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Jubileu da Misericórdia | PARÁBOLAS
As parábolas que Jesus incluía no seu ensino e pregação são muito mais do que histórias contadas que conhecemos. As parábolas de Jesus estão ligadas à vida e, nessa medida, ajudam-nos a perceber a nossa maneira de ser e de estar, questionando-nos e desinstalando-nos.
Ao longo deste ano litúrgico teremos a oportunidade de seguir e escutar Jesus a partir do que S. Lucas escreveu, ele que é conhecido como o “evangelista da misericórdia”. Quem não conhece, por exemplo, a parábola do filho pródigo?
Bastará procurar o capítulo 15 deste evangelho para depararmos com três destas parábolas: ovelha perdida (Lc 15, 4-7), moeda encontrada (Lc 15, 8-10) e filho pródigo (Lc 15, 11-32). Ali contemplamos a misericórdia que procura quem anda perdido, não apenas os que andam longe, mas também os que pensam estar seguros; ali nos é revelado que cada um é valioso e único aos olhos de Deus; ali contemplamos Deus a sair de casa para procurar e encontrar os filhos que partem ou que se recusam a entrar.
A propósito destas parábolas, o Papa Francisco diz-nos que “nelas encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão” (MV 9).
A vida de Jesus foi um concretizar contínuo destas parábolas, aproximando-se, convivendo, ensinando e curando todos os que eram considerados pecadores: os que se apresentavam limitados fisicamente (a deficiência era vista castigo pelo pecado), os estrangeiros (que não conheciam nem cumpriam a Lei), os cobradores de impostos (considerados pecadores públicos) e os usurários e mulheres de má via (ninguém queria ser visto na sua companhia).
Para lá das três parábolas citadas, podemos encontrar outras neste terceiro evangelho:
– Lc 7, 41-43. A misericórdia como perdão da dívida contraída (o pecado), aqui reflectida na parábola dos dois devedores perdoados;
– Lc 10, 25-37. A misericórdia vista sob o prisma da compaixão que socorre o necessitado, tal como a vislumbramos na parábola do bom samaritano;
– Lc 16, 19-31. A misericórdia que convida a agir aqui e agora, não deixando para a outra vida o bem que se deve concretizar já, tal como bem o ilustra a parábola do pobre Lázaro;
– Lc 18, 1-8. A misericórdia que se traduz na oração perseverante, tal como é protagonizada pela viúva diante de um juiz que precisa ser incomodado para aplicar a justiça;
– Lc 18, 9-14. A misericórdia que justifica e reintegra o pecador que se assume, tal como a vemos no publicano que sobe ao Templo.
Neste ano da misericórdia, porque pegar na bíblia, encontrar o evangelho de S. Lucas e ir lendo e meditando, a sós, em grupo ou em família, cada uma destas parábolas? Por exemplo na Quaresma, nos momentos penitenciais que as paróquias organizam e possibilitam.
E não esquecer: as parábolas não se destinam a ser conhecidas e contadas; elas visam ser compreendidas e meditadas como quem se vê ao espelho.
JD, in Voz de Lamego, ano 86/09, n.º 4346, 19 de janeiro de 2016
Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade – Revogar porquê?
COMUNICADO
Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade – Pelo Direito a Nascer – Revogar porquê?
1 – Este início da XIII Legislatura está marcado por um retrocesso civilizacional gritante – Revogação de Lei do Apoio à Maternidade e Paternidade – Pelo Direito a Nascer.
2 – Graças a uma grande movimentação cívica foi levada ao Parlamento a Lei do Apoio à Maternidade e Paternidade – Pelo Direito a Nascer. Após cumpridos todos os requisitos da Iniciativa Legislativa de Cidadãos e da Constituição Portuguesa, tal I.L.C. viria a dar origem, com o voto da maioria no Parlamento e posterior promulgação do Presidente da República, à Lei n.º136/2015.
3 – Trata-se de uma lei que, em síntese:
a) Afirma o valor social da Maternidade e Paternidade e consequentes responsabilidades que daí advêm para o Estado e para a Sociedade;
b) Cria mecanismo de apoio à Maternidade e Paternidade em período de discernimento;
c) Revoga o afastamento compulsivo dos profissionais de saúde, quando estes se declaram objectores de consciência.
4 – Este quadro de apoio à Maternidade e Paternidade foi desenvolvido numa postura de respeito pela pergunta do passado referendo de 2007.
5 – Porém, numa atitude ideológica, cega e sem qualquer pingo de solidariedade é agora apresentado o Projecto-Lei n.º4/XIII (PS) que, em suma:
a)Omite totalmente que tal lei resulta de uma Iniciativa Legislativa Cidadãos subscrita por cerca de 50.000 eleitores;
b)Nega o reconhecimento do valor social da Maternidade e Paternidade;
c)Revoga o apoio à Maternidade e à Paternidade;
d)Afasta compulsivamente médicos e enfermeiros objectores de consciência, do acompanhamento clínico às suas pacientes.
6 – Trata-se de um diploma sem humanismo, violento, violador das melhores práticas clínicas e da solidariedade social que este Séc. XXI tanto reclama.
7 – Num tempo em que o consentimento informado, a medicina de proximidade, a patient advocacye o humanismo na prática clínica são reclamados em todo o mundo ocidental como caminho de Futuro, vem agora este Projecto-Lei negar às mulheres que se encontram nas dificuldades próprias do drama da I.V.G., o apoio, a ajuda e o aconselhamento que em cada caso poderia e deveria ser dado.
8 – Só há Liberdade se forem conhecidas e conseguidas, as condições necessárias à escolha. No caminho que é único não há escolha, não há Liberdade.
Sem informação, sem alternativas, sem apoio a I.V.G. nunca será por livre vontade da mulher, mas sim imposta por uma Sociedade e um Estado que negam à Mulher apoio numa hora de necessidade.
9 – Em nenhum país da Europa a I.V.G. é tratada com a frieza, a falta de solidariedade e desprezo como a que estava plasmada na lei portuguesa, e agora se quer repor.
Voltamos assim aos dias em que à grávida em dificuldade o Estado nada mais oferece do que o aborto.
Aparentemente, para os proponentes deste projecto-lei é mais importante a ideologia do que o drama de tantas mulheres empurradas para o aborto pela falta de apoio da Sociedade e do Estado.
10 – Dos Srs. Deputados que sabem e têm consciência do valor civilizacional da Maternidade e Paternidade e respeitam a longa tradição de Liberdade dos respectivos partidos políticos, espera este Povo, que levou ao Parlamento a Iniciativa Legislativa de Cidadãos, um voto de rejeição a tão retrógrado e violento Projecto-Lei.
A Comissão Executiva da Iniciativa Legislativa de Cidadãos
in Voz de Lamego, ano 85/52, n.º 4339, 24 de novembro
Sugestão de Leitura | novo livro de D. António Couto > ano B
SUGESTÃO DE LEITURA DA VOZ DE LAMEGO:
O nosso bispo, D. António Couto, oferece-nos mais uma ajuda para melhor compreendermos os textos bíblicos que escutamos semanalmente. Dando continuidade ao trabalho já publicado para o Ano A, eis que um novo livro chega para nos acompanhar neste Ano B, que estamos a viver desde o primeiro domingo do Advento.
Tal como afirma o próprio autor, na introdução, trata-se de um contributo para “aqueles que gostam de saborear os textos bíblicos que a Liturgia nos oferece”.
A mesma introdução alude ainda ao aparecimento próximo de um livrinho para melhor conhecermos e compreendermos o evangelista deste ano, “Introdução ao Evangelho segundo Marcos” e que, juntamente com este, formará um todo.
Título: Quando Ele nos abre as Escrituras domingo após domingo. Uma leitura bíblica do Lecionário Ano B.
Autor: D. António Couto
Edição: Paulus Editora
Tamanho: 215 x 145 mm, 399 p.
Preço: 20 euros
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4293, ano 84/55, de 16 de dezembro de 2014
Mensagem de FRANCISCO para o 88º Dia Mundial das MISSÕES 2014
Queridos irmãos e irmãs,
Hoje ainda existe muita gente que não conhece Jesus Cristo. Permanece, portanto, de grande urgência, a missão ad gentes, da qual todos os membros da Igreja são chamados a participar, pois a Igreja é missionária por natureza: a Igreja nasceu “em saída”. O Dia Mundial das Missões é um momento privilegiado no qual os fiéis dos diferentes continentes se manifestam com orações e gestos concretos de solidariedade em prol das jovens Igrejas nos territórios de missão. Trata-se de uma celebração de graça e de alegria. Graça porque o Espírito Santo, enviado pelo Pai, oferece sabedoria e fortaleza àqueles que são dóceis à sua ação. Alegria porque Jesus Cristo, Filho do Pai, enviado para evangelizar o mundo, apoia e acompanha a nossa obra missionária.
Justamente sobre a alegria de Jesus e dos discípulos missionários, gostaria de propor um ícone bíblico que encontramos no Evangelho de Lucas (cfr 10,21-23).
1. O evangelista narra que o Senhor enviou os setenta e dois discípulos, dois a dois, a cidades e aldeias, para anunciar que o Reino de Deus se havia aproximado a fim de preparar as pessoas para o encontro com Jesus. Completada a missão de anúncio, os discípulos voltaram repletos de alegria: a alegria é um tema dominante desta primeira e inesquecível experiência missionária. O divino Mestre disse-lhes: “não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos céus. Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: “Graças te dou, ó Pai”. (…). E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes”. (Lc 10,20-21.23).
Lucas apresenta três cenas. Antes de tudo, Jesus falou aos discípulos, depois dirigiu-se ao Pai, e voltou a falar com eles. Jesus quis que os discípulos participassem de sua alegria, que era diferente e maior da que antes experimentaram.
2. Os discípulos estavam repletos de alegria, entusiasmados pelo poder de libertar as pessoas dos demónios. Jesus, todavia, advertiu-os para que não se alegrassem tanto pelo poder recebido, mas pelo amor recebido: “por estarem seus nomes escritos nos céus” (Lc 10,20). A eles foi oferecida a experiência do amor de Deus, além da possibilidade de partilhá-lo. E esta experiência dos discípulos é razão de uma alegre gratidão para o coração de Jesus. Lucas colheu este júbilo na perspectiva de comunhão trinitária: “Jesus alegrou-se no Espírito Santo”, dirigindo-se ao Pai e louvando-o. Este momento íntimo de alegria brota do profundo amor de Jesus como Filho pelo Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeu estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelou aos pequeninos (cfr Lc 10,21). Deus escondeu e revelou, e nesta oração de louvor, ressalta principalmente o ‘revelar’. O que Deus revelou e escondeu? Os mistérios de seu Reino, a afirmação da senhoria divina de Jesus e sua vitória sobre satanás.
Deus escondeu tudo isso daqueles que são cheios de si e pretendem saber tudo. São cegados pela própria presunção e não deixam espaço a Deus. Pode-se facilmente pensar em alguns contemporâneos de Jesus, por ele várias vezes advertidos, mas trata-se de um perigo que existe sempre e que também nos diz respeito. Ao contrário, os “pequenos” são os humildes, os simples, os pobres, os marginalizados, os que não têm voz, os fadigados e oprimidos, definidos “bem-aventurados” por Jesus. Pode-se facilmente pensar em Maria, em José, nos pescadores da Galileia e nos discípulos chamados ao longo do caminho, durante sua pregação.
3. “Assim é, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Lc 10,21). Esta expressão de Jesus deve ser entendida à luz da sua alegria interior, onde a benevolência indica um plano salvífico e benévolo do Pai pelas pessoas. No contexto desta bondade divina, Jesus exultou, porque o Pai decidiu amar os homens com o mesmo amor que Ele tem pelo Filho. Lucas também nos traz à lembrança o júbilo semelhante de Maria, “minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lc 1,47). É a boa Notícia que conduz à salvação. Levando em seu ventre Jesus o Evangelizador por excelência, Maria encontrou Isabel e exultou de alegria no Espírito Santo, cantando o Magnificat. Ao ver o bom êxito da missão de seus discípulos e a sua alegria, Jesus exultou no Espírito Santo e se dirigiu a seu Pai em oração. Em ambos os casos, trata-se de uma alegria pela salvação em ato, porque o amor com que o Pai ama o Filho chega até nós, e por obra do Espírito Santo, envolve-nos e faz-nos entrar na vida trinitária.
O Pai é a fonte da alegria. O Filho é a sua manifestação, e o Espírito Santo é o animador. Logo após louvar o Pai, como diz o evangelista Mateus, Jesus nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (11,28-30). A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”. (Exort. ap. Evangelii gaudium, 1).
Deste encontro com Jesus, a Virgem Maria teve uma experiência totalmente singular e se tornou “causa da nossa alegria” (causa nostrae laetitiae). Os discípulos, por sua vez, receberam o chamamento para estarem com Jesus e foram convidados por Ele a evangelizar (cfr Mc 3,14), e assim, foram inundados pela alegria. Por que também nós não entramos neste rio de alegria?
4. “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada”. (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2). Portanto, a humanidade tem grande necessidade de alcançar a salvação proporcionada por Cristo. Os discípulos são aqueles que se deixam conquistar sempre mais pelo amor de Jesus e envolver pelo fogo da paixão pelo Reino de Deus, para serem portadores da alegria do Evangelho. Todos os discípulos do Senhor são chamados a alimentar a alegria da evangelização. Os bispos, como primeiros responsáveis do anúncio, têm o dever de favorecer a unidade da Igreja local no compromisso missionário, levando em conta que a alegria de comunicar Jesus Cristo se expressa seja na preocupação de anunciá-lo nos lugares mais remotos, seja na constante saída às periferias de seu território, onde há mais pobres que o aguardam.
Em muitas regiões, escasseiam vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Muitas vezes, isto se deve à ausência, nas comunidades, de um fervor apostólico contagioso, e por isso, são pobres de entusiasmo e não suscitam atração. A alegria do Evangelho brota do encontro com Cristo e da partilha com os pobres. Encorajo, portanto, as comunidades paroquiais, associações e grupos a viver uma vida fraterna intensa, baseada no amor a Jesus e atenta às necessidades dos mais desfavorecidos. Onde há alegria, fervor, desejo de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas. Dentre estas, as vocações laicais à missão não devem ser esquecidas. Aumentou a consciência da identidade e da missão dos fiéis leigos na Igreja, assim como a percepção de que eles são chamados a assumir um papel cada vez mais relevante na difusão do Evangelho. Por isso, é importante a sua adequada formação, em vista de uma ação apostólica eficaz.
5. “Deus ama ao que dá com alegria” (2 Cor 9,7). O Dia Mundial das Missões é também um momento para reacender o desejo e o dever moral da alegre participação na missão ad gentes. A contribuição económica pessoal é sinal de uma oblação de si mesmos, primeiramente ao Senhor, e depois aos irmãos, para que as ofertas materiais sejam instrumento de evangelização de uma humanidade que se constrói alicerçada no amor.
Queridos irmãos e irmãs, neste Dia Mundial das Missões, o meu pensamento dirige-se a todas as Igrejas locais. Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização! Convido-vos a envolverem-se na alegria do Evangelho e alimentar um amor capaz de iluminar a vossa vocação e missão. Exorto-vos a recordarem-se, como numa peregrinação interior, do “primeiro amor” com o qual o Senhor Jesus Cristo aqueceu o coração de cada um, não por sentimento de nostalgia, mas para perseverar na alegria. O discípulo do Senhor persevera na alegria quando está com Ele, quando faz a sua vontade, quando partilha a fé, a esperança e a caridade evangélica.
A Maria, modelo de evangelização humilde e alegre, dirigimos a nossa oração para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos e possibilite o nascimento de um novo mundo.
FRANCISCO
Vaticano, 8 de junho de 2014, Solenidade de Pentecostes