A minha Páscoa – testemunho de uma jovem de 17 anos

Hoje, dia 12 de abril, foi a Páscoa do Senhor. Mesmo fechada em casa durante um mês inteiro, é impossível não sentir o calor da Ressurreição de Jesus Cristo. Apesar de todas as advertências que enfrentamos, as redes sociais inundaram-se de memórias de anos anteriores, celebrações eucarísticas transmitidas via Rádio e TV e centenas de felicitações referentes ao dia de hoje.
Como sacristã da paróquia onde estou inserida, e já com quase 13 anos a servir ao altar, não me consigo recordar de uma Páscoa tão infeliz. Esta, que é a época mais importante para os católicos cristãos, tornou-se em algo vulgar: não houve Quinta-feira Santa, muito menos Sexta-feira Santa. Não andei enfiada naquela típica azáfama, que eu sempre adorei, nos preparativos reconfortantes e nas horas de reflexão.
Antes de qualquer celebração, não tocava os sinos, mas sim as matracas. Andava pelas ruas da minha terra a ensurdecer o povo até criar calos nas mãos. Depois, sentava-me no segundo banco da igreja a rezar, a pedir concentração e fé. Assim que concluía o momento de oração pessoal, meia hora antes, preparava tudo o que era necessário para as eucaristias até ao mais ínfimo detalhe. Nada me escapava, e se escapava, não me perdoava. Estava determinada em tornar cada minuto dentro daquela igreja no mais profundo possível. O aroma do incenso, das velas a arder. A luz dos corações que ansiavam por misericórdia. Era a minha função, a minha missão.
Este ano, nada disso foi possível… à exceção de um momento: o toque dos sinos no Domingo de Aleluia. O toque dos sinos do campanário da igreja, que anunciam a todos que Ele vive! Nunca me senti tão privilegiada: poder dar a notícia a todos, através do meu toque, sem ter que dizer uma única palavra. A honra de saber entoar os sinos transbordava.
Lá no topo, vi todas as pessoas que moram nas redondezas da igreja a abrir as janelas, umas sorriam, outras choravam, outras rezavam. Mas estavam ali, a ver a única manifestação Pascal presencial que foi possível.
Dos sinos, olhei para a Torre do Relógio, mesmo em frente do meu olhar: a cruz que lá fora colocada, já não envergava um pano roxo, mas sim branco. Era mesmo verdade: Ele ressuscitara. Já não subia lá há meses, mas depois de sair da igreja, eu tinha que ir. Queria ver aquela cruz de perto. Queria tocar-lhe.
Depois de um mês fechada em casa, descer as escadas do campanário foram como facadas no meu peito: parar no topo da escadaria e contemplar o altar, tão vazio, mas tão cheio de Cristo. Sabia que ali encontraria, durante os 5 dias (de quinta a segunda-feira) o que necessitava para um ano pleno, e que recolheria ali as minhas forças, as minhas sandálias para a caminhada. Ao aproximar-me do Sacrário, a ficha caía cada vez mais rápido. “Meu Deus, porque me abandonaste?”. E as lágrimas escorriam pelo meu rosto, sem pedir autorização. Cada celebração era ressuscitada ao fitar cada uma das chagas de Cristo. Fitei aquela cruz de cima abaixo. E vi naquela igreja vazia cada rosto que possivelmente ali estaria, a observar atentamente cada pormenor de cada momento, a percorrer aquela “Via Crucis” em família. E imaginei como seria ter que sair a correr da igreja depois da missa de Domingo de Aleluia para almoçar à pressa e regressar o mais rápido possível, ser a primeira a regressar! E imaginei como seria a oração inicial, antes de partirmos para a Visita Pascal, e de igual modo depois da chegada. E ali, eu senti saudades. E de igual modo, Cristo.
Jeni Fidalgo, in Voz de Lamego, ano 90/21, n.º 4556, 21 de abril de 2020
Obrigdo pelo seu Testemunho de que risto Ressucitou e vive dentro de cada um de Nós
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