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Entrevista com Miguel Duarte, Diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Douro-Lamego

Miguel Duarte disse-nos que quando aceitou o desafio para o cargo de Diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Douro-Lamego tinha como principal missão dar continuidade ao grande projeto que já tinha iniciado há mais de 20 anos.
O seu maior desafio é que a Escola tenha um papel determinante no desenvolvimento do território do Douro, ser um centro de inovação e competitividade na área da Gastronomia. O seu maior propósito é ter uma escola com o propósito de Educar e Formar para a Sustentabilidade o destino Douro, promovendo um consumo sustentável dos recursos endógenos da região.
“Estou há dois anos como diretor da escola, têm sido 2 anos atípicos, entrei com um desejo e ambição enormíssima, mas rapidamente vi tudo isso condicionado pela pandemia. Este é um setor de formação que é muito penalizado com a questão da pandemia porque a transição para o online só pode ser feita em algumas vertentes, pois seria impossível juntar a componente prática e o online”.
Apesar de todo o contributo que o diretor e a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro Lamego já deram à região, Miguel Duarte mostra que há vontade para contribuir muito mais, ajudar a resolver problemas da região e valorizá-la.
“Daqui a 10 anos espero ainda estar a trabalhar no setor, se possível, neste território. Com todos os projetos que temos em mãos espero que, num futuro próximo, esses projetos estejam a dar frutos e sejam reconhecidos, não só pelas pessoas que estão envolvidas, mas também para que, quem nos visita, possa desfrutar de um território mais coeso em termos territoriais, mas coeso a nível social e mais sustentável. Uma das minhas metas passa por valorizar esta região, que tem imenso para oferecer”.
Um dos grandes objetivos desta região é que haja um território que trabalhe em rede e, desde que a escola se instalou em Lamego, uma das coisas que tentou promover foi a ligação com o meio, privilegiando bastante a rede de contactos que tem, privilegiando os parceiros.
“O nosso sucesso é também o sucesso dos nossos parceiros. Temos uma ligação muito forte com as câmaras municipais, há uma relação bastante boa com a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego, desenvolvemos também imensos projetos com a universidade de Trás-os-Montes na área da gastronomia e alimentação e ainda com todas as escolas profissionais do interior”.
A Escola de Hotelaria e Turismo do Douro Lamego conta agora com 270 alunos inscritos, muitos deles oriundos de outras cidades, que acabam por residir em Lamego.
“Muitos dos alunos estão deslocados da residência da família, o que faz com que os docentes tenham a preocupação de dar um acompanhamento mais personalizado aos alunos. Nas residências fazemos muitas sessões de cinema, leitura, teatro e muitas outras atividades. Fazemos isso para que os alunos sintam que têm aqui uma comunidade muito próxima deles”.
Miguel Duarte falou ainda das oportunidades que quer que os alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Douro Lamego tenham. Grande parte das escolas do nosso setor estão situadas no litoral, havendo apenas três escolas no interior, mas isso não preocupa o diretor.
“O facto de sermos das poucas escolas do interior, faz com que pareça que estamos distantes do mundo global, o que não acontece. Hoje em dia nós conseguimos colocar Lamego e o Douro. É por isso que faço questão que os meus alunos participem em concursos e atividades, sei que, se participarem, são os melhores”.
Todo este esforço, para que os seus alunos se mantenham entre os melhores da sua área, tem dado frutos, tendo mesmo alunos a representar o país, fora de portas.
O aluno da Escola de Hotelaria e Turismo do Douro-Lamego, Gonçalo Graça, conquistou recentemente o primeiro lugar da categoria de Cozinheiro Aprendiz no concurso Interescolas 2021.
A prova foi organizada pelas escolas do Turismo de Portugal. Gonçalo Graça, que estuda no curso de Gestão e Produção de Cozinha, garantiu a sua participação nos Encontros Europeus da Associação Europeia de Escolas de Hotelaria e Turismo que se vai realizar na Estónia.
O concurso Interescolas teve lugar no início deste mês de junho, contando com a participação de 12 escolas e perto de 100 alunos que competiram durante três dias na Escola de Vila Real de Santo António, no Algarve. Em prova estiveram 12 categorias ligadas às áreas de formação ministradas nas escolas de hotelaria e turismo do país.

O diretor, Dr. Miguel Duarte, está otimista em relação ao próximo ano letivo e apela a todos os que realmente gostam da área de hotelaria e turismo a juntarem-se à equipa da Escola de Hotelaria e Turismo do Douro-Lamego.
As candidaturas à Escola de Hotelaria e Turismo do Douro Lamego estão abertas, até 20 de julho, através de um processo online e gratuito, disponível em escolas.turismodeportugal.pt, para alunos nacionais e estrangeiros.
Cozinha, Pastelaria, Restauração e Bebidas, Hotelaria/Alojamento são alguns dos cursos disponíveis, com uma forte componente ligada ao desenvolvimento pessoal, às soft skills e à preparação dos jovens para uma ação ambiental e socialmente responsável. No último ano, 93% dos candidatos conseguiu colocação no Curso/Escola da sua primeira opção.
No próximo ano letivo, é também reforçada a aposta na capacitação das empresas e formação dos profissionais em novas áreas emergentes do turismo, como o Turismo Literário, Turismo de Luxo, Turismo de Saúde e Bem-Estar, bem como, no segmento da alimentação saudável, com uma nova oferta em Cozinha e Pastelaria Vegetal.
Perante os desafios dos últimos meses, a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro Lamego tem vindo a introduzir mudanças significativas na sua organização e metodologia de formação, adequando-as à mudança digital acelerada que pauta o setor. Em 2021/2022, a Escola irá continuar a apostar no processo de transformação digital que consolidará as soluções de ensino à distância, a produção de suportes pedagógicos digitais e de apoio ao estudo.
Para preparar os profissionais do futuro com competências adequadas às exigências do setor do turismo, que acrescentem valor às empresas, que atuem com responsabilidade, ética e sustentabilidade e que assegurem um serviço de qualidade focado nos clientes e no desenvolvimento de experiências únicas, é essencial rever modelos e conteúdos, utilizar a tecnologia e os recursos digitais, mas também, criar projetos colaborativos com outras escolas e outras entidades e, sobretudo, com as comunidades locais e as empresas.
Neste sentido, a EHTDL procura dinamizar conteúdos nas áreas do digital, da sustentabilidade, da gestão, do marketing e vendas, novos conteúdos cognitivos nas áreas da análise de dados, do pensamento crítico e analítico e nas áreas colaborativas, gestão das emoções, da ética, da comunicação e relação social, da flexibilidade e adaptabilidade, da criatividade e autoaprendizagem.
Têm, igualmente, vindo a adicionar novos suportes tecnológicos e digitais, como softwares colaborativos, plataformas educativas e suportes digitais a processos de aprendizagem autónoma, mas também, criado parceiras colaborativas com outras escolas e universidades, empresas e as comunidades locais, ultrapassando as barreiras físicas da escola e estruturando um novo conceito de escola, enquanto comunidade de aprendizagem.
Paralelamente, têm vindo a ser introduzidas novas metodologias de educação-formação, com projetos piloto de aprendizagem baseada em projetos, de aprendizagem experiencial e de aprendizagem integrada, onde a formação deixa de estar focada na transmissão de conhecimento para estar focada na geração de competências através da resolução de situações concretas, do envolvimento em projetos reais, na resolução de questões identificadas nas empresas e nas comunidades. Através da concretização de experiências reais, os alunos vão desenvolvimento competências efetivas de pensamento analítico, de tomada de decisão, de liderança e de comunicação, adaptando-se e aprendendo a ser flexíveis, relacionais, focados nas soluções, empreendedores e inovadores.

O novo ano letivo 2021/2022 será focado na capacitação das equipas, em que se pretende enriquecer a Bolsa de Formadores com mais talento, em que será feito um reforço das parcerias nacionais e internacionais com outros níveis de ensino, e um maior investimento em novos meios e recursos digitais e tecnológicos para consolidar a área de inovação da escola.
Os grandes desafios da Escola nos próximos anos:
A EHTDouro Lamego pretende ser uma alavanca no desenvolvimento do território do Douro
- Apoiar o Douro como um Pólo de Inovação e Competitividade.
- Ajudar a tornar o Douro como um Território Ambientalmente Sustentável e Socialmente Inclusivo.
- Apoiar o Douro como um Território em Rede, suportado em parcerias institucionais.
Projeto Centro Enogastronómico do Douro
- Valorizar o património cultural do Douro através da promoção da Gastronomia enquanto marca distintiva da Região.
- Preservar e promover a autenticidade dos produtos locais na gastronomia através da sua qualificação.
- Manter viva a tradição de uma gastronomia que foi criada com os produtos da terra respeitando a lógica da sazonalidade.
- Contribuir para a preservação da memória culinária do Douro.
- Dar fôlego aos produtores locais contribuindo para a divulgação dos seus produtos e promovendo o enriquecimento local.
- Identificar a gastronomia Duriense em função das disponibilidades/necessidades locais e também das festas e tradições.
- Promover um encontro profícuo e cada vez mais ativo entre a gastronomia local e os vinhos do Douro.
Esperamos, assim, contribuir para a competitividade e qualidade do serviço prestado pelas empresas.
Queremos ser uma escola referência nas boas práticas “Km 0”, uma escola que trabalha em rede alargada com parceiros Institucionais e com os agentes económicos do setor.
Queremos ser uma escola Inclusiva e socialmente responsável e interveniente no seu ambiente territorial e agentes do setor do Turismo.
Seguindo sempre o nosso propósito “Educar e Formar para a Sustentabilidade o destino Douro, promovendo um consumo sustentável dos recursos endógenos da região”.
in Voz de Lamego, ano 91/32, n.º 4614, 23 de junho de 2021
Semana Nacional da Educação Cristã – 21 a 30 de outubro de 2016
EDUCAR – PROPOR O CAMINHO PARA UMA VIDA PLENA
A educação integral é essencial para promover o desenvolvimento harmonioso das pessoas e para alicerçar a justiça, a paz e o bem-estar das sociedades. Portanto, é pela educação que podemos preparar um futuro com esperança.
Por isso, educar é uma tarefa gratificante sem deixar de ser complexa e árdua, nomeadamente no nosso tempo. Assim o reconhece o Papa Francisco na Exortação “A Alegria do Amor” em que dedica um capítulo à missão educativa da família (Cap VII: Reforçar a educação dos filhos).
Perante os desafios da sociedade atual, o papel dos educadores (pais, encarregados de educação, professores, catequistas) não pode ser o de controlar ou de resolver todos os problemas mas “gerar processos de amadurecimento da liberdade dos filhos, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia” (AL 261). Deste modo, “a educação para a maturidade comporta a tarefa de promover liberdades responsáveis que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência” (AL 262). Ler mais…
Apontamento social: Educação e Escolha
Confesso que o meu envolvimento nesta questão é só como contribuinte. Não sou aluna nem Professora, não tenho filhos nem netos a estudar e não possuo qualquer interesse económico ou outro em qualquer estabelecimento privado de ensino. Mas pago impostos e gosto de saber em que é gasto parte do que ganho com o meu trabalho. Dito isto, vamos analisar o que se passa:
- Há estabelecimentos privados que recebem apoios estatais para receber alunos, quaisquer alunos, da área correspondente;
- Tanto quanto sei, recebem por turma um valor aproximado ao que essa turma gastaria no ensino público;
- Tanto quanto sei, a maioria tem boas condições para receber esses alunos, o que não é certo no ensino público em que as escolas que receberam chão de mármore e candeeiros do Arquiteto Siza Vieira andam a par com as que não têm pavilhão para atividades desportivas e/ou chove nas salas de aula;
- Não vejo nos media pais/alunos de estabelecimentos privados a protestar porque não há Professores a tempo, porque o Professor falta muito pois adoeceu e não foi substituído, porque não há auxiliares, porque as salas são muito frias, porque as turmas estão sobrecarregadas ou porque não há Professores de apoio para o ensino especial;
- Tanto quanto sei, os alunos que entram para o ensino privado com este tipo de contrato com o Estado vêm da Central de Matrículas da zona, pelo que as turmas são muito heterogéneas, têm filhos de classe média, alta, famílias necessitadas, crianças e jovens institucionalizados…e ninguém paga. Parece-me bem mais justo e democrático que o sistema de distribuição de bolsas de estudo pelo Estado a alunos em colégios privados, tão pouco fiscalizado, criando situações em que, no mesmo estabelecimento de ensino uns paguem e outros não, quando muitos dos que recebem bolsas exibem sinais exteriores de riqueza que tornam muito suspeita a necessidade desse apoio… Suponho que este segundo caso é um bem pior “assalto” ao bolso do contribuinte.
- Tanto quanto sei, vários diretores de escolas públicas já disseram que estão sobrelotados; apesar disso, alguns deles disponibilizaram-se para receber mais alguns se forem feitas obras para os acolher! Não será solução se afinal vamos gastar mais dinheiro em obras!
- Tanto quanto sei, o desemprego gerado pelos cortes nas comparticipações será significativo num setor que já tem muitos desempregados, e não é linear que esses empregos transitem para o setor público – pelos antecedentes será mais fácil imaginar mais horas para os professores já empregues e mais alunos por turma; afinal a ideia é economizar, certo?
- Tanto quanto sei, os alunos parecem gostar das suas escolas e os pais de os lá ter. Será que isto não é importante? A quem incomoda esta situação?
Após esta pequena reflexão a minha conclusão é que o problema, para certas pessoas, está na gestão! É privada! O Estado não mete o “tentáculo”! E digo eu, pela confusão que se vê no ensino público a cada arrancar dum novo ano letivo isso não será uma mais-valia?! E não poupará, afinal, o dinheiro do contribuinte?
I.M., in Voz de Lamego, ano 86/31, n.º 4367, 14 de junho de 2016
Educar na sobriedade e na temperança
«Não é nada lógico dar aos meus filhos tudo aquilo que eles me pedem. Se o fizesse, converter-me-ia num “pai fixe”, mas esta expressão parece-me sinónima de “pai cúmplice”. Estaria a ser conivente com a sua falta de sobriedade. Penso que nós, pais, necessitamos da virtude da fortaleza para não transigirmos com os caprichos dos nossos filhos».
Sábias palavras pronunciadas por um pai de uma família numerosa. Nos dias de hoje, é necessária valentia da parte dos pais para proporem aos seus filhos um estilo de vida sóbrio e temperado. Um estilo de vida que não está nada na moda!
Primeiro, devem fazê-lo com o próprio exemplo. Já diz o famoso ditado: “quem não vive o que ensina, não ensina nada!”. Além disso, somente se os pais são sóbrios é que percebem que a sobriedade é um bem de enorme valor para os seus filhos.
Depois, é necessário dar aos filhos razões válidas pelas quais vale a pena viver um estilo de vida assim. Sendo conscientes de que as mensagens que os filhos recebem todos os dias na publicidade, nos meios de comunicação, dos colegas da escola vão, habitualmente, em sentido contrário: quanto mais consumires, mais feliz serás!
Raciocinar com os filhos com paciência. Que cada filho compreenda que é amado pelo que é, não por aquilo que tem ou pela sua “imagem”. Criar uma atmosfera familiar na qual se note que o verdadeiramente importante são as pessoas e não as coisas.
Um ponto de capital importância neste esforço educativo é estimular a generosidade dos filhos com os mais necessitados. Fazê-los compreender que, geralmente, somente uma pessoa que é sóbria e temperada, consegue ter sensibilidade para as necessidades dos outros e fortaleza para os ajudar com generosidade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4301, ano 85/14, de 17 de fevereiro de 2015
NOTA DA VIGARARIA GERAL: Direção do Ensino Religioso nas Escolas
Nota da Vigararia Geral
A Vigararia Geral da Diocese de Lamego informa que, sendo necessário dar resposta aos projetos pastorais diocesanos a levar a efeito pelo Departamento Diocesano do Ensino Religioso nas Escolas, o Sr. D. António José da Rocha Couto, Bispo de Lamego, procedeu à nomeação de uma nova Direção, que ficou assim constituída:
Diretor: Pe. Paulo Manuel Esteves Cardoso
Responsável: Prof. João Ferraz Cardoso
Vogais: Prof. Albino José Teixeira Pinto
Prof. Mário Miguel Ferreira Rodrigues
Prof. Simão Pedro Oliveira Carvalho
O Senhor D. António manifesta a todos a sua gratidão pela inteira disponibilidade de cada um, deseja-lhes os maiores êxitos nesta sua missão e concede-lhes as faculdades necessárias para o recto desempenho das suas funções.
Lamego, 10 de fevereiro de 2015
Pe. Joaquim Dias Rebelo, Mons. Vigário Geral da Diocese de Lamego
EDUCAÇÃO | educar em sintonia
Educar em sintonia
Para que a educação seja eficaz é necessário que o pai e a mãe eduquem os seus filhos em sintonia um com o outro. Isto requer, em primeiro lugar, muita sensibilidade. Se não se cultiva essa delicadeza, acaba-se por retirar a autoridade ao outro cônjuge quando se vê uma situação educacional de um modo diferente.
Os filhos, para serem bem-educados, necessitam de um pai e de uma mãe que se amem e se respeitem de verdade. Quando é fácil e quando é difícil. Quando tudo corre bem e quando ficam tensos por diferentes situações da própria vida.
E como notam os filhos que os seus pais se respeitam um ao outro? No modo como dialogam entre si e como sabem ceder em assuntos que não possuem especial importância. A confiança e a proximidade não podem fazer perder nunca o respeito ― primeira manifestação de um verdadeiro amor.
Os filhos têm de ser testemunhas de que os seus pais sabem ouvir-se um ao outro, falam com delicadeza e sem levantar a voz, não se retiram a autoridade mutuamente quando pensam de um modo diferente. E, ponto de capital importância, nunca discutem entre eles diante dos filhos.
A educação é uma arte e os pais não podem esquecer que não educam nunca sozinhos: têm de saber ouvir e respeitar a sensibilidade do outro progenitor que, por ser diferente, possui uma visão complementar da educação.
Os filhos necessitam das sensibilidades paterna e materna para crescerem sãos e confiantes. Alguém dizia que, quando chegam aos sete anos, os filhos ouvem do seu pai: «Sobe mais um degrau na tua vida». E, simultaneamente, ouvem da sua mãe: «Fá-lo com cuidado e não te aleijes». Os dois conselhos são importantes e complementares.
O carinho real que os filhos recebem dos seus pais deve ser uma sobreabundância do carinho que o pai e a mãe têm entre si. É desse carinho que eles procedem. E é esse carinho, em primeiro lugar, que os faz sentir seguros.
Resumindo: os pais devem educar-se a si mesmos e educar-se entre si para poderem educar os seus filhos em sintonia e com verdadeira eficácia.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria, in VOZ DE LAMEGO, 21 de outubro de 2014, n.º 4285, ano 84/47
A ESCRAVIDÃO DO IMEDIATO
«É necessário ajudar os jovens a superarem a escravidão do imediato. Para isso, eles têm de compreender que a liberdade que possuímos não consiste tanto em fazer aquilo que nos apetece, mas sim em fazer o bem porque o queremos de verdade. Ser livre não é a mesma coisa que ser caprichoso. A liberdade não nos foi dada somente para escolher iogurtes num hipermercado».
Que palavras tão sábias! Numa época em que temos tanta sensibilidade para este conceito (liberdade), também temos de tomar cuidado para não ficarmos somente numa visão empobrecida e reduzida do que ela significa.
Na educação dos filhos, é muito conveniente ensinar-lhes a serem ponderados no exercício da sua liberdade. É preciso que aprendam a decidir perguntando-se antes: isto que me apetece é conveniente para mim? É uma necessidade real, ou é um simples capricho? É justo gastar este dinheiro quando tantas pessoas por aí estão a passar dificuldades?
Na tarefa educativa, os pais têm de ajudar os filhos a quererem de verdade aquilo que é o melhor para eles, e a não se deixarem levar pelo que é mais atraente à primeira vista. Isto é o que significa superar a escravidão do imediato.
No entanto, existe uma característica da vida hodierna que não facilita nada essa superação: a falta de ponderação. É com a ponderação que uma pessoa pode suscitar em si mesma essa força de vontade que a faz atrasar uma satisfação imediata, por ter em vista um bem maior pelo qual vale a pena esforçar-se.
Os jovens têm de perceber que a liberdade é uma certa abertura ao infinito. Nós, cristãos, sabemos que ela é um dom gratuito de Deus, que Ele nos deu precisamente para chegarmos até Ele e não nos contentarmos somente com os iogurtes do hipermercado.
A liberdade é uma capacidade radical. A juventude sempre gostou desta palavra porque é radical por definição. Mas se os jovens não entenderem bem esta capacidade, podem acabar por chegar à brilhante conclusão de que ela deve servir para fazer desportos radicais. Desportos que têm imensa “piada” precisamente porque vão unidos à “emoção” de arriscar a própria vida.
A liberdade é uma capacidade radical de sermos protagonistas da nossa própria vida. De sermos os nossos próprios pais. De sermos aquilo que de verdade queremos ser.
Como tantas vezes nos repetiu João Paulo II, a liberdade não é só, nem sobretudo, uma escolha de algo concreto, mas, dentro dessa escolha, uma decisão sobre nós mesmos. A pessoa constrói-se ou destrói-se através dos seus próprios actos. Isso é o que significa ser livre.
Por isso, a escravidão do imediato é um problema de falta de liberdade. Ou talvez seja, antes disso, uma consequência lógica de acharmos que temos essa capacidade só por causa dos iogurtes.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria, in VOZ DE LAMEGO, n.º 4280, de 16 de setembro de 2014