, vosso bispo e irmão

Publicada na Voz de Lamego, n.º 4318, ano 85/31, de 16 de junho de 2015

POR UM AMOR MAIOR | Homilia de D. António Couto no Corpo de Deus

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POR UM AMOR MAIOR

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

  1. A Igreja celebra Hoje, jubilosamente, a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. E, pela página intensa e bela do Evangelho deste Dia grande (Marcos 14,12-16.22-26), começamos por nos dirigir a Jesus para que Ele nos diga «onde» e «como» preparar a sua Ceia. Sim, amados irmãos, Só Ele sabe «onde» e «como». E ainda assim, entendamos bem, nós apenas podemos fazer os preparativos. A Festa é com Ele. O Pão e o Vinho, o seu Corpo e Sangue, só os podemos receber d’Ele. E é quanto continuamos a fazer ainda Hoje. Ele é o Bem, Ele é a Bondade, Ele é a Beleza. E a celebração da Ceia Eucarística é sempre dizer Bem, pensar Bem, querer bem, fazer Bem. É encher de Bem, de Bondade e de Beleza a nossa vida. É assim que estamos em união com Deus e com os irmãos. O Bem une. O mal divide.

  1. «Se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança (…), sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa» (Êxodo 19,5-6), propõe o próprio Deus, por intermédio de Moisés, ao povo de Israel, chegado HOJE e HOJE acampado no sopé do Sinai (Êxodo 19,1-2). Como nos propõe HOJE a nós, acampados em Lamego. A proposta-promessa de Deus de transformar Israel num povo sacerdotal e santo é condicional: se escutardes a minha voz, se guardardes a minha aliança. Considerada atentamente a proposta-promessa de Deus, o povo de Israel responde que «sim», resposta unânime e sem hesitação, afirmando sob palavra de honra: «Tudo o que o Senhor falou, nós o faremos» (Êxodo 19,8). Este «faremos» do povo aparece consolidado mais à frente, na lição do Livro do Êxodo que hoje tivemos a graça de ler e de ouvir, em que o povo afirma por duas vezes: «Faremos todas as Palavras que o Senhor falou» (Êxodo 24,3 e 7).

  1. O povo compromete-se a fazer as Palavras do Senhor, e Deus cumpre logo aí a sua proposta-promessa de fazer de Israel um povo todo sacerdotal e santo. O texto bíblico do Livro do Êxodo que nos foi dada a graça de escutar, mostra, de forma admirável, a realização da promessa de Deus, pondo diante dos nossos olhos, primeiro os jovens (Êxodo 24,3), e depois os anciãos (Êxodo 24,9-11), a oficiar e presidir ao culto. Os jovens e os anciãos de Israel, os jovens e os velhos de Israel: aí está uma forma muito bíblica de dizer a totalidade de Israel, um Israel todo sacerdotal. Pouco depois, sempre com um modo de dizer muito bíblico, sela-se a aliança entre Deus e o seu povo. O sangue dos novilhos imolados é recolhido em bacias. Metade desse sangue é destinado a aspergir o altar, que simboliza Deus (Êxodo 24,6); a outra metade é destinada a aspergir o povo de Israel (Êxodo 24,8). É visível que Deus e o povo de Israel participam, então, do mesmo sangue. Participar do mesmo sangue é igual a fazer parte da mesma família. É uma maneira fortíssima de mostrar a fidelidade e a familiaridade que se estabelece entre Deus e o seu povo, entre Deus e nós, aqui Hoje reunidos, caríssimos irmãos.

  1. Tudo isto, porém, assenta naquele falar primeiro e criador de Deus, e no falar segundo, portanto, responsorial, do povo, que diz que «sim», comprometendo-se assim com a Palavra primeira de Deus. Há, portanto, um falar de Deus e um falar nosso a atravessar o texto, a atravessar Israel e a atravessar-nos nós. Também está aqui a nascer um povo sacerdotal, verdadeiro «sacerdócio comum dos fiéis», assente na escuta qualificada e no consequente fazer a Palavra de Deus: «Faremos todas as Palavras que o Senhor falou». Admirável.

  1. O texto bíblico é admirável, pois nos faz ver Deus a tecer sucessivos cenários de amor e de beleza para o seu povo, para nós. Mas o texto bíblico é ainda admirável, quando nos mostra que Deus, que é Deus, não quer fazer as coisas sozinho, e fica tantas vezes à nossa espera, suspenso da nossa resposta. «A sua Palavra é digna de fé» (1 Timóteo 4,9), porque «Deus é fiel» (1 Coríntios 1,9). É a nossa palavra que não é muito de fiar. É também aqui que o texto bíblico, continuando a ser admirável, se mostra também implacável, fazendo-nos ver em cenas sucessivas como tão depressa escorregamos do «sim» para o «não». E aí está o texto implacável a mostrar-nos como tão depressa dizemos que fazemos todas as Palavras de Deus, como, logo a seguir, nos pomos a fazer um bezerro de ouro (Êxodo 32,1-6), que é mais ou menos por onde andamos ainda hoje, parodiando o verdadeiro fazer, que é sempre fazer todas as Palavras de Deus. Como o texto bíblico nos desvenda. Implacavelmente!

  1. Vale-nos, «oh abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus!» (Romanos 11,33), que «Deus permanece fiel, mesmo quando nós lhe somos infiéis» (2 Timóteo 2,13). Aí está, então, o dizer e o fazer novo de Jesus a refazer o nosso dizer e o nosso fazer tão depressa abandonados, aliança rompida: «Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade», declara Jesus, verdadeiro sumo-sacerdote na Carta aos Hebreus 10,7; cf. Salmo 40,8-9). E «Não se faça a minha vontade, mas a tua», reza Jesus no Getsémani (Marcos 14,36). «Seja feita a Tua vontade», rezamos nós na oração do Pai Nosso (Mateus 6,10).

  1. E levando até ao fim o seu amor, ainda nos implica por graça no seu próprio belo fazer. «Tomai, isto é o meu corpo» (Marcos 14,22); «Este é o meu sangue, o sangue da Aliança, por todos derramado» (Marcos 14,24). «Fazei isto em memória de mim» (Lucas 22,19). Vida partida e dada por amor. Eis o inteiro programa de Jesus. Eis tudo o que devemos fazer, imitando-o eucaristicamente. Só o bem, pensado, dito, feito, une eucaristicamente. O mal divide e separa sempre. Divide a comunidade e separa-nos de Deus. Celebrar a Eucaristia é sempre um fazer novo e belo à nossa espera.

  1. É este pensar, dizer, querer, fazer Bem, amados irmãos e irmãs, que estamos a fazer aqui, nesta Celebração Eucarística, nesta Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Daqui a pouco, o Senhor da nossa vida presidirá e abençoará com a sua Presença, caminhando connosco, no meio de nós, as ruas da nossa cidade. O pálio (pallium) de Deus atravessará a nossa cidade. O pálio de Deus é o manto (pallium) de Deus, os braços carinhosos com que nos abraça e nos envolve, e nos pede para fazermos outro tanto, enchendo de graça e de esperança todos os nossos irmãos e irmãs. Verdadeiramente, num mundo em crise como este em que vamos, parece que voltamos a viver, como dizia São Paulo aos Efésios, «sem esperança e sem Deus no mundo» (Efésios 2,12). Entenda-se: sem esperança, porque sem Deus no mundo, connosco, no meio de nós.

  1. Jesus Cristo é Deus presente no nosso mundo todos os dias. E o pálio é o manto, o abraço, com que nos acarinha e envolve. De pálio (pallium) vêm os cuidados paliativos, que não são apenas os cuidados médicos e de amor que prestamos aos nossos doentes terminais; são sobretudo a expressão de um amor maior, de um manto maior, que nos envolve e nos salva em todas as situações (Gianluigi Peruggia, L’abbraccio del mantello, Saronno, Monti, 2004). Hoje, o pálio do amor de Deus sai à cidade.

Dá-nos, Senhor, um coração novo,

capaz de conjugar em cada dia

os verbos fundamentais da Eucaristia:

RECEBER, BENDIZER e AGRADECER,

PARTILHAR e DAR,

COMEMORAR, ANUNCIAR e ESPERAR.

Dá-nos, Senhor, um coração sensível e fraterno,

capaz de escutar

e de recomeçar.

Mantém-nos reunidos, Senhor,

à volta do pão e da palavra.

E ajuda-nos a discernir

os rumos a seguir

nos caminhos sinuosos deste tempo,

por Ti semeado e por Ti redimido.

Ensina-nos, Senhor,

a saber colher

o Teu amor

semeado e redentor,

única fonte de sentido

que temos para oferecer

a este mundo

de que és o único Salvador.

Sé Catedral de Lamego, 7 de junho de 2015

+ D. António José da Rocha Couto, Bispo de Lamego

D. ANTÓNIO COUTO PRESIDE A CELEBRAÇÕES DA SEMANA SANTA

quinta-feira santa-missa crismal

Celebrações da Semana Santa | Em Casa e à Mesa

A diocese Lamego, à imagem da Igreja que vive nos mais diversos cantos do mundo, viveu as celebrações da Semana Santa e da Páscoa da Ressurreição com alegria. Nas diferentes paróquias que formam esta porção do Povo de Deus, com mais ou menos residentes, com maior ou menor visibilidade, a fé foi assumida e festivamente celebrada.

 Ungidos e enviados

Mais de oitenta sacerdotes da nossa diocese juntaram-se à volta do bispo diocesano, D. António Couto, na manhã de Quinta-feira Santa, na Sé, para a celebração da Missa Crismal. Presentes também D. Jacinto Botelho, os dois diáconos que serão ordenados em julho próximo e um diácono permanente natural da nossa diocese e residente no Porto, bem como várias dezenas de fiéis leigos que, não enchendo os bancos da Sé, participaram na cerimónia.

Partindo dos textos bíblicos proclamados, sublinhando a importância de todos para a edificação da Igreja neste “hoje” contínuo que é o tempo do Povo de Deus, D. António Couto dirigiu-se, em particular, ao seu presbitério. “«O Espírito do Senhor sobre mim, porque o Senhor me ungiu». É assim também que nós Hoje, caríssimos sacerdotes, submersos pelo Espírito, reunidos em unum presbyterium, para nos dizermos, temos de receber de Jesus as mesmas palavras que Ele próprio pediu emprestadas e a que deu sentido pleno, corpo, rosto e voz, fazendo-as sair da superfície plana da folha de papiro. «O Espírito do Senhor sobre mim, porque o Senhor me ungiu» constitui, de facto, a maneira mais bela e profunda de o presbitério de uma Diocese poder afirmar em uníssono a sua identidade Sacerdotal e Diaconal, à maneira de Jesus Cristo. É mesmo a única maneira de nós podermos dizer quem verdadeiramente somos. Algumas formas verbais que podemos pedir outra vez emprestadas a Isaías e a Jesus podem ajudar-nos a perceber melhor a grandeza e a dignidade da nossa vocação e missão: ungidos e enviados para anunciar o Evangelho aos pobres…

Guardemos connosco, Hoje, amados irmãos, esta unção e este reino de sacerdotes. Sim, somos um presbitério de Ungidos, desde o bispo, aos sacerdotes, aos diáconos. Ungido diz-se em hebraico Mashîah, e em grego Christós, termos que, em português, soam Messias e Cristo. O Ungido por excelência é, então, Cristo, Jesus Cristo, Jesus Ungido, e d’Ele todos sabemos que, enquanto Ungido com o Espírito Santo, passou pelo meio de nós fazendo o bem e curando e libertando e amando até ao fim, intensa e plenamente, sem pausas nem bemóis, porque Deus estava com Ele (Actos 10,37-38), porque Deus tocava nele, porque nele se tocava em Deus. Se o Ungido é Cristo, então nós somos outros Cristos, porque somos igualmente Ungidos. E se somos outros Cristos, então a referência da nossa maneira de viver terá de ser também sempre Cristo. Temos, então, de nos revestir de Cristo (Romanos 13,14; Gálatas 3,27; Colossenses 3,12-14), de fazer nosso o estilo de vida de Cristo, manso e humilde, orante, feliz, evangelizador, apaixonado, pobre, despojado, ousado, próximo e dedicado. Só assim, configurados com Cristo, cristificados, podemos viver e agir in persona ChristiCapitis ou in persona Christi Servitoris, na pessoa de Cristo Cabeça do seu Corpo, que é a Igreja, ou na pessoa de Cristo Servo do seu Corpo, que é a Igreja. É assim que dizemos hoje, nesta Quinta-Feira Santa, a nossa identidade Sacerdotal e Diaconal, à maneira de Jesus”.

quinta-feira santa-missa crismal-silvestre e albano quinta-feira santa-missa crismal-vitor e esteves

Jubileu sacerdotal

Durante a Eucaristia, a nossa diocese deu graças pelos 50 anos de sacerdócio de quatro dos seus presbíteros: Joaquim Manuel Silvestre, pároco de S. João Baptista de Avões, Nossa Senhora das Candeias de Ferreiros de Avões e de S. Pedro de Samodães, no arciprestado de Lamego; Vitor Esteves Rosa, pároco de Nossa Senhora dos Remédios de Lamelas e de S. João Baptista de S. Joaninho, na zona pastoral de Castro Daire; Albano de Almeida Pereira, pároco da paróquia de Nossa Senhora da Graça, na zona pastoral de Armamar; Manuel Esteves Alves, pároco da paróquia S. João Baptista de S. João de Fontoura, na zona pastoral de Resende. Graças também pelos 25 anos de sacerdócio do Padre José António Magalhães Rodrigues que vive a sua missão pastoral na paróquia de Nossa Senhora da Graça da Abrigada, no Patriarcado de Lisboa. Ler mais…