Arquivo

Archive for the ‘Dia da Igreja Diocesana’ Category

DIA DA FAMÍLIA DIOCESANA | 27 de junho | Escadório dos Remédios

Vai realizar-se, pela primeira vez nestes moldes, o DIA DA FAMÍLIA DIOCESANA, no próximo dia 27 de junho de 2015, sábado, na Carreira Central do escadório de Nossa Senhora dos Remédios. Em anos anteriores, o Dia da Igreja Diocesana celebrava-se na solenidade de Cristo Rei, congregando, na mesma celebração, a Dedicação da Igreja Catedral e a apresentação do Plano Pastoral. Neste ano pastoral foi desdobrado em três acontecimentos diferentes: apresentação do Plano Pastoral no final de setembro ou início de outubro, Dia da Igreja Catedral, encostado ao dia 20 de novembro, no domingo seguinte, solenidade de Cristo Rei e o dia propriamente dito da Igreja Diocesana, no verão, como tempo e espaço de encontro, convívio, festa, com as paróquias, movimentos eclesiais, secretariados diocesanos, seminários e consagrados.

 Dia_Família_Diocesana

Este ano, o encontro realiza-se nos Remédios, com o apoio logístico do CTOE, onde estacionarão os autocarros.

9h30 – Acolhimento

10h00 – Caminhada do CTOE à Carreira Central

Auto da Família

12h30 – Celebração da Eucaristia

13h30 – Partilha de Farnéis

Tarde mais lúdica… música… Jograis… canções…

16h00 – Celebração mariana / Celebração do Envio

Estas as informações já disponíveis. Haverá tendas temáticas, dedicadas aos Arciprestados, Paróquias, Consagrados, Seminários, Secretariados, Escuteiros… Haverá também “tasquinhas”, facilitando no “comes e bebes”.

Pastoral Juvenil | ADORAÇÃO DO SANTÍSSIMO | Sim?

IMG_2142Sábado 27 de setembro, dia da Igreja diocesana, marcou o início do novo  ano de atividades e o Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ) de Lamego  aproveitou esta ocasião para apresentar a programação anual com uma noite de adoração ao Santíssimo, no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, pois a melhor forma de iniciarmos a nossa caminhada é estarmos com Ele, já que sem Ele nada faz sentido.

Foi este o testemunho de comunhão que deram mais de 120 jovens que participaram na atividade. Com efeito, muitos foram os que abdicaram do descanso depois ou antes de um dia intenso de vindima ou da apanha da maçã, outros ainda tinham festas na Paróquia e preferiram chegar mais tarde para poderem estar com Ele, isto sem contar com os quilómetros e a hora tardia.

Esta noite testemunhou, neste retomar das atividades, que os jovens ainda dizem sim, ainda são loucos, loucos da loucura de Deus, do amor de Deus, deste amor que nos transforma, este amor que nos faz deixar de lado o nosso egoísmo para nos encontramos com Ele e com os outros.

A adoração que foi sucessivamente orientada pelos Arciprestados do Varosa, Távora e Alto Douro e finalmente pelo Arciprestado de Lamego seguiu as temáticas adotadas pelo SDPJ de Lamego para esta temporada de 2014-2015. Num primeiro momento, o tema da Família constituiu o fio condutor, tema que será aliás o fio condutor de toda a ação diocesana como propõe D. António Couto na Carta Pastoral “Ide e construi  com mais amor a família de Deus”. Num segundo momento, o ambiente próprio às orações de Taizé encheu a Igreja dos Remédios num tempo de preparação para a festa dos 75 anos da Comunidade de Taizé e dos 100 anos do seu fundador, o Irmão Roger.

Para finalizar, uma pequena ceia permitiu um momento de convívio e a entrega do documento com a programação anual da Pastoral Juvenil, programação que só tem razão de ser com a dedicação de cada jovem, fortemente demonstrada nesta noite de adoração ao Santíssimo.

Com Ele, contigo, juntos vamos conseguir crescer, crescer na fé, basta dar o nosso sim ou não…Sim?

Anthony Nascimento, VOZ DE LAMEGO, 30 de setembro de 2014, n.º 4282, ano 84/44

Novo Ano Pastoral | Ide e construí com mais amor a família de Deus

IMG_2840 - Cópia

No passado sábado, 27 de Setembro, o nosso Seminário acolheu mais de duas centenas de agentes pastorais para a abertura do novo ano pastoral, num encontro presidido pelo nosso bispo, D. António Couto. Tal apresentação acontecia, habitualmente, no Dia da Igreja Diocesana, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, com o ano pastoral já em andamento. Este ano, a antecipação permitirá às paróquias organizarem-se tendo como referência a Carta Pastoral de D. António, bem como atentar às data já previstas na calendarização a fixar.

Apesar de estarmos em plena época de colheitas, ver tantos baptizados empenhados na edificação da Igreja foi motivo de alegria e de confiança. Alegria porque tal presença é sinónimo de vitalidade nas nossas comunidades; confiança porque tamanha disponibilidade faz-nos olhar para diante com esperança. E temos a certeza de que muitos mais estão motivados para participar e para marcar criativa e fielmente este nosso tempo.

Na saudação inicial e congratulando-se com a presença de todos, D. António Couto começou por fazer referência ao encontro de irmãos em Cristo, porque “nós vivemos da afirmação da presença de Cristo no meio de nós”. Apesar de, às vezes, nos esquecermos disso, a verdade é que “temos que sentir a presença de Cristo para O mostrar aos irmãos”. Comparando a assembleia reunida e atenta ao fermento que vai ajudar a levedar a massa, sublinhou também o facto de estarmos reunidos enquanto “família diocesana” convocada por Deus.

O plano não faz tudo

O Plano marca o ritmo da diocese, apresentando oportunas sugestões e possíveis iniciativas. Mas não é o mais importante. Porque, por mais minucioso ou bem fundamentado que esteja, um plano só fará sentido e poderá ser uma ajuda se “o coração de cada um estiver habitado pelo Espírito de Deus. Dito de outra maneira, todos os planos estão a mais quando Deus não está no nosso coração”, alertou o nosso bispo.

O instrumento agora difundido tem como finalidade motivar todos para a missão comum que é a de edificar a Igreja, sem nunca esquecermos que “em primeiro lugar está o plano missionário de chegar a todos”. Por isso, o Plano é como os andaimes numa obra: ajudam a que o trabalho seja feito, mas retiram-se quando a tarefa termina, porque o importante é a obra.

Ide: Igreja em saída

O nosso Plano tem como mote “Ide e construi com mais amor a família de Deus”, apresentando alguma semelhança verbal com o do ano passado.

A este propósito, D. António Couto, sublinhou a importância do “ide”, recordação constante das últimas palavras de Jesus aos seus discípulos, quando os enviou ao encontro de todos para anunciar, ensinar, curar, edificar a Igreja.

Tal como no-lo recorda o Papa Francisco, a Igreja não pode descansar, mas deve estar em permanente saída para encontrar o mundo, a vida, o homem. Por isso é importante tal verbo, na medida em que nos recorda que “não podemos ficar aqui”.

Na mesma tónica, o pastor diocesano desafiou todos a serem imitadores “itinerantes” de Jesus que se deslocava de cidade em cidade para encontrar, ao contrário de João Baptista, que protagonizou uma “pastoral de estaca”, ou seja, de alguém que permaneceu quieto e esperou a vinda dos interessados em ouvi-lo e serem baptizados.

Por outro lado, o título faz também referência à família, o que demonstra a vontade da diocese em estar em comunhão com a Igreja universal, ocupada e preocupada com a realidade familiar.

Em seguida, D. António Couto percorreu o texto da Carta Pastoral que escreveu e norteia todo o plano referido, comentando detalhadamente algumas passagens, que não dispensam a leitura integral da mesma.

Convocados e enviados

Após um breve intervalo, o Coordenador da Pastoral diocesana, Cón. José Manuel Melo, apresentou a calendarização proposta. A leitura comentada de algumas passagens permitiu a todos uma melhor compreensão das metas, bem como dos possíveis e comuns percursos.

O encontro continuou depois com a cerimónia do envio em missão. Porque, em Igreja, ser convocado tem como consequência ser enviado. E foi isso que sentiram todos os que vieram dos diversos cantos da diocese.

Uma cerimónia singela, iniciada com a leitura de uma passagem evangélica, a que se seguiu um comentário do nosso bispo. Nesse momento, D. António Couto não deixou de dizer a todos que “o Evangelho é explosivo” e que a mudança esperada no noutro e no mundo começa sempre por uma decisão de mudança pessoal. A este propósito, apresentou o exemplo de S. Francisco de Assis que, voluntariamente desprendido de tudo, revolucionou toda uma época. E concluiu com uma interrogação já proferida aquando da sua participação no último Sínodo: “Porque será que os santos se esforçaram tanto, e com tanta alegria, por ser pobres e humildes, e nós nos esforçamos tanto, e com tristeza, por ser ricos e importantes?”

in VOZ DE LAMEGO, 30 de setembro de 2014, n.º 4382, ano 84/44

Carta Pastoral de D. António Couto | 2014-15 | Ide com mais amor…

carta_pastoral4

IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS

«Os filhos são um dom de Deus»

(Salmo 127,3)

«Toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

«Sois membros da família de Deus»

(Efésios 2,19)

O amor fontal de Deus-Pai

  1. «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16) e «amou-nos primeiro» (1 João 4,19), e «nós amamos, porque Deus nos amou primeiro» (1 João 4,19). Então, o amor que está aqui, o amor que está aí, o amor que está em mim, o amor que está em ti, o amor que está em nós, «vem de Deus» (1 João 4,7), e «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7). Deus amou-nos primeiro, ama-nos e continua a amar-nos sempre primeiro com amor-perfeito (êgapêménos: part. perf. pass. de agapáô), isto é, amor preveniente, fiel, consequente, permanente (1 Tessalonicenses 1,4; Colossenses 3,12). Ama-nos a nós, que estamos aqui, e foi assim que nós começámos a amar. Se não tivéssemos sido amados primeiro, e não tivéssemos recebido o testemunho do amor, não teríamos começado a amar, e nem sequer estaríamos aqui, porque «quem não ama, permanece na morte» (1 João 3,14), sendo então a morte, não o termo da vida, mas aquilo que impede de amar, e, portanto, de nascer!
  1. Portanto, se «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7), o amor que há em nós é remissivo, remete para outrem, remete para a origem. O que é a origem? A origem é o que está antes do começo, a quem a Bíblia e uma parte da humanidade chamam Deus, e nós, cristãos, por imagem, chamamos «Pai». Nova genealogia do amor: o Pai ama o Filho (João 3,35; 5,20), e ama também o mundo (João 3,16), a ponto de enviar o seu Filho ao mundo para lhe manifestar esse amor (João 3,16; 1 João 4,9-10). Só o semelhante conhece o semelhante, e lhe pode comunicar o seu amor. O Pai ama e conhece o Filho Unigénito, e comunica-lhe o seu amor. Como o Pai ama e conhece o Filho Unigénito, também o Filho Unigénito ama e conhece o Pai (Mateus 11,27), e o pode revelar os seus discípulos fiéis (João 15,9), tendo, para tanto, de descer ao nosso nível, fazendo-se homem verdadeiro, semelhante a nós (Filipenses 2,7; Hebreus 2,17). Na verdade, comunica-nos o amor do Pai, e dá-nos a conhecer tudo o que ouviu do Pai (João 15,15). E nós somos convidados a entrar nesse divino colóquio, a acolher esse amor desmesurado, e a passar a amar dessa maneira, como fomos e somos amados (João 13,34; 15,12).
  1. Assim, o amor que está em nós, ou em que estamos nós, o amor entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre amigos, entre nós, não provém nem de uns nem de outros. Nem sequer de si mesmo. O amor não é meu nem é teu. O amor não é nosso. O amor é dado. Claro. Se «quem ama nasceu de Deus», não é nossa a patente do amor, e temos mesmo de ser extremamente cuidadosos quando pretendemos ajuizar acerca do amor que há nos outros. A antiga equação nivelada: «Ama o próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), é plenificada e subvertida pela equação paradoxal: «como Eu vos amei» (João 13,34; 15,12). Mesmo aqueles que desconhecem a fonte do amor, é dela que o recebem. Neste sentido, em que a fé se une à razão, não é o casal que faz o amor; é o amor que faz o casal. Do mesmo modo que não é o casal que faz os filhos; é o amor que os faz. São um dom de Deus (Salmo 127,3). Atravessa-nos um calafrio quando nos apercebemos que a humanidade transmite, de idade em idade, de pais para filhos, algo de eterno. Amor eterno, tão terrivelmente ameaçado de idade em idade!
  1. É esse amor eterno, primeiro e derradeiro, verdadeiro, que nos faz nascer como irmãos. O lugar que, de forma mais imediata, nos mostra a fraternidade, é a família. E é verdade que, numa família, os filhos, não deixando de ser diferentes na ordem do nascimento, da saúde, da inteligência, temperamento, sucesso, são iguais. E são iguais, não obstante as suas acentuadas diferenças. São iguais, não em função do que são ou do que têm ou do que fazem, mas em função daquilo que lhes é dado e feito. Em função do amor que os precede, o amor dos seus pais, e, em primeira ou última instância, o amor fontal de «Deus-Pai» (Ad gentes, n.º 2), pois nós somos também, diz o Apóstolo, filhos de Deus (1 João 3,2), filhos no Filho (Romanos 8,17.29), membros da família de Deus (Efésios 2,19). É esse amor primeiro que nos torna livres e iguais, logo irmãos. A fraternidade é o lugar em que cada um vale, não por aquilo que é, por aquilo que tem ou por aquilo que faz, mas por aquilo que lhe é feito, antes e independentemente daquilo que deseja, pensa, projeta e realiza, e em que o seu ser é ser numa relação de amor incondicionada, que não é posta por ele, mas em que ele é posto. A verdadeira fraternidade ensina-nos que a nossa consciência não é a autoconsciência daquilo que fazemos, mas a hétero-consciência daquilo que nos é feito e que nós somos sempre chamados a reconhecer e a cantar com renovada alegria, como Maria: «O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas» (Lucas 1,49).

O limiar do mistério em cada nascimento

  1. Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! (Romanos 11,33). Ó abismo do amor de Deus! Caríssimos pais e mães, os filhos que gerais e que vedes nascer, são, antes de mais, vossos ou são de Deus? Dir-me-eis: este filho é nosso, fomos nós que o geramos, fui eu que o dei à luz, nasceu neste dia, tenho aqui a cédula de nascimento. E eu pergunto ainda: sim, mas porquê esse, e não outro? É aqui, amigos, que entra o para além da química e da biologia, entenda-se, o para além de nós. É aqui, amigos, que entramos no limiar do mistério, na beleza incandescente do santuário, onde o fogo arde por dentro e não por fora. É aqui que paramos ajoelhados e comovidos à beira do inefável e caímos nos braços da ternura de um amor maior, novo, paternal, maternal, que nenhuma pesquisa biológica ou química explicará jamais. Todo o nascimento traz consigo um imenso mistério. Sim, porquê este filho, e não outro? Porquê este, com esta maneira de ser, este boletim de saúde, este grau de inteligência, estas aptidões, esta sensibilidade própria? Sim, outra vez, porquê este filho, e não outro, com outra maneira de ser, outro boletim de saúde, outro grau de inteligência, outras aptidões? Fica patente e latente, evidente, que, para nascer um bebé, não basta gerá-lo e dá-lo à luz. Quando nasce um filho, é também Deus que bate à nossa porta, é também Deus que entra em nossa casa, é também Deus que se senta à nossa mesa, é também Deus que nos visita. Há outra paternidade, a de Deus, por detrás da nossa vulgar paternidade, participação da verdadeira paternidade de Deus. Na verdade, «toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

Membros de uma nova família

  1. Há, portanto, também uma nova familiaridade. A partir de Deus. Na verdade, no comportamento Misericordioso de Jesus transparece uma nova familiaridade, que assenta a sua fundação muito para além dos meros laços biológicos e anagráficos das nossas famílias. Prestemos atenção ao luminoso dizer de Jesus no caixilho literário de Marcos:

 «E vem a mãe dele e os irmãos dele, e, ficando fora, enviaram quem o chamasse. E estava sentada à volta dele a multidão, quando lhe dizem: “Eis que a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e procuram-te”. E respondendo-lhes, diz: “Quem é a minha mãe e os meus irmãos?”. E tendo olhado à volta, para os que estavam sentados em círculo ao seu redor, diz: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Na verdade, aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe”» (Marcos 3,31-35).

Ensinamento espantoso de Jesus que põe em causa a validade de uma maternidade e fraternidade meramente biológicas, fundadas sobre os direitos do sangue [«a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs… procuram-te»], para afirmar uma nova familiaridade aberta pelo horizonte novo do éschaton, do último, do primeiro e último, do novíssimo: «aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe». No novo horizonte da vontade do Pai, não se deixa de ser mãe, irmão ou irmã. Não são, porém, esses laços familiares que nos dão direito a amar e a ser amados, mas o termos sido encontrados pelo Amor, que agora somos chamados a testemunhar. «Vós sois testemunhas (mártyres) destas coisas», diz Jesus (Lucas 24,49). Sermos designados por Jesus testemunhas das coisas de Jesus é sermos chamados a envolver-nos de tal modo na história e na vida de Jesus, a ponto de a fazermos nossa, para a transmitir aos outros, não com discursos inflamados ou esgotados, mas com a vida! Sim, aquela história e aquela vida são a nossa história e a nossa vida. Sentir cada criança como filho, cada mulher como mãe e todo o semelhante como irmão ou irmã não é simples retórica, mas a transcrição verbal do novo real compreensível à luz do projeto Criador, Primeiro e Último, em que o mundo aparece como uma única casa e os seus habitantes como uma só família. Nascerá então o mais belo relato. Sim, o relato re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça. E re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça duplamente: primeiro, porque faz uma re-lação dos acontecimentos, unindo-os para formar um belo colar; segundo, porque põe em relação o narrador e o narratário. Sim, quando eu e tu e ele e ela, nós todos, relatarmos a mesma história, e não histórias diferentes, nesse dia luminoso e bendito começamos a nascer como irmãos, não pelo sangue, mas pela liberdade. Sim, só o relato nos pode aproximar tanto, fazendo-nos, não apenas estar juntos, mas nascer juntos, como irmãos. Portanto, irmãos e amigos, deixai que grite bem alto aos vossos ouvidos: mais amor, mais família, mais oração, mais missão, mais formação. Mais. Mais. Mais.

 O sentido da vida recebida e dada

  1. Na origem dos nossos termos «matrimónio» e «património» está o «dom» como «munus», como bem sublinha e explica o famoso linguista francês Émile Benveniste, seguido por Eugenia Scabini e Ondina Greco, no domínio da psicologia social. Munus faz parte de uma rede de conceitos relacionais, que obriga a uma «restituição». Quem não entra neste jogo do munus diz-se immunus, «imune». E voltam as perguntas contundentes: quem recebe a vida, como e a quem a restitui? Salta à vista que não podemos «restituir» a vida a quem no-la deu. Há, neste domínio, uma assimetria originária nas relações familiares. Verificada esta impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu, poderíamos pensar em «restituir» em termos análogos: então, o filho poderia, por exemplo, responder ao dom da vida recebida, tomando a seu cargo e cuidado os pais enfraquecidos e velhinhos. Mas este não é o único modo de «restituição» nem o mais significativo. O equivalente simbólico mais próximo é «restituir» em termos generativos (generativo e generoso têm a mesma etimologia), dando, por sua vez, a vida e assumindo a responsabilidade de pôr no mundo uma nova geração. Dar a vida e tomar a seu cuidado uma nova geração é mesmo o modo mais apropriado de «restituir» à geração precedente. Situação paradoxal: respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito em relação à geração seguinte. E os avós têm muito a ganhar com os netos, e estes com aqueles. Todos sabemos. Da família humana à grande família de Deus, passando pela família religiosa. Também por isso, a Bíblia é um livro de nascimentos e de transmissão: da vida e da fé e da graça. Vamo-nos hoje apercebendo de que o mundo em que estamos tem muitas dificuldades em transmitir a vida e a fé e a graça, a cháris, o carisma, que envolve a nossa vida pessoal e da nossa família humana, mas também a vida da Igreja, família de Deus, e das diferentes famílias religiosas. Talvez por isso, nos voltemos tanto para trás, e se fale tanto em voltar às origens, refundar. Mas o caminho a empreender não passará mais por gerar novos filhos na vida e na fé e no carisma? Parece-me que é esta a tarefa que todos temos pela frente, em casa, na Igreja, família de Deus, e nas famílias religiosas.

Missão: «restituição» para a frente

  1. Impõe-se, portanto, não a preservação, a conservação, a autoconservação, mas a missão, que é a verdadeira «restituição» a Deus e aos irmãos. Já atrás nos ocupámos a verificar, em termos familiares, a impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu. O Salmista também se pergunta no que a Deus diz respeito: «Como «restituirei» ao Senhor por todos os seus benefícios que Ele me deu?» (Salmo 116,12). Sim, como «restituirei» ao Senhor o amor que há em mim? Como «restituiremos» ao Senhor o amor que há em nós? O Salmista responde: «O cálice da salvação erguerei, e o Nome do Senhor invocarei. Os meus votos ao Senhor cumprirei, diante de todo o seu povo» (Salmo 116,13-14). Sim, o Salmista sabe bem que não pode «restituir» diretamente a Deus, mas sabe também que pode sempre agradecer a Deus (restituição análoga), e, passando de mão em mão, em fraterna comunhão, o cálice da salvação, anunciar a todos que Deus atua em favor do seu povo, faz em nós grandes coisas, sendo este anúncio ação de evangelização ou generosa «restituição» generativa. É assim que, de forma empenhada, generosa e apaixonada, como testemunha S. Paulo, se vão gerando (1 Coríntios 4,15; Filémon 10) e dando à luz novos filhos (Gálatas 4,19).
  1.  Amados irmãos e irmãs, não nos é permitido, nesta encruzilhada da história, ficar quietos, desanimados, tristes e calados. Ou simplesmente entretidos, ensonados e descomprometidos, como crianças sentadas nas praças, que não ouvem, não ligam, não respondem (Mateus 11,16-17; Lucas 7,31-32). Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, todos estamos convocados. Ninguém se pode excluir, ou ficar simplesmente a assistir. São sempre necessários e bem-vindos mais corações, mais mentes, mais entranhas, mais braços, mais mãos, mais pés, mais irmãos. Uma Igreja renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. A nossa vida humana e cristã tem de permanecer ligada à alta tensão da corrente do Amor que vem de Deus. E temos de ser testemunhas fortes e credíveis de tanto e tão grande Por isso e para isso, podemos aprender a rezar a vida com o orante do Salmo 78:

«As coisas que nós ouvimos e conhecemos,

o que nos contaram os nossos pais,

não o esconderemos aos seus filhos,

contá-lo-emos à geração seguinte:

os louvores do Senhor e o seu poder,

e as suas maravilhas que Ele fez.

Ele firmou o seu testemunho em Jacob,

e a sua instrução pôs em Israel.

E ordenou aos nossos pais,

que os dessem a conhecer aos seus filhos,

para que o saibam as gerações seguintes,

os filhos que iriam nascer.

Que se levantem e os contem aos seus filhos,

para que ponham em Deus a sua confiança,

não se esqueçam das obras do Senhor,

e guardem os seus mandamentos» (Salmo 78,3-7).

Amados irmãos e irmãs, há coisas que não podemos mais dizer sentados, que é como quem diz, assim-assim, de qualquer maneira ou de uma maneira qualquer. O Amor de Deus, que enche a nossa vida, tem de ser dito com a vida levantada, com um dizer grande, transbordante, contagiante e transformante, com razão, emoção, afeto e paixão. Retomo o dizer do orante e transmissor da fé: «Que se levantem e os contem aos seus filhos» (Salmo 78,6). Ou, de outra maneira: «Uma geração enaltece à outra as tuas obras» (Salmo 145,4). Ou como Maria: «A minha alma engrandece o Senhor» (Lucas 1,47).

Todos-para-todos

10. Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor às famílias desconstruídas e a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a beleza da sua família toda reunida. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.

Santa Maria de um amor maior,

do tamanho do Menino que levas ao colo,

diante de ti me ajoelho e esmolo

a graça de um lar unido ao teu redor.

Protege, Senhora, as nossas famílias,

todos os casais, os filhos e os pais,

e enche de alegria, mais e mais e mais,

todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias.

Vela, Senhora, por cada criança,

por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,

a todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,

e deixa em cada rosto um afago de esperança.

Lamego, 27 de setembro de 2014, Dia da Igreja Diocesana

+ António, vosso bispo e irmão


DOCUMENTO PARA DOWNLOAD:

Carta Pastoral de D. António Couto > AQUI.