Editorial Voz de Lamego: Apressadamente ao encontro de Isabel

O tema escolhido pelo Papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude, a viver em Portugal, de 1 a 6 de agosto de 2023, remete-nos para a Visitação de Nossa Senhora à sua prima santa Isabel: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). Logo depois da anunciação, Maria põe-se a caminho, sem calcular dificuldades, sem se prender às comodidades de ficar.
No próximo Domingo, 24 de julho, comemora-se o II Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, em véspera da memória litúrgica dos avós maternos de Jesus, são Joaquim e santa Ana. Como tema para esta jornada, o santo Padre escolheu a perícope de um salmo (92, 15): “Dão fruto mesmo na velhice”. É constante a preocupação do Papa em alertar para o descarte a que são entregues muitos idosos, sendo esse um dos dramas, e dos pecados, que impedem uma efetiva fraternidade e, ao mesmo tempo, a sadia convivência de gerações, interdependentes, e que poderiam beneficiar das riquezas e do saber uns dos outros. Queiramos ou não, o que somos, o que temos, a evolução científica e tecnológica, a mobilidade, a globalização informática, deve-se a gerações do passado, cuja inteligência e sabedoria foram colocadas ao serviço da transformação da sociedade. Uns mais altruisticamente, outros mais egoisticamente, mas, ainda assim, a eles se deve o caminho percorrido e as portas e avenidas que nos permitem prosseguir. Claro que o caminho também gerou acidentes e também abriu portas que facilitam a destruição massiva da criação. Está (também) nas nossas mãos acolher e potenciar as descobertas, invenções, criações que tornam mais leve a cruz de muitos.
Vale a pena recuperar a mensagem do Papa Francisco: “Muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contacto: os idosos não nos dizem respeito – pensam elas – e é conveniente que estejam o mais longe possível, talvez juntos uns com os outros, em estruturas que cuidem deles e nos livrem da obrigação de nos ocuparmos das suas penas. É a «cultura do descarte»: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados entre «nós» e «eles». Mas, na realidade, uma vida longa – ensina a Sagrada Escritura – é uma bênção, e os idosos não são proscritos de quem se deve estar à larga, mas sinais vivos da benevolência de Deus que efunde a vida em abundância. Bendita a casa que guarda um ancião! Bendita a família que honra os seus avós!”
Na sua tese de doutoramento, “A presença de Deus nos caminhos dos homens”, o Pe. Diamantino Alvaíde aponta para uma pastoral integral, em que as iniciativas pastorais abarquem as diferentes gerações. “Desde o mais velho ao mais novo, desde o mais afastado ao mais incluído. A intergeracionalidade e o trabalho em rede, entre pessoas e estruturas pastorais são, talvez, a urgência mais gritante da nossa realidade eclesial”.
Na cena da Visitação, Maria vai apressadamente ao encontro de Isabel para lhe levar Jesus, para lhe comunicar a Boa Nova que transporta consigo. Nossa Senhora prontifica-se para auxiliar Isabel, mulher de idade avançada, cuja gravidez, não prevista e fora de tempo, pode envolver maiores dificuldades. O nosso Bispo acentua, não tanto a ajuda, mas a “evangelização”. Para ajudar, familiares e vizinhos; Maria apressa-se para levar o anúncio alegre da Boa Notícia que acolhe no seu ventre.
Aqui se inserta a pastoral integral e sinodal, o Evangelho destina-se a todos, também aos menos jovens. Mas não basta que os idosos sejam destinatários da pastoral, é imperioso que tenham voz ativa, contribuam com sugestões e sejam envolvidos em todo o processo. Na peregrinação dos símbolos da JMJ, diga-se, meritoriamente, tem-se procurado que todos sejam incluídos, e daí a visita a Lares e centros de dia, a escolas e estabelecimentos prisionais. É, pelo menos, um bom sinal. Que ninguém fique esquecido!
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/36, n.º 4667, 20 de julho de 2022