Arquivo
Editorial da Voz de Lamego: Uma Igreja em cada casa

Entrámos na Semana Maior da nossa fé. Estes eram dias de movimento, tempos de oração, de procissões, de encontro e de alegria interior. As igrejas compunham-se de gente devota. Mais ou menos expressivas, as celebrações apelavam e apelam ao recolhimento espiritual, à contemplação das últimas horas de Jesus, para culminar na Páscoa, com a Visita Pascal, anunciando a ressurreição de Cristo, de casa em casa, em todas as casas.
Como pároco, já ouvi, em forma de pergunta ou de lamentação: este ano não há Páscoa?! Sim, há Páscoa, pois não se deixa de celebrar a ressurreição de Jesus. Mas de um jeito muito diferente do habitual. Antes lamentávamos as igrejas vazias, mesmo quando tinham pessoas, agora efetivamente estão vazias. Todavia, também a Igreja procurou adaptar-se a estes tempos de confinamento caseiro, procurando que não se perca a ligação, a comunhão à comunidade, contando com a criatividade de muitos. Se antes, cada casa era chamada a ser Igreja doméstica, hoje, por maioria de razão, a Igreja é em cada casa, em cada família, pois é em cada casa que se reúne a família para rezar e aprofundar a fé e a esperança, vivendo a caridade.
Antes de chegarmos à Páscoa, à alegria da Ressurreição, há caminho a percorrer, há uma cruz a transportar, há um calvário a acolher, e tantas contrariedades a experimentar, especialmente neste tempo. A realidade pandémica do coronavírus paira como ameaça sobre todos, desafiando-nos, sempre, mas agora mais ainda, a cuidar uns dos outros, atendendo sobretudo às pessoas e famílias mais vulneráveis.
Vai ficar tudo bem!
A vida é um dom e uma bênção. Sempre! Mas, porque somos limitados e finitos, a vida pode complicar-se!
Vai ficar tudo bem!
O Filho do Homem vai ser entregue às autoridades dos judeus… vai ser morto… VAI FICAR TUDO BEM… três dias depois ressuscitará. A última palavra será da vida, do amor, da ressurreição, a última palavra será de Deus. Mas, porquanto, vivemos na penúltima palavra, estando sujeitos às coordenadas espácio-temporais e a lidar com as fragilidades, limitações e egoísmos uns dos outros.
Ao longo da Sua vida, Jesus não Se desvia do amor do Pai, traduzido em proximidade, cuidado e serviço a todos, preferencialmente aos últimos da sociedade. Instala-se uma revolução “silenciosa” de delicadeza, de ternura e de compaixão, de amor e perdão, de serviço e bondade. A luz, que é Jesus, ilumina e ofusca, desafia e provoca, clarifica o caminho e põe a descoberto a soberba, o egoísmo e a indiferença, expõe a maldade, as trevas e as maquinações. Se uns se sentem desafiados e envolvidos, outros sentem-se acossados e expostos! Olhamos para Jesus e olhamos para autoridades judaicas e não precisamos que nos deem explicações, são percetíveis as opções e a coerência de vida. E tal coerência gera irritação, ódio, e a necessidade urgente de apagar a chama que incendeia corações e vidas!
Vou partir… a vossa tristeza é inconsolável… mas vai ficar tudo bem… Eu voltarei e, então, a vossa alegria será completa!
Vai ficar tudo bem! É a certeza da Páscoa e de todas as páscoas que vamos experimentando, ainda que falte fazer caminho!
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/19, n.º 4554, 7 de abril de 2020
Falecimento do Padre José Tomás Borges | 1938-2020
O padre José Tomás Borges, era natural da Paróquia de Paus, na Zona Pastoral de Resende, onde nasceu a nasceu a 4 de julho de 1938, em Paus e membro da Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN), a que pertence também o nosso Bispo, e faleceu a 7 de abril, aos 81 anos de idade.

A SMBN recorda-o como “um homem muito delicado e respeitador; dialogante e com grande capacidade de escuta, pelo que era procurado por muita gente… Dedicou toda a sua vida à formação inteletual e espiritual. Amava profundamente a Sociedade Missionária da Boa Nova, como parcela da Igreja. Que o Senhor o receba na sua luz”.
Foi ordenado presbítero em Cucujães, a 28 de julho de 1963, tendo desempenhado a sua Missão no Seminário das Missões, em Maputo, Valadares e Tomar; foi vigário-geral da Sociedade Missionária de 1986 a 1990.
O Sr. Bispo de Lamego, D. António, em seu nome e do presbitério de Lamego, une-se na oração e na comunhão espiritual a todos os familiares e amigos, e à SMBN, na certeza, da fé, da ressurreição dos mortos, onde, um dia, todos nos encontraremos.