Arquivo
Solidariedade de alguns ajuda família | Coragem das Finanças
O nosso mundo tem os seus limites, mas continua cheio de bons exemplos.
A nossa sociedade vive agarrada às amizades virtuais, mas aparecem sempre exemplos de proximidade humana que contagiam e comovem. As notícias diárias falam, maioritariamente, de situações negativas, mas o bem nunca deixa de estar presente.
Desta vez, a notícia foi divulgada na televisão: algumas pessoas evitaram que uma casa fosse vendida pelas Finanças, graças ao pagamento de uma dívida ao Fisco. O caso aconteceu nos arredores de Aveiro e motivou a solidariedade de alguns técnicos oficiais de contas que se juntaram para evitar que uma senhora e seus familiares fossem “despejados”.
Perante uma dívida de 1900 euros, as Finanças de Ílhavo penhoraram uma habitação que foi colocada em leilão. Dentro da casa vive uma senhora com 52 anos, viúva, mãe de seis filhos, dos quais três ainda vivem com ela, juntamente com dois netos. O facto despertou a solidariedade de alguns que reuniram a verba necessária e ainda deixaram algum dinheiro àquela família.
Diante desta notícia devemos alegrar-nos com a atitude destes cidadãos anónimos e solidários que, emocionados, não deixaram de ajudar uma mãe aflita. A sociedade continua a avançar graças aos bons exemplos, apesar de discretos: “o bem não faz barulho e o barulho não faz bem”. Ainda há poucos dias um funcionário camarário dizia já ter pago a água a algumas famílias para que esta não fosse cortada.
Por outro lado, os funcionários das Finanças limitaram-se a seguir procedimentos estabelecidos, indiferentes à situação abrangida. Sempre se podem desculpar com o cumprimento da lei. E têm razão. Mas não chega. Será que é moralmente aceitável desalojar quem não pode pagar uma dívida de 1900 euros?
Quer-nos parecer que as Finanças, e outros mais, são muito céleres e corajosos quando se trata de gente simples e pobre. Mas será que são assim tão céleres perante os “grandes” que têm dívidas imensamente maiores, causam danos a muitos outros e andam “colados” ao poder?
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4287, ano 84/49, de 4 de novembro de 2014.