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Posts Tagged ‘Alegria’

Modelo cristão de felicidade como alternativa: Alegrai-vos e exultai

Exortação apostólica Gaudete et Exsultate

O Papa Francisco publicou ontem a sua nova exortação apostólica (documento pontifício de índole catequética), dedicada à santidade, na qual propõe um modelo cristão de felicidade como alternativa ao consumismo, à pressa e à indiferença face ao outro. “Se não cultivarmos uma certa austeridade, se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de consumo nos impõe para nos vender coisas, acabamos por nos transformar em pobres insatisfeitos que tudo querem ter e provar”.

A exortação apresenta-se como um “apelo” renovado à santidade como proposta radical de vida. “O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”.

A terceira exortação apostólica do pontificado defende a necessidade de travar a “corrida febril” da sociedade contemporânea para recuperar espaço para Deus e tempo para os outros. “Tudo se enche de palavras, prazeres epidérmicos e rumores a uma velocidade cada vez maior; aqui não reina a alegria, mas a insatisfação de quem não sabe para que vive”, adverte o pontífice, que fala na tentação de “absolutizar o tempo livre”.

Francisco diz que, nesta sociedade, “volta a ressoar o Evangelho” para oferecer “uma vida diferente, mais saudável e mais feliz”, a santidade. Esta, explica, não está reservada apenas a algumas pessoas, mas encontra-se “por toda a parte”, nas famílias, no trabalho, naquilo a que o Papa chama como “classe média da santidade”, inclusive “fora da Igreja Católica e em áreas muito diferentes”.

O Papa elogia os “estilos femininos de santidade” que se manifestaram, ao longo da história, em “tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho”

A ‘Gaudete et Exsultate’ recomenda a santidade dos “pequenos gestos”, que impede de falar mal dos outros, olha para o pobre e reserva tempo para a oração. O texto elogia a “ousadia” nas comunidades católicas e diz que a santificação é um caminho comunitário, “contra a tendência para o individualismo consumista que acaba por isolar, na busca do bem-estar à margem dos outros”.

O Papa elenca “grandes manifestações do amor a Deus e ao próximo” que devem contrariar uma cultura marcada pela “ansiedade nervosa e violenta”, “o negativismo e a tristeza” ou o individualismo, rejeitando “tantas formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus que reinam no mercado religioso atual”.

in Voz de Lamego, ano 88/19, n.º 4456, 10 de abril de 2018

DIA DA FAMÍLIA DIOCESANA | 27 de junho de 2015

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A comunhão expressa a beleza de sermos irmãos

A nossa diocese movimentou-se para viver, festivamente, o Dia da Família Diocesana no passado sábado, 27 de Junho, em Lamego, no parque do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios. Apesar de algumas ausências, foram muitas as centenas de diocesanos que aceitaram o convite e vieram participar neste dia de festa, o primeiro de outros que, certamente, se seguirão.

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Convocados e enviados

Tal como previsto, os carros e autocarros foram chegando pela manhã e estacionando na parada do CTOE, junto à igreja de Santa Cruz. De perto e de longe, várias centenas de pessoas chegaram e começaram a preparar-se para subir até à carreira central do parque dos Remédios, marcado pela célebre e conhecida escadaria que liga a cidade à casa de Nossa Senhora. Jovens e menos jovens, com facilidade ou auxiliados por alguma bengala, o caminho foi percorrido alegremente, na companhia do grupo de bombos de Valdigem. Chegados ao espaço preparado para o encontro, os convivas puderam passear pelo local, entrar nas tendas ou arranjar um espaço para descansar.

Algum tempo depois, o palco ali montado para a celebração acolheu gentes de todas as idades para um jogral, uma encenação sobre o relato da Criação, uma dramatização evangélica e uma pequena peça teatral. Em comum o tema da família, abordado ainda em diferentes textos e ilustrado em músicas que se ouviram. E tudo se fez com a participação activa de alguns grupos e paróquias presentes. Em tudo, a vontade de expor a doutrina eclesial sobre a família, mas também a disponibilidade para representar cenas da vida familiar., nunca perdendo de vista o tema central do plano pastoral diocesano: “Ide e construi com mais amor a família de Deus”.

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Cristo caminha sempre connosco

Ao meio-dia iniciou-se a procissão de entrada para a Eucaristia. À frente caminharam representantes das paróquias presentes, transportando uma pequena fita identificadora que foi colocada no mapa diocesano presente no palco. Ao todo eram perto de 80 as paróquias presentes, num total de 223 que a diocese tem.

Presidiu á celebração D. António Couto, acompanhado por D. Jacinto Botelho, dois diáconos e cerca de trinta sacerdotes. O grupo coral da paróquia de Resende assegurou os cânticos litúrgicos.

A homilia, que se seguiu à proclamação dos textos bíblicos do XIII Domingo Comum, começou por louvar a beleza do espaço envolvente, convidando todos a contemplar a obra de Deus e a confessarem “como é belo estarmos juntos”.

A partir do primeiro texto, retirado do Livro da Sabedoria, o nosso bispo sublinhou a singularidade da obra criadora de Deus, sem defeitos e cuja beleza não é anulada pelo pecado humano, porque “em nada da criação há veneno”, parafraseando o Papa Francisco na sua mais recente encíclica, dedicada à preservação do mundo criado e oferecido ao homem. O nosso mundo, esta casa comum, é sobrecarregado de beleza e, por isso, é um mundo optimizado que deve ser preservado e melhor tratado pelos “produtores de lixo” que são, tantas vezes, os homens.

A segunda leitura trazia-nos as palavras de Paulo e o relato da colecta que este fez em favor dos mais necessitados. Tal situação serviu ao presidente da celebração para sublinhar a importância da comunhão, a necessidade do serviço e a alegria da graça. Porque é a partir da comunhão, do serviço e da graça que se pode criar a fraternidade e esta só se concretiza quando a sensibilidade de cada um está atenta ao outro, vivendo uma dimensão evangelizadora, ultrapassando uma autorefencialidade que é nociva à missão e impede de ir.

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Não esquecer Jesus permite levá-LO ao outro

A sensibilidade singular de Jesus Cristo ocupava o evangelho do dia, relatando o encontro com Jairo, homem aflito em busca da cura para a filha e o gesto discreto e crente da senhora que quer tocar na orla do manto de Jesus para se curar. Jesus acompanha aquele pai preocupado, tal como nos acompanha e vai connosco. Ele é a nossa salvação e esquecer isso leva a “não dar Jesus aos outros”, porque não o levamos connosco. Não podemos negar que somos adeptos do facilitismo. Às vezes desistimos ou pensamos que “não há futuro”. Mas com Jesus no meio de nós não podemos dizer isso, cair no pessimismo, desistir ou ficar apenas pelo óbvio.

Por fim, D. António fez alusão ao facto de este ser o primeiro encontro da família diocesana nestes moldes, convidando todos para uma fraternidade que urge assumir: somos “irmãos e irmãs com Jesus que desce e nos cura. É importante não desistir, baixar os braços; que cada um possa contar com os outros e que o Senhor possa contar com todos”.

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Prontos para ir e testemunhar

Após o almoço, partilhado à sombra refrescante destas árvores centenárias e na comodidade dos bancos e mesas, todos tiveram a oportunidade para percorrer os diferentes espaços, contactando diferentes realidades diocesanas: os Consagrados, Grupos e Movimentos, as imagens e objectos das diferentes zonas pastorais.

A cerimónia do envio foi precedida de mais uns momentos protagonizados pelos mais novos, com músicas, palavras e gestos. Depois, na palavra que a todos dirigiu, D. António Couto agradeceu o esforço do grupo organizador, louvou a presença de todos e formulou o desejo de poder ver muitos mais no próximo ano, quando nova edição do Dia da Família Diocesana acontecer. Um encontro festivo preparado a pensar em todos, vivido com alegria que merece “outros dias”.

Antes da bênção final, o nosso bispo invocou Nossa Senhora, sublinhando a sua singular prontidão para convidar cada um a essa mesma prontidão para ir ao encontro dos outros: “Ide e entregai este Senhor a todos os que encontrardes!”.

JD in Voz de Lamego, n.º 4320, ano 85/33, de 30 de junho de 2015

FINALIDADE PASTORAL | Editorial Voz de Lamego | 30.junho.2015

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Mais uma edição da Voz de Lamego repleta de notícias, reflexões, eventos, na vida social, cultural e religiosa, com muitos motivos para dispensar largos minutos na sua leitura. Como sempre, apresentamos no blogue, com o mesmo nome, alguns textos, com a preocupação de serem os mais abrangentes, ainda que concretizando em espaços pastorais, paróquias, pessoas, movimentos, prevalecendo sobretudo as notícias ligadas à Igreja na Diocese de Lamego, mas sem descurar, seguindo a opção da Voz de Lamego, outras notícias ou reflexões sobre a região e sobre a Igreja no seu todo.

Como sempre, em cada semana, em cada nova edição, sugerimos de início o Editorial, proposta de reflexão e de desafio do Pe. Joaquim Dionísio, Diretor da Voz de Lamego. Esta semana, neste tempo que sobrevêm as festas populares de verão, reflexão sobre os motivos que nos levam à festa e as festas que se desviam na preocupação pastoral e religiosa…

FINALIDADE PASTORAL

Os cristãos sabem e sentem que são amados e, por isso, a alegria e a serenidade que são chamados a protagonizar é muito mais que o ruído exterior ou a aparência estéril. E mesmo quando não conseguem corresponder devidamente ao dom recebido, sabem que o amor de Deus sempre será maior que a sua queda.

Por isso, tinha alguma razão o filósofo que não compreendia os rostos tristes dos cristãos que observava ao saírem das celebrações. Como se pode estar triste quando se está junto de quem nos ama assim? Será porque algumas pregações se empenhavam mais em difundir o medo do que o amor de Deus? Certamente que ninguém se alegra quando tem medo; quer é sair dali o mais rápido possível!

Este período estival, sinónimo de festa e de convívio, é também oportunidade para testemunhar a alegria cristã. O homem precisa de festa, de expressar alegria e júbilo, afirmando a vida e a criação. Fugindo à monotonia dos dias, a festa expressa liberdade e pode proporcionar destaque ao génio peculiar de um povo, com os seus valores e expressões, bem como a socialização, fortalecendo e alargando relações familiares e comunitárias.

Mas, às vezes, a festa aos santos pode ser, do ponto de vista religioso, esvaziada do conteúdo especificamente cristão – a honra prestada a Cristo num dos seus membros – e transformar-se numa manifestação meramente social, folclórica, marcada pela mesa e pelo ruído. E quantas vezes, pessoas sinceramente empenhadas, julgando “fazer a festa”, se afastam do seu significado pelos comportamentos que protagonizam?

Assim, a verdadeira festa vivida em honra dos santos venerados pela Igreja exige uma apreensão da “finalidade pastoral” do culto dos santos: a glorificação de Deus e o compromisso de levar uma vida modelada no ensino e exemplo de Jesus Cristo.

in Voz de Lamego, n.º 4320, ano 85/33, de 30 de junho de 2015

10 razões para ser cristão

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  1. Esperança em vez de medo: A mensagem do Evangelho é a Boa Nova da Esperança que Deus oferece a cada ser humano. Num mundo marcado pela dor, pela violência e pelo mal, nem sempre é fácil, mas com a ajuda da fé podemos ter mais confiança no presente e no futuro.

  2. Paz em vez de agitação: A Palavra de Deus e a Oração são oásis no meio da agitação e do stress do dia a dia, através delas podemos sentir a presença de Deus e a sua paz.

  3. Fortaleza em vez de insegurança: A fé cristã não nos dá respostas para tudo, mas dá-nos força para enfrentar a vida com realismo e frontalidade.

  4. Verdade em vez de mentira: A vida de Jesus foi um exemplo de autenticidade e transparência até ao fim. Nunca se deixou vender por nada, nem se rendeu a nenhum poder.

  5. Alegria em vez de depressão: A fé dá-nos uma alegria e entusiasmo de viver que não guardamos para nós, mas contagia os outros.

  6. Solidariedade em vez de egoísmo: O amor de Deus desafia-nos a romper com o egoísmo e a ser solidários, especialmente com todos os excluídos e sofredores, a começar por aqueles que estão ao nosso lado.

  7. Comunhão em vez de solidão: A fé não nos isola, mas abre-nos aos outros, faz-nos fazer comunhão aceitando e respeitando as diferenças de cada um.

  8. Perdão em vez de ódio: Quem acredita em Deus vive na certeza de que é perdoado e espalha perdão e compaixão à sua volta.

  9. Liberdade em vez de escravidão: Não se pode servir a dois senhores e o cristão é uma pessoa livre, disponível e descomprometida em relação a todas as formas de escravidão.

  10. Vida em vez de morte: O Cristianismo é a vitória da vida sobre a morte. Vida que é a certeza de saber que Deus nunca se esquece de nós, nem na pior de todas as horas.

Paulo Caldeira Pereira, in VOZ DE LAMEGO, 14 de outubro de 2014, n.º 4284, ano 84/46

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Mensagem de FRANCISCO para o 88º Dia Mundial das MISSÕES 2014

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Queridos irmãos e irmãs,

Hoje ainda existe muita gente que não conhece Jesus Cristo. Permanece, portanto, de grande urgência, a missão ad gentes, da qual todos os membros da Igreja são chamados a participar, pois a Igreja é missionária por natureza: a Igreja nasceu “em saída”. O Dia Mundial das Missões é um momento privilegiado no qual os fiéis dos diferentes continentes se manifestam com orações e gestos concretos de solidariedade em prol das jovens Igrejas nos territórios de missão. Trata-se de uma celebração de graça e de alegria. Graça porque o Espírito Santo, enviado pelo Pai, oferece sabedoria e fortaleza àqueles que são dóceis à sua ação. Alegria porque Jesus Cristo, Filho do Pai, enviado para evangelizar o mundo, apoia e acompanha a nossa obra missionária.

Justamente sobre a alegria de Jesus e dos discípulos missionários, gostaria de propor um ícone bíblico que encontramos no Evangelho de Lucas (cfr 10,21-23).

1. O evangelista narra que o Senhor enviou os setenta e dois discípulos, dois a dois, a cidades e aldeias, para anunciar que o Reino de Deus se havia aproximado a fim de  preparar as pessoas para o encontro com Jesus. Completada a missão de anúncio, os discípulos voltaram repletos de alegria: a alegria é um tema dominante desta primeira e inesquecível experiência missionária. O divino Mestre disse-lhes: “não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos céus. Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: “Graças te dou, ó Pai”. (…). E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes”. (Lc 10,20-21.23).

Lucas apresenta três cenas. Antes de tudo, Jesus falou aos discípulos, depois dirigiu-se ao Pai, e voltou a falar com eles. Jesus quis que os discípulos participassem de sua alegria, que era diferente e maior da que antes experimentaram.

2. Os discípulos estavam repletos de alegria, entusiasmados pelo poder de libertar as pessoas dos demónios. Jesus, todavia, advertiu-os para que não se alegrassem tanto pelo poder recebido, mas pelo amor recebido: “por estarem seus nomes escritos nos céus” (Lc 10,20). A eles foi oferecida a experiência do amor de Deus, além da possibilidade de partilhá-lo. E esta experiência dos discípulos é razão de uma alegre gratidão para o coração de Jesus. Lucas colheu este júbilo na perspectiva de comunhão trinitária: “Jesus alegrou-se no Espírito Santo”, dirigindo-se ao Pai  e louvando-o. Este momento íntimo de alegria brota do profundo amor de Jesus como Filho pelo Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeu estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelou aos pequeninos (cfr Lc 10,21). Deus escondeu e revelou, e nesta oração de louvor, ressalta principalmente o ‘revelar’. O que Deus revelou e escondeu? Os mistérios de seu Reino, a afirmação da senhoria divina de Jesus e sua vitória sobre satanás.

Deus escondeu tudo isso daqueles que são cheios de si e pretendem saber tudo. São cegados pela própria presunção e não deixam espaço a Deus. Pode-se facilmente pensar em alguns contemporâneos de Jesus, por ele várias vezes advertidos, mas trata-se de um perigo que existe sempre e que também nos diz respeito. Ao contrário, os “pequenos” são os humildes, os simples, os pobres, os marginalizados, os que não têm voz, os fadigados e oprimidos, definidos “bem-aventurados” por Jesus. Pode-se facilmente pensar em Maria, em José, nos pescadores da Galileia e nos discípulos chamados ao longo do caminho, durante sua pregação.

3. “Assim é, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Lc 10,21). Esta expressão de Jesus deve ser entendida à luz da sua alegria interior, onde a benevolência indica um plano salvífico e benévolo do Pai pelas pessoas. No contexto desta bondade divina, Jesus exultou, porque o Pai decidiu amar os homens com o mesmo amor que Ele tem pelo Filho. Lucas também nos traz à lembrança o júbilo semelhante de Maria, “minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lc 1,47). É a boa Notícia que conduz à salvação. Levando em seu ventre Jesus o Evangelizador por excelência, Maria encontrou Isabel e exultou de alegria no Espírito Santo, cantando o Magnificat. Ao ver o bom êxito da missão de seus discípulos e a sua alegria, Jesus exultou no Espírito Santo e se dirigiu a seu Pai em oração. Em ambos os casos, trata-se de uma alegria pela salvação em ato, porque o amor com que o Pai ama o Filho chega até nós, e por obra do Espírito Santo, envolve-nos e faz-nos entrar na vida trinitária.

O Pai é a fonte da alegria. O Filho é a sua manifestação, e o Espírito Santo é o animador. Logo após louvar o Pai, como diz o evangelista Mateus, Jesus nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (11,28-30). A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”. (Exort. ap. Evangelii gaudium, 1).

Deste encontro com Jesus, a Virgem Maria teve uma experiência totalmente singular e se tornou “causa da nossa alegria” (causa nostrae laetitiae). Os discípulos, por sua vez, receberam o chamamento para estarem com Jesus e foram convidados por Ele a evangelizar (cfr Mc 3,14), e assim, foram inundados pela alegria. Por que também nós não entramos neste rio de alegria?

4. “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada”. (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2). Portanto, a humanidade tem grande necessidade de alcançar a salvação proporcionada por Cristo. Os discípulos são aqueles que se deixam conquistar sempre mais pelo amor de Jesus e envolver pelo fogo da paixão pelo Reino de Deus, para serem portadores da alegria do Evangelho. Todos os discípulos do Senhor são chamados a alimentar a alegria da evangelização. Os bispos, como primeiros responsáveis do anúncio, têm o dever de favorecer a unidade da Igreja local no compromisso missionário, levando em conta que a alegria de comunicar Jesus Cristo se expressa seja na preocupação de anunciá-lo nos lugares mais remotos, seja na constante saída às periferias de seu território, onde há mais pobres que o aguardam.

Em muitas regiões, escasseiam vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Muitas vezes, isto se deve à ausência, nas comunidades, de um fervor apostólico contagioso, e por isso, são pobres de entusiasmo e não suscitam atração. A alegria do Evangelho brota do encontro com Cristo e da partilha com os pobres. Encorajo, portanto, as comunidades paroquiais, associações e grupos a viver uma vida fraterna intensa, baseada no amor a Jesus e atenta às necessidades dos mais desfavorecidos. Onde há alegria, fervor, desejo de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas. Dentre estas, as vocações laicais à missão não devem ser esquecidas. Aumentou a consciência da identidade e da missão dos fiéis leigos na Igreja, assim como a percepção de que eles são chamados a assumir um papel cada vez mais relevante na difusão do Evangelho. Por isso, é importante a sua adequada formação, em vista de uma ação apostólica eficaz.

5. “Deus ama ao que dá com alegria” (2 Cor 9,7). O Dia Mundial das Missões é também um momento para reacender o desejo e o dever moral da alegre participação na missão ad gentes. A contribuição económica pessoal é sinal de uma oblação de si mesmos, primeiramente ao Senhor, e depois aos irmãos, para que as ofertas materiais sejam instrumento de evangelização de uma humanidade que se constrói alicerçada no amor.

Queridos irmãos e irmãs, neste Dia Mundial das Missões, o meu pensamento dirige-se a todas as Igrejas locais. Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização! Convido-vos a envolverem-se na alegria do Evangelho e alimentar um amor capaz de iluminar a vossa vocação e missão. Exorto-vos a recordarem-se, como numa peregrinação interior, do “primeiro amor” com o qual o Senhor Jesus Cristo aqueceu o coração de cada um, não por sentimento de nostalgia, mas para perseverar na alegria. O discípulo do Senhor persevera na alegria quando está com Ele, quando faz a sua vontade, quando partilha a fé, a esperança e a caridade evangélica.

A Maria, modelo de evangelização humilde e alegre, dirigimos a nossa oração para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos e possibilite o nascimento de um novo mundo.

FRANCISCO

Vaticano, 8 de junho de 2014, Solenidade de Pentecostes

Alegria da temperança | Editorial Voz de Lamego | 22 de julho | 2014

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Duas semanas de férias para a Voz de Lamego.

Porquanto a última edição do mês de julho, com diversos pontos de interesse: reflexão, eventos realizados e a realizar, o pulsar da vida na Diocese, da Região, no País e no Mundo, na Igreja e na Sociedade. Desperta logo a partir da primeira página o conflito que se acentua em Israel e Palestina, mas também, sinal de esperança, a Peregrinação dos Movimento da Mensagem de Fátima (MMF). No interior, uma página que fixará a atenção de muitos será, sem dúvida, a Nota da Vigararia Geral sobre as NOMEAÇÕES e dispensas que D. António Couto faz para o próximo ano pastoral.

Em tempo de férias, boas leituras ajudam-nos a não ficarmos tão rudes, a abrirmos a mente e o coração, a dispormo-nos a escutar os outros, a conhecer outras comunidades e outras realidades e, talvez quem sabe, a disponibilizar-nos para nos comprometermos em algum projeto eclesial, cultural, social, desportivo.

ALEGRIA DA TEMPERANÇA

Aprendemos que a virtude é mais do que uma aptidão, tratando-se de uma inclinação constante que leva para o bem. Como dizia Aristóteles, a virtude é uma disposição adquirida de fazer o bem que se aperfeiçoa com o hábito.

A virtude da temperança, como todas as virtudes, não passou de moda, mesmo que não receba elogios na praça pública. Em termos comuns e simples, diríamos que a temperança se compreende como uma certa austeridade (contra a tirania do desejo, do imediato e do mais fácil), guiada pelo bom senso e dando destaque à caridade. Porque importa saber colocar limites, assegurando um domínio da vontade sobre os instintos e proporcionando equilíbrio e moderação.

Uma temperança que nada tem que ver com “masoquismo”, já que Deus nos quer ver felizes, alegres, compartilhando, servindo, atentos e disponíveis para os outros, livres da obsessão por efémeras glórias. E entre os frutos está sempre a tranquilidade de consciência e, com isso, a alegria serena do dever cumprido.

“Não deixemos que nos roubem a alegria”, convida-nos o Papa. Uma alegria que nos vem da certeza de sermos amados e da obediência ao convite divino. Uma alegria que a pregação eclesial deve sublinhar e incentivar. Deus gosta dos nossos sorrisos e a fé também se diz e vê nas nossas festas, encontros, divertimentos… Nietzsche acusava os cristãos de saírem tristes das igrejas, ironizando sobre tais celebrações e desconfiando de tal fé.

A temperança é necessária, apesar da sua vivência nem sempre ser linear: a tradicional dificuldade em fazer coincidir vontade e acto (S. Paulo). Mas o equilíbrio por ela gerado é motivador da alegria que se recomenda.

Diretor, Pe. Joaquim Dionísio, VOZ DE LAMEGO, 22 de julho de 2014, n.º 4274, ano 84/36