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Editorial VL: São José, custódio de Maria, de Jesus e da Igreja

Há oito anos, o Papa Francisco escolhia o Dia de São José para iniciar o seu pontificado. Curiosamente, como o próprio sublinhou, onomástico de Bento XVI, cujo nome de batismo é José (Joseph).
Francisco quis colocar o seu pontificado sobre o cuidado de São José. Se José, com humildade e descrição, mas com firmeza, cuidou de Maria e de Jesus, também cuidará da Igreja.
Ao longo da história da Igreja, São José, embora acarinhado por ser o pai adotivo de Jesus, surgia quase como um figurante num filme, integrava o elenco mas sem se dar por ele. Justiça seja feita, nos últimos anos este quadro tem-se alterado.
Há 150 anos, o Beato Pio IX, com o Decreto Quemadmodum Deus, declarou São José como Padroeiro Universal da Igreja. Face à grande hostilidade, o Papa confiava a Igreja ao patrocínio de São José. Em 8 de dezembro último, o Papa Francisco, com a Carta Apostólica Patris Corde, convocou um ano especial dedicado a São José e que se prolonga até à próxima solenidade da Imaculada Conceição.
Diz-nos São João Paulo II: «São José, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo» (Citado por Francisco, nesta homilia inaugural de pontificado).
O Evangelho é Jesus, a Sua vida e mensagem, a Sua morte e ressurreição. O quadro principal é o mistério pascal, as últimas horas da Sua vida terrena de Jesus, desembocando na Cruz, como oferenda total, e finalizando com a ressurreição, vida nova, à qual nos agrega, enviando-nos a anunciar esta alegre notícia ao mundo inteiro. Os demais livros do Novo Testamento mostram como Jesus está vivo e age pelos Seus discípulos em diversos contextos. Recuar à infância de Jesus não fez parte das cogitações dos evangelistas, ainda que São Lucas e São Mateus nos apresentem um ou outro episódio, sabendo que a preocupação não era escrever uma biografia, mas fixar por escrito o que, primeiramente, foi proclamado oralmente em pequenos grupos de pessoas. Pouco a pouco, a formação das comunidades e a necessidade de o testemunho oral não se esbater com a morte dos apóstolos.
O vislumbre sobre São José já nos diz muito. Discreto, é um homem justo, piedoso, trabalhador, disponível para escutar a Palavra de Deus e realizar os Seus sonhos para a humanidade. Comprometido com Maria, apercebendo-se que se achava grávida, sem a sua intervenção, pondera, mesmo aí, proteger Maria, fazendo recair sobre si o ónus do “abandono” familiar, salvaguardando-A de qualquer suspeita. Porém, Deus baralha-se os propósitos e desafia a envolver-Se no Seu mistério de amor.
O Papa Francisco apresenta-nos São José como custódio, com protetor de Nossa Senhor e do Menino Jesus. Como é que São José realiza esta guarda? “Com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entende… Permanece ao lado de Maria, sua esposa, tanto nos momentos serenos como nos momentos difíceis da vida… é «guardião», porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas. Nele, queridos amigos, vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 91/18, n.º 4600, 16 de março de 2021