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Posts Tagged ‘Ano Pastoral de 2014/2015’

MISSÃO DE RESTITUIR | Editorial Voz de Lamego | 7-10-2014

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A primeira edição de outubro, do Jornal Diocesano, Voz de Lamego, remete-nos de imediato para a III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos que ora reúne em Roma, sob a presidência do Papa Francisco, entre os dias 5 e 19 de outubro, culminando com a Beatificação do Papa Paulo VI, refletindo a temática da família. Com efeito, no próximo ano, pela mesma ocasião, reunirá a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, para aprofundar, procurando a unidade, a mesma temática da família.

Como nos habituou, o Jornal traz-nos uma grande variedade de reflexões, que apontam para Jesus Cristo, para o Evangelho, numa dinâmica sobretudo assertiva e acolhedora, desafiando, lançando pistas, promovendo o pensamento e o compromisso. Neste número, continua a dar-se destaque à entrada de novos párocos: Pe. André Pereira em Vila da Ponte (e também em Vila da Rua, Faia, Penso); Pe. António de Almeida Morgado na paróquia de Santa Leocádia de Travanca, na Zona Pastoral de Cinfães; Pe. José Augusto Rodrigues Cardoso, na paróquia de Fornelos, mantendo-se pároco de Nespereira. Nas páginas centrais também a celebração das Bodas de Ouro de Vida Religiosa da Irmã Maria Celeste.

Notícias da Igreja e da Região são outro motivo de interesse na leitura da Voz de Lamego. Mas como introdução o Editorial, que nos faz entrar na Carta Pastoral de D. António Couto.

MISSÃO DE RESTITUIR

Na Carta Pastoral que o nosso bispo endereçou a toda a diocese, e que o nosso jornal publicou na edição anterior, não faltam afirmações e provocações para ler, reflectir e viver. Desta vez, o convite de “restituir para a frente”.

Habitualmente entendemos “restituir” como a acção de entregar algo a quem nos havia emprestado. Ao longo da vida restituímos objectos, valores, terras… E essa acção está sempre voltada para um passado, porque foi lá atrás que alguém nos dispensou algo. Por isso, restituir é voltar atrás, voltar-se para quem está antes e repetir o gesto de dar para igualar e tudo ficar devidamente saldado. No fundo, restituímos para não ficarmos em dívida.

Mas, nas palavras de D. António Couto, “restituir” tem outra direcção e outros destinatários quando se fala de família humana, vivência cristã ou missão pastoral. A melhor forma de agradecer o dom da vida a quem no-la deu é contribuir para a sua continuidade e isso consegue-se participando no aparecimento das novas gerações. Viver a fé é testemunhar uma pertença, dar visibilidade a Cristo, transmitindo para diante, para os outros. Da mesma forma, a missão eclesial de todo baptizado não é esconder ou conservar, mas é mostrar Deus, com a preocupação de avançar, de ir mais longe. Porque ninguém mostra para trás, mas para a frente, onde a vida acontece, o caminho se escolhe e as opções se afirmam.

No passado encontramos o fundamento, as fontes e importantes testemunhos para a fé. Mas é para diante que importa anunciar de forma nova, transmitir com fidelidade e testemunhar com alegria. Só assim honramos quem nos precedeu e testemunhamos gratidão a quem nos transmitiu a fé.

Pe. Joaquim Dionísio, VOZ DE LAMEGO, 7 de outubro de 2014, n.º 4283, ano 84/45

Novo Ano Pastoral | Ide e construí com mais amor a família de Deus

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No passado sábado, 27 de Setembro, o nosso Seminário acolheu mais de duas centenas de agentes pastorais para a abertura do novo ano pastoral, num encontro presidido pelo nosso bispo, D. António Couto. Tal apresentação acontecia, habitualmente, no Dia da Igreja Diocesana, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, com o ano pastoral já em andamento. Este ano, a antecipação permitirá às paróquias organizarem-se tendo como referência a Carta Pastoral de D. António, bem como atentar às data já previstas na calendarização a fixar.

Apesar de estarmos em plena época de colheitas, ver tantos baptizados empenhados na edificação da Igreja foi motivo de alegria e de confiança. Alegria porque tal presença é sinónimo de vitalidade nas nossas comunidades; confiança porque tamanha disponibilidade faz-nos olhar para diante com esperança. E temos a certeza de que muitos mais estão motivados para participar e para marcar criativa e fielmente este nosso tempo.

Na saudação inicial e congratulando-se com a presença de todos, D. António Couto começou por fazer referência ao encontro de irmãos em Cristo, porque “nós vivemos da afirmação da presença de Cristo no meio de nós”. Apesar de, às vezes, nos esquecermos disso, a verdade é que “temos que sentir a presença de Cristo para O mostrar aos irmãos”. Comparando a assembleia reunida e atenta ao fermento que vai ajudar a levedar a massa, sublinhou também o facto de estarmos reunidos enquanto “família diocesana” convocada por Deus.

O plano não faz tudo

O Plano marca o ritmo da diocese, apresentando oportunas sugestões e possíveis iniciativas. Mas não é o mais importante. Porque, por mais minucioso ou bem fundamentado que esteja, um plano só fará sentido e poderá ser uma ajuda se “o coração de cada um estiver habitado pelo Espírito de Deus. Dito de outra maneira, todos os planos estão a mais quando Deus não está no nosso coração”, alertou o nosso bispo.

O instrumento agora difundido tem como finalidade motivar todos para a missão comum que é a de edificar a Igreja, sem nunca esquecermos que “em primeiro lugar está o plano missionário de chegar a todos”. Por isso, o Plano é como os andaimes numa obra: ajudam a que o trabalho seja feito, mas retiram-se quando a tarefa termina, porque o importante é a obra.

Ide: Igreja em saída

O nosso Plano tem como mote “Ide e construi com mais amor a família de Deus”, apresentando alguma semelhança verbal com o do ano passado.

A este propósito, D. António Couto, sublinhou a importância do “ide”, recordação constante das últimas palavras de Jesus aos seus discípulos, quando os enviou ao encontro de todos para anunciar, ensinar, curar, edificar a Igreja.

Tal como no-lo recorda o Papa Francisco, a Igreja não pode descansar, mas deve estar em permanente saída para encontrar o mundo, a vida, o homem. Por isso é importante tal verbo, na medida em que nos recorda que “não podemos ficar aqui”.

Na mesma tónica, o pastor diocesano desafiou todos a serem imitadores “itinerantes” de Jesus que se deslocava de cidade em cidade para encontrar, ao contrário de João Baptista, que protagonizou uma “pastoral de estaca”, ou seja, de alguém que permaneceu quieto e esperou a vinda dos interessados em ouvi-lo e serem baptizados.

Por outro lado, o título faz também referência à família, o que demonstra a vontade da diocese em estar em comunhão com a Igreja universal, ocupada e preocupada com a realidade familiar.

Em seguida, D. António Couto percorreu o texto da Carta Pastoral que escreveu e norteia todo o plano referido, comentando detalhadamente algumas passagens, que não dispensam a leitura integral da mesma.

Convocados e enviados

Após um breve intervalo, o Coordenador da Pastoral diocesana, Cón. José Manuel Melo, apresentou a calendarização proposta. A leitura comentada de algumas passagens permitiu a todos uma melhor compreensão das metas, bem como dos possíveis e comuns percursos.

O encontro continuou depois com a cerimónia do envio em missão. Porque, em Igreja, ser convocado tem como consequência ser enviado. E foi isso que sentiram todos os que vieram dos diversos cantos da diocese.

Uma cerimónia singela, iniciada com a leitura de uma passagem evangélica, a que se seguiu um comentário do nosso bispo. Nesse momento, D. António Couto não deixou de dizer a todos que “o Evangelho é explosivo” e que a mudança esperada no noutro e no mundo começa sempre por uma decisão de mudança pessoal. A este propósito, apresentou o exemplo de S. Francisco de Assis que, voluntariamente desprendido de tudo, revolucionou toda uma época. E concluiu com uma interrogação já proferida aquando da sua participação no último Sínodo: “Porque será que os santos se esforçaram tanto, e com tanta alegria, por ser pobres e humildes, e nós nos esforçamos tanto, e com tristeza, por ser ricos e importantes?”

in VOZ DE LAMEGO, 30 de setembro de 2014, n.º 4382, ano 84/44

Carta Pastoral de D. António Couto | 2014-15 | Ide com mais amor…

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IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS

«Os filhos são um dom de Deus»

(Salmo 127,3)

«Toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

«Sois membros da família de Deus»

(Efésios 2,19)

O amor fontal de Deus-Pai

  1. «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16) e «amou-nos primeiro» (1 João 4,19), e «nós amamos, porque Deus nos amou primeiro» (1 João 4,19). Então, o amor que está aqui, o amor que está aí, o amor que está em mim, o amor que está em ti, o amor que está em nós, «vem de Deus» (1 João 4,7), e «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7). Deus amou-nos primeiro, ama-nos e continua a amar-nos sempre primeiro com amor-perfeito (êgapêménos: part. perf. pass. de agapáô), isto é, amor preveniente, fiel, consequente, permanente (1 Tessalonicenses 1,4; Colossenses 3,12). Ama-nos a nós, que estamos aqui, e foi assim que nós começámos a amar. Se não tivéssemos sido amados primeiro, e não tivéssemos recebido o testemunho do amor, não teríamos começado a amar, e nem sequer estaríamos aqui, porque «quem não ama, permanece na morte» (1 João 3,14), sendo então a morte, não o termo da vida, mas aquilo que impede de amar, e, portanto, de nascer!
  1. Portanto, se «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7), o amor que há em nós é remissivo, remete para outrem, remete para a origem. O que é a origem? A origem é o que está antes do começo, a quem a Bíblia e uma parte da humanidade chamam Deus, e nós, cristãos, por imagem, chamamos «Pai». Nova genealogia do amor: o Pai ama o Filho (João 3,35; 5,20), e ama também o mundo (João 3,16), a ponto de enviar o seu Filho ao mundo para lhe manifestar esse amor (João 3,16; 1 João 4,9-10). Só o semelhante conhece o semelhante, e lhe pode comunicar o seu amor. O Pai ama e conhece o Filho Unigénito, e comunica-lhe o seu amor. Como o Pai ama e conhece o Filho Unigénito, também o Filho Unigénito ama e conhece o Pai (Mateus 11,27), e o pode revelar os seus discípulos fiéis (João 15,9), tendo, para tanto, de descer ao nosso nível, fazendo-se homem verdadeiro, semelhante a nós (Filipenses 2,7; Hebreus 2,17). Na verdade, comunica-nos o amor do Pai, e dá-nos a conhecer tudo o que ouviu do Pai (João 15,15). E nós somos convidados a entrar nesse divino colóquio, a acolher esse amor desmesurado, e a passar a amar dessa maneira, como fomos e somos amados (João 13,34; 15,12).
  1. Assim, o amor que está em nós, ou em que estamos nós, o amor entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre amigos, entre nós, não provém nem de uns nem de outros. Nem sequer de si mesmo. O amor não é meu nem é teu. O amor não é nosso. O amor é dado. Claro. Se «quem ama nasceu de Deus», não é nossa a patente do amor, e temos mesmo de ser extremamente cuidadosos quando pretendemos ajuizar acerca do amor que há nos outros. A antiga equação nivelada: «Ama o próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), é plenificada e subvertida pela equação paradoxal: «como Eu vos amei» (João 13,34; 15,12). Mesmo aqueles que desconhecem a fonte do amor, é dela que o recebem. Neste sentido, em que a fé se une à razão, não é o casal que faz o amor; é o amor que faz o casal. Do mesmo modo que não é o casal que faz os filhos; é o amor que os faz. São um dom de Deus (Salmo 127,3). Atravessa-nos um calafrio quando nos apercebemos que a humanidade transmite, de idade em idade, de pais para filhos, algo de eterno. Amor eterno, tão terrivelmente ameaçado de idade em idade!
  1. É esse amor eterno, primeiro e derradeiro, verdadeiro, que nos faz nascer como irmãos. O lugar que, de forma mais imediata, nos mostra a fraternidade, é a família. E é verdade que, numa família, os filhos, não deixando de ser diferentes na ordem do nascimento, da saúde, da inteligência, temperamento, sucesso, são iguais. E são iguais, não obstante as suas acentuadas diferenças. São iguais, não em função do que são ou do que têm ou do que fazem, mas em função daquilo que lhes é dado e feito. Em função do amor que os precede, o amor dos seus pais, e, em primeira ou última instância, o amor fontal de «Deus-Pai» (Ad gentes, n.º 2), pois nós somos também, diz o Apóstolo, filhos de Deus (1 João 3,2), filhos no Filho (Romanos 8,17.29), membros da família de Deus (Efésios 2,19). É esse amor primeiro que nos torna livres e iguais, logo irmãos. A fraternidade é o lugar em que cada um vale, não por aquilo que é, por aquilo que tem ou por aquilo que faz, mas por aquilo que lhe é feito, antes e independentemente daquilo que deseja, pensa, projeta e realiza, e em que o seu ser é ser numa relação de amor incondicionada, que não é posta por ele, mas em que ele é posto. A verdadeira fraternidade ensina-nos que a nossa consciência não é a autoconsciência daquilo que fazemos, mas a hétero-consciência daquilo que nos é feito e que nós somos sempre chamados a reconhecer e a cantar com renovada alegria, como Maria: «O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas» (Lucas 1,49).

O limiar do mistério em cada nascimento

  1. Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! (Romanos 11,33). Ó abismo do amor de Deus! Caríssimos pais e mães, os filhos que gerais e que vedes nascer, são, antes de mais, vossos ou são de Deus? Dir-me-eis: este filho é nosso, fomos nós que o geramos, fui eu que o dei à luz, nasceu neste dia, tenho aqui a cédula de nascimento. E eu pergunto ainda: sim, mas porquê esse, e não outro? É aqui, amigos, que entra o para além da química e da biologia, entenda-se, o para além de nós. É aqui, amigos, que entramos no limiar do mistério, na beleza incandescente do santuário, onde o fogo arde por dentro e não por fora. É aqui que paramos ajoelhados e comovidos à beira do inefável e caímos nos braços da ternura de um amor maior, novo, paternal, maternal, que nenhuma pesquisa biológica ou química explicará jamais. Todo o nascimento traz consigo um imenso mistério. Sim, porquê este filho, e não outro? Porquê este, com esta maneira de ser, este boletim de saúde, este grau de inteligência, estas aptidões, esta sensibilidade própria? Sim, outra vez, porquê este filho, e não outro, com outra maneira de ser, outro boletim de saúde, outro grau de inteligência, outras aptidões? Fica patente e latente, evidente, que, para nascer um bebé, não basta gerá-lo e dá-lo à luz. Quando nasce um filho, é também Deus que bate à nossa porta, é também Deus que entra em nossa casa, é também Deus que se senta à nossa mesa, é também Deus que nos visita. Há outra paternidade, a de Deus, por detrás da nossa vulgar paternidade, participação da verdadeira paternidade de Deus. Na verdade, «toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

Membros de uma nova família

  1. Há, portanto, também uma nova familiaridade. A partir de Deus. Na verdade, no comportamento Misericordioso de Jesus transparece uma nova familiaridade, que assenta a sua fundação muito para além dos meros laços biológicos e anagráficos das nossas famílias. Prestemos atenção ao luminoso dizer de Jesus no caixilho literário de Marcos:

 «E vem a mãe dele e os irmãos dele, e, ficando fora, enviaram quem o chamasse. E estava sentada à volta dele a multidão, quando lhe dizem: “Eis que a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e procuram-te”. E respondendo-lhes, diz: “Quem é a minha mãe e os meus irmãos?”. E tendo olhado à volta, para os que estavam sentados em círculo ao seu redor, diz: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Na verdade, aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe”» (Marcos 3,31-35).

Ensinamento espantoso de Jesus que põe em causa a validade de uma maternidade e fraternidade meramente biológicas, fundadas sobre os direitos do sangue [«a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs… procuram-te»], para afirmar uma nova familiaridade aberta pelo horizonte novo do éschaton, do último, do primeiro e último, do novíssimo: «aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe». No novo horizonte da vontade do Pai, não se deixa de ser mãe, irmão ou irmã. Não são, porém, esses laços familiares que nos dão direito a amar e a ser amados, mas o termos sido encontrados pelo Amor, que agora somos chamados a testemunhar. «Vós sois testemunhas (mártyres) destas coisas», diz Jesus (Lucas 24,49). Sermos designados por Jesus testemunhas das coisas de Jesus é sermos chamados a envolver-nos de tal modo na história e na vida de Jesus, a ponto de a fazermos nossa, para a transmitir aos outros, não com discursos inflamados ou esgotados, mas com a vida! Sim, aquela história e aquela vida são a nossa história e a nossa vida. Sentir cada criança como filho, cada mulher como mãe e todo o semelhante como irmão ou irmã não é simples retórica, mas a transcrição verbal do novo real compreensível à luz do projeto Criador, Primeiro e Último, em que o mundo aparece como uma única casa e os seus habitantes como uma só família. Nascerá então o mais belo relato. Sim, o relato re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça. E re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça duplamente: primeiro, porque faz uma re-lação dos acontecimentos, unindo-os para formar um belo colar; segundo, porque põe em relação o narrador e o narratário. Sim, quando eu e tu e ele e ela, nós todos, relatarmos a mesma história, e não histórias diferentes, nesse dia luminoso e bendito começamos a nascer como irmãos, não pelo sangue, mas pela liberdade. Sim, só o relato nos pode aproximar tanto, fazendo-nos, não apenas estar juntos, mas nascer juntos, como irmãos. Portanto, irmãos e amigos, deixai que grite bem alto aos vossos ouvidos: mais amor, mais família, mais oração, mais missão, mais formação. Mais. Mais. Mais.

 O sentido da vida recebida e dada

  1. Na origem dos nossos termos «matrimónio» e «património» está o «dom» como «munus», como bem sublinha e explica o famoso linguista francês Émile Benveniste, seguido por Eugenia Scabini e Ondina Greco, no domínio da psicologia social. Munus faz parte de uma rede de conceitos relacionais, que obriga a uma «restituição». Quem não entra neste jogo do munus diz-se immunus, «imune». E voltam as perguntas contundentes: quem recebe a vida, como e a quem a restitui? Salta à vista que não podemos «restituir» a vida a quem no-la deu. Há, neste domínio, uma assimetria originária nas relações familiares. Verificada esta impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu, poderíamos pensar em «restituir» em termos análogos: então, o filho poderia, por exemplo, responder ao dom da vida recebida, tomando a seu cargo e cuidado os pais enfraquecidos e velhinhos. Mas este não é o único modo de «restituição» nem o mais significativo. O equivalente simbólico mais próximo é «restituir» em termos generativos (generativo e generoso têm a mesma etimologia), dando, por sua vez, a vida e assumindo a responsabilidade de pôr no mundo uma nova geração. Dar a vida e tomar a seu cuidado uma nova geração é mesmo o modo mais apropriado de «restituir» à geração precedente. Situação paradoxal: respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito em relação à geração seguinte. E os avós têm muito a ganhar com os netos, e estes com aqueles. Todos sabemos. Da família humana à grande família de Deus, passando pela família religiosa. Também por isso, a Bíblia é um livro de nascimentos e de transmissão: da vida e da fé e da graça. Vamo-nos hoje apercebendo de que o mundo em que estamos tem muitas dificuldades em transmitir a vida e a fé e a graça, a cháris, o carisma, que envolve a nossa vida pessoal e da nossa família humana, mas também a vida da Igreja, família de Deus, e das diferentes famílias religiosas. Talvez por isso, nos voltemos tanto para trás, e se fale tanto em voltar às origens, refundar. Mas o caminho a empreender não passará mais por gerar novos filhos na vida e na fé e no carisma? Parece-me que é esta a tarefa que todos temos pela frente, em casa, na Igreja, família de Deus, e nas famílias religiosas.

Missão: «restituição» para a frente

  1. Impõe-se, portanto, não a preservação, a conservação, a autoconservação, mas a missão, que é a verdadeira «restituição» a Deus e aos irmãos. Já atrás nos ocupámos a verificar, em termos familiares, a impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu. O Salmista também se pergunta no que a Deus diz respeito: «Como «restituirei» ao Senhor por todos os seus benefícios que Ele me deu?» (Salmo 116,12). Sim, como «restituirei» ao Senhor o amor que há em mim? Como «restituiremos» ao Senhor o amor que há em nós? O Salmista responde: «O cálice da salvação erguerei, e o Nome do Senhor invocarei. Os meus votos ao Senhor cumprirei, diante de todo o seu povo» (Salmo 116,13-14). Sim, o Salmista sabe bem que não pode «restituir» diretamente a Deus, mas sabe também que pode sempre agradecer a Deus (restituição análoga), e, passando de mão em mão, em fraterna comunhão, o cálice da salvação, anunciar a todos que Deus atua em favor do seu povo, faz em nós grandes coisas, sendo este anúncio ação de evangelização ou generosa «restituição» generativa. É assim que, de forma empenhada, generosa e apaixonada, como testemunha S. Paulo, se vão gerando (1 Coríntios 4,15; Filémon 10) e dando à luz novos filhos (Gálatas 4,19).
  1.  Amados irmãos e irmãs, não nos é permitido, nesta encruzilhada da história, ficar quietos, desanimados, tristes e calados. Ou simplesmente entretidos, ensonados e descomprometidos, como crianças sentadas nas praças, que não ouvem, não ligam, não respondem (Mateus 11,16-17; Lucas 7,31-32). Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, todos estamos convocados. Ninguém se pode excluir, ou ficar simplesmente a assistir. São sempre necessários e bem-vindos mais corações, mais mentes, mais entranhas, mais braços, mais mãos, mais pés, mais irmãos. Uma Igreja renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. A nossa vida humana e cristã tem de permanecer ligada à alta tensão da corrente do Amor que vem de Deus. E temos de ser testemunhas fortes e credíveis de tanto e tão grande Por isso e para isso, podemos aprender a rezar a vida com o orante do Salmo 78:

«As coisas que nós ouvimos e conhecemos,

o que nos contaram os nossos pais,

não o esconderemos aos seus filhos,

contá-lo-emos à geração seguinte:

os louvores do Senhor e o seu poder,

e as suas maravilhas que Ele fez.

Ele firmou o seu testemunho em Jacob,

e a sua instrução pôs em Israel.

E ordenou aos nossos pais,

que os dessem a conhecer aos seus filhos,

para que o saibam as gerações seguintes,

os filhos que iriam nascer.

Que se levantem e os contem aos seus filhos,

para que ponham em Deus a sua confiança,

não se esqueçam das obras do Senhor,

e guardem os seus mandamentos» (Salmo 78,3-7).

Amados irmãos e irmãs, há coisas que não podemos mais dizer sentados, que é como quem diz, assim-assim, de qualquer maneira ou de uma maneira qualquer. O Amor de Deus, que enche a nossa vida, tem de ser dito com a vida levantada, com um dizer grande, transbordante, contagiante e transformante, com razão, emoção, afeto e paixão. Retomo o dizer do orante e transmissor da fé: «Que se levantem e os contem aos seus filhos» (Salmo 78,6). Ou, de outra maneira: «Uma geração enaltece à outra as tuas obras» (Salmo 145,4). Ou como Maria: «A minha alma engrandece o Senhor» (Lucas 1,47).

Todos-para-todos

10. Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor às famílias desconstruídas e a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a beleza da sua família toda reunida. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.

Santa Maria de um amor maior,

do tamanho do Menino que levas ao colo,

diante de ti me ajoelho e esmolo

a graça de um lar unido ao teu redor.

Protege, Senhora, as nossas famílias,

todos os casais, os filhos e os pais,

e enche de alegria, mais e mais e mais,

todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias.

Vela, Senhora, por cada criança,

por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,

a todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,

e deixa em cada rosto um afago de esperança.

Lamego, 27 de setembro de 2014, Dia da Igreja Diocesana

+ António, vosso bispo e irmão


DOCUMENTO PARA DOWNLOAD:

Carta Pastoral de D. António Couto > AQUI.

Dia da Igreja Diocesana

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APRESENTAÇÃO DO PLANO PASTORAL DIOCESANO

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No próximo dia 27 de Setembro decorrerá no Seminário Maior de Lamego a apresentação do plano pastoral diocesano para o ano 2014/2015 como o seguinte programa:

            9.30 – Acolhimento

            10.00 – Apresentação da Carta Pastoral do nosso Bispo, D. António Couto

            11.15 – Apresentação do plano pastoral diocesano

            12.00 – Celebração de Envio

                        – Almoço

Esta iniciativa é especialmente dirigida aos agentes pastorais da nossa diocese, particularmente os Sacerdotes, os membros dos Conselhos Pastorais (Diocesano, Arciprestais, Paroquiais), Comunidades de Religiosos/Religiosas e Responsáveis pelos Movimentos Eclesiais.

Com esta apresentação pretende-se favorecer um entendimento comum das linhas pastorais a implementar e uma envolvência mais empenhada na sua concretização.

Agradece-se alguma indicação antecipada de presença, de modo a facilitar as previsões para o almoço.

Pe. José Manuel Melo, Coordenador da Pastoral

in VOZ DE LAMEGO, n.º 4280, de 16 de setembro de 2014

Colégio de Arciprestes e o novo Ano Pastoral

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No passado dia 12 de setembro, o Colégio de Arciprestes, reuniu, na Casa de São José, na cidade de Lamego, centrando particular atenção no lançamento do novo ano pastoral.

Com a presença dos Arciprestes e Vice Arciprestes, do senhor Vigário Geral e do senhor Pró Vigário Geral, presidiu, como habitualmente, o Sr. Bispo, D. António Couto, que tomou a palavra durante o momento da Oração inicial, sublinhando a necessidade de sermos verdadeiramente aprendizes de Jesus, procurando iluminar a nossa vida com a Sua presença, para sairmos e O levarmos aos outros. O Evangelho revela-nos o mistério de Deus, justo e bom, e faz-nos sair ao encontro dos outros (cf, Ro 1, 16-17).

O reverendo Pe. José Manuel Melo, responsável diocesano da pastoral, apresentou as linhas gerais do Plano Pastoral Diocesano, que acolhe sugestões dos vários arciprestados e movimentos eclesiais, serviços diocesanos, com os tempos fortes a valorizar, do Advento e Natal, Quaresma e Páscoa, Semana (dia) da Família, da Juventude, dos Idosos, do Doente…

O próximo triénio estará sob a ambiência da Família, cujos Sínodos dos Bispos, Ordinário e Extraordinário, se realizarão em Roma em 2014 e em 2015, respetivamente, procurando encontrar respostas que vão de encontro às preocupações, dificuldades e anseios das famílias no contexto atual. Depois da auscultação às dioceses e paróquias do mundo inteiro, com o instrumento de trabalho disponibilizado pelo Vaticano, é agora tempo das comunidades aprofundarem em conjunto as questões, com ousadia, em atitude de humildade e serviço, sempre na predisposição de seguir Jesus Cristo: acolher a pessoa concreta, com o seu sofrimento e os seus sonhos, as suas dúvidas e esperanças, as suas tristezas e alegrias.

20140912_112114 Ler mais…

Tomada de Posse de novos párocos

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No dia 14 do corrente mês, o Pe. Tiago Cardoso deu entrada nas Paróquias de Granjal (9.00h), Quintela da Lapa (10.30h), Segões (12.00h), Alhais (15.00h) e Lamosa (18.00h).

No próximo dia 21, o Pe. Jorge Henrique Saraiva entrará na Paróquia de Ester, às 15.00h e na Paróquia de Parada de Ester, às 17.00h.

No domingo seguinte, dia 28: O Pe. Vítor Taveira dará entrada na Paróquia de São Cristóvão de Nogueira, às 15.00h; e na de São Tiago de Piães, às 17.00h.

O Pe. José Fonseca (Zeca) entrará nas Paróquias de: Barreira, às 9.00h; Chãs, às 10.30h; Muxagata, às 12.00h; Santa Comba, às 15.00h.

No dia 05 de Outubro haverá as seguintes entradas: Pe. André Pereira, nas Paróquias de Faia, às 09.30h; de Penso, às 11.00h; de Vila da Rua, às 15.00h; de Vila da Ponte, às 17.00h.

Pe. António Morgado, na Paróquia de Travanca, às 15.00h.

Pe. José Augusto Cardoso, na Paróquia de Fornelos, às 17.00h.

Que a entrada nas respetivas paróquias seja tempo favorável para os próprios e para as comunidades para as quais são enviados, para viver e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, nesta porção do Povo de Deus que é a Diocese de Lamego.

in VOZ DE LAMEGO, n.º 4280, de 16 de setembro de 2014