Arquivo
Romaria de Santa Eufémia | Penedono 2016
Uma romaria que se perpetua no tempo.
Um tempo carregado pela simbologia do lugar.
Um lugar privilegiado por natureza.
O lugar
Situado na encosta de uma deslumbrante colina, o Santuário de Santa Eufémia, abre vista da serra para a denominada região do Douro vinhateiro. Um lugar de singular beleza. Um espaço aberto, calmo, recolhido, acolhedor, convidativo à interioridade, à reflexão, ao encontro com Deus. Ler mais…
D. ANTÓNIO COUTO em Penedono, na Romaria de SANTA EUFÉMIA
O nosso bispo, D. António Couto, presidiu à Eucaristia da festa, vivida no dia 16 de Setembro, data em que Santa Eufémia foi martirizada. A celebração decorreu na capela do santuário, uma vez que a chuva e o vento não permitiram a utilização da grande esplanada existente ali perto. No final da Missa do dia 16, uma entreaberta permitiu que a procissão se realizasse, para alegria de todos.
Na homilia, partindo dos textos bíblicos do comum dos mártires e fazendo alusão ao tempo menos soalheiro que se fazia sentir, D. António Couto convidou toda a assembleia a “saber ler nos tempos que Deus dá, o amor, o carinho e a dádiva”; também através das gotas da chuva. E a todos lembrou que “as peregrinações são importantes porque nos fazem andar, encontrar e ver o amor de Deus por detrás de tudo. Peregrinar implica saber que somos frágeis, feitos de barro. E a beleza da nossa vida é a nossa fragilidade… Somos vasos de barro que adoecem, sofrem, são amados, morrem. Mas é uma maravilha, um milagre contínuo, contemplar o amor de Deus em nós e à nossa volta. Importa saber ver e ler. É uma graça, juntos, descobrirmos que somos próximos, irmãos. Peregrinar enriquece-nos porque encontramos os outros e a natureza, que nos mostram as maravilhas de Deus”.
Depois falou-nos de Santa Eufémia, para caracterizar a sua vida como justa e frágil, de alguém que se expôs por causa da sua fé e que foi martirizada por causa dos maus sentimentos dos seus contemporâneos. E dizer “mártir” é sinónimo de “testemunha”.
A este propósito, o nosso bispo, falou da testemunha como sendo “alguém que se compromete”, alguém que atesta sobre os acontecimentos, as palavras, a cruz e a ressurreição de Jesus. Dito de outra maneira, “alguém envolvido na história de Jesus”. E este estar comprometido e envolvido tem como consequência uma prática que se assume e protagoniza: “o discípulo de Jesus, a testemunha que com Ele se compromete, tem que testemunhar, onde quer que se encontre, o perdão, o amor, a ternura, a paz e a misericórdia de Jesus”. Deixar-se envolver é muito mais do que saber que algo aconteceu, é “viver a história de Jesus”. Por isso, o mártir é “a testemunha de uma história que não é a sua”, mas é comprometer-se com essa história para a tornar presente e visível nas circunstâncias em que se vive. Sta. Eufémia foi até ao fim, mostrando ao nosso tempo e a todos os peregrinos que é possível, “com coragem, alegria e bondade seguir Jesus”.
Por fim, convidou todos os fiéis a tornarem-se “cristãos apaixonados” para que “Cristo esteja sempre presente” e para que “ninguém nos seja indiferente”. Porque um “cristão apaixonado” está para lá do mero cristão praticante ou não praticante; é alguém que faz a diferença com a sua vida, discípulo consciente e responsável que anuncia Cristo pela forma de ser e de estar, sempre. E, neste peregrinar, Sta. Eufémia “ensina-nos a dizer e a fazer bem”.
in VOZ DE LAMEGO, 23 de setembro de 2014, n.º 4380, ano 84/43
NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS | Homilia de D. António Couto
A IGREJA DE SANTA MARIA ONDE ELA NASCEU
- Neste dia 8 de setembro, o calendário litúrgico assinala a Festa da Natividade da Virgem Santa Maria. Dito por outras palavras: celebramos hoje o dia do nascimento de Nossa Senhora. Sem esquecer esta tonalidade festiva do aniversário natalício de Maria, a Diocese de Lamego, no âmbito deste Santuário e da cidade de Lamego que o envolve, tem motivos acrescidos para fazer subir os índices da sua alegria, pois celebra hoje também a Solenidade de Nossa Senhora dos Remédios, Padroeira principal da nossa cidade.
- Sendo a Padroeira principal da nossa cidade, Ela é também a Casa, a Mesa, o Pão, a Porta principal da nossa cidade. Ela é a Senhora da nossa cidade. Ela é a Mãe. Ela é o Coração. Ela é até, está bom de ver, o ganha-pão da nossa cidade. Ela é figura e porta-voz do essencial. Ela tem cumprido bem a sua missão de Padroeira, velando todos os dias por esta cidade, acolhendo aqui todos os que a ela acorrem com as suas dores e… com as suas flores. Ela tem honrado e dignificado o Padroado. Amados irmãos e irmãs desta nobre cidade, vamos ter de nos perguntar também se temos feito tudo o que devíamos fazer para honrar e dignificar a nossa Padroeira, figura e porta-voz do essencial, ou se andamos por aí perdidos e entretidos, figuras e porta-vozes do acidental.
- Queridos peregrinos, irmãos e irmãs, que hoje, vindos de perto e de longe, demandastes este Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, sede bem-vindos. Rezo para que encontreis aqui, no regaço maternal de Nossa Senhora dos Remédios, o alívio e o alento que procurais. Mas permiti, amados irmãos e irmãs, dado que passa hoje o dia do aniversário natalício de Maria, que vos convide a fazer comigo, agora mesmo, uma peregrinação ao local onde ela terá nascido. Estamos já na cidade santa de Jerusalém. Entrai comigo pela Porta oriental da cidade velha, chamada «Porta dos Leões», mas também chamada pelos cristãos «Porta de Santo Estêvão» [o seu martírio aconteceu ali nas imediações, fora da cidade], e pelos árabes e cristãos Bab Sittna Maryam, que significa «Porta de Nossa Senhora Maria».
- Acabados de entrar por esta «Porta de Nossa Senhora Maria», estamos no quarteirão muçulmano da cidade velha de Jerusalém, e estamos também no início da bem conhecida Via Dolorosa. Entrada a «Porta de Nossa Senhora Maria» e postos os pés na Via Dolorosa, vemos logo à nossa direita e mesmo à flor da Via Dolorosa, um grande edifício que transporta nas suas entranhas uma longa, dorida e bela história. Entrai então comigo no átrio desse edifício. Mal entramos, damos logo com os olhos na Igreja românica de Santa Ana, uma construção dos Cruzados, que remonta ao ano 1130, que os muçulmanos ocuparam em 1192, e não destruíram, pois a transformaram em escola corânica. O sultão turco otomano Abdul Megid doou-a ao Governo francês em 1856, após a guerra da Crimeia. E em 1878, o governo francês confiou-a aos cuidados dos chamados Padres Brancos ou Padres de África, em cuja posse e desvelo ainda hoje se encontra. Entrai comigo então na Igreja de Santa Ana, e cantemos ali uma Ave-Maria: primeiro, porque Santa Ana é, como sabeis, a mãe de Nossa Senhora, e é nesta Igreja austera, mas espaçosa, que a memória do nascimento de Maria é evocado; segundo, porque estamos na Igreja com a melhor acústica do mundo, e cantar ali é um privilégio; terceiro, porque com o nosso canto, à nossa maneira, manifestamos também a nossa comunhão com os sofridos cristãos palestinianos (e de todo o Médio Oriente), que hoje, rodeados por muitos peregrinos idos do mundo inteiro, celebram ali, ao jeito oriental, com explosiva alegria, a Festa da Natividade de Nossa Senhora.