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Entrevista com António Leão, Fruticultor
Depois das vindimas, uma das atividades agrícolas maiores do Douro e das terras da diocese de Lamego, é a cultura da maça que abrange particularmente os concelhos de Tarouca, Armamar, Moimenta da Beira e Sernancelhe. A propósito, a Voz de Lamego, procurando estar próxima das preocupações e ocupações desta região, esteve à conversa com o fruticultor António Leão, que falou do exigente trabalho da produção da maçã, nos diferentes momentos do ano, os gastos e investimentos, as pragas e os tratamentos, a trovoada, o granizo e o clima, o escoamento da produção.
1. O trabalho agrícola é uma atividade ininterrupta, pela variedade produções que é possível fazer ao longo de todo o ano, consoante as épocas, os solos, as culturas próprias de casa região. No que respeita à maçã, explique-nos um pouco daquilo que é um ciclo anual normal desta produção?
A produção da maçã requer um trabalho durante todo o ano. Vai de novembro a novembro, sem interrupções. Assumindo a colheita como o fim do ciclo, a novo ciclo começa logo a seguir. Primeira ação é fazer um ou dois tratamentos para a repor micronutrientes nas árvores para o ano que está a iniciar. De seguida, quando tiver caído um terço da folha das macieiras faz-se um tratamento com cobre para desinfetar a ferida causada pela queda da folha. Quando a queda da folha atingir os dois terços faz-se um tratamento de ureia para acelerar a queda das restantes folhas e, sobretudo, para provocar uma decomposição rápida da folhagem que fica no chão, de modo a evitar infeções para o próximo ano.
2. Quanto à poda. É um trabalho que volta mão-de-obra e bastantes dias de labor. Como a realiza? Começa muito cedo? Ou contrata um número de podadores mais alargado?
O período ideal para a poda é durante os meses de fevereiro e março. No entanto, porque há cada vez mais área de pomar plantada nesta região, e porque cada vez há menos pessoas para contratar para a poda, este trabalho prolonga-se entre os meses de novembro e abril. Eu, faço sempre um esforço para ter a poda concluída em meados de março.
3. A nível de execução deste trabalho, da poda, atualmente já se faz com mais facilidade e rapidez que há uns anos atrás. Certo?
Sim. Sem dúvida. Primeiro eram utilizadas as tesouras manuais e os serrotes de cinta. Depois passou-se ao uso das tesouras pneumáticas, que foi um grande avanço. Mas hoje o que se usa é mesmo a tesoura elétrica. É muito prática. Leve. Não exige grande força de mãos. Tem autonomia própria, porque cada podador traz consigo uma bateria recarregável. E executam o corte muito mais rápido que as convencionais. Acresce a isto, o facto de hoje também dispormos das plataformas elevatórias que transportam simultaneamente 4, 5 ou 6 homens, que executam a pode nas várias alturas da árvore, de uma vez só. Dispensam-se os antigos escadotes. Ganha-se em tempo, esforço e minimizam-se os riscos de acidentes.
4. Relativamente às pragas que vão aparecendo e comprometendo a produção?
O pedrado (que é um fungo) é sempre a praga que nos atemoriza mais, e que começamos logo a combater, com tratamentos, imediatamente a seguir à poda. Nesta fase entre o fim da poda e o início da floração faz-se também a aplicação de um inseticida, para impedir a ação de alguns insetos prejudiciais que vão aparecendo. Depois de começar o processo de floração das árvores não se devem fazer quaisquer tratamentos à base do inseticida, porque estes podem provocar o aborto das flores.
5. A nível de gestão de tratamentos: fazem muitos, ao longo do ano, ou varia consoante as condições climáticas?
Há um número de tratamentos mínimo que temos sempre de fazer, sejam quais forem as condições da meteorologia. No entanto, há ocasiões em que exige um maior número de aplicações. Por exemplo, em dias que chova mais que 20 litros por metro quadrado o produto aplicado já está lavado. Ou seja, a seguir a uma situação destas o tratamento tem de ser preventivo, mas também tem de ser já curativo. Se não houver chuvas nem orvalhadas fortes, a durabilidade do tratamento ronda os 12 dias.
6. Estamos a assistir a uma mudança de tendência no uso dos tratamentos por pulverização. Isto é, estão a desaparecer os produtos tóxicos para dar lugar aos tratamentos biológicos. A eficácia é a mesma? O resultado final é igual?
Todos os anos há produtos tóxicos que são retirados do mercado. E há pragas que, por vezes, nos custam mais a combater por falta desses produtos. Mas a tendência atual é mesmo fazer reduzir a toxicidade dos tratamentos até atingir o resíduo zero. No entanto, a produção biológica é uma meta ainda distante, porque isso requer uma ação integrada de todos os produtores. Não posse eu fazer de uma maneira, e o meu vizinho do lado fazer de outra, senão ficam as duas produções comprometidas.
7. Quanto às espécies de maças que se cultivam nesta região, qual é a variedade que o senhor mais produz?
Eu produzo mais Gala e Golden. Mas depois tenho um pouco de todas: Reinetas, Starking (vermelhas), Jonagold, Fuji, etc..
8. Porque a escolha dessas espécies?
Um dos critérios é procurar fazer uma produção cuja colheita possa ser distendida por uma período de tempo maior, possibilitando rentabilizar a pouca mão-de-obra de que dispomos para a apanha. Ou seja, não nos interessa que todas amadureçam ao mesmo tempo, porque não é possível fazer a apanha de dezenas de hectares numa semana apenas. Por isso, apostamos na Gala que tem de ser recolhida na segunda quinzena de agosto. E depois vamos acabar com Fujis que são colhidas na primeira semana de novembro. Durante este período vão-se apanhando, mais ou menos uma variedade diferente por semana. As maças precisam de ter um determinado teor de açúcar e de dureza para poder ser apanhas. Não pode ser antes disso, nem muito depois. Dependendo sempre bastante das condições climatéricas daquela altura. Porque depois influencia a conservação das mesmas, uma vez que é feita em frio artificial.
O outro critério de bastante peso na seleção das espécies a plantar é exatamente o que o mercado pede. Sendo que, neste caso, há sempre um grau de risco e incerteza significativo, porque entre a plantação e as primeiras produções vai sempre um intervalo de 3, 4, ou 5 anos, e, nesse entretanto, o público consumidor pode ter inclinado a sua preferência para outra variedade qualquer.
9. A nível de mão-de-obra, há duas épocas de maior necessidade: a fase da poda, no inverno, e a apanha no verão/outono. Sendo esta região de baixa densidade populacional, como consegue arranjar pessoas suficientes para estas duas alturas do ano?
Quanto à poda, da minha parte, eu e o um funcionário que tenho a trabalhar comigo a tempo inteiro, durante todo o ano, consigo fazer esse trabalho sem recorrer a mais ninguém. Para que isso seja possível há dois fatores essenciais. O primeiro é que inicio a poda antes de fevereiro, um bocadinho antes do que era o ideal, e termino sempre em meados de março. O segundo fator é que vou mecanizando o trabalho. Como referia atrás, usamos sempre a plataforma elevatória e as tesouras elétricas.
No que diz respeito à apanha, as dificuldades surgem bastante, por causa da falta de mão-de-obra. Não há muita gente disponível. Não é um trabalho muito apetecível porque é sazonal. Depois as exigências de seguros, segurança social, etc., burocratizam demais a contratação de pessoas. E depois é um trabalho que nem sempre é contínuo. Nos dias de chuva não se consegue apanhar maça, por exemplo. A maioria das pessoas que eu recruto para a apanha ficam logo contratadas de uma época para a outra. Já não preciso de lhes dizer mais nada durante o ano. Depois tenho alguns familiares que tiram férias na altura da apanha, para ajudar. E um ou outro amigo que também vai aparecendo. Eu não recorro a mão-de-obra de imigrantes, mas há produtores, aqui na região, que o fazem.
10. Já falamos nos tratamentos que são uma forma de fomentação da produção, mas são também uma das formas de proteção da produção. Concretamente, em relação à proteção da colheita, uma vez que os seguros têm custos elevadíssimos e não cobrem a totalidade, já adotou ou prevê adotar algum dos novos sistemas que estão agora a ser implementados por aqui: redes e/ou canhões anti-granizo?
Quanto às redes anti-granizo eu candidatei-me, como muitos outros produtores, a esta última linha de crédito que abriu, mas ainda não houve qualquer despacho, até agora. Mas isso pondero colocar, se for contemplado. Quanto aos canhões não sei exatamente a eficácia deles, uma vez que é um sistema bastante recente e pouco implementado ainda. Quanto aos seguros: o prémio é demasiado caro; nunca cobrem mais, na melhor das hipóteses, do que 40 toneladas por hectare e depois, há uma infinidade de causas externas, que servem de desculpa para as seguradoras não pagarem os prejuízos ao final de uma produção.
11. Por último, uma questão mais pessoal. Sabemos que não cresceu na fruticultura e não foi o seu primeiro ramo de atividade. Esteve ligado à empresa têxtil durante vários anos, no Vale do Ave, um setor economicamente confortável em Portugal. O que o levou a mudar de uma atividade para a outra, sendo elas tão distintas?
A verdade é que eu cresci no meio da agricultura, porque os meus pais era nisso que trabalhavam. Não eram produtores de maçã, porque na minha terra as culturas agrícolas são outras. Mas os meus pais nunca quiseram que nós, os filhos, continuássemos ligados a esse ramo. Mas a terra deixa-nos sempre aquele bichinho. E por outro lado, o trabalho que eu tinha impunha-me um conjunto de preocupações e dores de cabeça que não me tiravam o sono. Se bem que agora o que não me deixa dormir é a falta de tempo para o fazer. Pesou também, para essa mudança de setor, o facto de se dizer, em finais da década de 80 e inícios de 90, que esta era atividade económica com mais futuro. Mas o certo é que a realidade se transfigurou e o que se dizia há 30 anos não é hoje tão evidente.
Relativamente à escolha desta região para me implantar, deve-se à minha esposa, que é natural daqui (Faia, Sernancelhe), já tinha alguns terrenos por cá. E sendo ela professora, era fácil também transferir-se para aqui.
Editorial Voz de Lamego: Levantai-vos! Vamos! Caminhemos juntos!

O tema escolhido pelo nosso Bispo e proposto a toda a Diocese de Lamego – Levantai-vos! Vamos! (Mt 26, 46) – coloca-nos em pleno mistério pascal. Depois da Ceia, no Jardim das Oliveiras, Jesus ora, uma e outra vez, para que Se faça a vontade do Pai, apesar do sofrimento que se entrevê, aquela hora tenebrosa que se vislumbra e que Ele sente na pele, no corpo, na alma. Os discípulos adormecem. É noite! Jesus desperta-os, uma e outra vez, e finalmente chama-os.
Ele está com eles, Ele está sempre connosco. Não estamos sós, não caminhamos sozinhos. O chamamento é claro: Levantai-vos! Vamos. Mesmo quando Jesus nos diz: Ide, é um “ide” em que Ele vai connosco. Ide, eu estarei convosco até ao fim dos tempos!
Após a ressurreição, ainda não inteiramente anunciada, no caminho de Emaús, Jesus faz-Se ouvir e faz-Se ver. Iam dois discípulos, desanimados, cabisbaixos, quase a murmurar, desencantados com o que tinha sucedido naqueles dias. Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Perceber-se-á que Ele é o caminho. Eles regressavam para se refugiar em casa; Jesus anuncia-Se, caminha com eles, entra com eles em casa e senta-Se com eles à mesa e, depois da bênção e da distribuição do pão, deixam de O ver. (cf. Lc 24, 13-35). Quando deixam de O ver, exteriormente, já Jesus os habita interiormente! Já não necessitam dos olhos físicos, mas do coração e, por conseguinte, a noite deixa de amedrontar, pois logo se levantam e regressam a Jerusalém, à comunidade dos discípulos.
Um Plano Pastoral aponta metas e vivências, faz-nos assentar os pés no chão para que aos ideais juntemos momentos, instantes, celebrações, encontros, tempos de oração e de reflexão, de formação e convívio. Não é possível traduzir a vida, o amor, se não por gestos, abraços, comunicação, sorrisos, pelas lágrimas e pelas palavras, na entreajuda, na prática das obras de misericórdia (corporais e espirituais), no respirar das bem-aventuranças, na atualização concreta dos Dez Mandamentos, sintetizados e explicitados no mandamento novo do amor: amais-vos uns aos outros como Eu vos amei.
A Diocese não é uma ilha, como o não são as paróquias, os movimentos, as associações, departamentos, serviços ou comissões. Estamos inseridos num país, a Igreja em Portugal, e no mundo, a Igreja Universal, procurando que haja valores, princípios, orientações e até linhas programáticas comuns. A este propósito vale a pena relembrar que estamos em Sínodo, convocado pelo Papa Francisco e inaugurado no fim de semana de 9 e 10 de outubro, no Vaticano, e na maioria das dioceses do mundo, no dia 17 de outubro.
O Sínodo dos Bispos 2021-2023 é um caminho que nos convida a todos, na escuta e no diálogo, na oração e na reflexão, para que, chegados a outubro de 2023, o caminho que percorremos em conjunto, com as dúvidas e interrogações levantadas, com as propostas e orientações sugeridas, possam ser debatidas, para que: o que a todos diz respeito seja por todos rezado e refletido. O tema do Sínodo: “Por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação, missão”. Concluía o Pe. Diamantino Alvaíde, na admonição inicial, na Eucaristia de abertura do Sínodo, na Sé de Lamego: “Para uma Igreja sinodal: o Papa Francisco conta com a nossa comunhão; a Igreja espera a nossa participação, e Deus pede a nossa missão”.
No ano de 2023, realizar-se-ão as Jornadas Mundiais da Juventude, em Portugal, com o centro em Lisboa. O lema escolhido pelo Papa: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39) está, de algum modo presente no lema pastoral da nossa diocese. Por sua vez, o Movimento da Mensagem de Fátima servir-se-á de um lema semelhante: “Levanta-te! És testemunha do que viste!”
Levantemo-nos! Vamos! Jesus vai connosco!
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 91/48, n.º 4630, 27 de outubro de 2021
Exposição de Presépios na Paróquia de Cabaços
Na Paróquia de Santo Adrião de Cabaços, realizou-se no passado dia 8 de dezembro, no Dia da Imaculada Conceição, a venda de artesanato de Natal, nomeadamente de presépios.
A ideia surgiu a partir do grupo de jovens juntamente com mais três paroquianas, falámos com o nosso Pároco e ele disse-nos logo que podíamos avançar com esta ideia.
Todos juntos levámos esta ideia avante, a fim de angariar dinheiro para o restauro do altar do Sagrado Coração de Jesus.
À medida que íamos fazendo as peças natalícias, iam sempre surgindo novas ideias.
Foram imensos serões de trabalho com muito cansaço, mas nunca baixámos os braços, com o esforço e dedicação de todos nós conseguimos fazer tudo a tempo e assim atingir o nosso objetivo.
O balanço da tarde foi bastante positivo.
Queremos agradecer a quem dedicou o seu tempo à realização e organização deste evento, agradecer também a quem despendeu do seu tempo para ir à exposição e assim ajudando na compra de presépios.
Um agradecimento especial ao nosso Pároco, o Sr. Padre Diamantino Duarte, pelo apoio que nos deu desde o início até ao fim desta iniciativa.
Sem a ajuda de todos, não se tinha conseguido realizar esta exposição. Um grande obrigado a todos.
Grupo de jovens de Cabaços, in Voz de Lamego, ano 90/03, n.º 4538, 10 de dezembro de 2019
Colégio de Arciprestes – Reunião ordinária
No dia 31 de maio, teve lugar no Seminário de Lamego mais uma reunião ordinária do Colégio de Arciprestes, da diocese de Lamego. Presidida pelo bispo diocesano, D. António Couto, com a presença dos vigários gerais, da coordenação pastoral e dos arciprestes e vice-arciprestes da nossa diocese, a reunião teve início às 10h00, com a oração de Hora Intermédia, e terminou pelas 13h00, seguindo-se o almoço.
Dando cumprimento à pré-definida agenda de trabalhos, houve três assuntos que mereceram particular refleção, discussão e decisão. O primeiro tema em análise foi a verificação do estado de preparação do, já próximo, Dia da Família Diocesana, a realizar a 22 de junho, no Santuário de Santa Eufémia, na zona pastoral de Penedono. Expuseram-se um conjunto de decisões já tomadas acerca do programa do dia, da celebração Eucarística, da tarde recreativa e do envio. Distribuíram-se tarefas e pediu-se o máximo empenho de todos para o que ainda falta fazer, sobretudo no que toca à necessária divulgação, para que ninguém fique de fora por falta de informação.
O segundo assunto de maior relevância, na ordem dos trabalhos, foi a preparação do lema pastoral para o próximo ano. De acordo com o que já tinha ficado pensado e decidido no ano passado, o plano pastoral do ano 2019/2020 desenvolverá a temática da sinodalidade, como estado permanente da vida eclesial. Mantendo a lógica do ano passado, e seguindo as diretrizes da carta pastoral do nosso bispo, a proposta é de que o tema verse sobre a “Igreja em caminho e em comunhão” (Carta Pastoral 2018/19, nº1). A seguir agendaram-se já algumas datas de atividades diocesanas, que já vão sendo habituais ao longo dos últimos anos.
Por fim, o terceiro assunto puxado à discussão foi a análise da distribuição do clero diocesano, nos diferentes arciprestados. Os arciprestes e vice-arciprestes foram referenciando as situações mais críticas e anómalas, mencionando o caso de alguns sacerdotes que já não conseguem dar cumprimento normal à realização dos necessários trabalhos paroquiais. Alguns casos repetem-se, e foram já objeto de apreciação em anos anteriores, por este mesmo colégio. Outros são situações relativamente recentes.
Para terminar, o Senhor D. António agradeceu a presença, o empenho e o trabalho de todo. E reiterou a vontade de continuar a contar com todos neste serviço que foi pedido a cada um dos presentes.
Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 89/26, n.º 4513, 2 de junho de 2019
Documento Final do Sínodo dos Bispos – 3.ª Parte
E partiram sem demora
A passagem dos discípulos de Emaús continua a nortear o sentido das diretrizes do Documento Final do Sínodo dos Bispos. Nesta terceira parte, o mote é o retorno, “sem demora”, dos discípulos a Jerusalém. O rosto de uma Igreja jovem passa pelo reconhecimento do Ressuscitado a cada passo, contagiando a todos com a alegria dessa descoberta, provocando em cada um a conversão necessária e incitando a Igreja á reforma sempre inacabada (3ª parte, nº 115-118).l
O primeiro capítulo desta terceira parte assenta as bases na sinodalidade missionária da Igreja, e aponta-a como o caminho mais desejado pelos jovens desde o início dos trabalhos sinodais. Uma vez que “as condições concretas, as possibilidades reais e as necessidades urgentes dos jovens são muito diversas entre países e continentes” (3ª parte, nº 120), o Papa desafia as Conferências Episcopais a encetar processos de discernimento com a participação de todos, de todas as idades, de todas as estruturas, movimentos e associações. É este o caminho para uma Igreja mais participativa e corresponsável, e para que os jovens assumam maior intervenção nos organismos de decisão e missão eclesial.
O capítulo seguinte destaca a urgência de um envolvimento mais abrangente e renovador, que passe pelo renovamento do convencional dinamismo paroquial e das suas estruturas. Em comunidades com gente tão dispar, importa que o anúncio basilar de Cristo morto e ressuscitado seja a principal catequese, dando o devido realce à liturgia e ao serviço da caridade. Um dos grandes desafios deste documento é que as Conferências Episcopais se disponham a elaborar um “Diretório de Pastoral Juvenil” e criem centros de encontro e acompanhamento vocacional.
No terceiro capítulo ficam expressos alguns desafios mais prementes. A urgência de evangelizar os e pelos ambientes digitais. A atenção redobrada que se impõe aos migrantes, que necessitam acolhimento e integração racial. O preponderante papel da mulher na Igreja e o seu poder decisional. A desmitificação ordenada da sexualidade em toda a sua amplitude. O empenho da Igreja na economia, na política e na ecologia. O respeito pelo pluralismo cultural e religioso, e o ecumenismo como caminho de reconciliação.
O último capítulo ressalva a extrema necessidade de uma formação integral, num contexto social atual complexo e multifacetado. Desta forma, a aposta tem de passar também pela educação escolar em toda a sua amplitude; pela preparação ajustada de novos formadores; pelo aposta em que os jovens sejam discípulos missionários; pela promoção de tempos e momentos concretos de acompanhamento e discernimento; pela preparação séria ao matrimónio; pela formação integral dos seminaristas e consagrados/as.
A conclusão coroa o documento com um forte apelo à santidade dos jovens no mundo.
Pe. Diamantino Alvaíde,
in Voz de Lamego, ano 89/01, n.º 4487, 27 de novembro de 2018
Documento Final do Sínodo dos Bispos – 2.ª Parte
E abriram-se-lhes os olhos!
A segunda parte do documento final do último Sínodo dos Bispos apoia-se na perspetiva dos discípulos de Emaús, que, ao fim de algum tempo de caminhada e de uma proximidade mais íntima com o Ressuscitado, a sua visão clareou e compreenderam o que até então lhe estava vedado.
Sob o impulso do mesmo Espírito que há 2000 mil anos fazia arder o coração daqueles dois que regressavam de Jerusalém para Emaús, a Igreja é desafiada a um novo Pentecostes, onde os jovens possam fazem um experiência profunda Deus e fazer refletir o rosto de um “Cristo eternamente jovem” (2ª parte, nº60).
No primeiro capítulo sobressai o exemplo e a vitalidade da juventude de Jesus, que tão bem a soube usar para valer aos mais necessitados do seu tempo e para afrontar corajosamente as autoridades e problemas daquela época. Ao mesmo tempo ressalvam-se as feridas que assolam a juventude de hoje e a indispensável atenção dada a esta idade das grandes decisões, feitas com liberdade responsável e, de preferência, sem perder de vista a missão de cristãos.
Com a preocupação da decisão vocacional, o segundo capítulo começa por apontar o chamamento de Samuel como modelo, que não é senão uma proposta de amor e confiança recíproca, da parte de Deus Criador. Urge o desevolvimento de uma cultura vocacional que promova o fascínio por Jesus Cristo, que dê relevo aos protagonistas bíblicos como vidas modelares e que ajude a descobrir a vocação à santidade na descoberta e vivência das diferentes vocações: família, vida consagrada, ministério ordenado e condição de solteiro (2ª parte, cap, II, nº 84-90).
O capítulo seguinte assenta a preocupação na missão que a Igreja tem de acompanhar e de ajudar a discernir, dado o variadíssimo leque de possibilidades que se abrem aos jovens de hoje. Este acompanhamento, de acordo com o documento final, tem de ser feito simultânea e necessariamente em diferentes ambientes: comunitário, de grupo e pessoal. E em âmbitos diversos: espiritual, sacramental, etc. Isto é, o mais integral possível e com acompanhadores de grande maturidade humana.
O último capítulo incide na preciosidade do discernimento e na Igreja como ambiente privilegiado para que este aconteça. O santuário onde o discernimento tem de ter lugar será sempre a consciência, onde Deus fala mais intimamente com o ser humano (Gaudim et spes, 16). Daqui se impõe uma aposta na formação da consciência humana que predisponha os jovens a uma íntima familiaridade com Jesus, abrindo-se à voz do Espírito e num diálogo franco com o acompanhador que ajuda a diluir indecisões.
Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 88/48, n.º 4485, 13 de novembro de 2018
Documento Final do Sínodo dos Bispos – 1.ª Parte
Terminados, que foram, os trabalhos sinodais em Roma, todos se puseram a caminho. De volta para as suas dioceses, para suas paróquias e movimentos, para as suas casas, para os seus estudos ou trabalhos. Isto é ser Igreja. Estar continuamente em movimento, em andamento, em desinstalamento.
É também este ininterrupto caminhar que o documento final do Sínodo sobre os jovens nos propõe como desafio maior. Como este relatório conclusivo se desdobra em três partes, proponho-me, hoje, refletir sobre a primeira, prometendo posteriormente abordar também as outras duas.
Assim, num primeiro grupo de quatro capítulos, o documento final do Sínodo incide, logo de início, no valor imprescindível da escuta. Uma atitude indispensável que a Igreja precisa de ter para assegurar a sua natureza e missão, que já era fundamental na relação de Deus com o Povo hebreu e que os jovens reivindicam agora como forma de serem “reconhecidos e acompanhados” (1ª parte, cap. 1, nº7).
Uma primeira preocupação recai sobre o diversidade de contextos e culturas em que os jovens vivem e se movem. Isto muito por culpa da crescente globlalização que, se por um lado nos torna vizinhos, em segundos, dos nossos antípodas, por outro lado nos deixa embrenhados num conjunto de transformações vertiginosas a nível social, politico, económico, demográfico, etc., que acontecem ao nosso lado, e das quais os jovens são as primeiras vítimas. Como contraponto, o documento final aponta a urgência de recentrar o papel e a atuação da Igreja, desde o seu papel educativo, à pastoral juvenil e vocacional, à realidade paroquial vigente até à formação dos candidatos ao sacerdócio.
No segundo capítulo são identidados três pontos essenciais. O primeiro é o efervescente ambiente digital, com todos os riscos e ao mesmo com todas as potencialidades que oferece aos jovens. O segundo é a realidade migratória do nosso tempo, com todos os seus contornos, que se impõe como um desafio maior à Igreja. E o terceiro é a sinalização e reação a todo o tipo de abusos, de que tanto se tem falado.
O terceiro capítulo versa sobre a Família como ambiente nuclear para o desenvolvimento integral dos jovens, e a necessidade crucial das relações intergeracionais. Aponta o corpo e afetividade como duas realidades de grande inquietude para os jovens que precisam de respostas adequadas da moral cristã. E ressalva as formas de vulnerabilidade que assaltam os jovens nos mais diversos contextos da sua vida diária.
Por fim, o quarto capítulo faz sobressair os aspetos da cultura juvenil dos nosso tempo nas várias dimensões. Aponta aquelas que são as alavancas espirituais e as experiências religiosas mais fortes dos nossos jovens, dentro e fora da igreja. E termina salientando os anseios dos jovens na sua experiência com o sagrado e na forma de serem eles a protagonizar uma parte significativa da missão da Igreja.
Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 88/47, n.º 4484, 6 de novembro de 2018
Sínodo dos Bispos: o início de um Sínodo que chegou ao fim
Apetece-me dizer: “Finalmente, começou o Sínodo!”. Decorridas quatro semanas de reflexão, estudo, debate, partilha, intervenções várias e de vários pontos do mundo, o Papa Francisco presidiu este domingo à Eucaristia de encerramento da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, desta vez sobre o tema Os jovens, a fé e o discernimento vocacional.
O mundo cristão começou a movimentar-se bastante cedo, em ordem a preparar os trabalhos sinodais. Os questionários feitos nas dioceses de todo o mundo, a pedido do Papa, os relatórios locais enviados antecipadamente a Roma, a publicação de um documento preparatório denominado Instrumentum laboris e a seleção de um grande número de jovens que tiveram assento e intervenção na aula sinodal são a prova de que o Sínodo não se realiza apenas num mês de reuniões, nem se confina às fronteiras territoriais do Vaticano. O Sínodo é preparado a partir de fora; é discutido sobretudo cá fora; e é concretizado pelo mundo fora. Por isso é que ele agora começa.
Fechados os trabalhos sinodais estão agora elencadas as bases e pressupostos essenciais para que se possa fazer um verdadeiro “syn-odós” (caminho em conjunto). Daqui em diante, em cada país, em cada diocese, em cada paróquia, em cada movimento, é mais clara a direção e mais evidente o rumo do caminhar da Igreja com os jovens.
O documento final deste Sínodo deixa um conjunto de pistas muito concretas e assertivas, do que terá de ser o nosso agir eclesial e a nossa postura pastoral diante de tão grande desafio, como são os jovens e as suas inquietações. Dividido em três partes diferentes, com quatro capítulos em cada uma das partes, este documento serve-se da passagem bíblica dos discípulos de Emaús para delinear a forma de atuação necessária e urgente, que a Igreja precisa empreender para fazer caminho a par e passo com os jovens, como Jesus fez a caminho de Emaús, após a Páscoa da Ressurreição.
Quem olha para o elenco de indicações resultantes deste documento percebe de imediato que o Papa teve, na condução dos trabalhos, uma noção muito incarnada da realidade juvenil de todo o mundo e as propostas que deixa são perfeitamente “adequáveis” a todas as realidades eclesiais, do Norte ao Sul, das mais antigas até às recém-nascidas.
Daí que a porta dos trabalhos sinodais nunca se feche completamente e haja até quem tenha dado ao desafio do “to be continued”!
Pe. Dimantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 88/46, n.º 4483, 30 de outubro de 2018
CELEBRAR E DEFENDER | Editorial Voz de Lamego | 3 de abril de 2018
CELEBRAR E DEFENDER
Os cristãos vivem, todos os anos, a alegria de ouvir o relato, “Jesus, crucificado sob Pôncio Pilatos, está vivo”, e celebram a grande festa da Páscoa, fundamento da nossa fé, das nossas práticas, orações e tomadas de posição sobre as grandes questões da vida.
Cristo levantou-se do túmulo onde fora depositado e saiu para inaugurar um mundo novo. A festa da vida que triunfa da morte, do amor que se oferece, livre e gratuitamente, a todos.
Viver a Páscoa é celebrar um amor mais forte que a morte, que vence o ódio e abre a via do perdão, que aprisiona a mentira e o egoísmo e abre caminhos de vida.
Mais do que uma história bela, pois há nela a condenação injusta e a crueldade da crucifixão, é uma história verdadeira, testemunhada por homens e mulheres que acreditaram em Jesus ao ponto de se tornarem Seus discípulos. Uma história verdadeira com origem em Deus e no seu amor pela humanidade. O amor é o segredo: não pode morrer.
O túmulo vazio e aberto convida a entrar e a confiar, apesar das dúvidas e limites, oferecendo novas razões para esperar. Em Jesus, a morte vencida dá um sentido à vida. Com Deus nenhum medo pode ter a última palavra, mesmo se as circunstâncias mostram o contrário. Deus ultrapassa os nossos medos. Somos discípulos da vida mais forte que a morte.
Acreditamos nesta vida que vem de Deus, nesta vida tantas vezes maltratada, ameaçada e nem sempre defendida e promovida (conflitos, interesses, legislação…).
A Ressurreição oferece-nos a contemplação da vida nova. Uma vida que Deus nos confia e que deve ser assumida, tomada em mãos e cuidada.
Celebrar a Ressurreição é também defender a vida, a própria e a dos outros, em todo o tempo e lugar.
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/18, n.º 4455, 3 de abril de 2018