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Homilia de D. António Couto nas Ordenações Diaconais – 20/11/2016

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A ORDEM NOVA DO AMOR

  1. Amados irmãos e irmãs, a nossa Diocese de Lamego vive, neste dia 20 de novembro de 2016, um excesso de celebrações, um excesso de celebração, um condensado de júbilo, que começo por recordar: a) celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo; b) celebramos o Aniversário da Dedicação da nossa Igreja Catedral; c) celebramos a Ordenação de três Diáconos, o Ângelo Fernando, o Diogo André e o Luís Rafael; d) celebramos o Encerramento do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia.
  1. A Solenidade de Nosso Jesus Cristo, Rei do Universo, traz-nos o domínio novo do Filho do Homem que nos ama, o domínio do Amor, que é Primeiro e Último (cf. Apocalipse 1,8). É Primeiro e será ainda Último, fazendo de tudo o resto «segundo» e «penúltimo». Na verdade, entre o Primeiro e o Último, que é o domínio do modo do Amor, instala-se o segundo e o penúltimo, que é o domínio do modo velho e podre da violência das bestas ferozes que nos habitam. O Bem, que é o modo do Amor, é de sempre e é para sempre. É Primeiro e é Último. O Bem, como o modo do Amor, não começou, portanto. O que começou foi o mal, que se foi insinuando nas pregas do nosso coração empedernido. Mas o que começa, também acaba. Os impérios da nossa violência, malvadez e estupidez caem, imagine-se, vencidos por um Amor que é desde sempre e para sempre, e que vence, sem combater, a nossa tirania, mesquinhez, e prepotência!

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Ordenações Diaconais | Luís Rafael | Testemunho Vocacional

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 VEM E SEGUE-ME

 

Porquê entrar para o Seminário???

Porquê seguir Jesus? Ser Diácono? Padre?

Sim! Porque na família e na comunidade conheci “um amigo que me ama”…

Sim! Porque o “VEM E SEGUE-ME” gravado na parede da capela do Seminário de Resende me inquietava…

Sim! Porque, pouco a pouco, fui descobrindo o projeto de Deus para a minha vida…

Sim! Porque Ele colocou pessoas únicas no meu caminho para me apoiarem, acompanharem e me formarem…

Sim! Porque o contacto com o Povo de Deus me enche o coração…

Sim! Porque…

Porque… Porque… Porque!?

Não fiquem surpreendidos, mas… há uns anos atrás eu era uma criança muito curiosa!!! Às vezes a minha família já não tinha muita paciência para tantas perguntas e iam respondendo o tradicional: “porque sim!”

Porquê isto? “porque sim!”

Porquê daquela maneira? “porque sim!”

Talvez um dia, na minha ingenuidade infantil tenha perguntado: Porque é que o sol se move no céu? “porque sim!”

Mas toda a gente sabe que: “porque sim! Não é resposta!!!”

É verdade… mas há respostas que por vezes são difíceis de dar…

Podia dar muitas outras razões que justificassem estes passos dados rumo ao serviço de Deus e dos irmãos… mas para os mais curiosos deixo uma resposta universal e que sintetiza o que estou a sentir…

Sim! Porque sim…

Sei que provavelmente devem estar a pensar “porque sim! Não é resposta!!!”

Mas é a melhor maneira que tenho para transmitir tudo aquilo que sinto. Afinal, aos convites que Deus nos faz … a nossa resposta deve ser SIM!

Já pensaste nisso? Porque não dizer-Lhe que sim?

Luís Rafael Azevedo

in Voz de Lamego, ano 87/51, n.º 4387, 15 de novembro de 2016

Ordenações Diaconais | Diogo Rodrigues | Testemunho Vocacional

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MISERICÓRDIA DE DEUS

Chamo-me Diogo Rodrigues, sou do lugar de Mazes, da freguesia de Lazarim deste concelho de Lamego. Venho de uma família de três irmãos, sendo eu o mais velho.

Não me lembro do “surgir” da minha vocação. Lembro-me de na escola primária ter dito que queria ser padre e toda a gente achou estranho. Nesse seguimento, manifestei o desejo aos meus pais e eles falaram com o meu pároco, Pe. Agostinho Ramalho, e ele convidou-me, juntamente com um colega da minha terra a fazermos a experiência de pré-seminário.

Feita a experiência, fiz o percurso do Seminário Menor durante seis anos e ingressei no Seminário Maior onde estive durante seis anos, em Lamego, Viseu e Braga.

Ao terminar o percurso do Seminário, a passos largos da Ordenação Diaconal, o que poderei dizer acerca da minha vocação? Que ela nos mostra verdadeiramente o amor de Deus, antes de mais voltado, para todos os seus filhos, chamados à vocação baptismal, e depois porque segundo o seu coração deseja dar pastores ao seu povo. Assim, o Senhor é verdadeiramente o autor da minha vocação e é Ele o verdadeiro protagonista. Por isso continuo a crer  na sua misericórdia para comigo e a desejar tal como os discípulos a amá -lo cada vez mais.

Ao fazer-vos passar a minha história de vida, peço-vos mais uma vez que rezeis por todos os Seminários e seminaristas, pedindo ao Senhor da Messe que envie trabalhadores para a sua Messe.

Diogo Rodrigues, in Voz de Lamego, ano 87/51, n.º 4387, 15 de novembro de 2016

Ordenações Diaconais | Ângelo Santos | Testemunho Vocacional

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“ELE chama-te”

“Tem confiança, levanta-te Ele chama-te” (Mc 10, 49). Esta provocação feita a Bartimeu conduziu que ele deixasse a beira do caminho para passar a fazer parte do caminho com Ele e com alegria “levantou-se de um salto e foi ter com Jesus” (Mc 10, 50).

Esta perícope evangélica retrata perfeitamente o meu percurso vocacional. O meu percurso vocacional começou em 2008, mas nessa altura eu encontrava-me ainda á beira do caminho. Porém o meu encontrocom Jesus não se operou de uma forma imediata,mas mediada através do testemunho dos sacerdotes, escuta e leitura da Palavra de Deus, leitura da vida daqueles que nos antecederam na fé ou simplesmente de uma brisa suave (1 Rs 19, 11-13). Foram estes meios que Deus usou para despertar em mim a questão vocacional.

Como Bartimeu aceitei entrar no caminho. Nesse sentido no dia 2 de outubro de 2009 entrei para o Seminário Maior de Lamego, num dia de bons auspícios, o dia litúrgico dos anjos da guarda (meus homónimos!). Frequentei o Seminário Maior durante seis anos (2009-2015). Foi um tempo que permitiu-me perceber que ser seminarista não consiste na oblação da vida por um conjunto de ideias ou sistemas de pensamento, mas na descobertado encontro com Jesus, um encontro que não deixa a nossa vida indiferente, um encontro que nos impulsiona para a saída de nós mesmos não permitindo que sejamos jovens e adultos “desempregados das suas vidas” (Daniel Faria), mas servidores da Vida para as vidas.

No período de 2015-2016 fiz uma paragem para uma etapa diferente no percurso vocacional. Durante esta etapa estive ligado a uma Organização Não-Governamental de inspiração cristã, chamada Leigos para o Desenvolvimento.A minha participação nessa organização possibilitou o tempo ideal para apurar a minha decisão vocacional. Graças a este apuramento deu o “salto” definitivo para o seguimento de Jesus através do ministério ordenado.

Por fim, “Tem confiança, levanta-te Ele chama-te” (Mc 10, 49).

Ângelo Santos

in Voz de Lamego, ano 87/51, n.º 4387, 15 de novembro de 2016

ORDENAÇÃO E SERVIÇO | Editorial Voz de Lamego | 15 de novembro

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Vivemos entre 5 e 13 de novembro a SEMANA DOS SEMINÁRIOS, vamos viver, na Diocese de Lamego, a Ordenação Diaconal do Luís Rafael, do Diogo Rodrigues e do Ângelo Santos. A edição da Voz de Lamego desta semana faz eco da Semana dos Seminários e apresenta o testemunho vocacional dos três jovens ordenandos, que, porquanto, se encontram em Retiro, para melhor e mais proximamente se prepararem para a Ordenação.

O Pe. Joaquim Dionísio, Diretor do nosso jornal diocesano, enquadra a celebração da Ordenação como serviço (a palavra diácono significa precisamente serviço, aquele que serve), no dia da Igreja Catedral, solenidade de Cristo Rei do Universo e Encerramento do Jubileu da Misericórdia:

ORDENAÇÃO E SERVIÇO

No próximo domingo, Solenidade de Cristo Rei e data prevista para se encerrar o Ano da Misericórdia, a nossa diocese vive com alegria a ordenação diaconal de três jovens que dão mais um passo rumo ao presbiterado.

A ocasião proporciona uma atitude de acção de graças ao Senhor da Vida e da Messe, mas também de felicitação a estes jovens que se disponibilizam para seguir Jesus Cristo. Num tempo de seminários quase vazios, é reconfortante participar nestes momentos.

O termo diácono significa servidor e já aparece na Igreja apostólica, designando alguém que está encarregado de um ministério eclesiástico e cuja missão se concretiza no domínio da caridade e da administração. Tal como ensina o Concílio Vaticano II, “é próprio do diácono… administrar solenemente o baptismo, guardar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar o Matrimónio em nome da Igreja, levar o viático aos moribundos, ler aos fiéis a Sagrada Escritura, instruir e exortar o povo, presidir ao culto e à oração dos fiéis, administrar os sacramentais, dirigir os ritos do funeral e da sepultura” (LG 29).

Mais do que a abrangência da missão, importa reter a identificação com Jesus Servidor que chama e envia. Aliás, a Igreja vive para evangelizar e é por causa da missão que a hierarquia, da qual o diaconado faz parte, existe (LG 29). E assumir tal propósito ilumina todo o percurso e fornece critérios de actuação. A ordenação não é sinónimo de estatuto, regalia ou mera satisfação pessoal, mas vontade de servir e imitar o Mestre.

No exercício da missão, a oração apresenta-se como a primeira e fundamental forma de resposta à Palavra, a quem o diácono deve permanecer fiel, assumindo ainda o encargo de a transmitir integralmente, com competência, clareza e profundidade (PDV 47).

Só um serviço vivido plena e integralmente será verdadeiramente convincente.

in Voz de Lamego, ano 87/51, n.º 4387, 15 de novembro de 2016

ORDENAÇÕES SACERDOTAIS | HOMILIA DE D. ANTÓNIO COUTO

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  1. Refere uma indicação do Pontifical Romano acerca da Ordenação dos Presbíteros que o Bispo faz a homilia, dirigindo-se ao povo e aos Eleitos, falando-lhes do ministério dos presbíteros, a partir do texto das leituras lidas na liturgia da palavra (n.º 123). É o que vou tentar fazer, caríssimos fiéis leigos, caríssimos Eleitos Fabrício e Valentim, caríssimos sacerdotes e diáconos, consagrados, seminaristas.

  1. Ezequiel é um profeta. Portanto, é frágil. Portanto, não é autorreferencial, não vive de si e para si, mas vive da força de Deus (é o que significa o nome de Ezequiel), que o atravessa e nele se manifesta como uma nascente, como uma música suave e melodiosa em palavras de namoro decantada (Ezequiel 33,32). Eis Ezequiel entre os exilados de Tel ʼAbîb, na Babilónia, com a sua harpa dependurada nos salgueiros do rio Cobar, atual Shatt Ennil, um canal de irrigação feito sair do rio Eufrates para irrigar a cidade de Nippur. É ali, àquela colina de Tel ʼAbîb, ou da primavera ou das espigas, que acorrem os judeus ali exilados para ouvir aquela doce melodia que o vento do Espírito faz ressoar, repassando as cordas da harpa de Ezequiel ali dependurada. É por 93 vezes que Ezequiel é interpelado por Deus com a locução «filho do Homem», para abrir logo ali duas avenidas: uma, que liga Ezequiel, «filho do Homem», ao «Homem» de Génesis 1, que recebe de Deus o mandato de cuidar com doçura da inteira criação, até pôr cada criatura a cantar com renovada emoção aquele: «Louvado sejas, meu Senhor…», que São Francisco de Assis, já cego, nos ensinou a entoar; outra, que abre caminho para aquele Jesus, manso e humilde de coração, que atravessa os Evangelhos, e que, por 82 vezes, se diz a si mesmo com a locução «Filho do Homem», assumindo o Homem, desde Génesis 1, e nele imprimindo a verdadeira imagem do Deus invisível (Colossenses 1,15).

  1. É este Jesus que vemos no Evangelho de hoje (Marcos 6,1-6), a sair de lá (ekeîthen) (Marcos 6,1), de lá, de Cafarnaum, da casa de Jairo, onde o tínhamos deixado no Domingo passado (Marcos 5,35-43). Sai da casa de Jairo, onde tinha encontrado e levantado do sono da morte uma sua irmã verdadeira, Talitha (feminino de Talyaʽ, que significa “Servo”, “Cordeiro”, “Pão” e “Filho”, decifrando claramente Jesus), e dirige-se agora para a sua pátria (pátris) (Marcos 6,1), ao encontro dos seus familiares e conterrâneos. Esta ida à sua pátria, ao encontro dos seus familiares e conterrâneos, tem o seu ponto alto no dia de sábado, e a sinagoga é o lugar desse encontro (Marcos 6,2). Trata-se, no Evangelho de Marcos, da primeira ida de Jesus à sua pátria, e é também a última vez, neste Evangelho, que Jesus ensina numa sinagoga (Marcos 1,21.23.29.30; 3,1; 6,2). É ainda significativo que o sábado seja mencionado, neste Evangelho, apenas mais uma vez, precisamente naquela manhã de Páscoa, «passado o sábado» (Marcos 16,1).

  1. E, portanto, tudo neste texto, neste encontro, assume um carácter denso e decisivo. Desde logo a escolha do termo pátria (pátris), que carrega consigo um significado mais intenso e mais amplo do que o mais habitual de «povoação», «lugar» ou «aldeia» (chôra, tópos, kômê). Com esta forma de dizer, este decisivo encontro com Jesus não fica apenas circunscrito a uma pequena região da Galileia, mas prefigura já o encontro de Jesus com o inteiro Israel. E a rejeição que lhe é movida ali, na sua pátria (Marcos 6,2b-4), aponta já para a rejeição que lhe será movida pelo inteiro Israel. Indo mais fundo: são mesmo já visíveis, desde aqui, as resistências ao Evangelho radicadas no nosso coração, e que o Quarto Evangelho porá a claro, dizendo de Jesus: «Veio para o que era seu, e os seus não o receberam» (João 1,11). Mas também esta primeira ida de Jesus à sua pátria, e esta última vez de Jesus a ensinar na sinagoga, e este sábado que aponta para aquele último «passado o sábado» (Marcos 16,1), devem despertar em nós evocações e apelos decisivos. Tudo o que tem sabor a primeiro e último carrega, como sabemos, um particular peso específico, uma carga ou descarga única de emoção. Sim, é a primeira vez que Jesus nos vem visitar! É a última vez que vemos Jesus a ensinar na nossa terra! E este sábado já a passar, já passado, deixa-nos à beira do tempo novo da ressurreição e da missão!

  1. É aí que vos deixo, caríssimos Eleitos Fabrício e Valentim, no limiar mistério e do ministério, no limiar da missão. A última vez como Diáconos, a primeira vez como Presbíteros. Fazei sempre tudo com particular intensidade e emoção. Como se fosse sempre a primeira vez, como se fosse sempre a última vez! A vossa missão é simultaneamente crepuscular e auroral. Morrei para vós mesmos; dai vida aos vossos irmãos e irmãs. Como Moisés. No último dia da sua vida, não chora, não se lamenta, não olha para trás, mas empurra o povo de Israel para a Terra Prometida. O Livro do Deuteronómio cabe todo, narrativamente, no último dia da vida de Moisés. Podia ter o tom de uma despedida, mas é uma das mais belas auroras que algum dia despontou nas páginas da Escritura. Assim também Ezequiel, assim Jesus, assim Paulo. Todos completamente ao dispor de Deus e dos seus irmãos e irmãs. Dizia Deus, hoje, para Paulo: «Basta-te a minha graça» (2 Coríntios 12,9), a que Paulo responde bem, confessando: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Coríntios 12,10).

  1. Caríssimos irmãos e irmãs, caríssimos sacerdotes e diáconos, caríssimos Eleitos. Permiti que vos deixe ainda uma advertência: amai mais, louvai mais, admirai-vos mais, estremecei mais, espantai-vos mais! Todos teremos certamente reparado que aqueles conterrâneos de Jesus sabiam tudo acerca de Jesus: a sua terra de origem, os nomes dos seus familiares, profissão e residência. Sabiam isto tudo, mas não sabiam de onde (póthen) lhe vinha aquela sabedoria única e os prodígios que realizava.

  1. Permiti ainda que vos diga, caríssimos irmãos e irmãs, que às vezes, por termos os olhos tão embrenhados na terra, nas coisas da terra, não conseguimos ver o céu! Veja-se a iluminante cena da cura do cego de nascença, narrada em João 9. Em diálogo com o cego curado, os fariseus acabam por afirmar acerca de Jesus: «Esse não sabemos de onde (póthen) é» (João 9,29), ao que o cego curado responde, apontando assim a cegueira deles: «Isso é “espantoso” (tò thaumastón): vós não sabeis de onde (póthen) Ele é; e, no entanto, Ele abriu-me os olhos!» (João 9,30). Que é como quem diz: só não vê quem não quer! Tal como o cego, e fazendo uso da mesma linguagem, também Jesus «estava espantado» (ethaúmazen), lê-se no Evangelho de hoje, com a falta de fé dos seus conterrâneos (Marcos 6,6). Note-se bem que a falta de fé aqui assinalada não é apenas a negação de Deus. É a rejeição de Jesus em nome de uma errada concepção de Deus. Podemos mesmo dizer que se rejeita Jesus para salvar a honra de Deus! Veja-se bem até onde pode chegar a nossa cegueira!

  1. Amados irmãos e irmãs, caríssimos Eleitos. Tomai hoje verdadeiramente conta de Jesus, que Ele tomará conta de vós! Tomai hoje verdadeiramente conta do Evangelho, que o Evangelho tomará conta de vós! Caríssimos Eleitos, vivei com amor, estremecimento, espanto e emoção os sacramentos que realizareis, sobretudo a Eucaristia e a Reconciliação. Como diz o Pontifical Romano, «Recebei a oferenda do povo santo para a apresentardes a Deus. Tomai consciência do que vireis a fazer; imitai o que vireis a realizar, e conformai a vossa vida com o mistério da cruz do Senhor». Amen.

Lamego, 05 de julho de 2015, Dia do Senhor e de Ordenações Sacerdotais

+ António, vosso bispo e irmão

À conversa com o Diácono Fabrício Pinheiro

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No próximo dia 05 de julho, primeiro domingo do mês, às 16h00, o nosso bispo ordenará sacerdotes os diáconos Fabrício e Valentim. Para os conhecermos melhor, aqui ficam algumas palavras dos que se preparam para integrar o presbitério diocesano.

1- Para os nossos leitores, quem é o Diác. Fabrício Pinheiro?

O Diácono Fabrício Pinheiro sou eu mesmo (sorrindo). Um rapaz feliz e cheio de energia, que cresceu numa família cristã onde aprendeu valores humanos e de fé. Foi isso que me ajudou a crescer na vida e na vocação.

Sou um jovem de apenas 24 anos de idade, mas com um desejo constante de anunciar a Palavra e a pessoa de Jesus Cristo sem qualquer medo.

Para alguns que já me conhecem, durante as férias sempre tive um trabalho um pouco “invulgar”. Trabalhei alguns anos numa fábrica de pirotecnia e por todos os lados que passei, e foram muitos, nunca tive vergonha de assumir aquilo que era. Sempre me identificava como seminarista. Com isto comecei a ficar conhecido como o “padre fogueteiro”. Isto apenas para dizer que nunca tive vergonha de me identificar com Aquele em quem acredito.

Entrei na aventura de Cristo em 2005 no Seminário Menor de Resende e, hoje, permaneço nessa aventura, depois de 10 anos de estudos, com o desejo de servir cada vez mais e melhor este Senhor que me deu a vida e o dom da vocação.

Sou de Cristo sou feliz!

2- Como tem sido o teu estágio pastoral?

É difícil responder. Todo o serviço pastoral destes quatro anos foi diferente. Mas, não minto, que o deste ano, no Seminário Menor de Resende, marcou essa diferença.

Quando fui para o Seminário, em setembro passado, pensava para comigo: “Ah valha-me Deus e Nossa Senhora onde é que estes ‘senhores’ me foram meter!”. Porém, o tempo foi passando e a amizade entre a comunidade ia crescendo. Tanto da equipa formadora (excelentes amigos) como dos “meus meninos” (é deste modo que eu os vejo, pois penso que de algum modo me sinto responsável pela orientação de vida que, independentemente, cada um tome) trago um exemplo de vida, de família, com os seus momentos menos bons, como em todas as famílias, mas que não deixa nunca de ser família. É, também, nesta capacidade de ser família, de fazer família que eu quero viver de forma total e feliz o dom da Vocação que Deus me deu.

3- A partir da experiência entretanto conseguida, como vês a formação recebida no Seminário e na Faculdade de Teologia?

A formação é, sem dúvida, muito importante. Os valores como a educação, o bem-fazer das coisas, o respeito mútuo, o saber construir comunidade/família, são valores que nos ajudam a crescer, a sabermos olhar a vida de um modo diferente.

Se hoje sou o que sou devo-o ao Seminário, pois foi uma casa que me ajudou a ser um jovem que gosta de viver e de ser feliz, fazendo os outros felizes.

Quanto à Faculdade de Teologia muito teria para dizer mas o espaço do jornal é curto demais (sorrindo). Mas posso dizer que foram anos muito bem passados, onde através dos livros e da oração feita sobre os mesmos, foi um tempo no qual aprofundei o meu conhecimento teológico (estudo sobre Deus) de uma forma, desculpem a expressão, fantástica, com as suas dificuldades e exigências, mas que com empenho e interesse tudo se consegue alcançar. Na Faculdade fiz muitos e bons amigos que conservarei para toda a vida. Formarem-nos faz-nos ser as pessoas felizes que somos. Estudar faz-nos crescer. Ambos ajudam-nos a viver e a olhar para o mundo de uma forma diferente.

4- Uma palavra para os nossos seminaristas e aos que estão a pensar entrar no seminário?

Apenas dizer-lhes que não tenham medo. Cristo ama-vos. Ama-nos a todos pois todos somos filhos. É certo que pelo caminho aparecem muitas “pedras”, contudo cada pedra deve ser um degrau para subirmos em direção à meta.

Recordo aquele cântico “Te amarei Senhor! Te amarei Senhor! Eu só encontro a paz e a alegria bem perto de Ti”. Não tenho a menor dúvida deste amor cheio de paz e de alegria que o Senhor tem por cada um de nós. Por isso, a ti que O segues ou queres seguir não tenhas medo porque Ele está contigo. Entra na aventura de Cristo! O dom da Vocação não é teu nem meu, mas é d’Ele. Por isso deixa que seja Ele a guiar os teus passos.

in Voz de Lamego, n.º 4320, ano 85/33, de 30 de junho de 2015

Homilia de D. António José da Rocha Couto no Dia da Igreja Catedral e Ordenação Diaconal

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DÍVIDA DE AMOR

Caríssimo Senhor D. Jacinto, meu irmão no episcopado,

Caríssimo Senhor Vigário geral,

Caríssimo Senhor Pró-Vigário Geral,

Caríssimo Senhor Reitor do Seminário,

Caríssimos Sacerdotes,

Caríssimos Eleitos para o Diaconado,

Caríssimos Seminaristas,

Caríssimos Irmãos e Irmãs

  1. Ainda agora comecei a homilia, mas, se estivestes atentos, já deveis estar espantados com esta ladainha de “caríssimos”. Já lá vamos. A nossa Diocese de Lamego vive hoje um excesso de celebrações, um excesso de celebração, que começo por recordar: a) a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo; b) o Dia desta Igreja Catedral; c) a ordenação de dois Diáconos, o Fabrício e o Valentim.
  1. Peço-vos a todos, caríssimos irmãos e irmãs, que estreitemos bem este nó celebrativo, para experimentarmos a alegria do Evangelho, traduzida no serviço humilde do amor que recebemos de Jesus Cristo, e que estamos sempre a dever uns aos outros. Dívida feliz que contraímos no dia do nosso Batismo, e que nunca chegaremos a pagar na totalidade. Pelo contrário, esta dívida de amor vai aumentando pela vida fora, conforme vamos conformando a nossa vida à forma de viver de Jesus Cristo. Na verdade, cada nova etapa da nossa vivência cristã aumenta a nossa dívida de amor. É assim (ou deve ser) na catequese, na profissão de Fé, no Sacramento do Crisma, no Matrimónio, mas também na Consagração Religiosa ou Secular, no Diaconado, Presbiterado, Episcopado. Sim, irmãos caríssimos, a nossa dívida de amor vai disparando sempre, de tal modo que nunca mais nos veremos livres dela. Estamos sempre em dívida de amor. O cristão verdadeiro tem de estar sempre endividado. E a ver esta dívida sempre a aumentar. E não pode declarar insolvência.
  1. O primeiro que olhou para nós, olhos nos olhos, e se endividou até aos ossos para comprar a nossa liberdade, foi Jesus Cristo, Senhor Nosso. São Paulo disse bem, na sua Primeira Carta ao Coríntios, que Ele nos comprou por alto preço (1 Coríntios 6,20; 7,23). Na verdade, teve de dar a sua vida toda por nós, para nos comprar. Somos, portanto, caríssimos, custamos um preço muito alto. O seu Reinado, que hoje celebramos juntamente com toda a Igreja, consiste nesta suprema atitude ou altitude do Amor que Jesus dedica a estes seus irmãos caríssimos.
  1. Passou, depois, como sabeis, caríssimos irmãos, esta dívida para nós, isto é, ensinou-nos a endividar-nos, gastando, como Ele, a vida toda por Amor. «Como Eu vos fiz, fazei vós também uns outros» (João 13,15). «Como Eu vos amei, amai-vos vós uns aos outros» (João 15,12 e 17). «Todas as vezes que fizestes isto (ou que o não fizestes) a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes (ou o deixastes de fazer)» (Mateus 25,40 e 45).
  1. Portanto, caríssimos irmãos, é preciso, precioso e urgente, que olhemos bem o rosto dos nossos irmãos e irmãs, que consideremos bem o altíssimo valor de cada um, e gastemos a nossa vida toda para os servir com a dignidade e a elevação, a Altura, que merecem. Só assim, seremos dignos súbditos deste Rei Novo e Manso.
  1. A presença entre nós, hoje, destes dois novos Diáconos ou Servidores do Evangelho da Alegria deve ajudar a avivar em nós a existência desta imensa dívida de Amor e de serviço humilde a todos e a cada um dos caríssimos irmãos e irmãs que Deus nos deu.
  1. E assim também, do coração ou do Altar ou do Ambão desta Igreja Catedral, cuja Dedicação hoje celebramos, podereis ver, caríssimos irmãos, que pode começar a surgir uma nascente de água viva. E vereis ainda que este fiozinho de água crescerá e alagará cada coração, cada rua, cada campo, cada casa, cada família, cada colina desta nossa Diocese de Lamego, fazendo brotar, por onde passa, vida nova em abundância. Sim, podeis beber e saciar-vos com esta água viva e salutar, fonte de saúde e de alegria. Não tem legionela. Tem amor. Abri todas portas a Jesus Cristo. Escancarai-as mesmo. Sem medo. O medo tolhe a nossa alegria. O medo rouba a nossa alegria. Fazei da Igreja de Lamego, caríssimos irmãos e irmãs, não uma cidade fortificada, mas uma cidade frutificada. Portanto, Ide e construí com mais amor a família de Deus. E que o Senhor Jesus Cristo reine sempre nos nossos corações. Ámen.

Lamego, 23 de Novembro, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo,

Dia da Igreja Catedral e de Ordenações Diaconais.

+ António, vosso bispo e irmão

Ordenação Diaconal | Valentim Fonseca | Testemunho

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“DEUS É O NOSSO REFÚGIO E A NOSSA FORÇA, AJUDA PERMANENTE NOS MOMENTOS DE ANGÚSTIA” (Sl 46, 2)

 

Eu, Valentim Manuel Moreira Fonseca, filho de Valentim da Fonseca e Arminda Rodrigues Moreira Fonseca nasci a 26 de Outubro de 1978, na Paróquia de Nossa Senhora das Candeias de Ferreiros de Avões. Cresci numa família numerosa sendo o mais novo de dez filhos, em que a família sempre se baseou em princípios cristãos. Os meus pais sempre viveram da agricultura e, fiz toda a formação na escola primária da minha freguesia, bem como o 6º ano na Telescola.

Terminada esta etapa ingressei na Escola Profissional de Lamego, onde concluí o 9º ano de escolaridade.

O ensino secundário foi feito na Escola D. Luís de Castro em Braga. Ingressei na Faculdade de Teologia em Braga onde fiz o Curso de Teologia, terminando-o no ano de 2006, no grau de licenciatura.

No ano 2007 iniciei o curso de Gestão Turística Cultural e Patrimonial, terminando-o em 2010, no grau de licenciatura.

De 2011 a 2013 estive como Coordenador das Famílias Kolping.

Em 2012 iniciei um acompanhamento de proximidade no Seminário Maior em Lamego, onde fiz estágio pastoral nas Paróquias de Mondim da Beira, Ucanha e Dalvares.

Em 2013 fiz o ano Pastoral no Seminário Maior de Lamego e estágio Pastoral na Paróquia de Ferreirim Lamego.

No ano de 2014/15 encontro-me a fazer estágio pastoral, na Paróquia de Nossa Senhora do Pranto de Vila Nova de Foz-Côa.

Por todo o meu percurso posso exclamar como o Salmista: “Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, ajuda permanente nos momentos de angústia” (Sl 46, 2), porque só Ele me dará a força para empreender este novo serviço em prol do Homem e da Igreja.

Com a ajuda de Deus, dos meus familiares e amigos, alcancei o sonho da minha vida.

Louvado seja o Senhor Deus Rico de Misericórdia.

 

in VOZ DE LAMEGO, n.º 4289, ano 84/51, de 18 de novembro de 2014.

 

Homilia de D. António Couto na Ordenação Sacerdotal do José Soares

Amados irmãos e irmãs 6julho2014

1. Há quem considere estas breves linhas do Capítulo onze do Evangelho de S. Mateus (11,25-30), como o mais belo e importante dizer de Jesus nos Evangelhos Sinópticos (A. M. Hunter). Na verdade, estas linhas leves e ledas como asas guardam o segredo mais inteiro de Jesus, o seu tesouro mais profundo, o tesouro ou a pedra preciosa da parábola (Mateus 13,44-46), preciosa e firme, porque leve e suave como uma almofada, onde Jesus pode reclinar tranquilamente a cabeça (João 1,18), e tranquilamente conduzir, dormindo mansamente à popa, a nossa barca no meio deste mar encapelado (Marcos 4,38). Nos lábios de Jesus, chama-se «PAI» (Mateus 11,25) este lugar seguro e manso, doce e aprazível, que acolhe os pequeninos, os senta sobre os seus joelhos, lhes conta a sua história mais bela, e lhes afaga o rosto com ternura. Diz bem Santo Agostinho que «o peso de Cristo é tão leve que levanta, como o peso das asas para os passarinhos!».

2. «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos (népioi)» (Mateus 11,25). Sim, aos pequeninos, grego népioi, que em sonoridade portuguesa daria «népias», nada, nenhuma ciência, nenhum poder, nenhum valor autónomo. Ó abismo da sabedoria dos pequeninos, daqueles que nada podem fazer sozinhos, mas que sabem confiar, e sabem que podem confiar, e sabem em quem podem confiar (2 Timóteo 2,12). É sobre os pequeninos que recai toda a atenção de Jesus, que, de resto, voluntariamente se confunde com eles, pois diz: «Todas as vezes que fizestes isto (ou o deixastes de fazer) a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes (ou o deixastes de fazer)» (Mateus 25,40 e 45). E no ritual do Batismo, são estes os dizeres que acompanham a entrega da vela acesa aos pais e padrinhos da criança batizada: «a vós, pais e padrinhos, se confia o encargo de velar por esta luz, para que este pequenino, iluminado por Cristo…

3. Abre-se aqui um dos mais belos fios de ouro da espiritualidade cristã, habitualmente denominado por «infância espiritual», o «pequeno caminho», «o permanecer pequeno», «o estar nos braços de Jesus», que Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897) exalta na sua «História de uma alma», que tem a sua nascente mais funda naquela maravilha que é o Salmo 131,2, em que o orante se diz assim: «Estou tranquilo e sereno/, como criança desmamada,/ no colo da sua mãe;/ como criança desmamada,/ está em mim a minha alma». Ou como o famoso Padre Jesuíta francês, Léonce de Grandmaison (1868-1927), que costumava rezar assim: «Santa Maria, Mãe de Deus, conserva em mim um coração de criança, puro e transparente, como uma nascente». Ler mais…