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Posts Tagged ‘Comunicações Sociais’

Editorial Voz de Lamego: Escutar com o ouvido do coração

Foi apresentada a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se comemora no Domingo anterior à Solenidade de Pentecostes, em Portugal, no Domingo da Ascensão de Jesus, no passado 24 de janeiro. Neste dia, a Igreja faz a memória de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas e daí que seja o dia marcado, em cada ano, para a apresentação da mensagem papal.

O Santo Padre escolheu como tema: “Escutar com o ouvido do coração”. Não se trata de um processo meramente biológico, mas é algo que envolve a pessoa toda. “A escuta não significa apenas uma perceção acústica, mas está essencialmente ligada à relação dialogal entre Deus e a humanidade. O «shema’ Israel – escuta, Israel» (Dt 6, 4) – as palavras iniciais do primeiro mandamento do Decálogo – é continuamente lembrado na Bíblia, a ponto de São Paulo afirmar que «a fé vem da escuta» (Rm 10, 17). De facto, a iniciativa é de Deus, que nos fala, e a ela correspondemos escutando-O; e mesmo este escutar fundamentalmente provém da sua graça, como acontece com o recém-nascido que responde ao olhar e à voz da mãe e do pai”.

Temos dificuldade em escutar, tal é também a multiplicação de ruído, mas a escuta continua a ser essencial para acolhermos o outro, para nos entendermos, para estreitarmos os laços que nos unem. Uma sociedade saudável terá de ser uma sociedade em que as pessoas se escutam mutuamente, debatendo, dialogando, fazendo propostas, acolhendo o contributo dos outros, escutando não apenas aqueles que nos são favoráveis, mas também os demais. “Estamos a perder a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na teia normal das relações quotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil”.

Podemos usar a audição para espiar e, posteriormente, expor. “De facto, uma tentação sempre presente, mas que neste tempo da social web parece mais assanhada, é a de procurar saber e espiar, instrumentalizando os outros para os nossos interesses”.

Podemos fazer ouvidos de mercador, ouvindo o clamor dos pobres, mas fazendo de conta de que não é connosco. A comunicação, como a informação, precisa da escuta atenta e dialogante, procurando estabelecer pontes. Durante a pandemia, tem prevalecido muita desinformação, caindo-se numa infodemia, demasiada informação que veicula notícias falsas, através da suspeição, criando dúvidas e esquecendo as evidências.

O Santo Padre convida novamente a escutar as pessoas, vítimas da pandemia, da pobreza, da exclusão, migrantes e refugiados, conhecer e contar as suas as histórias. Assim haveria uma consciência mais apurada da realidade e seria mais fácil responder-lhes, indo ao encontro das suas necessidades.

“A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Deus que sempre Se revela comunicando-Se livremente, e, por outro, o homem, a quem é pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta.  No fundo, a escuta é uma dimensão do amor. Só quem acolhe a Palavra com o coração «bom e virtuoso» e A guarda fielmente é que produz frutos de vida e salvação (cf. Lc 8, 15)”.

Não é possível comunicar sem escuta. Há diálogos que não o são de verdade, como quando esperamos que o outro fale para, depois, impormos o nosso ponto de vista, sem verdadeiramente escutar e sem possibilidade de fazer pontes, de nos aproximarmos reciprocamente.

O que vale para a sociedade, vale por maioria de razão para a Igreja. Estamos em processo sinodal, em que a escuta será essencial. Com efeito, “a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs”. O desafio é a escutarmos com o ouvido de Deus. O Papa cita o teólogo Dietrich Bonhöffer, para relevar que “quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de escutar o próprio Deus”.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/12, n.º 4643, 2 de fevereiro de 2022

Voz de Lamego: Já chegámos à Lua… e agora?

No dia 20 de julho de 1969, o homem chegou à lua, sendo Neil Armstrong o primeiro a pisar o solo lunar. Os EUA mostraram o poderio económico e científico. “Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a Humanidade” – foi a frase escolhida por Neil Armstrong para descrever este momento. O mundo podia ver que a humanidade tinha atingido um patamar glorioso ao ponto de ultrapassar o perímetro terrestre.

Tantos avanços que por vezes é quase anedótico ver como todos os dias morrem milhares de pessoas subnutridas, à fome e à sede, e outras tantas que sobrevivem a custo, com doenças, no meio de conflitos, em busca de alimento em lixeiras, a mendigar migalhas aqui e além, a viverem debaixo da ponte, melhor, em nenhures, completamente desprotegidas, à mercê das condições atmosféricas e dos animais selvagens ou à mercê de gangues. Como é que chegámos tão longe e ainda temos vizinhos a lutar por uma casa, um trabalho, um rendimento que chegue para pagar a luz ou o aluguer da casa, ou a água, ou o gás?

No próximo Domingo, 16 de maio, na Festa da Ascensão do Senhor, comemoramos o 55.º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Na Sua mensagem para este dia, de que já demos conta na Voz de Lamego, no início do ano, e disponível da página da Diocese (www.diocese-lamego.pt), o Santo Padre desafia-nos, em particular, aos meios de comunicação social, mas em geral a todos nós, a não ficarmos sentados à espera das notícias, das parangonas, para depois as partilharmos ou fazermos alarde das situações que desconhecemos por inteiro. É necessário gastar as solas do sábado, ir e ver (cf. Jo 1, 46), inteirar-se das situações de indigência. Diante de um ecrã todos os problemas são resolúveis ou, pelo menos, não nos tocam nem as mãos nem o coração. É necessário “ter o cheiro das ovelhas”, estar atentos a cada pessoa, a cada vizinho.

«A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos. A razão, por si só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência cívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade» (Bento XVI).

O convite do Papa Francisco é que a comunicação nos faça encontrar as pessoas onde estão, onde vivem, com as suas preocupações e dificuldades, como são, com a sua cultura e as suas tradições, as suas alegrias e esperanças, as suas dúvidas e os seus sonhos. Neste propósito, importa replicar também as “boas notícias” de quem faz o bem a favor de pessoas concretas e/ou de comunidades.  “É necessário sair da presunção cómoda do «já sabido» e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em algum dos seus aspetos. «Abre, maravilhado, os olhos ao que vires e deixa as tuas mãos cumular-se do vigor da seiva, de tal modo que os outros possam, ao ler-te, tocar com as mãos o milagre palpitante da vida»: aconselhava o Beato Manuel Lozano Garrido aos seus colegas jornalistas”.

Por outro lado, estamos em plena Semana da Vida (9 a 16 de maio), com o desafio: “A vida que nos toca, a vida que sempre cuidamos”. Cuidar da casa comum – um planeta que nos toca; cuidar da vida que nasce – tocar numa nova criatura; cuidar e educar os filhos – tocar o futuro das gerações; cuidar dos nossos jovens – tocar na escolha das vocações; cuidar dos nossos idosos – o passado também nos toca, e cuidar da família – os laços que se tocam. No Evangelho, Jesus toca as pessoas e cura-as. É essa também a missão.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 91/26, n.º 4608, 11 de maio de 2021

UM REPARO: talvez

A conhecida e muito divulgada cimeira tecnológica voltou a Lisboa, arrastando multidões, enchendo bares e hotéis e divulgando a cidade anfitriã. Em ambiente festivo e descontraído, ali se juntam especialistas, individualmente ou em grupo, que querem mostrar e vender produtos, bem como os empreendedores em busca de bons investimentos. Eis um evento mundial que arrasta muita gente e com repercussões na vida de milhões.

Não restam dúvidas sobre a sua oportunidade, nem se negam os benefícios que as novas realidades tecnológicas conferem à vida da humanidade que deles pode usufruir. Contudo, tal desenvolvimento, trazendo conforto e proveito, também apresenta riscos, nomeadamente para o mundo laboral.

O aparecimento de novas soluções tecnológicas vai tomando conta de muitos postos de trabalho e assim vai continuar. Há lugares extintos e profissões que, embora muito conceituadas nestes dias e segundo os estudiosos, correm sérios riscos de virem a desaparecer nos próximos anos, já que as máquinas poderão substituir os humanos nessas tarefas.

Talvez o futuro traga, também, novas profissões que permitam criar novos postos de trabalho.

Talvez reste ao homem mais tempo para contemplar e usufruir, em vez de transformar e produzir.

Talvez avance definitivamente a ideia de um rendimento de subsistência garantido que liberte do trabalho e garanta meios para consumir o que as máquinas produzem.

Talvez venhamos a contemplar um ser humano mais desocupado, o que pode não ser sinónimo de mais realizado.

Talvez se testemunhe mais solidão e mais depressões provocadas pela perda de sentido e pela ausência de razões para continuar.

Talvez se acentuem as desigualdades entre uns poucos que dominam e a maioria que luta para sobreviver.

Talvez as novidades tecnológicas permitam sonhar com um progresso contínuo, sem que tal signifique sempre um real avanço para a realização humana…

JD, in Voz de Lamego, ano 87/50, n.º 4436, 14 de novembro de 2017

Dia Mundial das Comunicações Sociais: Esperança e confiança

“Num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção, e, por conseguinte, não é uma notícia, onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espetáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência ou cair no desespero”

Na mensagem publicada para este dia, “Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo”, o Papa Francisco desafiou os media e os jornalistas de todo o mundo a passar de uma lógica de “notícias más” para uma da “boa notícia”, rejeitando o sensacionalismo e a exploração dos dramas humanos.

“Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e travar a espiral do medo, resultante do hábito de fixar a atenção nas ‘notícias más’ (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falhanço nas vicissitudes humanas)”, referiu, na mensagem para o 51.º Dia Mundial das Comunicações Sociais.

O Papa sublinha que, graças ao progresso tecnológico, o acesso aos meios de comunicação possibilita a muitas pessoas ter conhecimento “quase instantâneo” das notícias, divulgando-as de várias maneiras. “Estas notícias podem ser boas ou más, verdadeiras ou falsas”, observa.

Francisco pede, por isso, que todos se empenhem na promoção de uma “comunicação construtiva” que rejeite os preconceitos e promova uma “cultura do encontro”.

“Num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção, e, por conseguinte, não é uma notícia, onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espectáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência ou cair no desespero”, alertou. Ler mais…

COMUNICAR e PARTILHAR | Editorial Voz de Lamego | 23 de maio

COMUNICAR e PARTILHAR

No próximo domingo celebramos a Ascensão do Senhor, data proposta pela Igreja para assinalar mais um Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social, para o qual o Papa Francisco escreveu a mensagem “Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo”.

Em virtude do progresso tecnológico, a sociedade lança o individuo numa rede de comunicação alargada e exigente que lhe permite relacionar-se, dizer-se e informar-se, determinando a qualidade das relações humanas, já que comunicar é, também, partilhar.

E é sobre a partilha que se faz das notícias que surgem que a mensagem papal trata, alertando para a superficialidade e negatividade que tendem em impor-se quando se deixa de lado a exigência de uma comunicação sadia que, sem cair no optimismo ingénuo, não esconde o mal nem perde a oportunidade de promover o bem.

Daí o apelo papal aos que usam a comunicação social para informar: é preciso quebrar o “círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo” e não ficar apenas no drama e no sofrimento. Numa abordagem “propositiva e responsável” e num estilo comunicador aberto e criativo.

O cristão deve ler a realidade à luz do Evangelho, a Boa Notícia que traz e oferece um sentido à vida, que recorda a cada um o quanto é amado e como todos se podem realizar através do bem que podem fazer na passagem pelo mundo.

A esperança e a confiança, tão arredados de certos ambientes, são realidades que urge assumir e divulgar. Ao seu lado, há protagonistas e factos que não merecem tanta atenção e assuntos tão pouco relevantes e efémeros que não deveriam propagar-se, apesar da curiosidade e atracção que despertam.

A jornada que se anuncia pode ajudar-nos a fixar critérios e opções sobre o que lemos e ouvimos, o que partilhamos e ajudamos a difundir, os meios que utilizamos e os assuntos que tratamos. E, já agora, a maneira como nos expomos.

in Voz de Lamego, ano 87/28, n.º 4413, 23 de maio de 2017

Dia das Comunicações Sociais 2017 | Mensagem do Papa Francisco

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«Não temas, porque Eu estou contigo» (Is 43, 5).

Comunicar esperança e confiança no nosso tempo

O acesso aos meios de comunicação, graças ao desenvolvimento tecnológico, é tal que muitas pessoas têm a possibilidade de partilhar quase instantaneamente as notícias e de as divulgar de forma capilar. Estas notícias podem ser boas ou más, verdadeiras ou falsas. Já os nossos antigos pais na fé falavam da mente humana como de uma mó de moinho que, movida pela água, não se pode parar. Mas o moleiro tem a possibilidade de decidir se quer moer trigo ou joio. A mente do homem está sempre em ação e não pode parar de «moer» o que recebe, mas cabe a nós decidir o material que lhe fornecemos (cf. Cassiano o Romano, Carta a Leôncio Igumeno).

Gostaria que esta mensagem pudesse atingir e todos aqueles que diariamente, seja no âmbito profissional seja nas relações pessoais, «moem» tantas informações para oferecer um pão fresco e bom a quantos se alimentam dos frutos da sua comunicação. A todos quero exortar a uma comunicação construtiva, que, rejeitando os preconceitos contra o outro, favoreça uma cultura do encontro graças à qual se possa aprender a olhar a realidade com convicta confiança.

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Jornadas Nacionais de Comunicação Social | 2016

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Pensar a comunicação na Igreja Católica em Portugal

A Igreja Católica em Portugal quis pensar na comunicação que está a realizar no contexto português. Para isso reuniu os Secretários Diocesanos em Fátima, para «pensar a comunicação», ouvindo-os sobre o que pensam sobre o tema e a vida dos Secretariados, Gabinetes de Comunicação e órgãos de Comunicação Social nas Dioceses, tema que ocupou a tarde do primeiro dia de trabalhos.

Presentes quase todas as Dioceses que viram os seus trabalhos presididos pelos Bispos D. Pio Alves, Presidente da Comissão Episcopal do sector, D. Amândio Tomás e D. João Lavrador; acompanhou todos os trabalhos o P.e Américo Aguiar, Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais. D. Pio Alves saudou os presentes e pediu que falássemos uns com os outros sobre a realidade de cada Diocese e o que de melhor podemos construir. Alvitrou que «não tropeçássemos nas dificuldades», mas víssemos o que somos, o que temos e o que podemos. Também o P.e Américo Aguiar saudou os presentes, agradeceu o esforço feito até este momento e convidou-os a «potenciar as coisas boas», nos locais do trabalho, que vai das paróquias até ao nível diocesano. E os trabalhos da tarde de 22 de Setembro ocuparam o tempo destinado a este tema, que permitiu dizer e ouvir o que se pensa e faz nas diversas Dioceses. Ler mais…

50.º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Comunicar é escutar

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A mensagem do Papa Francisco para o 50.º Dia Mundial das Comunicações Sociais tem uma palavra central: escuta. O texto relaciona comunicação e misericórdia, porque se insere na celebração do Ano Jubilar em curso, e tem uma secção nuclear para expressar o parecer do Papa para o setor dos media, sobre este tema da misericórdia. Sintetiza-se em dois parágrafos onde, em menos de dez linhas, Francisco se refere dez vezes à escuta.

Na primeira mensagem que Francisco escreveu para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2014, o Papa disse que os media podem ter um papel fundamental na promoção de uma “autêntica cultura do encontro”. E em que consiste essa cultura? A resposta surge a partir da parábola bíblica do Filho Pródigo e também pelo exemplo do próprio Papa. De facto, a atitude de ir ao encontro do outro, a decisão de o atender, a disponibilidade cuidar e dar carinho e tempo a todos, nomeadamente os mais frágeis, é uma marca deste pontificado. E é também o maior poder de comunicação do Papa Argentino.

Tive a oportunidade de estar na Praça de São Pedro quando o Papa Francisco percorre os corredores abertos no meio da multidão que o espera para as audiências gerais ou as grandes celebrações. Nestas, sobretudo, o aparente distanciamento em relação ao que acontece e impossibilidade de perceber tudo o que se ouve faz com que o ambiente entre as colunatas de Bernini nem sempre corresponda ao de um templo em céu aberto. Mas, quando o Papa se aproxima, acontece a comunicação, também a comunicação do mistério que se celebra e que é sinal e símbolo da transcendência. Para o testar, não chegam argumentos, é necessário participar, estar por lá pelo menos uma vez para comprovar a determinação de Francisco em se encontrar com todos e verificar a força comunicativa destes gestos, para além das palavras.

Na Praça de São Pedro ou em Lesbos, na sede das Nações Unidas ou nas Favelas do Rio de Janeiro, no Parlamento Europeu ou em Lampedusa, na Casa Branca ou na prisão mexicana do Estado de Chihuahua, Francisco torna relevante a sua presença pela promoção do encontro e interessante a sua comunicação pela permanente atitude de escuta.

Em termos meramente técnicos e burocráticos, a escuta emerge como metodologia necessária para o exercício de determinada função ou o cumprimento de uma qualquer obrigação. Por exemplo, no domínio do aconselhamento, da psicologia, da pedagogia e também na gestão de recursos humanos ou no desenvolvimento de estratégias comerciais. Agora, a escuta desafia metodologias de comunicação que, por tradição, assentavam em vias unidirecionais, expositivas. Diante do insucesso destas, procura-se a eficácia pela atenção ao outro, à rede. E, por isso, se afirma a necessidade da escuta.

A escuta proposta pelo Papa Francisco não é resultado de uma estratégia de comunicação, mas da autenticidade de vida, da transparência de um pontificado e da determinação em colocar todas as estruturas e mediações ao serviço de um único objetivo: a vida no seguimento de Cristo.

A exemplo do Bom Samaritano, a escuta proposta pelo Papa Francisco não se preocupa em “reconhecer o outro como um meu semelhante”, mas passa pela angústia constante de tudo fazer para ser “semelhante ao outro”. E esta diferença tem repercussões enormes. Também na definição de estratégias de comunicação! A primeira diz-se com três verbos: Comunicar é escutar.

Paulo Rocha, in Voz de Lamego, ano 86/22, n.º 4361, 3 de maio de 2016

Mensagem do Papa Francisco: Dia Mundial das Comunicações Sociais

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MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO PARA O 50º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

«Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo»

[8 de Maio de 2016]

Queridos irmãos e irmãs!

O Ano Santo da Misericórdia convida-nos a reflectir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. Com efeito a Igreja unida a Cristo, encarnação viva de Deus Misericordioso, é chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.

Como filhos de Deus, somos chamados a comunicar com todos, sem exclusão. Particularmente próprio da linguagem e das acções da Igreja é transmitir misericórdia, para tocar o coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude daquela vida que Jesus Cristo, enviado pelo Pai, veio trazer a todos. Trata-se de acolher em nós mesmos e irradiar ao nosso redor o calor materno da Igreja, para que Jesus seja conhecido e amado; aquele calor que dá substância às palavras da fé e acende, na pregação e no testemunho, a «centelha» que os vivifica.

A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade. Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia. As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no digital. Assim, palavras e acções hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio. Ao contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação.

Por isso, queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e reconciliar-se. E isto aplica-se também às relações entre os povos. Em todos estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar, como se exprimiu muito eloquentemente Shakespeare: «A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza, Acto IV, Cena I).

É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar as pessoas em direcção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (…) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 7.9).

Como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis! A misericórdia pode ajudar a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu. O Evangelho de João lembra-nos que «a verdade [nos] tornará livres» (Jo 8, 32). Em última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja misericórdia repassada de mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar a verdade e condenar a injustiça. É nosso dever principal afirmar a verdade com amor (cf. Ef 4, 15). Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa.

Alguns pensam que uma visão da sociedade enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou excessivamente indulgente. Mas tentemos voltar com o pensamento às nossas primeiras experiências de relação no seio da família. Os pais amavam-nos e apreciavam-nos mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos. Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos, mas o seu amor nunca esteve condicionado à obtenção dos objectivos. A casa paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32). Gostaria de encorajar a todos a pensar a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros.

Para isso é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum.

Escutar nunca é fácil. Às vezes é mais cómodo fingir-se de surdo. Escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Na escuta, consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5). Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo.

Também e-mails, sms, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral. Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia, «nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação» (Misericordiae Vultus, 23). Em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha.

A comunicação, os seus lugares e os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir este poder da comunicação como «proximidade». O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade.

Vaticano, 24 de Janeiro de 2016.

Papa Francisco

Mensagem do Papa para o 49.º Dia Mundial das Comunicações Sociais

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MENSAGEM do PAPA FRANCISCO para o XLIX DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

COMUNICAR A FAMÍLIA:

ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor

17 de Maio de 2015

 

O tema da família encontra-se no centro duma profunda reflexão eclesial e dum processo sinodal que prevê dois Sínodos, um extraordinário – acabado de celebrar – e outro ordinário, convocado para o próximo mês de Outubro. Neste contexto, considerei  oportuno que o tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais tivesse como ponto de referência a família. Aliás, a família é o primeiro lugar onde aprendemos a comunicar. Voltar a este momento originário pode-nos ajudar quer a tornar mais autêntica e humana a comunicação, quer a ver a família dum novo ponto de vista.

Podemos deixar-nos inspirar pelo ícone evangélico da visita de Maria a Isabel (Lc 1, 39-56). «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”» (vv. 41-42).

Este episódio mostra-nos, antes de mais nada, a comunicação como um diálogo que tece com a linguagem do corpo. Com efeito, a primeira resposta à saudação de Maria é dada pelo menino, que salta de alegria no ventre de Isabel. Exultar pela alegria do encontro é, em certo sentido, o arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação, que aprendemos ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira «escola» de comunicação, feita de escuta e contacto corporal, onde começamos a familiarizar-nos com o mundo exterior num ambiente protegido e ao som tranquilizador do pulsar do coração da mãe. Este encontro entre dois seres simultaneamente tão íntimos e ainda tão alheios um ao outro, um encontro cheio de promessas, é a nossa primeira experiência de comunicação. E é uma experiência que nos irmana a todos, pois cada um de nós nasceu de uma mãe.

Mesmo depois de termos chegado ao mundo, em certo sentido permanecemos num «ventre», que é a família. Um ventre feito de pessoas diferentes, interrelacionando-se: a família é «o espaço onde se aprende a conviver na diferença» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 66). Diferenças de géneros e de gerações, que comunicam, antes de mais nada, acolhendo-se mutuamente, porque existe um vínculo entre elas. E quanto mais amplo for o leque destas relações, tanto mais diversas são as idades e mais rico é o nosso ambiente de vida. O vínculo está na base da palavra, e esta, por sua vez, revigora o vínculo. Nós não inventamos as palavras: podemos usá-las, porque as recebemos. É em família que se aprende a falar na «língua materna», ou seja, a língua dos nossos antepassados (cf. 2 Mac 7, 21.27). Em família, apercebemo-nos de que outros nos precederam, nos colocaram em condições de poder existir e, por nossa vez, gerar vida e fazer algo de bom e belo. Podemos dar, porque recebemos; e este circuito virtuoso está no coração da capacidade da família de ser comunicada e de comunicar; e, mais em geral, é o paradigma de toda a comunicação.

A experiência do vínculo que nos «precede» faz com que a família seja também o contexto onde se transmite aquela forma fundamental de comunicação que é a oração. Muitas vezes, ao adormecerem os filhos recém-nascidos, a mãe e o pai entregam-nos a Deus, para que vele por eles; e, quando se tornam um pouco maiores, põem-se a recitar juntamente com eles orações simples, recordando carinhosamente outras pessoas: os avós, outros parentes, os doentes e atribulados, todos aqueles que mais precisam da ajuda de Deus. Assim a maioria de nós aprendeu, em família, a dimensão religiosa da comunicação, que, no cristianismo, é toda impregnada de amor, o amor de Deus que se dá a nós e que nós oferecemos aos outros.

Na família, é sobretudo a capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos, entre pessoas que não se escolheram e todavia são tão importantes uma para a outra… é sobretudo esta capacidade que nos faz compreender o que é verdadeiramente a comunicação enquanto descoberta e construção de proximidade. Reduzir as distâncias, saindo mutuamente ao encontro e acolhendo-se, é motivo de gratidão e alegria: da saudação de Maria e do saltar de alegria do menino deriva a bênção de Isabel, seguindo-se-lhe o belíssimo cântico do Magnificat, no qual Maria louva o amoroso desígnio que Deus tem sobre Ela e o seu povo. De um «sim» pronunciado com fé, derivam consequências que se estendem muito para além de nós mesmos e se expandem no mundo. «Visitar» supõe abrir as portas, não encerrar-se no próprio apartamento, sair, ir ter com o outro. A própria família é viva, se respira abrindo-se para além de si mesma; e as famílias que assim procedem, podem comunicar a sua mensagem de vida e comunhão, podem dar conforto e esperança às famílias mais feridas, e fazer crescer a própria Igreja, que é uma família de famílias.

Mais do que em qualquer outro lugar, é na família que, vivendo juntos no dia-a-dia, se experimentam as limitações próprias e alheias, os pequenos e grandes problemas da coexistência e do pôr-se de acordo. Não existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos; preciso é aprender a enfrentá-los de forma construtiva. Por isso, a família onde as pessoas, apesar das próprias limitações e pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O perdão é uma dinâmica de comunicação: uma comunicação que definha e se quebra, mas, por meio do arrependimento expresso e acolhido, é possível reatá-la e fazê-la crescer. Uma criança que aprende, em família, a ouvir os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade.

Muito têm para nos ensinar, a propósito de limitações e comunicação, as famílias com filhos marcados por uma ou mais deficiências. A deficiência motora, sensorial ou intelectual sempre constitui uma tentação a fechar-se; mas pode tornar-se, graças ao amor dos pais, dos irmãos e doutras pessoas amigas, um estímulo para se abrir, compartilhar, comunicar de modo inclusivo; e pode ajudar a escola, a paróquia, as associações a tornarem-se mais acolhedoras para com todos, a não excluírem ninguém.

Além disso, num mundo onde frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia discórdia, polui com as murmurações o nosso ambiente humano, a família pode ser uma escola de comunicação feita de bênção. E isto, mesmo nos lugares onde parecem prevalecer como inevitáveis o ódio e a violência, quando as famílias estão separadas entre si por muros de pedras ou pelos muros mais impenetráveis do preconceito e do ressentimento, quando parece haver boas razões para dizer «agora basta»; na realidade, abençoar em vez de amaldiçoar, visitar em vez de repelir, acolher em vez de combater é a única forma de quebrar a espiral do mal, para testemunhar que o bem é sempre possível, para educar os filhos na fraternidade.

Os meios mais modernos de hoje, irrenunciáveis sobretudo para os mais jovens, tanto podem dificultar como ajudar a comunicação em família e entre as famílias. Podem-na dificultar, se se tornam uma forma de se subtrair à escuta, de se isolar apesar da presença física, de saturar todo o momento de silêncio e de espera, ignorando que «o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras ricas de conteúdo» (Bento XVI, Mensagem do XLVI Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24/1/2012); e podem-na favorecer, se ajudam a narrar e compartilhar, a permanecer em contacto com os de longe, a agradecer e pedir perdão, a tornar possível sem cessar o encontro. Descobrindo diariamente este centro vital que é o encontro, este «início vivo», saberemos orientar o nosso relacionamento com as tecnologias, em vez de nos deixarmos arrastar por elas. Também neste campo, os primeiros educadores são os pais. Mas não devem ser deixados sozinhos; a comunidade cristã é chamada a colocar-se ao seu lado, para que saibam ensinar os filhos a viver, no ambiente da comunicação, segundo os critérios da dignidade da pessoa humana e do bem comum.

Assim o desafio que hoje se nos apresenta, é aprender de novo a narrar, não nos limitando a produzir e consumir informação, embora esta seja a direcção para a qual nos impelem os potentes e preciosos meios da comunicação contemporânea. A informação é importante, mas não é suficiente, porque muitas vezes simplifica, contrapõe as diferenças e as visões diversas, solicitando a tomar partido por uma ou pela outra, em vez de fornecer um olhar de conjunto.

No fim de contas, a própria família não é um objecto acerca do qual se comunicam opiniões nem um terreno onde se combatem batalhas ideológicas, mas um ambiente onde se aprende a comunicar na proximidade e um sujeito que comunica, uma «comunidade comunicadora». Uma comunidade que sabe acompanhar, festejar e frutificar. Neste sentido, é possível recuperar um olhar capaz de reconhecer que a família continua a ser um grande recurso, e não apenas um problema ou uma instituição em crise. Às vezes os meios de comunicação social tendem a apresentar a família como se fosse um modelo abstracto que se há-de aceitar ou rejeitar, defender ou atacar, em vez duma realidade concreta que se há-de viver; ou como se fosse uma ideologia de alguém contra outro, em vez de ser o lugar onde todos aprendemos o que significa comunicar no amor recebido e dado. Ao contrário, narrar significa compreender que as nossas vidas estão entrelaçadas numa trama unitária, que as vozes são múltiplas e cada uma é insubstituível.

A família mais bela, protagonista e não problema, é aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro.

Vaticano, 23 de Janeiro – Vigília da Festa de São Francisco de Sales – de 2015.

FRANCISCO PP.