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Editorial Voz de Lamego: Violência X Violência
Nos últimos dias, semanas, a violência tem multiplicado. Melhor, nos últimos anos. Não faltam diagnósticos, faltam, isso sim, soluções, caminhos, compromissos para alterar este estado de coisas. Talvez porque não exista um receituário eficaz para diminuir ou tornar menos letal a violência.
A educação por certo será sempre um compromisso a ter em conta. A educação que começa no berço e se alarga à escola, à Igreja, aos clubes e associações, movimentos! É preocupante abrir um jornal, uma revista, uma aplicação, o televisor e deparar-nos com situações que ainda nos horrorizam. Mas como há tempos alertava o Papa Francisco, o risco é que a violência se torne banal. Já vimos tanto, já vimos situações inenarráveis, que nada mais nos poderá surpreender, nada mais nos comove! É preocupante, porque a habituação à violência torna-nos indiferentes. É mais um caso. Mais uma agressão, uma morte, entre tantas outras e, olhando de fora, até justificamos alguns casos de violência doméstica, pois achamos que era merecido! E isso é muito preocupante!
Vemos conflitos em diversas partes do mundo ou, se ainda não são visíveis, já se esperam a qualquer momento, tais são os radicalismos que se acentuam. Nem os países industrializados ou as democracias ocidentais estão imunes a este flagelo. Se pararmos um pouco talvez percebamos que a violência que se multiplica nas ruas já se multiplicou em casa e na família. A violência doméstica em Portugal tem aumentado a olhos vistos nos últimos três anos. O inverso também é possível, a violência avança da rua para casa, ou entra diretamente através dos meios de comunicação social. E alguns dão-nos doses repetidas, esquadrinhando até ao ínfimo pormenor todas as variantes possíveis e imagináveis da violência.
A Igreja deixou de considerar a confissão pública dos seus fiéis não tanto por expor os mesmos, mas porque dessa forma se ensinava a outros como pecar. A comunicação social, pelas notícias, documentários, debates, filmes e novelas, explica-nos como ser violentos e como escapar. Claro que a comunicação social também ajuda a denunciar formas de violência, de escravização, de exploração. A comunicação social por perto pode ser dissuasora de alguns comportamentos abusivos, se bem que também pode multiplicar os focos de violência. Nem tudo é branco ou preto. Alguns meios de comunicação, mais focados em audiências e lucros, continuarão a ser combustível que se junta à violência.
A violência gera violência e gera radicalismos, à esquerda e à direita, e, se momentaneamente parecem trazer mais segurança, os radicalismos conduzem a novas formas de violência. Temos de voltar ao berço. Temos de embainhar a espada da agressividade, e apostar na paciência da educação e do amor.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/11, n.º 4497, 12 de fevereiro de 2019
CORREÇÃO FRATERNA | Editorial Voz de Lamego | 14 de fevereiro
O Jornal Diocesano é um belíssimo instrumento de informação, de formação, de reflexão, de aproximação de pessoas e comunidades, fazendo memória, desafiando o anúncio do Evangelho e vivência da fé pela caridade. Alguns temas em destaque: a carta do Papa Francisco aos jovens, a Visita Pastoral de D. António Couto em São Martinho de Mouros, a Festa do Seminário de Nossa Senhora da Lourdes e muitas outras notícias da Diocese e da região.
No Editorial, o Diretor da Voz de Lamego fala-nos da correção fraterna, sempre tão necessária, quando é correção e é fraterna, para crescimento, para maior bem e agindo com respeito e caridade…
CORREÇÃO FRATERNA
Protagonizando o que recomendava aos outros, a correcção fraterna, o apóstolo Paulo enfrentou o apóstolo Pedro para lhe censurar determinado comportamento (Gal 2, 11-14). O conselho e o exemplo continuam válidos e vão-se concretizando, na medida das possibilidades e capacidades. Quantas vezes foi notícia o que o Papa Francisco disse sobre determinadas posturas e opções?
Mas, nos últimos tempos e de forma mais visível, também têm surgido notícias do descontentamento de alguns diante da maneira de ser e de estar do Papa. A situação não é nova e não será encerrada com este pontificado. Exceptuando a uniformidade requerida quanto ao depósito da fé, sabemos que sensibilidades distintas proporcionarão posturas diferentes. O próprio Papa, no cumprimento da sua missão, estará marcado pela formação recebida, pela experiência de vida, pela sensibilidade própria e pelo contexto actual.
Contudo, Francisco não se furta à denúncia de escândalos e de infidelidades, na Igreja e no mundo, nem abdica de sugerir mudanças e de agir, repudiando o “lavar de mãos” do auto-dispensado Pilatos. Talvez certas denúncias e decisões ocasionem ressentimentos, já que nem sempre sobra humildade para aceitar mudar.
Apesar de considerado e apreciado, Francisco sabe-se sujeito aos limites, às imperfeições ou às possíveis críticas. Daí que, desde o início, tenha pedido orações por si e não tenha escondido que é “alguém que ri, que chora, que dorme tranquilo e que tem amigos, como toda a gente”. E num célebre discurso à Cúria romana aconselhou a não “divinizar” os chefes, já que a mensagem transmitida será sempre mais importante que a notoriedade ou carisma do mensageiro.
Tal como evidenciado por Paulo, a oportunidade da crítica é inquestionável quando nasce do amor à verdade e à coerência. Mas perde vigor e lugar quando resulta do desconforto pela perda de poder ou de privilégios.
in Voz de Lamego, ano 87/14, n.º 4399, 14 de fevereiro de 2017
SANTO AGOSTINHO | Padroeiro secundário | DIOCESE DE LAMEGO
Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja, é o Padroeiro Secundário da nossa Diocese de Lamego. Recorde-se que o Padroeiro Principal é São Sebastião, Mártir.
Santo Agostinho, um dos personagens mais importantes da história do cristianismo, mormente no que concerne à filosofia e teologia cristãs.
Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, no dia 13 de novembro de 354. Foi bispo, escritor, teólogo, filósofo, Doutor da Igreja, conhecido como o Doutor da Graça. É uma das figuras mais importantes da história da Igreja.
Aos 11 anos de idade, foi enviado para uma escola, em Madaura, familiarizando-se com a literatura latina, e com as práticas e crenças pagãs. E aos 17 anos, o pai, enviou-o para Cartago, para aí continuar a sua educação na retórica.
Resistiu sempre a santa Mónica, sua mãe, para se converter ao cristianismo. Juntou-se a uma mulher, de quem teve um filho, Adeodato. Entretanto, foi para Milão, onde viria a mudar de vida.
Santo Ambrósio, Bispo de Milão, de quem Santa Mónica tomava conselhos, teve uma influência decisiva na conversão de Agostinho. Nesse tempo, Agostinho mandou a amada de volta para a África e deveria esperar dois anos para contrair casamento legal, mas não esperou, ligando-se a uma segunda concubina.
Durante o Verão de 386, leu um relato da vida de Santo António do Deserto e de Santo Atanásio de Alexandria, deixando-se inspirar por eles. Um dia enquanto passeava nos seus jardins em Milão ouviu uma voz: “Tolle, lege”; “tolle, lege”, ou seja, “toma e ler”; “toma e ler”. Abriu a Bíblia ao acaso e leu a passagem de Romanos 13,13-14: nada de comezainas e bebedeiras, nada de devassidão e libertinagens, nada de discórdias e invejas. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não vos entregueis às coisas da carne, satisfazendo os seus desejos.
Na Vigília Pascal, do ano de 387, fez-se baptizar, por Santo Ambrósio, Bispo de Milão, juntamente como o filho. Regressa a África. No caminho morre a mãe e pouco tempo depois o filho. Vendeu o património e distribuiu pelos pobres. Foi ordenado sacerdote em 391 e em 396 eleito bispo coadjutor de Hipona, donde se tornou Bispo pouco tempo depois.
Morreu em 430, pelo dia 28 de Agosto.
Oração (de coleta):
Renovai, Senhor, na vossa Igreja o espírito com que enriquecestes o bispo Santo Agostinho, para que, animados pelo mesmo espírito, tenhamos sede só de Vós, única fonte de sabedoria, e só em Vós, origem do verdadeiro amor, descanse o nosso coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Das Confissões de Santo Agostinho, bispo
Oh eterna verdade, verdadeira caridade, cara eternidade!
Sentindo-me estimulado a reentrar dentro de mim, recolhi-me na intimidade do meu coração, conduzido por Vós, e pude fazê-lo porque fostes Vós o meu auxílio. Entrei e vi, com o olhar da minha alma, uma luz imutável que brilhava acima do meu olhar interior e acima da minha inteligência. Não era como a luz terrena e visível a todo o ser humano. Diria muito pouco se afirmasse apenas que era uma luz muito mais forte do que a comum, ou tão intensa que penetrava todas as coisas. Não era deste género aquela luz; era completamente distinta de todas as luzes do mundo criado. Não estava acima da minha inteligência como o azeite sobre a água nem como o céu sobre a terra; era uma luz absolutamente superior, porque foi ela que me criou; e eu sou inferior porque fui criado por ela. Quem conhece a verdade, conhece esta luz.
Oh eterna verdade, verdadeira caridade e cara eternidade! Vós sois o meus Deus; por Vós suspiro dia e noite. Quando Vos conheci pela primeira vez, elevastes me para Vós, a fim de que eu pudesse apreender a existência do que via, e que, por mim só, não seria capaz de ver. Deslumbrastes a fraqueza da minha vista com a intensidade da vossa luz; e tremi com amor e horror. Encontrava me longe de Vós numa região desconhecida, como se ouvisse a voz lá do alto: «Eu sou o pão dos fortes; cresce e comer-Me-ás. Não Me transformarás em ti como o alimento do teu corpo, mas tu é que serás transformado em Mim».
Eu procurava o caminho onde pudesse adquirir a força necessária para saborear a vossa presença; mas não o encontraria enquanto não me abraçasse ao Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, que está acima de todas as coisas, Deus bendito pelos séculos dos séculos, que me chamava e dizia: «Eu sou o caminho da verdade e a vida»; não o encontraria enquanto não tomasse aquele Alimento, que era demasiado forte para a minha fraqueza, mas que Se uniu à carne – porque o Verbo Se fez carne – a fim de que a vossa Sabedoria, pela qual criastes todas as coisas, Se tornasse o leite da nossa infância.
Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Vós estáveis dentro de mim, mas eu estava fora, e fora de mim Vos procurava; com o meu espírito deformado, precipitava me sobre as coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Retinha me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Chamastes, clamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandecestes e dissipastes a minha cegueira. Exalastes sobre mim o vosso perfume: aspirei o profundamente, e agora suspiro por Vós. Saboreei Vos, e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes me e agora desejo ardentemente a vossa paz.
FONTE: Secretariado Nacional da Liturgia.
Para aprofundar: REFLEXÕES de BENTO XVI sobre SANTO AGOSTINHO, em 2008,
nas Audiências Gerais das Quartas-feiras, por exemplo AQUI.
DIA SACERDOTAL | Arciprestado de Moimenta, Sernancelhe, Tabuaço
O reconfortante espaço do Santuário da Senhora da Lapa serviu de palco, no passado dia 7 de Julho, para o dia sacerdotal do clero do arciprestado de Moimenta, Sernancelhe e Tabuaço.
Com a presença honrosa do Sr. Bispo de Lamego, juntamente com o Srs. Vigário e Pró-vigário geral, a tarde foi de reflexão, de partilha, de oração e de degustação. Apesar de algumas ausências, a diferenciação de gerações – dos 30 aos 90 anos de idade – proporcionou um convívio ainda mais rico e mais fecundo.
O caloroso acolhimento do Sr. Reitor do Santuário, Pe Amorim, e das religiosas que com ele colaboram fez-se sentir do início ao fim. O encontro começou oficialmente com a palavra de abertura, proferida pelo Vice-arcipreste, Pe Jorge Giroto, que inteirou os presentes do sentido e finalidade deste dia sacerdotal, assim como do programa a que este obedeceria. De seguida, tomou a palavra o Sr. D. António Couto, para discorrer cuidadosamente sobre as motivações, implicações e consequências da última encíclica do Papa Francisco, Laudato Si. Com o incontestável poder comunicativo que lhe é reconhecido e com a profundidade que lhe é característica, o Bispo diocesano começou por fazer uma esclarecedora alusão à vida e espiritualidade de São Francisco de Assis, ressalvando assim a responsabilidade comum de salvaguarda de toda a Criação, alertando para os efeitos, tantas vezes nefastos, de uma mentalidade exageradamente economicista, que perpassa os meandros das sociedades hodiernas. Importa que os cristãos – por fidelidade ao Evangelho – e os pastores – por obediência à sua missão – sejam o impulso necessário de uma reviravolta que urge acontecer a partir das nossas comunidades eclesiais.
Após esta alocução do Sr. Bispo, houve oportunidade para algumas ressonâncias breves, reforçando a importância do seu discurso. A oração de Vésperas teve lugar logo a seguir. E pelas 19h30 foi altura de ser servido um agradável jantar. Durante este – à boa maneira monástica – fomos brindados com a leitura de alguns documentos referentes às ocorrências abusivas contra o património do Santuário da Lapa. Seguiu-se-lhe uma graciosa partilha retrospetiva dos tempos de seminário de alguns dos presentes, proporcionando uma contagiante sequência de gargalhadas, que muito ajudaram a iniciar a digestão.
Terminado o jantar e feitas as respetivas despedidas, cada um rumou ao seu destino, levando na bagagem o fortalecimento da fraternidade e da amizade sacerdotal, que confere um sentido sempre renovado à espiritualidade própria do clero secular.
Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, n.º 4321, ano 85/35, de 14 de julho de 2015
NATAL, DOM DE DEUS | Editorial Voz de Lamego | 23 de dezembro
Em vésperas de Natal, a edição desta semana da Voz de Lamego, como expectável, é dedicado especialmente ao Natal, nas reflexões propostas, na divulgação de notícias e de eventos. No entanto, outros motivos de relevo, como a Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial da Paz, a participação de D. António Couto nas Ceias de Natal do Seminário Maior de Lamego e do Seminário Menor de Resende; a instituição de ministérios.
Também o Editorial nos fala de Natal, como Dom do amor de Deus. Natal uma festa que não conhece fronteiras:
NATAL, DOM DE DEUS
Somos testemunhas da alegria que o nascimento de uma criança suscita numa família. Diante da maravilha que é a vida, tudo ganha um sentido novo e festivo. A atenção dispensada ao novo pequeno ser, tão frágil e o mais belo do mundo, é contínua. E o amor que a sua chegada fez aparecer no coração de todos é acompanhado por uma enorme alegria.
Com a criança que nasce, a nova vida que os seus pais vivem chama-se, de verdade, “esperança”. Não a esperança motivada pelos maus momentos que fazem acreditar em melhores dias. Nem a esperança motivada pela tristeza que nos invade e nos leva a esperar uma eventual felicidade. Aqui trata-se de uma esperança que faz viver aqueles pais e demais familiares o “hoje” de maneira plena.
Com um nascimento, tudo adquire um sentido belo e pleno. E os que rodeiam o novo ser comprometem-se totalmente, aqui e agora, com o que nasce. A criança mobiliza o amor, a atenção, a alegria. Com ela, a esperança verdadeira nasceu.
Eis o mistério do Natal!
A história de Israel é orientada para a vinda do Messias, esperado com paciência e ardor. O Natal é o fim dessa espera, a concretização de uma promessa num hoje que se vive com alegria. O menino que contemplamos na simplicidade e pobreza do presépio mostra-nos que Ele não quer rivalizar com outros bens. Ele é a verdadeira esperança. Com ele vem uma nova vida!
Natal é a festa de uma numerosa família que não conhece fronteiras, espaços ou tempos. Uma família sempre em construção, tais sãos os muros que separam os homens. Uma família que se constrói a partir do acolhimento do amor de Deus, dom concedido a todos pela incarnação do Verbo.
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4294, ano 84/56, de 23 de dezembro de 2014
Comunicado do Conselho de Presbíteros
Reuniu na passada sexta-feira, dia vinte e um de novembro, o Conselho de presbíteros da Diocese de Lamego. Os trabalhos tiveram lugar na Casa de São José sob a presidência do nosso Bispo, Senhor D. António José da Rocha Couto.
Os trabalhos iniciaram-se com a Oração da Hora Intermédia e na sequência desta, o Senhor Bispo exortou todos os Sacerdotes presentes a viverem com mesma alegria e no mesmo júbilo que nos convidava o Profeta Sofonias.
De acordo com a agenda de trabalhos, os Sacerdotes reflectiram sobre o início do Ano Pastoral, mais concretamente sobre a apresentação à Diocese do Programa do Ano Pastoral e as dinâmicas para a sua implementação. Ainda durante a manhã, foi tema de reflexão as Visitas Pastorais do Senhor Bispo às Paróquias “Como caminho de renovação pastoral da Diocese”.
Ao início da tarde, e em trabalho de grupos, os sacerdotes reflectiram sobre dois pontos: a Assembleia do Clero e Estatutos para os Conselhos Pastorais Paroquiais e Conselhos Económicos.
A próxima reunião ficou marcada para o dia 12 de Junho de 2015.
O Secretariado Permanente do CPL, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4290, ano 84/52, de 25 de novembro de 2014
SÍNODO DOS BISPOS: sem consenso sobre divorciados e homossexuais
Assembleia falha consenso sobre divorciados e homossexuais
SÍNODO DOS BISPOS
O Vaticano apresentou o relatório final da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos que debateu os temas da família, no qual sublinha a “verdade” da indissolubilidade do casamento, recusando outros tipos de união. O documento refere que o único “vínculo nupcial” na Igreja Católica é o sacramento do Matrimónio e que “qualquer rutura do mesmo é contra a vontade de Deus”.
O Sínodo assume a necessidade de “discernir os caminhos para renovar a Igreja e a sociedade no seu compromisso pela Igreja fundada sobre o matrimónio”, a “união indissolúvel entre o homem e a mulher”.
Os participantes sustentam que “os grandes valores do matrimónio e da família cristã” são a resposta aos anseios da existência humana face ao “individualismo” e “hedonismo”.
Debate aberto
O documento sintetiza as duas semanas de debate, com intervenções em sessões gerais e discussões em grupos linguísticos em que se discutiu muito a relação entre doutrina e misericórdia.
Jesus, “colocou em prática a doutrina ensinada, manifestando assim o verdadeiro significado da misericórdia”, pode ler-se, antes de se referir que “a maior misericórdia é dizer a verdade com amor”.
A reflexão sobre casamentos civis, divorciados e recasados na Igreja deixa uma mensagem de “amor” para com a “pessoa pecadora” e diz que esta participa “de forma incompleta” na vida eclesial. “Trata-se de acolher e acompanhar estas pessoas com paciência e delicadeza”, pode ler-se.
A caminho do consenso
O documento retoma as observações sobre a necessidade de fazer “escolhas pastorais corajosas” na ação da Igreja junto das “famílias feridas”, em particular junto de quem “viveu injustamente” a separação e o divórcio.
O relatório final do Sínodo de 2014 foi votado ponto a ponto, em cada um dos seus 62 números, que reuniu 470 propostas dos chamados ‘círculos menores’.
As votações sobre cada número foram divulgadas pelo Vaticano, por decisão do Papa, revelando que os parágrafos 52 (acesso dos divorciados recasados à Comunhão), 53 (comunhão espiritual a divorciados) e 55 (homossexuais) não chegaram a uma maioria de dois terços dos 183 padres sinodais presentes; o parágrafo 41 (matrimónios civis e uniões de facto) mereceu 54 votos contra.
Em relação ao acesso à Comunhão e à Penitência pelos divorciados em segunda união, tema sobre o qual se gerou divisão entre os participantes, alguns “argumentaram em favor da disciplina atual [que impede o acesso aos sacramentos]” e outros propõem um “acolhimento não-generalizado”. Este foi o ponto em que houve mais votos contra (74), no qual se pede que seja aprofundada a questão, “tendo presente a distinção entre situação objetiva de pecado e circunstâncias atenuantes”.
O texto apresenta dois números sobre a situação dos homossexuais, com críticas às “pressões” sobre os membros da Igreja por causa da sua doutrina nesta matéria e às leis que instituem uniões entre pessoas do mesmo sexo. 62 pessoas votaram contra um número no qual se afirma que “os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza”.
O relatório do Sínodo alude ainda às propostas para tornar “mais acessíveis e ágeis”, de preferência “gratuitos”, os procedimentos para o reconhecimento de casos de nulidade matrimonial, realçando que alguns participantes se mostraram “contrários” a mudanças.
Os vários pontos apelam à valorização dos métodos naturais de planeamento natural e da adoção, condenando a mentalidade “antinatalista”; recordam a reflexão sobre a família nos documentos da Igreja e pedem liberdade de educação para os pais.
Encontro marcado
Após a apresentação do texto citado, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, sublinhou que este não é um documento “doutrinal” e que vai servir de base para a preparação da assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2015.
A 14ª Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 25 de outubro de 2015, com o tema «A vocação e a missão da família na Igreja, no mundo contemporâneo».
in VOZ DE LAMEGO, 21 de outubro de 2014, n.º 4285, ano 84/47
ESPIRITUALIDADE LAICA | Editorial Voz de Lamego | 9 de setembro
A cidade de Lamego respira ainda as Festas de Nossa Senhora dos Remédios. O Jornal Diocesano faz eco da Romaria de Portugal, com o contexto da festa, novena barraquinhas, trânsito, programa diversificado, e inclui a HOMILIA DE D. ANTÓNIO COUTO na Eucaristia da festa, no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios. Acompanham os textos, algumas imagens bem ilustrativas desta Romaria em honra de Nossa Senhora, dia em que a Igreja celebra a Sua Natividade.
Mas o jornal traz muitos outros motivos de interesse, notícias, reflexão, eventos passados e futuros. Sugestão de cânticos para a Eucaristia do próximo domingo e pistas de reflexão para a homilia; a agenda episcopal; os 50o anos do foral concelhio de Magueija; a Romaria de Santa Eufémia de Penedono (e claro de Pinheiros -Tabuaço). Habitual também notícias sobre a região, o país e o mundo, e sobre a vida da Igreja, mormente as diversas intervenções do Papa Francisco ao logo da última semana.
Para melhor ambientar nada como iniciar com o Editorial desta semana:
Espiritualidade laica
O título faz referência a uma das expressões que se vai lendo ou ouvindo, quando se trata de abordar a presença da religião na sociedade actual ou, mais concretamente, sobre o fim da instituição religiosa e o abandono da transcendência.
Se há algumas dezenas de anos a maioria da população julgava a relação com um Deus transcendente uma realidade necessária à vida e à sua realização, hoje fala-se e pratica-se mais aquilo a que chamam uma “espiritualidade laica”. Ou seja, há uma consciência de que a vida humana é mais do que uma existência à espera da morte, que o homem é mais que um corpo que se mostra, que a sociedade precisa de encontrar pontos de equilíbrio, porque “não vale tudo”, mas não se admite a existência de Deus nem se adopta a busca de uma imortalidade para orientar um agir.
O essencial é o vivido e experimentado, uma procura de harmonia e realização sem qualquer referência dogmática ou moral. À nossa volta proliferam propostas no domínio da ajuda psicológica, do bem-estar corporal e mental onde a fé e a dimensão religiosa estão ausentes.
Falar de uma “espiritualidade laica” significa querer defender alguns valores, mas livres da fé. Um dos filósofos anunciadores de tal postura é o francês Luc Ferry, antigo Ministro da Cultura daquele país. Para ele, a espiritualidade do nosso tempo deve estar ligada à conquista de uma vida mais plena e realizada entre iguais. Não se trata apenas de pretender uma espiritualidade sem Deus; é necessária uma espiritualidade laica, protagonizando uma vida boa e uma visão do mundo comum a ser construído por todos. A força para fazer isso – segundo ele – está no poder do amor, na sacralização do humano pelo amor.
Pe. Joaquim Dionísio, VOZ DE LAMEGO, 9 de setembro de 2014, n.º 4279, ano 84/41
CORAGEM PARA DENUNCIAR | Editorial Voz de Lamego | 19-8-2014
Cada nova edição da Voz de Lamego é um desafio à leitura, com textos muito variados, e que alimenta positivamente a fé e o compromisso com a Igreja e com a sociedade a que pertencemos, acolhendo notícias da Diocese e da região, na abertura a Portugal e ao mundo.
Para lá dos textos de reflexão, cuja profundidade de uns ou a leveza de outros, podem proporcionar leituras agradáveis, clarificadoras, lendo a realidade, em ambiência cristã, dando pistas para melhor viver a fé e partilhar a vida, aí estão muito outros motivos de interesse: 500 anos do Foral de Samodães, texto de Mons. Cândido sobre o Pe. João Rodrigues; Bodas de Prata Sacerdotais do Pe. José Augusto Marques, Pe. Aniceto Morgado, Pe. João António Teixeira, e as Bodas de Ouro Sacerdotais de Mons. Arnaldo Cardoso; Programa completo das Festas de Nossa Senhora dos Remédios; 2.ª Peregrinação Anual ao Santuário de Nossa Senhora da Lapa.
Obrigatório em cada edição é o texto proposto pelo Diretor, esta semana sublinhando a coragem de denunciar, quando continuam os massacres de pessoas, por motivos religiosos, outras vezes sem motivos nenhuns.
CORAGEM DE DENUNCIAR
A propósito do contínuo massacre infligido aos inocentes cristãos do Iraque e de outros países, protagonizado por gente que se diz crente, o Vaticano pronunciou-se e pediu a intervenção das Nações Unidas, bem como a condenação de tais actos por parte dos líderes religiosos dos opressores.
A autoridade da iniciativa aumenta quando nos recordamos de que semelhante apelo já foi feito pelo papado para alertar contra perseguições e atentados contra a vida e a dignidade humana levados a cabo noutros países e com populações que professam outros credos religiosos. Porque seguir Jesus Cristo implica olhar para todos os homens e mulheres do mesmo modo e bater-se pela igual dignidade de todos. E o Papa tem feito isso: respeito por toda a vida humana e denúncia de tudo quanto atenta contra a mesma.
E este exemplo não tem sido seguido. E é pena! Por isso, aquele texto apela aos respectivos líderes religiosos para se pronunciarem, denunciando tais atrocidades. Porque se nos dói o mal infligido, também magoa o silêncio de quem deveria condenar. A coragem e denúncia proféticas não podem “ter dias”: pratica-se quando se é vítima e silencia-se quando se está do outro lado.
As notícias falam agora das perseguições dos cristãos do Médio Oriente, embora existam outros países que as promovem. A comunicação social, sempre tão célere para certos assuntos, também deveria divulgar tais atrocidades. Porque os mártires cristãos aumentam diariamente.
Quanto aos tais líderes religiosos, as suas vozes não podem apenas ouvir-se em discursos de vitimização ou em ocasiões que visam acalentar a esperança dos perseguidos; também devem soar para denunciar as injustiças e acusar quem as pratica, contribuindo para a defesa da vida, a pacificação social e o fim dos conflitos.
Diretor, Pe. Joaquim Dionísio, VOZ DE LAMEGO, 19 de agosto de 2014, n.º 4276, ano 84/38
Ecos do encontro do Conselho Diocesano de Pastoral
Há muito desejado na Diocese de Lamego, o Conselho Diocesano de Pastoral reuniu pela primeira vez no dia 26 de julho, na Casa de São José, em Lamego. Como habitualmente nos encontros entre crentes cristãos, o encontro iniciou-se com um momento de oração.
Como anunciado, o Conselho Pastoral da Diocese é presidido por D. António Couto. Nesta primeira ocasião, o senhor Bispo falou da importância e objetivos do Conselho Diocesano de Pastoral: “investigar e apreciar tudo o que diz respeito às atividades pastorais e formular conclusões práticas”. Um dos pontos da agenda previa a apresentação dos respetivos Estatutos e que foram aprovados ad experimentum. Nos próximos dois anos serão objeto de reflexão dentro dos vários departamentos e serviços da Diocese, para então serem aprovados definitivamente.
D. António Couto sublinhou que a criação deste Conselho ia ao encontro do desafio que o Papa Francisco faz a toda a Igreja, mormente na Evangelii gaudium: “o objetivo dos processos participativos não há de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos “ (nº 31). “A nossa missão – referiu ainda D. António Couto – é experimentar e testemunhar a comunhão, e trabalharmos juntos empenhadamente para acertarmos com os melhores caminhos para que o Evangelho possa chegar a todas as pessoas da nossa Diocese de Lamego”.
Um dos pressupostos dos Conselhos Pastorais é precisamente acolher propostas e iniciativas pastorais, coordenar as diferentes atividades, momentos, oportunidades, propor, canalizar esforços e instrumentos, testemunhar a comunhão eclesial. Foi com esta preocupação que os trabalhos continuaram, acentuando a dinâmica pastoral da Diocese de Lamego que seguirá sob o “Ide e Fazei Discípulos” no triénio que se segue, tendo como pano de fundo a Família, em comunhão com a toda a Igreja,com os olhos e a atenção colocados no Sínodo dos Bispos sobre a “Família e Evangelização” .
Próximos três anos:
- 2014/2015 – Família;
- 2015/2016 – Liturgia e Oração;
- 2016/2017 – Palavra de Deus.
Relembram-se três momentos aglutinadores para o próximo ano pastoral, já refletido na reunião das Comissões, departamentos e serviços, no passado dia 12 de julho:
- Um encontro aberto a todos os Agentes Pastorais Diocesanos para o dia 27 de setembro – Apresentação do Plano Pastoral;
- Realização do Dia da Família Diocesana, no dia 27 de junho de 2015;
- Realização de um Retiro para os Agentes Pastorais em meados de fevereiro de 2015.
Na próxima edição da Voz de Lamego, que durante estas duas semanas se encontra em momento pausa para férias, outras informações serão dadas sobre o Conselho Diocesano de Pastoral.