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Archive for the ‘Voz de Lamego’ Category

Os vencedores desta guerra

Não há grande debate para se fazer nesta altura. Um país que invade outro, soberano, autónomo, com uma História e Cultura próprias não tem qualquer desculpa. Nesta guerra, todos sabemos em que lado temos de estar. Sem qualquer arrogância ou prepotência, não há qualquer forma de desculpar a nefasta decisão da Rússia em invadir a Ucrânia. O tal país soberano.

Toda a atitude miserável de Putin só revela o desprezo que tem pela Humanidade e o profundo ardor no estômago que ainda sente quando se lembra da desagregação da União Soviética, nos anos 1990. O senhor Bashar-al-Assad, [inserir algo concreto] da Síria, disse que a invasão de Putin procura “corrigir a História”. Gabo o sentido de humor do dirigente sírio, que consegue dizer isto sem se engasgar naquele bigode ternurento. Mas nem só de História vive o Homem. O PCP português, com uma desfaçatez inebriante, capaz de deixar qualquer eleitor com a face mais do que ruborizada, escreveu que a NATO e os EUA são os principais responsáveis da situação que vivemos. Um dia encontrar-nos-emos nestas linhas a falar sobre a morte do PCP, que certamente não ouviu os pregos no caixão das últimas eleições legislativas.

Estas reações, da Síria e do PCP – que são apenas e só pequeníssimos exemplos – não ajudam a tranquilizar o ambiente, que neste momento é de grande ansiedade e incerteza. Sobre os movimentos geopolíticos e militares, confesso que apenas assisto e aprendo. Ainda assim, sinto-me tentado a destacar duas linhas de pensamento, que me parecem cruciais nesta altura.

A primeira diz respeito a uma hipocrisia generalizada da Europa. Sim, da Europa. De nós, europeus. De uma forma comovente e francamente ternurenta, são muitos os países do Velho Continente que têm já em marcha campanhas de acolhimento de refugiados, já para não mencionar as várias manifestações de apoio nas ruas e movimentações de envio de alimentos e mantimentos para as fronteiras próximas da Ucrânia. Durante anos e anos vimos imagens destas nas ruas da Síria, Irão, Iraque e sempre fomos mais reticentes em receber essas populações. Mas agora levantamos as portas sem hesitar. E bem, claro. Imagine sentir o som das sirenes, os mísseis a sobrevoar o seu prédio. Fugir estaria logo na sua mente.

Depois, a experiência da pandemia mostrou-nos de forma muito clara que nem sempre o argumento “isso é muito longe daqui” é bom conselheiro. Em meia dúzia de meses, a covid -19 chegou a Portugal, em pouquíssimas semanas, a variante Omicron saltou do Botswana e foi dominante em Portugal. Esta guerra traz outros vírus, seguramente. Mas que ninguém pense que as imagens da angústia ficam apenas em Kiev.

Fábio Ribeiro, Professor Universitário,

in Voz de Lamego, ano 92/16, n.º 4647, 2 de março de 2022

Fábio Ribeiro: Pela defesa do ambiente (e da Greta)

Certamente terá visto muitas vezes nas notícias uma rapariga de ar pacato e tranquilo, com tranças Heidi, esbranquiçada e com uma certa fragilidade aparente. Quando ela fala, o mundo parece invadir-se de um certo deleite, embora uma grande fatia de pessoas esteja mais interessada em bater na menina. Do que fala ela afinal? De ambiente, de salvar o planeta. Só disto.

O nome dela é Greta Thunberg, tem 16 anos e é sueca. Saltou para as bocas do mundo porque criou um movimento chamado “Sextas-feiras pelo futuro”, em que jovens suecos, liderados por Greta, faltam às aulas no último dia da semana, e protestam contra as políticas que não incluem o meio ambiente nas preocupações governativas. É, de facto, um movimento um pouco estranho, é verdade, mas não tem nada de negativo, aparentemente.

Entretanto esta ativista, que chegou a Lisboa na semana passada vinda de barco desde os EUA, tem sido alvo de uma intensa polarização – ou seja: há quem a ame e troque juras de amor com ela; há quem veja nela todo o ódio do mundo e o exagero de uma “não questão” como o clima. Estive muito atento às reações dos políticos e basicamente vi duas marcas muito claras: a esquerda a aplaudir e endeusar Greta; a direita a troçar, menorizar e quase pisar todo o trabalho desta miúda. Como se, em matéria de ambiente, ser-se de esquerda ou direita fosse fundamental.

É um autêntico disparate o destaque que os meios de comunicação social têm dado a Greta. Efetivamente ela não diz nada de novo. Zero. Ela é apenas uma voz. Há várias décadas que existem diversas personalidades que apoiam o clima nesse destaque muito pessoal. É por ser miúda? É porque devia estar a estudar em vez de andar em greve? É mesmo isso o fundamental?

Greta tem endurecido o discurso. Falou em políticos que “lhe roubaram os sonhos”, fala num clima ambiental que depende do “patriarcado”. Parece que, por vezes, ela estica a corda, por alguma razão que possa ter. Efetivamente, toda a campanha de ódio perante alguém que pretende apenas colocar a preocupação ambiental na agenda pública, com ações concretas, tem sido miserável. Nesta procura pela próxima heroína do Mundo, patrocinada pelos média, assiste-se a esta novela do sofá, gritando contra a televisão: “esta Greta é mesmo a maior!” ou “raio de miúda, com aquelas tranças de menina mimada e rica… sabe lá ela o que é vida?”. Depois levantamo-nos e fazemos um chá. E a vida continua.

Fábio Ribeiro, in Voz de Lamego, ano 90/03, n.º 4538, 10 de dezembro de 2019

Começar em jeito de agradecimento | Editorial Voz de Lamego

A missão evangelizadora da Igreja diz respeito a todos, por maioria de razão aos ministros ordenados, comprometidos precisamente com o anúncio do Evangelho, a começar pelo Bispo, estendendo-se ao presbitério e aos diáconos, conjugando a pregação com a caridade e com a santificação do povo de Deus, ao qual todos pertencemos como batizados. É uma missão de todos e a todos se destina. Ide e anunciai o Evangelho a toda a criatura.

Neste âmbito fui chamado a assumir a direção da Voz de Lamego, sucedendo ao reverendo Cónego Joaquim Dionísio que, durante 5 anos, nos fez chegar notícias da diocese e da região, da Igreja e do mundo, bem como reflexões pertinentes sobre a vida, a igreja, a fé, a cultura, a comunicação, a educação, contando com colaboradores diretos, como o reverendo Pe. Hermínio, designer e responsável pela imagem do Jornal, pela sua paginação, pela estética que desafia a folhear e a ler a nossa Voz Lamego, como a D. Aniceta, funcionária do Jornal, fundamental para na recolha e preparação final de textos, na gestão de assinantes, no atendimento a quem nos visita, na captação de publicidade.

O jornal diocesano chegou até hoje graças ao empenho e engenho de muitas pessoas. Como diocesano e como sacerdote, sublinho o trabalho realizado e que agora me responsabiliza e compromete. Continuo a contar com todos, com o meu antecessor imediato, Cónego Dionísio, com o Pe. Hermínio, com a D. Aniceta e com todos os nossos colaboradores que assinam crónicas, que redigem e nos enviam notícias, que nos fazem chegar fotografias para ilustrar os textos e com aqueles, pessoas e entidades, que equilibram a contabilidade do nosso jornal, ao contrataram espaços para publicitar e/ou divulgar os seus produtos e trabalhos.

Ao Monsenhor Armando Ribeiro – que já esteve nesta missão como Diretor e que sabe os contornos com que se gere um jornal – agradecemos a generosidade e boa vontade com a qual continuamos a beneficiar, nas sugestões pertinentes, na correção de provas, na promoção da língua portuguesa e na relevância da Voz de Lamego.

Que o Deus de toda a paz nos conceda a audácia, a sabedoria e alegria de continuarmos a servir a Palavra de Deus através da Voz de Lamego, divulgando a região, sempre com um olhar de bênção, de gratidão e louvor ao Senhor da Vida. Que os nossos colaboradores se sintam compensados por cada palavra que ajuda a aproximar, a refletir, a viver, a estreitar laços, a construir pontes! Que os nossos assinantes e os nossos leitores se sintam parte essencial deste projeto diocesano. Muito obrigado. Que Deus vos abençoe a todos e a todos Vos conceda saúde, paz e alegria.

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 88/36, n.º 4473, 21 de agosto de 2018

Um livro do nosso Diretor: AO RITMO DO TEMPO. Olhar a atualidade

Joaquim Dionísio decidiu-se pela publicação de um livro, pois «a vida de um jornal impresso é curta», diz ele na Abertura. Na verdade, um jornal lê-se e arruma-se quando não se lhe dá outro lugar menos próprio para o seu muito ou pouco valor; o livro lê-se e guarda-se na estante da casa, normalmente em lugar digno num escritório ou mesmo numa sala.

O leitor de VL vai lendo, certamente, em cada semana, o texto que facilmente se descobre como sendo da autoria do seu Director; só que, e acontece a todos, já não se lembrará do que ele nos quis dizer e comunicar; daí o nascer de uma decisão, agora tomada.

Chega até nós como verdadeira prenda de Natal e estamos certos de que muitos dos seus leitores o quererão ter ao seu lado, na mesa de trabalho e em lugar de fácil acesso, para uma leitura mais repousada e melhor aproveitamento de uma palavra, que se define como um olhar a atualidade, seguindo o ritmo do tempo.

Não querendo fazer trocadilhos com as palavras do título, lembro um professor estrangeiro que dizia que o título de um livro devia ser sempre apelativo; aqui, o apelo está feito pela realidade do jornal, onde o Diretor segue o ritmo do tempo para estar em sintonia com os seus leitores.

Ao começar pela história do automobilista que segue em contramão, mas não se importa com os que lhe buzinam, pois se crê fazer a viagem pela pista certa, diz que «às vezes, nos comportamos como este condutor incauto»,e aí encontra o motivo para as duas primeiras páginas, onde nos diz que o Advento nos coloca no rumo certo, enquanto «tempo de espera atenta e activa…, na certeza de que a vida está sempre adiante».

A partir daí, cabe ao leitor descobrir o rumo a tomar numa vida que não se quer ao acaso, mas segura, porque se segue na via certa que nos leva onde queremos chegar.

Podemos orientar-nos na caminhada pelo «ritmo» indicado no título do livro. Aceite, amigo, a leitura deste livro, pelo qual damos os parabéns a Joaquim Dionísio, o Diretor de VL, que entra no rumo e no ritmo de quem quer ser útil aos seus leitores. Começar é difícil; continuar é mais fácil e isso vai acontecer, certamente; o saber e a força de vontade que norteiam  Joaquim Dionísio em ajudar os outros , num tempo em que as dúvidas aparecem de todos os lados, é garantia de que estamos em presença  de um autor que não deixará os seus trabalhos em favor e ao serviço da comunidade onde estamos inseridos.

Por isso e mais uma vez, os parabéns ao autor.

P.e Armando Ribeiro, in Voz de Lamego, ano 88/06, n.º 4443, 9 de janeiro de 2018

VOZ DE LAMEGO | PRIMEIRA PÁGINA – edição de 4 de junho de 2017