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Posts Tagged ‘Imaculada Conceição’

Editorial Voz de Lamego: Faz germinar em mim o Teu amor

Vivemos Advento, tempo de preparação para a celebração festiva do nascimento de Jesus. Tempo de graça e de salvação, em que o acontecer de Deus se traduz e concretiza no acontecer humano, pelo menos é isso que se deseja.

Neste caminho que percorremos – interiormente, mas sinalizado no ambiente que nos rodeia, luzes, arranjos natalícios e publicidade, e exteriormente, assim nos propomos, na prática do bem – somos envolvidos pela iniciativa de Deus, pela Sua graça infinita. Ele quer vir até nós, quer nascer em nós, quer frutificar em nós, ganhar raízes, habitar em nós, ficar connosco. Mas porque nos criou livres, não depende somente d’Ele, cabe-nos a nós acolher e responder ao Seu chamamento. Ele não pode entrar em nossa casa, mesmo que Se faça convidado, se não Lhe abrirmos a porta, se não O deixarmos entrar. Ele leva-nos a sério e respeita-nos, respeitando a nossa liberdade e as escolhas que fazemos.

Nesta iniciativa divina, Maria é escolhida desde sempre e desde sempre preparada para ser a Mãe do Filho do Deus Altíssimo. É este o mistério da sua Imaculada Conceição. Toda bela, toda pura, concebida sem sinal de pecado, para que n’Ela floresça o fruto do Espírito Santo. Por um lado, Deus que desce, diminuindo-Se para caber na humanidade, por outro lado, o melhor do ser humano na sua identidade original, imagem e semelhança de Deus. É neste encontro que Deus Se faz homem e que o homem poder ser divinizado em Jesus.

O privilégio de Maria é realizável também em nós, não na mesma dinâmica total, biológica e espiritual, mas na medida em que acolhamos a vontade de Deus como Ela o faz.

A iniciativa divina tem correspondência na resposta humana, na resposta de Maria. O Anjo vem da parte de Deus e surpreende Maria: “Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo… encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e chamá-l’O-ás com o nome de Jesus… O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te envolverá. Por isso, o que é concebido santo será chamado filho de Deus”. A resposta de Maria não tarda, ainda que pause na surpresa do anúncio e no admirável mistério que está a acontecer: “faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 26-38)

Deus faz acontecer em nós, mas é preciso que O escutemos, que O acolhamos, que O procuremos, que O deixemos nascer em nós. Jesus nasce porque Maria diz “sim”. E, logo depois, ela dir-nos-á a condição para que o milagre aconteça em nós, para que a vida se realize na abundância: “O que Ele vos disser, fazei-o” (Jo 2, 5). Então, como o próprio Jesus o diz, se deixarmos que germine em nós o amor de Deus, na prática do bem, seremos verdadeiramente Seus discípulos, seremos verdadeiramente da Sua família (cf. Lc 8, 21).

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/02, n.º 4537, 3 de dezembro de 2019

Editorial Voz de Lamego: Sob a proteção da Imaculada Conceição

No dia 8 de dezembro, assinalamos a celebração festiva da Imaculada Conceição, Padroeira e Rainha de Portugal, fazendo sobressair a ligação afetiva dos portugueses à Virgem Imaculada.Como em tantas outras referências religiosas, culturais, políticas, com as novas gerações atenuam-se as pertenças e, por vezes, os motivos originários de uma tradição, de uma comemoração, a razão de ser de um feriado ou de um dia santo. O dia 8 e dezembro enraíza-se na história de Portugal e, claro, na identidade religiosa e cultural do povo português, mesmo com a vontade de alguns blocos quererem disfarçar, esconder, apagar tudo o que possa ter referências religiosas, excetuando nos momentos de aproximação eleitoral, onde é necessário não fazer muitas ondas.No dia 25 de março do ano de 1646, D. João IV, numa cerimónia solene, em Vila Viçosa, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, depunha a coroa a favor de Nossa Senhora. A partir de então o Rei não mais colocaria a coroa. Em contrapartida, a coroa era colocada num trono, ao lado do trono real, relembrando que Nossa Senhora da Conceição era a Padroeira e Rainha de Portugal.O Rei assinalava a forte devoção dos portugueses. Os acontecimentos que conduziram o país a recuperar a soberania, com a coroação de D. João IV, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço, estão fortemente ligados à devoção de Nossa Senhora. O Santo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira (São Nuno de Santa Maria), artífice da vitória de Portugal sobre os nossos vizinhos espanhóis, fundou a Igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, oferecendo também a imagem de Nossa Senhora da Conceição.É uma devoção que vem de longe, sancionada em definitivo a 8 de dezembro de 1954, pelo Papa Pio IX, rodeado por 92 bispos, 54 arcebispos, 43 cardeais e uma imensa multidão, definiu como dogma de fé o grande privilégio da Virgem:“A doutrina que ensina que a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada imune de toda mancha de pecado original no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus todo-poderoso, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, é revelada por Deus e por isso deve-se crer firme e constantemente por todos os fiéis”O projeto de Deus é concretizável pela resposta humana, por esta primeira resposta de Maria. Maria acolhe a Palavra de Deus e fá-la crescer no seu ventre e na sua vida.A condição para sermos morada do Deus altíssimo é imitar Maria, em humildade e prontidão para servir: realize-se em mim a Tua vontade. Vem, nasce em mim, ilumina-me com a Tua bondade, dá-me o Teu perdão, guia-me para Ti, faz-me reconhecer-Te e a amar-Te em cada irmão.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/02, n.º 4488, 4 de dezembro de 2018

CONVITE à ALEGRIA | Editorial Voz de Lamego – 5.dezembro.2017

ROME, ITALY - MARCH 27, 2015: The fresco of Immaculate Conceptio

CONVITE À ALEGRIA

Na próxima sexta-feira, 8 de dezembro, a Igreja celebra a solenidade da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal. Uma festa que nos fala de um Deus que ama, que se ocupa e preocupa com as suas criaturas e nos mostra como o mal não vencerá.

O relato da Anunciação é o texto evangélico do dia, convidando a viajar até uma insignificante terra da Galileia, a entrar numa singela habitação e a testemunhar o encontro/diálogo entre o mensageiro divino e uma discreta jovem que se disponibiliza para participar no plano de Deus.

No chamamento/convite de Deus a Maria percebemos que, mais do que um desenvolvimento de capacidades humanas, a vocação será, sobretudo, abertura à novidade do alto e a confiança n’Aquele para quem “nada é impossível”. Consciência dos limites humanos e confiança na misericórdia divina.

“Alegra-te!” é a primeira palavra do anjo Gabriel, um convite, em tom imperativo, à alegria messiânica. Como alguém notou, o anjo não pede a Maria para se ajoelhar, esconder ou rezar; no início do anúncio/diálogo é pedido a Maria que se alegre. E que razões, humanamente falando, teria Maria para se alegrar? Talvez tantas como aqueles que, também hoje e em tantos lugares da terra, se sentem esquecidos de Deus, experimentam o ódio e a indiferença humanas ou se vêem privados de tudo e também da esperança!

Mas o convite mantém-se. Porque é o amor de Deus por todos e cada um que torna possível tal alegria, que não pode confundir-se com a gargalhada ruidosa, o gozo que vem do ter ou aparência que ilude. A humanidade é convidada a alegrar-se porque se sabe e se sente amada.

A Incarnação anuncia a derrota do mal e o sim de Maria ilustra a abertura do humano ao amor de Deus.

JD, in Voz de Lamego, ano 87/53, n.º 4439, 5 de dezembro de 2017

Paróquia de Almacave celebra o Dia da Unidade Paroquial

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No dia 8 de Dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição, a Paróquia de Santa Maria Maior celebrou o Dia da Unidade Paroquial na eucaristia solenizada das 17:00, na Igreja Matriz, associando-se também ao 44º aniversário da Ordenação Sacerdotal do Mons. P. José Guedes, nosso Pároco, de D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto e do P. Adriano Cardoso, Pároco de Penude.

 De há uns anos a esta parte, este dia tem sido norteado pelo esforço de fazer despertar naqueles que residem neste espaço paroquial o sentido de pertença à Comunidade Paroquial, de tal maneira que todos, sem exceção, se sintam chamados a caminhar como família paroquial e a viver de um modo sempre renovado o compromisso de que são convocados a gerar e a fortalecer laços de comunhão eclesial e a olhar a Paróquia como espaço privilegiado para o anúncio da Alegria do Evangelho. Concelebraram nesta Eucaristia os sacerdotes que colaboram nas diversas atividades pastorais da Paróquia. Presentes, também, os cristãos leigos que mais colaboram na vida paroquial e, igualmente, aqueles que participam com regularidade nas Eucaristias da Paróquia e na Eucaristia das 17:30 no Convento de São Francisco: Conselho Pastoral Paroquial e Económico, Irmandades, Grupos Paroquiais comprometidos no sector da evangelização e no serviço da caridade, jovens, Escuteiros do Agrupamento 140 do CNE, crianças e muitos outros paroquianos.

 Na Homilia, o Senhor Padre Adriano Cardoso, com referências muito concretas à Exortação Apostólica do Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, lembrou que o primeiro motor de renovação de uma Paróquia é recuperar a frescura original do Evangelho. No final da celebração, o Senhor Padre José Guedes pediu a todos que o Plano Pastoral Trienal, definido para a Paróquia, traga um maior rejuvenescimento à Comunidade Paroquial, que acolhe também neste momento, um jovem Diácono ao serviço da Comunidade, o Luís Rafael Teles Azevedo.

Este dia foi preparado, antecipadamente, pelo Conselho Pastoral Paroquial que avaliou, igualmente, nesse encontro, a aplicação do ponto nº 1 do Plano Pastoral Trienal. A reflexão havida centrou-se no tema “ como passar, na nossa Paróquia, de uma pastoral de cristandade a uma pastoral de evangelização”. Tomámos consciência de que é necessário sermos mais criativos diante de ambientes que respiram um clima de resignação e acomodação; que é tempo de reagir à tentação de repetir caminhos e esquemas que tantas vezes marcam o ritmo de uma pastoral convencional e a assumir, sem medos, um modelo de paróquia em processo de conversão pastoral contínua e com realismo. Propusemo-nos, a partir de agora, a iniciar uma caminhada de carácter ”sinodal”, ao longo dos próximos três anos, que envolva toda a Paróquia e permita escutar “os de perto e os de longe”, os colaboradores e os indiferentes, procurando descobrir quais as razões verdadeiras de uma certa anemia espiritual que se vai acentuando e quais as soluções mais indicadas e as principais opções pastorais de fundo que tragam ganhos positivos à Paróquia. Mas é também fácil observar que as Mensagens e Exortações do Papa Francisco estão a gerar um clima novo de alento e de esperança em muitas pessoas e grupos da nossa paróquia.

Na próxima reunião, a realizar no dia 27 de Fevereiro, os membros do Conselho Pastoral Paroquial trarão propostas de ação pastoral para tornar operativas estas opções de fundo, ao longo deste ano pastoral.

Isolina Guerra, in Voz de Lamego, ano 87/06, n.º 4391, 13 de dezembro de 2016

Tabuaço preparou e viveu festa em honra da Padroeira

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Imaculada Conceição

“É fácil ser Deus. Difícil é ser homem.”

Esta foi uma das citações, entre algumas passagens bíblicas e outras tantas “estórias”, que o Rev.º Padre Joaquim Proença Dionísio, convidado do nosso Pároco Padre Manuel Gonçalves, usou para prender a atenção dos paroquianos que, deixando o conforto das suas casas, participaram na novena da Nossa Senhora da Conceição.

Como não podia deixar de ser, o nevoeiro, que é presença habitual nestes dias, não impediu que durante nove noites as pessoas se reunissem para rezar e ouvir palavras sábias saídas do coração do orador.

Ao nono dia ouvi alguém dizer: – Podíamos prolongar a novena que continuaríamos a ouvir o Sr. Padre da mesma maneira, com o mesmo entusiasmo.

E Maria esteve sempre nas nossas orações. Ela é e continuará a ser o nosso modelo de mulher e de mãe. A sua maternidade é o princípio e fundamento de todas as grandezas de Maria: cada um dos privilégios que lhe foram concedidos são consequência da sua eleição para Mãe de Deus.

Como Mulher, aceitando a missão de ser mãe, vivendo na santidade do seu exemplo, usando a suavidade das suas consolações, vendo a eficácia das suas preces, envolvendo-se no seu manto de humildade. Como Mãe, sabia que o seu Filho estava destinado a percorrer um caminho nem sempre fácil. Participou e colaborou com Ele duma maneira muito próxima porque entendeu a Sua missão.

Também cada cristão é chamado a participar nessa vivência, a dignificar-se e aproximar-se cada vez mais do modelo de Jesus. Na comunidade, na vizinhança, no trabalho e muito especialmente na família.

“Seguir, conhecer, confiar”.

Não O vemos, não O tocamos, mas sabemos que Ele está presente e nos ouve. Saber ouvir é uma virtude. Será que nos tempos que correm sabemos ouvir? Sabemos agradecer? Sabemos pedir desculpa? Sabemos perdoar?

“Perdoar liberta!”

Estamos sempre a tempo de desenvolver atitudes de Fé e de viver os seus mistérios. A tolerância, o respeito e a compreensão são valores que devemos cultivar. Mais ainda porque neste momento vivemos tempos de intolerância e fanatismos exacerbados que levam milhares, senão milhões de pessoas em todo o mundo, a um estado de sofrimento tal que não nos devem deixar indiferentes.

Depois de nove dias de reflexão propostos pelo Sr. Padre Joaquim Dionísio, eis que os fiéis enchem a igreja de Tabuaço para a celebração em honra da Nossa Senhora da Conceição. O corpo de Bombeiros e a Banda de Sendim deram maior brilho à procissão que percorreu algumas ruas da vila com o andor de Nossa Senhora.

Os paroquianos de Tabuaço ficam à espera duma próxima visita do Sr. Padre Joaquim Dionísio, com a alegria de quem ficou com o coração cheio.

M. Cidália P. Santos, in Voz de Lamego, ano 87/06, n.º 4391, 13 de dezembro de 2016

Imaculada Conceição 2016 | Homilia de D. António Couto

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TODOS OS MEUS DIAS SÃO DE DEUS, E SÃO-ME DADOS

  1. Amados irmãos e irmãs, convido-vos a sentir e a consentir com emocionada alegria o facto de as Igrejas do Oriente e do Ocidente, embora tantas vezes divididas entre si, estarem hoje, dia 8 de dezembro, unidas em maravilhosa harmonia para celebrar a Mãe de Deus no singular privilégio da Conceição Imaculada da sua humanidade, nove meses antes do seu Nascimento ou Natividade, que celebraremos jubilosamente no dia 8 de Setembro.
  1. É bom e belo sabermos e sentirmos que hoje estamos em comunhão e sintonia com essas Igrejas sofridas e doridas do Oriente, nossas irmãs queridas, que sempre dedicaram à Mãe de Deus um muito particular carinho traduzido em tempo dado à Mãe de Deus. Só quem ama tem tempo, e até o inventa, se necessário. É assim que os Coptos dedicam a Maria o inteiro mês de Kiahq, que coincide mais ou menos com o nosso mês de Dezembro, e os Caldeus, os Antioquenos e os Maronitas celebram, também nesta altura do ano, e durante pelo menos quatro Domingos, o tempo da chamada Sûbbarâ ou «Anunciação», que é a Vinda de Deus ao nosso mundo, em catadupa, dia após dia, para abrir as nossas trincheiras e fazer nascer em nós um mundo novo, aberto, encantado e feliz, e fazer de nós homens novos capazes de cantar um cântico novo.
  1. Memorial desta beleza incandescente é a Basílica da Anunciação, em Nazaré. Esta grandiosa Basílica foi inaugurada em 25 de Março de 1969, e foi visitada, ainda as obras estavam em curso, em 1964, pelo Beato Papa Paulo VI. Escavações feitas antes desta grandiosa construção puseram a descoberto, e podem ver-se ainda hoje, os majestosos pilares de uma Catedral levantada em 1099, pelo príncipe cruzado Tancredo, bem como o pavimento em mosaico de uma igreja bizantina, que pode ser datada do ano 450. Mas, descendo mais fundo, até às entranhas da atual Basílica, acede-se à Gruta da Anunciação, sob cujo altar se lê a inscrição Verbum caro hic factum est [= «Aqui o Verbo se fez carne»], e a outros lugares de culto antigos, talvez já do século II. Numa grafite antiga foi encontrada a gravação XE MAPIA, abreviação de Chaîre Maria [= «Ave-Maria»], a primeira Ave-Maria da história.

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IMACULADA CONCEIÇÃO | Editorial Voz de Lamego | 6 de dezembro

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Atravessamos a NOVENA da Imaculada Conceição. Como não poderia deixar de ser a edição do Jornal Diocesano faz eco desta importante celebração na vida da Igreja, mas também em Portugal, que A tem por Padroeira e Rainha. O Diretor, Pe. Joaquim Dionísio, que se encontra em Tabuaço a orientar a Novena da Imaculada Conceição, centra a sua reflexão nesta verdade fé em que sobressai a confiança total em Deus e a ligação íntima de Maria a Jesus.

IMACULADA CONCEIÇÃO

Aproxima-se o dia 8 de dezembro, data da festa em honra da Imaculada Conceição da Virgem Maria, padroeira principal do nosso país. Tal celebração, vivida nos primeiros dias do novo ano litúrgico e em pleno advento, recorda-nos o singular destino desta jovem judia escolhida por Deus, bem como o que poderá acontecer connosco se decidirmos viver em obediência a Deus.

Para a fé cristã, Maria é indissociável do Menino que trouxe ao mundo, Jesus, em quem se manifestou plenamente o Deus vivo. Por isso, ela é chamada, desde o concílio de Éfeso (431), “Mãe de Deus”. E segundo a tradição católica, desde a proclamação do dogma, feita pelo Papa Pio IX (08/12/1854), Maria foi proclamada preservada do pecado original desde a sua concepção: “Declaramos que a doutrina que diz que Maria foi concebida sem pecado original é doutrina revelada por Deus e que a todos obriga a acreditá-la como dogma de fé”.

Assim se afirma, defende e ensina que, para acolher o Filho de Deus, Maria não podia ter no coração nenhum traço de hesitação ou de recusa. Qual fruto antecipado do perdão oferecido por Jesus na cruz, Maria é a imaculada, preservada de todo o pecado e da separação de Deus que marca a humanidade desde os princípios, o pecado original.

Diante de Maria, da sua disponibilidade e mediação, certamente nos sentimos admiradores e gratos, sabendo que estamos diante de uma criatura e que tudo nela é obra do Omnipotente, o mesmo Senhor da Vida que a todos quer salvar.

Quem, como Maria, na espera do nascimento do filho, poderá mostrar à Igreja e a cada um de nós, como dispor o coração para o receber? Ela é a figura da discípula atenta, da espera activa e da confiança total em Deus.

in Voz de Lamego, ano 87/05, n.º 4390, 6 de dezembro de 2016

Homilia de D. António Couto | Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria

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(FOTO: Entrada solene de D. António na Diocese de Lamego, 29 de janeiro de 2012)

SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA

 

  1. Depois de ontem (Domingo II do Advento) termos avistado e ouvido a lição magistral de um homem sólido e firme como um tronco, de antes quebrar que torcer, que não tem nada a ver com as canas ocas (Mateus 11,7), João Baptista, contemplamos hoje, Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, a grácil e terna figura de Maria, no seu ser inteiro, obra de Deus. João Baptista é como um tronco, plantado no deserto. Plantação de Deus, portanto, pois mais ninguém planta o deserto. João Baptista é como um tronco plantado no deserto. Vendo bem, já lá estão outros troncos, igualmente sólidos, igualmente firmes. Ajustando um pouco melhor o olhar, veem-se uns fios que vão de tronco em tronco, de poste em poste. Estes troncos sólidos, estes postes firmes, estes finos fios sãos semelhantes aos postes e aos fios do telefone, das comunicações, da comunicação.

  1. João Baptista é como um poste telefónico, uma antena de comunicação. Vendo melhor, vê-se que está em linha com Isaías e com Deus. Aí está o fio de sentido, a Palavra que não é nem de João nem de Isaías, mas de Deus. É essa Palavra que grita no deserto, ou no nosso desertificado, árido, endurecido coração. Mas Deus sabe fazer correr rios de água no deserto (Isaías 35,7; 41,18; 43,20). Deus sabe fazer florir o deserto, fazer frutificar o deserto (Isaías 35,1-2).

  1. É assim que Nazaré é literalmente a cidade florida (de natsar = florescer). E é assim que Maria é a cidade fruticada, e não fortificada. Também Maria está em linha com a Palavra de Deus. Não a perturbeis, porque ela não se cansa de escutar com o coração. Nós aproximamo-nos, e vemos um anjo. Mas os anjos não são para se verem. São para se ouvirem. Maria ao telefone com Deus. Mas este telefone não foi instalado pela PT. Tão-pouco é um telemóvel que se possa trazer no bolso. Vendo mais de perto, este telefone toca no coração.

  1. Memorial desta beleza incandescente é a Basílica da Anunciação, em Nazaré. Esta grandiosa Basílica, em três planos, foi inaugurada em 25 de Março de 1969, e foi visitada, ainda as obras estavam em curso, em 1964, pelo Beato Papa Paulo VI. Escavações feitas antes desta grandiosa construção puseram a descoberto, e podem ver-se ainda hoje, os majestosos pilares de uma Catedral levantada em 1099, pelo príncipe cruzado Tancredo, bem como o pavimento em mosaico de uma igreja bizantina, que pode ser datada do ano 450. Mas, descendo mais fundo, até às entranhas da atual Basílica, acede-se à Gruta da Anunciação, sob cujo altar se lê a inscrição Verbum caro hic factum est [«Aqui o Verbo se fez carne»], e a outros lugares de culto antigos, talvez já do século II. Numa grafite antiga foi encontrada a gravação XE MAPIA, abreviação de Chaîre Maria, a primeira Ave-Maria da história.

  1. São Paulo adverte-nos, na Carta aos Efésios, também de que a instalação deste telefone, deste fio de sentido, desta Palavra de graça é obra, não da PT, mas de Deus, que nos escolheu antes da criação do mundo (Efésios 1,4), e antes da criação do mundo nos fez filhos no seu Filho (Efésios 1,5).

  1. É esta comunicação de Graça, que de Deus chega a Maria, que a Igreja inteira, Ocidente e Oriente, hoje celebra. Sim, hoje todos os filhos e irmãos estamos unidos na mesma alegria, que de Deus chega a Maria, e de Maria a todos nós. Por isso, ela, a Mãe do Amor e da Graça, a Cheia de Graça, é a nossa Mãe e Padroeira, Padroeira também de Portugal e desta nossa Catedral.

  1. Por isso também nos reunimos hoje, aqui, em linha contigo, Maria, nossa Mãe e Padroeira e Protetora. Em linha com Deus, que olhou para nós, para mim e para ti, meu irmão e minha irmã, desde toda a eternidade. Sim, olhou para nós, com o seu olhar de Graça, e assim continua ainda hoje. Bendita Tu, Maria, e Bendito Deus.

  1. Esta celebração da Mãe de Deus e nossa Mãe e Padroeira Principal de Portugal é um desafio imenso para o homem «em fuga» deste tempo, que se esconde de si mesmo, que continua a esconder-se de Deus, e que pretende esconder Deus, retirando-o da via pública e da vida pública. Atravessamos verdadeiramente a «noite do mundo» (Weltnacht), diz Martin Heidegger, onde «Cada um está sozinho no coração da terra/ atravessado por um raio de sol:/ e é logo noite», como bem escreve o escritor italiano Salvatore Quasimodo. Homem deste tempo às escuras, engessado, triste, exilado, escondido, anestesiado, volta para a Luz, reentra em tua casa, no teu coração despedaçado. Há de seguramente por lá haver ainda, caída no fundo da alma, uma lágrima dorida e uma mão de Mãe à tua espera!

Senhora de dezembro,

Maria, minha Mãe,

Passa hoje o dia da tua Imaculada Conceição.

Senhora de dezembro,

Dos dias frios e frágeis,

Dos passos firmes e ágeis,

Do coração que velava

À espera de quem te amava.

Assim te entregaste a Deus,

De coração inteiro,

Como um tinteiro

Todo derramado numa página.

Tu és a mais bela página de Deus,

A Deus doada, apresentada, dedicada,

Mãe da vida consagrada,

Imaculada,

Ensina-me a tua tabuada,

A tua nova alegria,

A luz do Evangelho que te aquece e alumia.

Eu te saúdo, Maria,

Neste dia da tua Imaculada Conceição.

Ave-Maria.

Lamego, 08 de dezembro de 2014, Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria

+ António, vosso bispo e irmão