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Posts Tagged ‘Cón. João Teixeira’

São Sebastião… contra fome, a guerra e a peste

Em tempos idos, era muito frequente, nas nossas casas, após a recitação do Terço, invocar São Sebastião para interceder aos céus que nos livrasse da fome, da guerra e da peste. Por causa de toda esta devoção, este santo tornou-se muito popular embora a sua vida seja pouco conhecida. Há muitas igrejas, capelas e ermidas que lhe são dedicadas e são inúmeras as festas que lhe são promovidas. Foi sobretudo por alturas das pestes do século XVI que a sua fama começou a difundir-se. As cidades de Milão, em 1575, e de Lisboa, em 1569, acometidas por este flagelo, viram-se livres dele após atos públicos de súplica a este grande mártir.

Conta-se que, quando terminou a peste que assolou a capital portuguesa, o rei D. Sebastião mandou erigir um templo em sua honra, sendo a primeira pedra lançada junto à margem do Tejo, no Terreiro do Paço. Quatro anos depois (1573), o Papa enviou-lhe de Roma uma das setas com que o santo foi martirizado.

A sua popularidade pode ser avaliada pelas largas dezenas de povoações de que é padroeiro. D. Sebastião foi, aliás, baptizado com o seu nome, em 1554, por ter nascido a 20 de Janeiro, dia em que se assinala a morte do mártir.

O braço de São Sebastião, conforme refere a Crónica do Padre Amador Rebelo, terá sido furtado em Itália. Foi, depois oferecido, em 1527, por Carlos V, Imperador da Alemanha, a D. João II, que o mandou depositar no Mosteiro de São Vicente de Fora,

São Sebastião nasceu em Narvonne, na actual França, no final do século III. Desde muito cedo, os seus pais ter-se-ão mudado para Milão. Seguindo o exemplo da mãe, Sebastião revelou-se forte e piedoso na fé.

Ao chegar à maioridade, alistou-se nas legiões de Diocleciano, que ignorava que Sebastião era cristão.

A prudência e a coragem do jovem militar impressionaram de tal modo o Imperador que o nomeou comandante da sua guarda pessoal.

Nesta posição, Sebastião viria a tornar-se o grande defensor e protector dos cristãos detidos em Roma naquele tempo.

Visitava com frequência as vítimas do ódio anticristão, e, com palavras de ânimo, consolava os candidatos ao martírio aqui na terra, dizendo-lhes que receberiam a coroa de glória no Céu.

Secretamente, conseguiu converter muitas pessoas. Até o governador de Roma, Cromácio, e o seu filho Tibúrcio foram convertidos.

Acontece que acabou por ser denunciado por estar a contrariar o seu dever de oficial da lei romana. Teve, então, que comparecer diante do Imperador.

Diocleciano sentiu-se traído e ficou perplexo ao ouvir Sebastião declarar-se cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao Cristianismo, mas Sebastião defendeu-se com firmeza.

O Imperador, enfurecido diante dos argumentos, terá ordenado aos seus soldados que o matassem a golpes de flecha. Tal ordem foi imediatamente executada. Num descampado, os soldados despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore e atiraram sobre ele uma chuva de flechas. Depois, tê-lo-ão abandonado para que sangrasse até à morte.

À noite, Irene, esposa do mártir Castulo, foi, com algumas amigas, ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que ele ainda estava vivo. Desamarraram-no e Irene escondeu-o em sua casa, cuidando das suas feridas.

Passado algum tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar a missão evangelizadora. Em vez de se esconder, apresentou-se de novo ao Imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos.

Diocleciano ignorou olimpicamente as advertências de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos e determinou que fosse espancado até a morte.

Para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, atiraram-no para o esgoto público de Roma. Só que uma piedosa mulher, Luciana, sepultou-o nas catacumbas.

Tudo isto aconteceu no dia 20 de Janeiro de 287. Mais tarde, em 680, as suas relíquias foram solenemente transportados para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje.

Naquela época, uma terrível peste devastava Roma, vitimando muitas pessoas. Desapareceu completamente a partir do momento da trasladação dos restos mortais deste mártir, que passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, a fome e a guerra.

 

Pe. João António Pinheiro Teixeira, in Voz de Lamego, ano 89/07, n.º 4493, 15 de janeiro de 2019

Concertos de Natal no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios

Teve início no passado domingo, a seguir à recitação do Terço, o primeiro concerto de Natal pelo Coro PIETATE da Paróquia de Queimadela, incluído num programa de quatro “(En)cantos de Natal” (Grupo Fortaleza Jovem-Lamego, Coro da Santa Casa da Misericórdia de Lamego e Coro do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios), a ter lugar a 3-8-10-17/12. Estes eventos são da responsabilidade do Santuário, nesta época de Advento, e dirigidos a todos que gostem de música sacra produzida por Coros bem conhecidos dos Lamecenses.

Sob a batuta do Dr. Alberto Carreira, o Coro Pietate apresentou músicas litúrgicas, intercaladas com música mais popular alusivas à época, prendendo a auditório que preenchia totalmente os bancos do Santuário. Foi um concerto bem conseguido e aplaudido, que estou certo agradou a todos os que presenciaram. Parabéns ao “Coro Pietate” pelo seu desempenho e postura!

Inédito como refriu o Dr. João António, Reitor do Santuário e bonito dizemos nós, pela qualidade musical que nos transmitiram. Uma abertura com chave de ouro deste ciclo de concertos que apesar do frio que se fazia sentir, 3º, chamou àquele templo muitos devotos de Nossa Senhora dos Remédios.

Como curiosidade dizer que Queimadela é uma pequena freguesia do concelho de Armamar, plantada num planalto de terras produtivas, ao lado do monte de S. Domingos, e que se vislumbra desde a cidade de Lamego…

Parabéns aos responsáveis pelo Santuário por congregarem e partilharem estas manifestações culturais e religiosas de cânticos, a todos quantos apreciam…

 

João Duarte Rebelo “Festa”, in Voz de Lamego, ano 87/53, n.º 4439, 5 de dezembro de 2017

Santos, esses (quase) desconhecidos… São João Esmoler

sao-joao-esmolerOs pobres eram os seus senhores

Habitualmente, é pelo nome que somos conhecidos. Mas há vidas que se tornaram tão marcantes que até foram acopladas ao nome.

São João Esmoler (não vai ser difícil perceber porque é que aparece este sobrenome) nasceu em Chipre, foi funcionário do imperador, enviuvou e veio a ser patriarca de Alexandria por volta de 610. Espantou toda a gente com uma pergunta que fez à chegada: «Quantos são aqui os meus senhores?»

Como ninguém percebeu o alcance, ele descodificou: «Quero saber quantos pobres temos. Eles são os meus senhores, pois representam na terra Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Mt 25, 34-46). Dependerá deles que eu venha a entrar no Seu reino». Fizeram o apuramento. Havia 7500 pobres, que ficaram a receber, todos os dias, uma boa esmola.

É claro que as críticas não demoraram. Que havia alguns que não eram pobres, antes mandriões. Réplica cortante do Bispo: «Se não fôsseis não curiosos, não o saberíeis. Curai-vos da vossa intriga e curiosidade e deixai-me em paz. Prefiro ser enganado dez vezes a violar, uma vez que seja, a lei do amor».

Diz a história que o cofre nunca se esvaziou. A quem lhe agradecia ele respondia: «Agradece-me só quando eu derramar o meu sangue por ti; até lá, agradeçamos, os dois juntos, a Nosso Senhor Jesus Cristo».

Ninguém tinha coragem de lhe negar nada. Só que alguns costumavam sair, furtivamente, da igreja antes do fim da Santa Missa. Sucede que o Bispo saía também e, de báculo na mão, juntava-se a eles cá fora intimando-os: «Meus filhos, um pastor deve estar com o seu rebanho; por isso, venho ter convosco. Mas não posso ficar aqui e não me posso cortar em dois; que iria ser das minhas ovelhas que estão lá dentro?» Desde então, toda a gente esperava pelo fim da Santa Missa para sair.

Dizem que, muito mais tarde, também Bossuet repetia: «Nossos senhores, os pobres». De facto e como assinalou Bento XVI, «o pobre é sempre uma surpreendente aparição de Deus».

Pe. João António Pinheiro Teixeira, in Voz de Lamego, ano 86/49, n.º 4385, 1 de novembro de 2016

Tempo, espaço e vivências de Nossa Senhora dos Remédios

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O rosto de Lamego

A igreja do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios foi escolhida, mais uma vez, para a cerimónia de apresentação de um livro, da autoria do Reitor daquele espaço diocesana, Pe. João António Pinheiro Teixeira. Aconteceu na tarde do passado domingo e contou com muitas presenças, entre as quais as de D. António Couto e de D. Jacinto Botelho.

Rosto que provoca

“O rosto de Lamego. Tempo, espaço e vivências de Nossa Senhora dos remédios”, nas suas mais de 500 páginas, é, segundo o Comissário da Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, Dr. Manuel Teixeira, o resultado de um grande esforço de investigação por parte do autor e o fruto de uma enorme dedicação daquele sacerdote, oferecendo a todos uma “história do santuário actualizada”. Ler mais…

Apresentação do livro do Pe. João Teixeira: SEMPRE EM MUnDANÇAS

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Oitenta quadros com títulos claros e títulos incisivos

Sempre em Mundanças

A igreja do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios encheu-se para a apresentação do mais recente livro do padre João António Pinheiro Teixeira, intitulado “Sempre em Mundança – inquietações e esperanças de um tempo novo”, editado pela Alêtheia Editores.

Entre os presentes, D. António Couto tomou a palavra para sublinhar a pertinência das reflexões agora publicadas, o Dr. Manuel Teixeira, Comissário da Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, foi responsável por uma breve e emotiva apresentação do autor.

No início, foi a Dr.ª Zita Seabra, responsável por aquela Editora, que tomou a palavra para agradecer a presença de todos e para, em nome da sua empresa, agradecer ao autor o ter-lhe enviado o texto para uma possível publicação. E aproveitou para solicitar ao bispo de Lamego a publicação de um livro na sua editora.

D. António Couto, apresentando o livro, começou por dizer que se apresenta como um conjunto de “oitenta quadros com tons claros e títulos incisivos”. Depois, de forma breve e apoiada na observação da história e da sociedade actual, falou da vida humana e da sua liquidificação que vão causando uma perda de profundidade e exigem uma mudança. Para isso, será preciso, entre outras coisas, encontrar os outros de uma forma séria, muito para além do simples clique. E sobre este assunto, referiu ainda a “enorme depressão que arrasa o ocidente”, diante da qual é preciso mais que um restauro e não ter receio de uma verdadeira reconfiguração. Porque estamos diante de uma “sociedade pobre em humanidade, apesar de rica, pesada, técnica, metálica”, à imagem da estátua que Nabucodunosor via em sonhos: os pés de barro não sustentaram tamanho ouro, riqueza e coração metálico.

Depois foi a vez do autor tomar a palavra, fazendo eco da mensagem que o livro apresenta. Todos são convidados a olhar o mundo, apesar do mistério que o envolve, da incapacidade para o entender e das múltiplas explicações que não cessam de aparecer. Diante das mudanças observadas, que causam fascínio e temor, há um convite que é dirigido a cada um, no sentido de mudar por dentro, deixando a superficialidade. Para o conseguir, o autor aconselha o homem de hoje a tomar “vitamina E”, ou seja, “vitamina espiritual”.

No fim da apresentação foi ainda anunciado para o próximo verão, o aparecimento de um novo livro, do mesmo autor, sobre a história do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.

JD, in Voz de Lamego, ano 86/20, n.º 4357, 5 de abril de 2016