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Entrevista com Joaquim Paulino Bernardes – Administrador E. Leclerc

Tendo a Voz de Lamego uma matriz cristã, procurámos entrevistar um ou outro empresário que obteve sucesso no espaço territorial da Diocese de Lamego e cujo empreendedorismo lhes permitiu criar vários postos de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento da região, mas igualmente com uma componente social, com ligações mais ou menos estreitas à Igreja. Com a colaboração do Pe. José Ferreira, pároco da Sé e Cónego do Cabido, lançamos questões sobre o relacionamento com os funcionários e sobre a função social da riqueza.

Será possível conjugar investimento e compromisso cristão? Ser empresário de sucesso sem sacrificar as pessoas a números e percentagens?

Foram a estas e outras questões que o Sr. Joaquim Bernardes, administrador do hipermercado E. Leclerc de Lamego, respondeu, revisitando também a sua vida, nomeadamente como emigrante e, no regresso a Portugal, as etapas que o levaram a enveredar pelo movimento E. Leclerc, fixando-se em Lamego.

Voz de Lamego – Agradecemos, desde já, a oportunidade em nos conceder uns momentos para conversar connosco. Como é que se tornou aderente do movimento E.Leclerc?

Fui imigrante em França entre a década de 70 e 80 e conheci o E.Leclerc como cliente.

Os supermercados distinguiam-se dos restantes pela defesa constante do poder de compra dos consumidores em todas a áreas de consumo: combustíveis, produtos alimentares, moda, livros, auto, etc… Os preços eram de facto muito mais baratos. Na localidade em que vivia, no distrito de Lyon, reparei que um pequeno comerciante que conhecia pessoalmente e onde também fazia compras, abriu um supermercado E.Leclerc na periferia da cidade e que explicou-me que o fundador do grupo E.Leclerc, o Sr. Edouard Leclerc, autorizava que comerciantes independentes abrissem uma loja com o seu nome desde que vendessem mais barato, trabalhassem em âmbito famíliar (marido e mulher trabalhariam lado a lado) e repartissem os resultados da empresa com todos seus colaboradores.

Quando no início da década de 90 regressei a Portugal, abri um minimercado na cidade do Cartaxo e vi nascer os primeiros grandes supermercados e hipermercados. Conhecendo a missão da marca E.Leclerc em França, estabeleci contactos, e, após muita burocracia e dificuldades que tive que ultrapassar, consegui abrir com a minha esposa o E.Leclerc de Lamego em dezembro de 1996.

Como é que funciona o movimento E.Leclerc?

É um movimento cooperativo em que a empresa familiar, constituída por um casal, é proprietária do seu ponto de venda e são também coproprietários da marca E.Leclerc, tornando-os responsáveis pelo legado do seu fundador, o Sr. Edouard Leclerc. A sua missão, na década de 40 (pós-segunda guerra mundial) era ajudar os Franceses a acederem a produtos alimentares a preço baixo, comprando grandes quantidades de produtos para os vender mais baratos, tornando-se, por isso, este movimento precursor da distribuição moderna. É uma história muito rica de grandes combates sempre a favor dos consumidores e que os leitores podem conhecer em (http://movimento-leclerc.pt/)

Passado tantos anos do início desta cadeia de supermercados E. Leclerc, ainda se mantêm os objetivos que estiveram na génese da sua fundação?

Sem dúvida. Esta missão mantém-se válida e é hoje atualizada do ponto de vista social e dos valores que a norteiam. A titulo de exemplo no E.Leclerc promovemos: um consumo responsável (não vendemos crédito ao consumo); igualdade e ética no local de trabalho; a compra a fornecedores e produtores locais, apoiando assim o tecido económico local; a descentralização das competências e das decisões, beneficiando diretamente a qualificação e o número de empregos gerados por loja em oposição a grupos centralizados; o apoio as iniciativas culturais, sociais e desportivas locais que respondem ás solicitações da população local;

Como foi mudar de terra e fixar-se em Lamego?

Eu e a minha esposa mudamo-nos em 1995 com a convicção, desde o primeiro momento, que seria uma mudança definitiva. E assim foi. Considero-me hoje um Lamecense e em conjunto com a minha família criámos laços, amizades e afinidades que dão sentido à nossa vida e, no meu caso particular, à minha missão pessoal. Descobri gente de fibra e perseverante que muito estimo e respeito, pois acompanharam-nos do ponto de vista pessoal e profissional. Refiro-me também a todos os colaboradores com quem trabalho e com quem já trabalhei.

Como é a sua relação com os colaboradores?

Somos uma equipa familiar e todos conhecem as suas responsabilidades e a sua missão. Dispõem de uma grande autonomia e de um ambiente trabalho saudável podendo falar comigo sobre qualquer questão, sempre que o entenderem.

Esta é uma empresa de gente com “fibra”, em que mais de 30% dos colaboradores têm mais de 20 anos de casa e apenas 2% são contratos a prazo. Tentei sempre fazer do local de trabalho dos meus colaboradores um porto de abrigo, promovendo situações laborais estáveis. Gostaria de enumerar as boas memórias e histórias que guardo com os meus colaboradores ao longo de 25 anos, mas seria necessário escrever um livro. Aproveito a oportunidade para reconhecer publicamente o empenho e o valor de todos os homens e mulheres que comigo vão construindo e consolidado esta casa. A todos quero manifestar a minha gratidão.

Quantos são?

Nas épocas sazonais, de verão e natal, somos mais, mas a média anual são cerca de 130 colaboradores diretos e cerca de 15 indiretos (seguranças, limpeza e reposição externa).

Conhece-os pessoalmente?

É evidente que os conheço. Como é que posso cumprimentá-los e falar com eles se não souber o seu nome? Atualmente, tenho 40 funcionários que trabalham comigo há mais de 20 anos.

Alguns dos colaboradores são mesmo a segunda geração dos que começaram em 1996. Ou seja, trabalham os pais, os filhos e quem sabe, um dia, os netos. Infelizmente, a memória atraiçoai- me algumas vezes, levando a alguma troca de nomes.

Promove algum momento de convívio?

Sim, formais e informais, mas o mais simbólico é a organização anual do jantar de Natal que envolve sempre um número elevado de colaboradores na preparação e planeamento. É uma noite de partilha entre todos, em que distribuímos presentes aos mais jovens e festejamos os valores cristãos desta época.

São também beneficiários dos resultados da empresa?

Em 24 anos de atividade reparti todos anos, parte dos resultados da empresa com os colaboradores. É justo que, se contribuíram para os lucros da empresa, possam também beneficiar de uma gratificação em função do seu empenho e mérito. Os restantes resultados são investidos, localmente, de forma a melhorar continuamente as condições da atividade e desempenho da empresa.

Pensa que o respeito pela ética no trabalho também beneficia economicamente a empresa?

Sem dúvida, que isso é um imperativo que se impõe. Com base nas minhas convicções religiosas e valores pessoais que cultivo, não poderia ter   outra missão que não fosse promover os valores éticos e morais no trabalho, nomeadamente, encorajando um ambiente de trabalho saudável, de respeito mútuo e assente na honestidade. Quando se têm profissionais com um sentido ético no desempenho do seu trabalho, e com valores morais, há menos possibilidade  de furtos, desvios ou corrupção e isso também é importante dentro de uma organização e na sociedade em geral, como sabemos.

Este é um jornal regionalista… De que modo a região tem beneficiado da atividade da empresa?

Julgo que já fui respondendo a esta questão, mas podemos resumir da seguinte forma: emprego de mão de obra mais qualificada nas lojas, fruto de uma gestão mais descentralizada; a promoção de carreiras profissionais a longo prazo da quase totalidade dos seus colaboradores; a partilha dos lucros e dos resultados alcançados há mais de 24 anos; apoiamos e privilegiamos a produção local, permitindo o acesso de pequenos produtores de todas as áreas de produção; a possibilidade de contratar prestadores e empresas locais de serviços e de indústria para as suas necessidades locais, reforçando as sinergias; graças à nossa rede de dimensão europeia, conseguimos propor aos clientes produtos de grandes marcas, mas também os de marca própria, a preços muito baixos. Os nossos clientes reconhecem-no e quem compra sabe que aqui as compras ficam mais baratas. É esta a nossa missão.Posso concluir que as populações locais podem aceder a uma oferta de produtos e serviços que geralmente só estão acessíveis em centros urbanos de maior dimensão. Mas a missão E.Leclerc é precisamente disponibilizar tudo a preços baixos;

De que modo a sua formação cristã o tem influenciado no seu agir empresarial?

Reconheço que, nestas duas décadas a empresa tem apoiado, economicamente, iniciativas de carácter religioso, no âmbito paroquial da cidade, mas também doando géneros alimentares e não só, a inúmeras iniciativas sociais, culturais e religiosas em várias centenas de milhares de euros. Mas neste campo, prefiro que sejam as associações, as instituições da Igreja local, e mesmo os beneficiários diretos a destacar o papel humanitário da empresa. Fi-lo sempre pelas minhas convicções religiosas sem esperar nada em troca. A minha formação espiritual tem ajudado a saber humanizar a empresa e a dar-lhe um sentido de proximidade com os mais necessitados, quando há campanhas humanitárias.

A sua empresa tem contribuído para iniciativas na região?

Sem dúvida. Tentamos sempre que possível, participar em iniciativas várias e ajudar as instituições que prestam assistência à população e na organização de eventos que promovem o concelho e a região.

Embora a ajuda não deva ser interesseira …pode atrair mais clientes?

As empresas devem desenvolver o seu papel social em função das emergências e necessidades sociais da região em que se insere. Como cristão, este é um papel natural feito de forma desinteressada, mas cujo reconhecimento emerge de forma lenta. Tenho o privilégio de perceber ao longo de 25 anos, que contribuímos para as melhorias das condições de muitos concidadãos, clientes, mas também não clientes. Confirmo que em prazos longos e com decisões consistentes as políticas sociais geram reconhecimento.

É possível conjugar lucro, ajudando a fixar famílias?

Claro que sim. Trabalhamos todos no sentido de desenvolver a empresa e o setor do comércio e serviços e, nesse sentido, apoiar o desenvolvimento local. Ao manter e criar emprego, as pessoas têm um rendimento estável que lhes permite fixarem-se no concelho e concelhos limítrofes e manterem um nível económico e social estável, diminuindo a emigração.

Que diria a alguém que queira investir na região?

A realização nesta área não advém do resultado económico direto, sendo, contudo, essencial para a continuidade da atividade se projetar a longo prazo, desenvolvendo sinergias com o tecido económico e social locais.

Como é que lidou com este tempo de pandemia?

Com muita esperança e paciência. Foi um desafio a uma escala global com consequências negativas do ponto de vista social e económico. A nível laboral foi difícil, pois enfrentamos um momento imprevisível e sem precedentes, mas contei sempre com o empenho e a colaboração dos funcionários que se esforçaram muito para mantermos todos os nossos serviços a funcionar com qualidade e segurança. Por outro lado, também verifiquei maior disponibilidade e tempo para um recolhimento e maior convívio com a família.

É possível ser cristão e ser empresário de sucesso? Como conciliar?

Acredito seriamente que sim. É possível ser cristão em toda e qualquer circunstância e em qualquer contexto. É este o desafio de ser cristão no século XXI. Os cargos de maior responsabilidade para com a sociedade são hoje submetidos a enormes pressões de lucros a curto prazo, às vezes sem olhar a meios, mas não devemos ceder naquilo em que acreditamos. É uma questão de coerência e de verdade para quem acredita e orienta a sua vida pela mensagem do Evangelho.

in Voz de Lamego, ano 91/30, n.º 4612, 8 de junho de 2021

Entrevista Voz de Lamego: Presidente do Município da Mêda, Dr. Anselmo de Sousa

Retomamos o périplo pelos Municípios pelos quais se estende a Diocese de Lamego. Esta semana viajamos até à Mêda para ouvirmos o Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal, Dr. Anselmo Antunes de Sousa.

Natural de Cavernães, concelho de Viseu, cedo abraçou a Mêda como sua terra. De uma família dedicada a agricultura, chegou a estudar no Seminário Maior de Viseu. O destino acabaria por o levar para uma carreira profissional dedicada ao ensino. Nesta área assumiu cargos diversos para além da profissão professor. Foi membro do concelho diretivo do Agrupamento de Escolas de Mêda, e orientador de vários projetos educativos e estágios. Casado, pai de um filho, foi eleito vereador no Município de Mêda em 2009, acabando por ser eleito presidente 4 anos depois. Exerce o seu segundo mandato como presidente de câmara. Com uma forte dedicação à causa social e ao associativismo, assume igualmente o cargo de provedor da Santa Casa da Misericordia de Mêda, e integra ainda associações como os Bombeiros Voluntários de Mêda, o Sporting Clube de Mêda e diversas associações culturais e desportivas.

Voz de Lamego – A pandemia do novo coronavírus colocou-nos a todos em alerta. A resposta, como em tantas situações, passa pela intervenção local, em que o Presidente do Município tem um papel essencial, de coordenação e intervenção. Como tem vivido o concelho estes tempos? Principais necessidades e constrangimentos…

Anselmo Sousa – De facto, esta pandemia virou o nosso mundo ao contrário. Literalmente. De repente, todos fomos obrigados a rever as nossas prioridades. E os Municípios, enquanto instrumento da administração autónoma do Estado, pela sua proximidade junto das populações, e pela amplitude das suas atribuições, que vão desde a ação social à proteção civil, foram chamados a dar resposta imediata aos efeitos desta pandemia. No caso do concelho de Mêda, a situação viveu-se de forma ambígua. Os primeiros 10 meses da pandemia passaram de forma serena, com resultados muito satisfatórios. Tivemos alguns casos de COVID, mas sempre em cadeias de contágio devidamente identificadas. No período entre o natal e o ano novo, fomos atingidos de forma brutal, com diversos surtos que atingiram a comunidade de forma avassaladora. E assim, de repente, encontramo-nos com um dos maiores índices per capita de contágio do país.  Mas não baixamos os braços. Continuamos a focar a nossa ação em dar resposta às necessidades, focando-nos no principal: ajudar os que mais precisam. Assim, numa ação concertada com IPSS’s, Bombeiros, Juntas de Freguesia, Voluntários e outras forças vivas do concelho, foi possível dar resposta à altura do exigido. O impacto dos surtos nos lares de idosos foi particularmente exigente. Porque afetou utentes das instituições, funcionários, e suas famílias. Mas a nossa resposta foi eficaz. 

VL – O impacto económico foi certamente notado nas empresas e nas famílias. Que medidas foram implementadas pelo Município para acorrer às diferentes situações e para minimizar os prejuízos e as dificuldades sentidas?

Desde a primeira hora nos mantivemos atentos às necessidades impostas por esta situação. Nas mais variadas vertentes. A interrupção das aulas obrigou-nos a encetar esforços na aquisição de equipamento informático de forma a possibilitar aos alunos sem recursos o acesso a um ensino de qualidade. Ao nível do apoio às famílias, mantivemos a distribuição de refeições escolares ao domicílio para famílias carenciadas. Colocamos diversos programas em prática com vista ao auxílio a pessoas de mobilidade reduzida ou portadoras de doença crónica, entregando compras e medicamentos ao domicílio. E claro, por termos noção do impacto económico desta pandemia, implementamos um largo programa de apoio ao comércio e à restauração, apoiando financeiramente os pequenos negócios que tinham sido obrigados ao encerramento forçado da sua atividade.

VL – As IPSS´s de toda a região foram chamadas a prestar um apoio social decisivo à população, ao mesmo tempo que tiveram de cumprir apertadas medidas de segurança. Como foi a resposta das Instituições Sociais no Concelho? Que papel coube à Câmara?

Reforçamos o apoio às IPSS’s do concelho, uma vez que estas instituições são verdadeiros parceiros na prestação de serviços e no acompanhamento de pessoas com dificuldades. Este apoio teve a vertente financeira, com reforço do apoio monetário a estas instituições, de forma a fazerem face às necessidades emergentes, e teve a vertente de apoio logístico num amplo programa de distribuição de equipamentos de proteção individual por todas as instituições. Ao mesmo tempo, isentamos por um largo período todas as IPSS’s do pagamento de diversas taxas municipais. Tudo com o propósito de facilitar a atividade destes nossos parceiros, cujo papel na mitigação dos efeitos desta pandemia, tem sido da mais elevada importância. Pela proximidade que têm junto dos mais vulneráveis, principalmente dos mais idosos, uma estreita colaboração com as IPSS’s do nosso território é da mais elevada importância para o sucesso duma ação de resposta conjunta.

VL – O turismo, fundamental na nossa região, foi amplamente afetado, com um decréscimo acentuado no número de visitantes. A restauração, a hotelaria, pequenas empresas, produtos com a marca do Concelho, viram-se em grandes dificuldades. Foi adotada alguma medida especial para este setor e que expetativas tem para a atividade turística para o concelho em 2021?

O programa de apoio ao comércio e à restauração foi um primeiro passo dado pelo município, no propósito de mitigar os efeitos da pandemia neste sector, cuja importância no nosso desenvolvimento económico local é inegável. Este programa destaca-se pela sua ambição, principalmente se tivermos em conta as capacidades financeiras do nosso Município. Fizemos um esforço considerável para colocar estas medidas em prática, exigindo um esforço no nosso orçamento na ordem dos 300.000€. No entanto não queremos ficar por aqui. Neste momento estamos a estudar um reforço destas medidas de apoio, dedicadas ao sector da hotelaria e do alojamento local. Esperamos poder lançar este reforço em breve.

VL – Nesse sentido, ainda, como é que foi a coordenação das medidas a implementar entre o poder local, bem no interior do país, e os organismos centrais? E já agora, a inserção na CIM-BSE tem contribuído para uma resposta conjunta mais coordenada e eficiente?

As Comunidades Intermunicipais – principalmente na falta das tão badaladas, mas ainda inexistentes, regiões administrativas – acabam por se tornar numa espécie de unidades intermédias entre as autarquias locais e a administração central. No nosso caso, sempre prevaleceu um espírito solidário e de parceria com todos os municípios da CIM. No entanto, cada Município tem a sua realidade, as suas prioridades, os seus eixos estratégicos e a sua agenda própria. No que à resposta á pandemia diz respeito, cada município implementou as suas medidas, em função das suas capacidades e claro, conforme a sua vontade política. A CIM-BSE é um instrumento importante para a promoção de um trabalho em rede entre os municípios, em prol do desenvolvimento da região. Mas esta situação que o país atravessa, veio provar, mais uma vez, a importância do Poder Local. Principalmente nos territórios do Interior. Os Municípios e as Juntas de Freguesia foram instrumentos de combate à Pandemia, fundamentais no apoio às populações.

VL – A dinâmica dos municípios foi igualmente decisiva neste contexto. Mas, apesar dos constrangimentos, os projetos em curso continuaram. O que gostaria de ver concretizado até ao final deste mandato autárquico?

Exatamente. A vida continua, e a atividade municipal não para. Este ano revela-se bastante importante para nós. Existem diversos projetos já em execução, bem como outros em fase adiantada de implementação, que são conquistas que há muito o nosso território exigia. A nova Área de Acolhimento Empresarial, por exemplo, já se encontra a concurso. Um investimento de cerca de 2 milhões de euros que vem dar resposta a uma necessidade de longa data. Esta valência assumirá um papel importantíssimo no desenvolvimento do nosso tecido empresarial local em muito curto prazo. No sector do turismo, uma área tão importante para o nosso território, demos recentemente inicio à construção do Centro Interpretativo de Longroiva, dedicado ao tema da presença templária naquela aldeia do Alto Douro Vinhateiro. A barragem do regadio da Coriscada continua a ocupar um lugar central nas nossas pretensões. Principalmente pela importância que este investimento assumiria para o desenvolvimento agrícola do nosso concelho. Continuamos a batermo-nos pela sua concretização, num processo que sabemos difícil e moroso, mas do qual não desistimos.

VL – Para alguém que visita o concelho, como o apresentaria? Que caraterísticas distintivas tem este território, do ponto de vista económico e empresarial, cultural e patrimonial?

O nosso slogan é a nossa imagem de marca: Onde o Douro Encontra a Serra. Esta pequena frase congrega muito da nossa identidade. Somos um concelho orgulhoso no seu passado mas de olhos postos no futuro. Presamos por manter índices de qualidade de vida acima da média, que nos tornam num território convidativo para viver, visitar ou investir. A nossa riqueza, reflete-se na qualidade dos nossos produtos, com destaque para o vinho, mas não só, fruto da conjugação do trabalho do Homem e da Natureza. Temos Património e Cultura. Temos Gastronomia e Lazer.  Mas a nossa principal riqueza é a nossa gente. Gente de afetos, amiga e hospitaleira, herdeira de uma solidariedade ancestral, que se expressa diariamente na arte de bem receber quem nos visita.

VL – A população concelhia, a exemplo do que acontece em todo o interior português, envelhece e diminui. Que consequências se avizinham? Como contrariar o êxodo da população a que assistimos e favorecer a sua fixação entre nós? Como vê, a partir do lugar que ocupa, a situação do País? Tendo em conta também os tempos que se avizinham…

É do conhecimento comum que o nosso país possui esta inclinação para o litoral. As causas estão mais que dissecadas. O atual governo tem o mérito de ter trazido o futuro do interior do país para a frente do debate político. O que precisamos agora é de consistência. Porque não é em meia dúzia de anos que revertemos um problema que tem mais de um século. O problema da desertificação não é um problema do interior. É um problema do país! Como se reverte? Com políticas consistentes, persistentes, estruturantes e, muito importante, consensuais entre os principais decisores políticos. A criação do Ministério da Coesão Territorial foi um bom passo inicial. A capacidade da Ministra Ana Abrunhosa para liderar este ministério é, em meu entender, inquestionável. Mas precisamos de ganhar tração. O cenário é, como diz, preocupante. Mas, pessoalmente, recuso-me a baixar os braços. Temos de criar condições de fixação de pessoas. Que os jovens aqui constituam as suas famílias. Para isso, precisam de emprego. Para existir emprego tem de existir investimento, público e privado. São muitas variáveis numa equação complexa. Neste momento, ainda não estamos a viver os efeitos económicos desta pandemia. Os próximos anos serão difíceis. Manifesto alguma preocupação quando não vejo, por exemplo, no Plano de Recuperação e Resiliência, grande importância dedicada aos territórios de baixa densidade. Acredito que aqui residirá uma parte importante da resposta à crise. Pela preponderância de setores como a agricultara e o turismo por exemplo. Mas não só. Se há algo que a pandemia nos trouxe foi uma nova forma de encararmos o trabalho, e o nosso relacionamento com ele. Os nossos territórios serão destinos privilegiados para pessoas com possibilidade de trabalho à distância, bem como na criação de espaços de coworking, por exemplo. Haverá, a este nível uma nova realidade à qual convém estarmos atentos.

VL – A menos de um ano do fim do atual mandato autárquico, que balanço faz do trabalho realizado?

Tem sido um mandato atribulado. Metade ficará inevitavelmente marcado pela pandemia, e pelos desafios que nos colocou. Haverá ainda muito para fazer. Mas, analisando de uma forma global estes últimos anos tenho de congratular-me pelo trabalho realizado. Iniciamos projetos importantes. Efetuamos obras importantes para o concelho, com um investimento considerável. O balanço é manifestamente positivo. É com base nesse balanço que tomei a decisão de me apresentar novamente a eleições, e dessa forma me submeter, mais uma vez, ao julgamento democrático dos cidadãos.

VL – Que mensagem de esperança e de estímulo gostaria de transmitir aos seus munícipes para este novo ano?

Os tempos que atravessamos são difíceis. Não o nego. Quiçá mais difíceis que qualquer um de nós imaginaria há cerca de 1 ano atrás. Mas não podemos esmorecer. Os desafios atuais impõem resiliência e, acima de tudo, união. Tenho a certeza que superaremos mais este obstáculo, e que, não tarda, poderemos voltar a partilhar momentos de alegria e de fraterno convívio. Não posso terminar sem deixar a todos uma palavra de esperança no futuro.

in Voz de Lamego, ano 91/22, n.º 4604, 13 de abril de 2021

D. António Couto no programa Ecclesia: Ressurreição de Jesus Cristo

D. António Couto foi convidado especial do Programa da Igreja Católica na RTP 2, Ecclesia, abordando a Paixão e Morte de Jesus Cristo, em programa emitido em Sexta-feira Santa, no passado dia 3 de abril, e o mistério da Ressurreição, programa emitido em Segunda-feira de Páscoa, 6 de abril. Aqui disponibilizamos esta segunda entrevista com o nosso Bispo:

À conversa com José Fonseca Soares | Novo Sacerdote a 6 de julho

No próximo domingo, o presbitério da nossa Diocese ganha um novo membro, com a ordenação sacerdotal do Diácono José Fonseca Soares. Natural do arciprestado de Lamego, da paróquia de S. João Batista de Avões, entrou já depois dos trinta anos no Seminário Maior de Lamego, onde frequentou o respectivo curso no Instituto Superior Douro e Beiras, em Viseu, e na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, em Braga. Ordenado Diácono em novembro último, na Solenidade de Cristo Rei do Universo e Dia da Igreja Diocesana, viveu o seu estágio diaconal nas paróquias de Nossa Senhora da Piedade de Queimadela (Armamar), S. João Batista de Figueira e São Martinho de Valdigem (Lamego), sob orientação do respectivo pároco, Cón. José Manuel Pereira Melo. Ao longo desse período residiu no Seminário Maior, redigindo também o seu trabalho académico final, que entregou há poucos dias. Encontra-se, nestes dias, em retiro em Avessadas.

A nossa diocese dá graças ao Senhor da Messe por esta vida e esta vocação, ao mesmo tempo que reza pedindo ao nosso Deus que abençoe e acompanhe sempre este novo sacerdote na sua missão.

Pode ler na íntegra a entrevista feita pela voz de Lamego ao Diácono José Fonseca Soares:

À CONVERSA COM… Diácono José Fonseca Soares

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Para os nossos leitores, quem é o Diác. José Soares?

É uma pergunta que nunca pensei, nem nunca fiz a mim próprio esta pergunta. Mas vou tentar. Sou um homem comum, simples que sorri e chora como qualquer outro, de um coração humano, que bate no peito de um homem. Um pecador, a quem o Senhor chamou para a sua Messe. A máxima que sempre esteve comigo foi esta: “Onde está teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6,21). E é também  o meu lema sacerdotal.Este texto é para mim o fundamento da perseverança na fé de qualquer cristão e de num modo particular para alguém que decide consagrar-se inteiramente a Deus como sacerdote. Espero, com a graça de Deus, fazer dele uma referência, uma “regra de vida”, que norteará o meu ministério. Creio que este texto  se poderiamos dizer, um termómetro para percebermos onde está o centro da nossa atenção, da nossa vida. Se descuidarmos dele corremos o risco de correr em vão, como diz S.Paulo. (Gl 3,4).

Como tem sido o teu estágio pastoral?

Tem sido bastante profícuo. Muito enriquecedor e muito intenso, com muito dinamismo. Foi uma boa experiência; o estar todos os dias com as pessoas, falar com elas, numa relação de respeitabilidade, de carinho que nutrem sempre com alguém de novo que vai trabalhar para a paróquia… E claro que aprendi pastoralmente, com o orientador Sr. Con. José Melo que sempre me auxiliou em tudo o que talvez teria mais dificuldades.

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O tempo do Seminário chegou ao fim, mas não o tempo da formação. Como pensas manter esse ritmo?

O tempo de formação vai prosseguir, e a Igreja tem sempre essa preocupação de recomendar aos sacerdotes para que cuidem da formação. Embora não saiba o que me espera no futuro. Para já, graças a Deus, entreguei a minha tese, que irei apresentar e defender em breve. Com a ajuda de Deus, superei esta etapa.

A partir da experiência entretanto conseguida, como vês a formação recebida no Seminário e na faculdade de Teologia?

Eu diria assim: eu vejo os dois num só: a base fundamental para um melhor crescimento santo e sábio de um sacerdote. Ler mais…