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Archive for the ‘Assembleia do Clero’ Category

MINISTÉRIO E CUIDADO | editorial da Voz de Lamego | 3 de outubro

A Diocese de Lamego fez acontecer a Abertura do Ano Pastoral 2017-2018, no passado dia 30 de setembro de 2011, no Seminário Maior de Lamego, subjugado ao lema: VAI, E FAZ TAMBÉM TU DO MESMO MODO. Tema enquadrado e aprofundado por D. António Couto na Carta Pastoral para este novo ano pastoral. No dia 1 de outubro, o país foi a votos, para decidir a governação autárquica. A edição desta semana da Voz de Lamego destaca este dois temas, desde a primeira página.

No Editorial, o Pe. Joaquim Dionísio remete-nos para outro evento, a realizar no próximo dia 5 de outubro, no Seminário Maior de Lamego, a Assembleia do Clero:

MINISTÉRIO E CUIDADO

No feriado comemorativo da implantação do regime republicano entre nós, o clero da nossa diocese reúne-se em assembleia. Não sendo a primeira da história recente, será sempre nova para quantos nela participam com alegria e disponibilidade.

A assembleia concretiza a oportunidade do encontro e da partilha fraterna, o assumir de uma pertença e o dar corpo ao presbitério. Mais do que boas ou originais ideias postas em debate, importante será sempre o assumir do “nós” que fortalece e motiva.

A partir da temática do ano pastoral, que convida a cuidar do outro e a testemunhar a fé através da caridade fraterna, o encontro visa também motivar os nossos padres a protagonizarem idêntico cuidado na vivência do seu ministério.

Por outras palavras, o objectivo da assembleia passa por convidar cada um a contemplar e a preservar o dom recebido, “gastando-o” na comunidade. Um dom que pode ser promovido e protegido com a presença e ajuda fraternas dos outros presbíteros, bem como com o cuidado da comunidade cristã diante dos seus pastores.

O ministério sacerdotal é um dom, uma graça de Deus à Igreja e ao mundo, que necessita de cuidados, sob pena de estiolar, levar ao desencanto, causar infelicidade ou tristeza. Quantas vezes, por manifesta falta de cuidado do próprio ministro, por causa de um certo isolamento procurado ou sofrido e devido à ingratidão das comunidades, o ministério sacerdotal, que deveria ser motivo de alegria e um bem a preservar, se transforma numa “cruz pesada” difícil de levar ou numa insatisfação que é difícil disfarçar?

Longe de qualquer tentação narcisista ou clerocentrista, cuidar do ministério é condição cimeira para a realização pessoal e para a edificação da Igreja. Porque só um padre consciente do dom que é pode ser bênção para os outros.

in Voz de Lamego, ano 87/45, n.º 4430, 3 de outubro 2017

ASSEMBLEIA DO CLERO: Sacerdote para levar Cristo às pessoas

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Aproveitando o feriado comemorativo da implantação da República (05/10/1910), o clero da nossa diocese reuniu em assembleia, no Seminário Maior.

Como esperado, o tema proposto e previamente divulgado aos sacerdotes, por carta, versava sobre a vivência do ministério sacerdotal. O objectivo era convidar cada um, individualmente e em grupo, a identificar as situações diárias causadoras de alegria ou de mágoa que se vão experimentando na relação com os fiéis leigos, com o presbitério e com o bispo. Ler mais…

ASSEMBLEIA DO CLERO – 5 de outubro de 2016

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Vai realizar-se, no próximo dia 5 de outubro, no Seminário Maior, a Assembleia Geral do Clero da Diocese de Lamego, proposta pelos diversos Conselhos e integrada no Plano Pastoral, do Ano que estamos a iniciar.

A presença e a participação de cada sacerdote serão os melhores contributos para o bom resultado desta Assembleia, que abordará um tema que a todos diz respeito:

«Análise do nosso Ministério Pastoral na Diocese».

Programa:

09h30 – Acolhimento;

09h45 – Hora intermédia;

10h00 – Intervenção do Senhor Bispo;

10h30 – Intervalo;

11h00 – Trabalho de grupos;

12h00 – Plenário;

12h45 – Apresentação de software de gestão paroquial;

13h00 – Almoço.

Nota: As inscrições são importantes para a organização dos trabalhos e para a preparação do almoço. Por isso se pede a todos os colegas que participem a sua presença através dos telefones: 254 612151 (Seminário); 254 612147 (Cúria Diocesana).

Lamego, 21 de Setembro de 2016

(Mons. Joaquim Dias Rebelo, Vigário Geral)

Assembleia do Clero: Padre – pequeno pontífice para servir

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O Seminário Maior acolheu algumas dezenas de sacerdotes da diocese de Lamego, na manhã do último sábado, dia 14 de novembro, para a realização de mais uma Assembleia do Clero. O nosso bispo, D. António Couto, presidiu ao encontro que contou com o Superior Provincial da Companhia de Jesus em Portugal, Padre José Frazão, para apresentar o tema “O Padre e o entusiasmo na evangelização”.

A Assembleia, inicialmente prevista para os inícios de outubro, sofreu algum atraso por causa da disponibilidade do conferencista. A mudança da data e o facto de se ter realizado a um sábado poderá justificar algumas ausências, mas a espera valeu a pena, a julgar pela satisfação dos presentes, motivada pela actualidade e profundidade do tema abordado, que alguns já tinham ouvido durante o recente Simpósio do Clero, em Fátima.

Após a oração de Hora Intermédia, D. António Couto saudou todos os presentes, sublinhou a pertinência do encontro e apresentou sucintamente o conferencista. O actual Provincial dos Jesuítas é natural de uma aldeia vizinha de Leiria, onde nasceu em 1970. A sua ordenação sacerdotal aconteceu em 2004 e o seu doutoramento em Teologia Fundamental foi conseguido na Universidade Gregoriana, em Roma. Com vários livros publicados e já traduzidos noutras línguas, a sua presença tem sido habitual em diversas iniciativas eclesiais realizadas no nosso país. Durante o percurso de formação vivido em Portugal percorreu algumas terras da nossa diocese, pelo que foi um reencontrar de paisagens conhecidas.

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Testemunha da Graça

De maneira suave, mas incisiva, apresentou o tema proposto, apoiando-se nas notas preparadas. Partindo do tempo presente, afirmou que os nossos tempos pedem entusiasmo e inteligência para ver, ao mesmo tempo que exigem linguagens novas para comunicar e uma grande paixão dos pastores pelos fiéis.

A falta de entusiasmo é também resultado de uma relevância eclesial que se perdeu, de uma imagem de Igreja que já não volta. Porque o entusiasmo não é apenas um tema respeitante à interioridade de cada um, uma questão anímica, mas também o resultado de uma leitura da realidade eclesial que pode fazer-se.

Mas o entusiasmo não pode ser visto como ferramenta exterior, resultado de um esforço de marketing, algo postiço, um estar acima da realidade, uma patetice alegre ou uma alegria compulsiva. Neste âmbito deve ser visto como algo que brota de um interior vivificado, do reatar da ligação vital ao Outro, como fruto do espírito, fruto de uma vida real tocada pela graça.

O padre deve ser testemunha da graça que salva, porque também ele é salvo e o seu entusiasmo traduz-se na autenticidade que demonstra.

E concluía: o ministério sacerdotal não pode ser fecundo sem uma pertença existencial a Cristo. A pertença ontológica precisa ser concretizada numa pertença existencial, como se o nosso sacramento precisasse de ser realizado. E deixou a pergunta: será que os fiéis leigos nos vêem como vidas reais de crentes tocados pela graça? Porque o padre não pode ser menos que crente que faz caminho, sujeito às situações e dificuldades que o caminhar histórico acarreta.

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O espírito da bênção

Apoiando-se num pequeno livro a sair em breve na nossa língua (AO), falou também do sacramento da ordem como fonte de bênção, entendendo esta como força tocante da graça, capaz de provocar proximidade e alegria neste tempo descristianizado. Tal como Jesus fazia: encontrava-se com pessoas reais que transforma.

Neste sentido, importa que o padre avalie os seus gestos e palavras para verificar se é sinal de bênção fecunda que toca pela força da graça.

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O sacerdócio à luz da bênção

À luz desta realidade da bênção, o sacerdócio não pode ser assumido e vivido com traços de autoritarismo, paternalismo ou moralismo; não pode desvirtuar-se o dom recebido. Pelo contrário, o sacerdote deve revelar autoridade através do serviço prestado, ser “pequeno pontífice” entre desavindos, mundos separados e sem vida, promover a autonomia dos outros, acompanhar ritmos de fé diferentes existentes na comunidade e cultivar a virtude da fidelidade na paciência.

O pastor à luz da bênção

À luz da bênção, o pastor não é dono nem senhor, mas servo que acompanha, observa e respeita o ritmo de cada um. E nem sempre será fácil ser pastor real de ovelhas reais, que conhece as suas ovelhas, sem projectar modos e manias. Uma paixão real pela vida das pessoas

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O rito à luz da bênção

Nem sempre os fiéis percebem a celebração em que participam e nem sempre o será por culpa sua. Nesse sentido, a liturgia não pode ser entendida como uma espécie de “engenharia mecânica, onde o postiço pode estar presente, mas onde não se vislumbra a graça como bênção. Da mesma forma, um “devocionismo parado”, demasiado extático, que esconde a dimensão corpórea do rito deve ser evitado. No fundo, pretende-se realizar o amor em gestos, onde não basta dizer o que está a acontecer, mas é preciso que se mostre. Por outro lado, o rito também não pode ser prejudicado por uma certa “pirotecnia de efeitos especiais”, marcada por exageros emotivos, destinada a uma sensibilidade imediata que não deixa marcas. Por último, também as excessivas explicações e palavreado perturbam a vital e necessária escuta.

Estilo eclesial

Na parte final da palestra, algumas notas sobre o estilo eclesial para o ministério sacerdotal.

Em primeiro lugar, a competência humana. O padre não pode ser um teórico que discorre sobre realidades tão humanas como a alegria, a oração, o luto ou a família, por exemplo. Isso permite evitar gestos e palavras vividos mecanicamente, impossibilitando que a realidade o toque. É preciso sentir o que se faz e diz, saber sentir o que o outro sente e contrariar a rotina. Isso consegue-se, também, pelo contacto com a humanidade.

Depois, uma competência espiritual. O padre deve ser um místico, na medida em que se compreende diante de Deus, mas também um mistagógico, para saber acompanhar os outros. A sua competência gestual e representativa é importante, mas tudo começa antes, na sua relação com o divino. Nesse sentido, hábitos regulares como a oração ou o silêncio devem fazer parte do seu dia a dia.

Após intervalo e antes do almoço que encerrou o encontro, o Pe. Frazão disponibilizou-se para um diálogo com os presentes, proporcionando esclarecimentos e pontos de vista que ajudaram a aprofundar o tema exposto.

JDin Voz de Lamego, ano 85/51, n.º 4338, 17 de novembro

ASSEMBLEIA DO CLERO | 14 de novembro | Seminário Maior

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Conforme informação já dada, no final do mês de Setembro, aos Senhores Arciprestes e Vice Arciprestes para divulgação nas reuniões arciprestais do mês de Outubro, a Assembleia do Clero da nossa Diocese acontecerá no dia 14 de Novembro, sábado no Seminário Maior de Lamego.

Este momento de encontro e de comunhão dos membros do Presbitério da Diocese de Lamego, reunido à volta do seu Bispo, o Senhor D. António José da Rocha Couto, terá como tema de fundo a conferência, “O Padre e o entusiasmo na evangelização”, a proferir pelo Senhor Pe. José Frazão Correia SJ.

Terá o seguinte programa:

9h30 – Hora Intermédia e Palavra de Abertura pelo Senhor Bispo

10h00 – Conferência “O Padre e o entusiasmo na evangelização”

11h00 – Intervalo

11h30 – Tempo de diálogo e troca de impressões com o Conferente

13h00 – Almoço e encerramento.

Integrada em plena Semana dos Seminários e nas vésperas do ofertório que expressa a corresponsabilidade de todos os cristãos da Diocese na formação dos futuros sacerdotes, o Seminário Maior de Lamego tem toda a alegria em oferecer a refeição do almoço a todos os Sacerdotes.

Novo Ano Pastoral | Ide e construí com mais amor a família de Deus

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No passado sábado, 27 de Setembro, o nosso Seminário acolheu mais de duas centenas de agentes pastorais para a abertura do novo ano pastoral, num encontro presidido pelo nosso bispo, D. António Couto. Tal apresentação acontecia, habitualmente, no Dia da Igreja Diocesana, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, com o ano pastoral já em andamento. Este ano, a antecipação permitirá às paróquias organizarem-se tendo como referência a Carta Pastoral de D. António, bem como atentar às data já previstas na calendarização a fixar.

Apesar de estarmos em plena época de colheitas, ver tantos baptizados empenhados na edificação da Igreja foi motivo de alegria e de confiança. Alegria porque tal presença é sinónimo de vitalidade nas nossas comunidades; confiança porque tamanha disponibilidade faz-nos olhar para diante com esperança. E temos a certeza de que muitos mais estão motivados para participar e para marcar criativa e fielmente este nosso tempo.

Na saudação inicial e congratulando-se com a presença de todos, D. António Couto começou por fazer referência ao encontro de irmãos em Cristo, porque “nós vivemos da afirmação da presença de Cristo no meio de nós”. Apesar de, às vezes, nos esquecermos disso, a verdade é que “temos que sentir a presença de Cristo para O mostrar aos irmãos”. Comparando a assembleia reunida e atenta ao fermento que vai ajudar a levedar a massa, sublinhou também o facto de estarmos reunidos enquanto “família diocesana” convocada por Deus.

O plano não faz tudo

O Plano marca o ritmo da diocese, apresentando oportunas sugestões e possíveis iniciativas. Mas não é o mais importante. Porque, por mais minucioso ou bem fundamentado que esteja, um plano só fará sentido e poderá ser uma ajuda se “o coração de cada um estiver habitado pelo Espírito de Deus. Dito de outra maneira, todos os planos estão a mais quando Deus não está no nosso coração”, alertou o nosso bispo.

O instrumento agora difundido tem como finalidade motivar todos para a missão comum que é a de edificar a Igreja, sem nunca esquecermos que “em primeiro lugar está o plano missionário de chegar a todos”. Por isso, o Plano é como os andaimes numa obra: ajudam a que o trabalho seja feito, mas retiram-se quando a tarefa termina, porque o importante é a obra.

Ide: Igreja em saída

O nosso Plano tem como mote “Ide e construi com mais amor a família de Deus”, apresentando alguma semelhança verbal com o do ano passado.

A este propósito, D. António Couto, sublinhou a importância do “ide”, recordação constante das últimas palavras de Jesus aos seus discípulos, quando os enviou ao encontro de todos para anunciar, ensinar, curar, edificar a Igreja.

Tal como no-lo recorda o Papa Francisco, a Igreja não pode descansar, mas deve estar em permanente saída para encontrar o mundo, a vida, o homem. Por isso é importante tal verbo, na medida em que nos recorda que “não podemos ficar aqui”.

Na mesma tónica, o pastor diocesano desafiou todos a serem imitadores “itinerantes” de Jesus que se deslocava de cidade em cidade para encontrar, ao contrário de João Baptista, que protagonizou uma “pastoral de estaca”, ou seja, de alguém que permaneceu quieto e esperou a vinda dos interessados em ouvi-lo e serem baptizados.

Por outro lado, o título faz também referência à família, o que demonstra a vontade da diocese em estar em comunhão com a Igreja universal, ocupada e preocupada com a realidade familiar.

Em seguida, D. António Couto percorreu o texto da Carta Pastoral que escreveu e norteia todo o plano referido, comentando detalhadamente algumas passagens, que não dispensam a leitura integral da mesma.

Convocados e enviados

Após um breve intervalo, o Coordenador da Pastoral diocesana, Cón. José Manuel Melo, apresentou a calendarização proposta. A leitura comentada de algumas passagens permitiu a todos uma melhor compreensão das metas, bem como dos possíveis e comuns percursos.

O encontro continuou depois com a cerimónia do envio em missão. Porque, em Igreja, ser convocado tem como consequência ser enviado. E foi isso que sentiram todos os que vieram dos diversos cantos da diocese.

Uma cerimónia singela, iniciada com a leitura de uma passagem evangélica, a que se seguiu um comentário do nosso bispo. Nesse momento, D. António Couto não deixou de dizer a todos que “o Evangelho é explosivo” e que a mudança esperada no noutro e no mundo começa sempre por uma decisão de mudança pessoal. A este propósito, apresentou o exemplo de S. Francisco de Assis que, voluntariamente desprendido de tudo, revolucionou toda uma época. E concluiu com uma interrogação já proferida aquando da sua participação no último Sínodo: “Porque será que os santos se esforçaram tanto, e com tanta alegria, por ser pobres e humildes, e nós nos esforçamos tanto, e com tristeza, por ser ricos e importantes?”

in VOZ DE LAMEGO, 30 de setembro de 2014, n.º 4382, ano 84/44

Carta Pastoral de D. António Couto | 2014-15 | Ide com mais amor…

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IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS

«Os filhos são um dom de Deus»

(Salmo 127,3)

«Toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

«Sois membros da família de Deus»

(Efésios 2,19)

O amor fontal de Deus-Pai

  1. «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16) e «amou-nos primeiro» (1 João 4,19), e «nós amamos, porque Deus nos amou primeiro» (1 João 4,19). Então, o amor que está aqui, o amor que está aí, o amor que está em mim, o amor que está em ti, o amor que está em nós, «vem de Deus» (1 João 4,7), e «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7). Deus amou-nos primeiro, ama-nos e continua a amar-nos sempre primeiro com amor-perfeito (êgapêménos: part. perf. pass. de agapáô), isto é, amor preveniente, fiel, consequente, permanente (1 Tessalonicenses 1,4; Colossenses 3,12). Ama-nos a nós, que estamos aqui, e foi assim que nós começámos a amar. Se não tivéssemos sido amados primeiro, e não tivéssemos recebido o testemunho do amor, não teríamos começado a amar, e nem sequer estaríamos aqui, porque «quem não ama, permanece na morte» (1 João 3,14), sendo então a morte, não o termo da vida, mas aquilo que impede de amar, e, portanto, de nascer!
  1. Portanto, se «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7), o amor que há em nós é remissivo, remete para outrem, remete para a origem. O que é a origem? A origem é o que está antes do começo, a quem a Bíblia e uma parte da humanidade chamam Deus, e nós, cristãos, por imagem, chamamos «Pai». Nova genealogia do amor: o Pai ama o Filho (João 3,35; 5,20), e ama também o mundo (João 3,16), a ponto de enviar o seu Filho ao mundo para lhe manifestar esse amor (João 3,16; 1 João 4,9-10). Só o semelhante conhece o semelhante, e lhe pode comunicar o seu amor. O Pai ama e conhece o Filho Unigénito, e comunica-lhe o seu amor. Como o Pai ama e conhece o Filho Unigénito, também o Filho Unigénito ama e conhece o Pai (Mateus 11,27), e o pode revelar os seus discípulos fiéis (João 15,9), tendo, para tanto, de descer ao nosso nível, fazendo-se homem verdadeiro, semelhante a nós (Filipenses 2,7; Hebreus 2,17). Na verdade, comunica-nos o amor do Pai, e dá-nos a conhecer tudo o que ouviu do Pai (João 15,15). E nós somos convidados a entrar nesse divino colóquio, a acolher esse amor desmesurado, e a passar a amar dessa maneira, como fomos e somos amados (João 13,34; 15,12).
  1. Assim, o amor que está em nós, ou em que estamos nós, o amor entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre amigos, entre nós, não provém nem de uns nem de outros. Nem sequer de si mesmo. O amor não é meu nem é teu. O amor não é nosso. O amor é dado. Claro. Se «quem ama nasceu de Deus», não é nossa a patente do amor, e temos mesmo de ser extremamente cuidadosos quando pretendemos ajuizar acerca do amor que há nos outros. A antiga equação nivelada: «Ama o próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), é plenificada e subvertida pela equação paradoxal: «como Eu vos amei» (João 13,34; 15,12). Mesmo aqueles que desconhecem a fonte do amor, é dela que o recebem. Neste sentido, em que a fé se une à razão, não é o casal que faz o amor; é o amor que faz o casal. Do mesmo modo que não é o casal que faz os filhos; é o amor que os faz. São um dom de Deus (Salmo 127,3). Atravessa-nos um calafrio quando nos apercebemos que a humanidade transmite, de idade em idade, de pais para filhos, algo de eterno. Amor eterno, tão terrivelmente ameaçado de idade em idade!
  1. É esse amor eterno, primeiro e derradeiro, verdadeiro, que nos faz nascer como irmãos. O lugar que, de forma mais imediata, nos mostra a fraternidade, é a família. E é verdade que, numa família, os filhos, não deixando de ser diferentes na ordem do nascimento, da saúde, da inteligência, temperamento, sucesso, são iguais. E são iguais, não obstante as suas acentuadas diferenças. São iguais, não em função do que são ou do que têm ou do que fazem, mas em função daquilo que lhes é dado e feito. Em função do amor que os precede, o amor dos seus pais, e, em primeira ou última instância, o amor fontal de «Deus-Pai» (Ad gentes, n.º 2), pois nós somos também, diz o Apóstolo, filhos de Deus (1 João 3,2), filhos no Filho (Romanos 8,17.29), membros da família de Deus (Efésios 2,19). É esse amor primeiro que nos torna livres e iguais, logo irmãos. A fraternidade é o lugar em que cada um vale, não por aquilo que é, por aquilo que tem ou por aquilo que faz, mas por aquilo que lhe é feito, antes e independentemente daquilo que deseja, pensa, projeta e realiza, e em que o seu ser é ser numa relação de amor incondicionada, que não é posta por ele, mas em que ele é posto. A verdadeira fraternidade ensina-nos que a nossa consciência não é a autoconsciência daquilo que fazemos, mas a hétero-consciência daquilo que nos é feito e que nós somos sempre chamados a reconhecer e a cantar com renovada alegria, como Maria: «O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas» (Lucas 1,49).

O limiar do mistério em cada nascimento

  1. Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! (Romanos 11,33). Ó abismo do amor de Deus! Caríssimos pais e mães, os filhos que gerais e que vedes nascer, são, antes de mais, vossos ou são de Deus? Dir-me-eis: este filho é nosso, fomos nós que o geramos, fui eu que o dei à luz, nasceu neste dia, tenho aqui a cédula de nascimento. E eu pergunto ainda: sim, mas porquê esse, e não outro? É aqui, amigos, que entra o para além da química e da biologia, entenda-se, o para além de nós. É aqui, amigos, que entramos no limiar do mistério, na beleza incandescente do santuário, onde o fogo arde por dentro e não por fora. É aqui que paramos ajoelhados e comovidos à beira do inefável e caímos nos braços da ternura de um amor maior, novo, paternal, maternal, que nenhuma pesquisa biológica ou química explicará jamais. Todo o nascimento traz consigo um imenso mistério. Sim, porquê este filho, e não outro? Porquê este, com esta maneira de ser, este boletim de saúde, este grau de inteligência, estas aptidões, esta sensibilidade própria? Sim, outra vez, porquê este filho, e não outro, com outra maneira de ser, outro boletim de saúde, outro grau de inteligência, outras aptidões? Fica patente e latente, evidente, que, para nascer um bebé, não basta gerá-lo e dá-lo à luz. Quando nasce um filho, é também Deus que bate à nossa porta, é também Deus que entra em nossa casa, é também Deus que se senta à nossa mesa, é também Deus que nos visita. Há outra paternidade, a de Deus, por detrás da nossa vulgar paternidade, participação da verdadeira paternidade de Deus. Na verdade, «toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

Membros de uma nova família

  1. Há, portanto, também uma nova familiaridade. A partir de Deus. Na verdade, no comportamento Misericordioso de Jesus transparece uma nova familiaridade, que assenta a sua fundação muito para além dos meros laços biológicos e anagráficos das nossas famílias. Prestemos atenção ao luminoso dizer de Jesus no caixilho literário de Marcos:

 «E vem a mãe dele e os irmãos dele, e, ficando fora, enviaram quem o chamasse. E estava sentada à volta dele a multidão, quando lhe dizem: “Eis que a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e procuram-te”. E respondendo-lhes, diz: “Quem é a minha mãe e os meus irmãos?”. E tendo olhado à volta, para os que estavam sentados em círculo ao seu redor, diz: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Na verdade, aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe”» (Marcos 3,31-35).

Ensinamento espantoso de Jesus que põe em causa a validade de uma maternidade e fraternidade meramente biológicas, fundadas sobre os direitos do sangue [«a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs… procuram-te»], para afirmar uma nova familiaridade aberta pelo horizonte novo do éschaton, do último, do primeiro e último, do novíssimo: «aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe». No novo horizonte da vontade do Pai, não se deixa de ser mãe, irmão ou irmã. Não são, porém, esses laços familiares que nos dão direito a amar e a ser amados, mas o termos sido encontrados pelo Amor, que agora somos chamados a testemunhar. «Vós sois testemunhas (mártyres) destas coisas», diz Jesus (Lucas 24,49). Sermos designados por Jesus testemunhas das coisas de Jesus é sermos chamados a envolver-nos de tal modo na história e na vida de Jesus, a ponto de a fazermos nossa, para a transmitir aos outros, não com discursos inflamados ou esgotados, mas com a vida! Sim, aquela história e aquela vida são a nossa história e a nossa vida. Sentir cada criança como filho, cada mulher como mãe e todo o semelhante como irmão ou irmã não é simples retórica, mas a transcrição verbal do novo real compreensível à luz do projeto Criador, Primeiro e Último, em que o mundo aparece como uma única casa e os seus habitantes como uma só família. Nascerá então o mais belo relato. Sim, o relato re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça. E re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça duplamente: primeiro, porque faz uma re-lação dos acontecimentos, unindo-os para formar um belo colar; segundo, porque põe em relação o narrador e o narratário. Sim, quando eu e tu e ele e ela, nós todos, relatarmos a mesma história, e não histórias diferentes, nesse dia luminoso e bendito começamos a nascer como irmãos, não pelo sangue, mas pela liberdade. Sim, só o relato nos pode aproximar tanto, fazendo-nos, não apenas estar juntos, mas nascer juntos, como irmãos. Portanto, irmãos e amigos, deixai que grite bem alto aos vossos ouvidos: mais amor, mais família, mais oração, mais missão, mais formação. Mais. Mais. Mais.

 O sentido da vida recebida e dada

  1. Na origem dos nossos termos «matrimónio» e «património» está o «dom» como «munus», como bem sublinha e explica o famoso linguista francês Émile Benveniste, seguido por Eugenia Scabini e Ondina Greco, no domínio da psicologia social. Munus faz parte de uma rede de conceitos relacionais, que obriga a uma «restituição». Quem não entra neste jogo do munus diz-se immunus, «imune». E voltam as perguntas contundentes: quem recebe a vida, como e a quem a restitui? Salta à vista que não podemos «restituir» a vida a quem no-la deu. Há, neste domínio, uma assimetria originária nas relações familiares. Verificada esta impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu, poderíamos pensar em «restituir» em termos análogos: então, o filho poderia, por exemplo, responder ao dom da vida recebida, tomando a seu cargo e cuidado os pais enfraquecidos e velhinhos. Mas este não é o único modo de «restituição» nem o mais significativo. O equivalente simbólico mais próximo é «restituir» em termos generativos (generativo e generoso têm a mesma etimologia), dando, por sua vez, a vida e assumindo a responsabilidade de pôr no mundo uma nova geração. Dar a vida e tomar a seu cuidado uma nova geração é mesmo o modo mais apropriado de «restituir» à geração precedente. Situação paradoxal: respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito em relação à geração seguinte. E os avós têm muito a ganhar com os netos, e estes com aqueles. Todos sabemos. Da família humana à grande família de Deus, passando pela família religiosa. Também por isso, a Bíblia é um livro de nascimentos e de transmissão: da vida e da fé e da graça. Vamo-nos hoje apercebendo de que o mundo em que estamos tem muitas dificuldades em transmitir a vida e a fé e a graça, a cháris, o carisma, que envolve a nossa vida pessoal e da nossa família humana, mas também a vida da Igreja, família de Deus, e das diferentes famílias religiosas. Talvez por isso, nos voltemos tanto para trás, e se fale tanto em voltar às origens, refundar. Mas o caminho a empreender não passará mais por gerar novos filhos na vida e na fé e no carisma? Parece-me que é esta a tarefa que todos temos pela frente, em casa, na Igreja, família de Deus, e nas famílias religiosas.

Missão: «restituição» para a frente

  1. Impõe-se, portanto, não a preservação, a conservação, a autoconservação, mas a missão, que é a verdadeira «restituição» a Deus e aos irmãos. Já atrás nos ocupámos a verificar, em termos familiares, a impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu. O Salmista também se pergunta no que a Deus diz respeito: «Como «restituirei» ao Senhor por todos os seus benefícios que Ele me deu?» (Salmo 116,12). Sim, como «restituirei» ao Senhor o amor que há em mim? Como «restituiremos» ao Senhor o amor que há em nós? O Salmista responde: «O cálice da salvação erguerei, e o Nome do Senhor invocarei. Os meus votos ao Senhor cumprirei, diante de todo o seu povo» (Salmo 116,13-14). Sim, o Salmista sabe bem que não pode «restituir» diretamente a Deus, mas sabe também que pode sempre agradecer a Deus (restituição análoga), e, passando de mão em mão, em fraterna comunhão, o cálice da salvação, anunciar a todos que Deus atua em favor do seu povo, faz em nós grandes coisas, sendo este anúncio ação de evangelização ou generosa «restituição» generativa. É assim que, de forma empenhada, generosa e apaixonada, como testemunha S. Paulo, se vão gerando (1 Coríntios 4,15; Filémon 10) e dando à luz novos filhos (Gálatas 4,19).
  1.  Amados irmãos e irmãs, não nos é permitido, nesta encruzilhada da história, ficar quietos, desanimados, tristes e calados. Ou simplesmente entretidos, ensonados e descomprometidos, como crianças sentadas nas praças, que não ouvem, não ligam, não respondem (Mateus 11,16-17; Lucas 7,31-32). Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, todos estamos convocados. Ninguém se pode excluir, ou ficar simplesmente a assistir. São sempre necessários e bem-vindos mais corações, mais mentes, mais entranhas, mais braços, mais mãos, mais pés, mais irmãos. Uma Igreja renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. A nossa vida humana e cristã tem de permanecer ligada à alta tensão da corrente do Amor que vem de Deus. E temos de ser testemunhas fortes e credíveis de tanto e tão grande Por isso e para isso, podemos aprender a rezar a vida com o orante do Salmo 78:

«As coisas que nós ouvimos e conhecemos,

o que nos contaram os nossos pais,

não o esconderemos aos seus filhos,

contá-lo-emos à geração seguinte:

os louvores do Senhor e o seu poder,

e as suas maravilhas que Ele fez.

Ele firmou o seu testemunho em Jacob,

e a sua instrução pôs em Israel.

E ordenou aos nossos pais,

que os dessem a conhecer aos seus filhos,

para que o saibam as gerações seguintes,

os filhos que iriam nascer.

Que se levantem e os contem aos seus filhos,

para que ponham em Deus a sua confiança,

não se esqueçam das obras do Senhor,

e guardem os seus mandamentos» (Salmo 78,3-7).

Amados irmãos e irmãs, há coisas que não podemos mais dizer sentados, que é como quem diz, assim-assim, de qualquer maneira ou de uma maneira qualquer. O Amor de Deus, que enche a nossa vida, tem de ser dito com a vida levantada, com um dizer grande, transbordante, contagiante e transformante, com razão, emoção, afeto e paixão. Retomo o dizer do orante e transmissor da fé: «Que se levantem e os contem aos seus filhos» (Salmo 78,6). Ou, de outra maneira: «Uma geração enaltece à outra as tuas obras» (Salmo 145,4). Ou como Maria: «A minha alma engrandece o Senhor» (Lucas 1,47).

Todos-para-todos

10. Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor às famílias desconstruídas e a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a beleza da sua família toda reunida. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.

Santa Maria de um amor maior,

do tamanho do Menino que levas ao colo,

diante de ti me ajoelho e esmolo

a graça de um lar unido ao teu redor.

Protege, Senhora, as nossas famílias,

todos os casais, os filhos e os pais,

e enche de alegria, mais e mais e mais,

todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias.

Vela, Senhora, por cada criança,

por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,

a todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,

e deixa em cada rosto um afago de esperança.

Lamego, 27 de setembro de 2014, Dia da Igreja Diocesana

+ António, vosso bispo e irmão


DOCUMENTO PARA DOWNLOAD:

Carta Pastoral de D. António Couto > AQUI.