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Archive for 27/02/2020

Entrevista com o Comandante dos Bombeiros de Moimenta da Beira

“Os bombeiros precisam que lhes seja reconhecido o seu trabalho”

José Requeijo, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Moimenta da Beira, é entrevistado por Andreia Gonçalves para o nosso jornal.

José Requeijo herdou do pai, não só o nome, como a vocação para se tornar bombeiro. O ídolo deixou-lhe um legado e ensinamentos que o orientam até hoje. O comandante dos Bombeiros Voluntários de Moimenta da Beira diz que “quando a sirene toca o primeiro pensamento é que alguém sem nome, sem cor, sem credo, sem posição política, precisa de ajuda” e por isso é preciso fazer de tudo para salvar vidas….

José Requeijo é, hoje, comandante dos bombeiros voluntários de Moimenta da Beira. Se recuar no tempo o que andaria a fazer há 40 anos atrás?

Bom, 40 anos atrás, foi há muito tempo era eu uma criança, muito jovem ainda, que iniciava o meu percurso escolar na escola primária, talvez na quarta classe, no entanto  já vivia o ambiente dos bombeiros pela mão do meu pai que me leva a fardar para a inauguração de um veiculo de combate a incêndios, do mais moderno que havia na região, que ficou famoso pelo nome “Jipão”, um Land Rover com motor a gasolina e que era o primeiro equipado com bomba acopolada e tanque de água de 400 litros, máquina fantástica. Um momento marcante que, ainda, hoje recordo com nostalgia.

O seu pai foi e continua a ser uma referência. Sente a responsabilidade de ser o filho do anterior comandante José Requeijo? Que ensinamentos traz, sempre, consigo?

O meu pai é a minha referência, a minha estrelinha orientadora, o meu conselheiro, o meu ídolo e continua a ser o meu companheiro. Claro, que sentir e verificar, no dia-a-dia que continua a ser uma referência nos bombeiros e, após tantos anos da sua morte, acresce-me, ainda, mais responsabilidade e em permanência, pela sua memória pela sua personalidade e pelos ensinamentos que me deixou. Não raros são os dias que me vejo a pensar em como ele resolveria ou como abordaria determinada situação, os ensinamentos e os seus conselhos são permanentes e diários. Revejo-me muito nele, muitas das minhas decisões são conselhos e aprendizagem desses momentos.

O que é mais difícil para um comandante, lutar pela vida dos outros ou lidar com a morte de alguém?

Difícil separar a dificuldade das duas, pois a ambiguidade da vida e da morte estão intimamente ligadas à nossa missão dos bombeiros. E se por um lado o nosso objetivo primeiro é a salvaguarda da vida, o que nos faz empenhar e aplicar todo o nosso conhecimento, esforço pessoal e profissionalismo, por outro lado e por natureza o ser humano não está preparado para lidar com a morte, muito menos um Comandante que reside num concelho pequeno e conhece toda a população. Sou colocado em situações sensíveis e delicadas que vão para além da função que desempenho tendo que, na maioria das vezes, lidar com sentimentos pessoais e relações próximas que elevam o patamar de tratamento emocional e psicólogo muito forte. Contudo todos estes anos vão-me dando alguma experiência para poder lidar e enfrentar situações desta complexidade. Ler mais…

Editorial Voz de Lamego: Com o olhar fixado na Páscoa

Não há cristão sem a Páscoa de Jesus, pois na Páscoa, Jesus regressa à comunidade, encontra os discípulos, reanima a pouca fé que tinham, cimenta a esperança que a Sua morte fez perigar, ilumina o passado, a história dos últimos três anos daqueles que O seguiram, mas também toda a história da humanidade. Mas, mais importante, faz-nos olhar para o alto, para a frente, para o futuro. Se Este Jesus ressuscitou, se está vivo no meio de nós, então não há lugar para a indecisão, para a indiferença, para o medo paralisante, pois Aquele que ressuscitou Jesus também nos há de ressuscitar a nós.

Agora entendemos, quando Jesus nos dizia: a vossa tristeza transformar-se-á em alegria, e será uma alegria tão grande que ninguém vo-la poderá tirar. É a Páscoa que nos faz agradecidos à história, aos nossos antepassados, aos nossos pais e a todos os que permitiram sermos hoje, a Deus que nos criou e que não nos deixará na mão. Não nos deixará desaparecer.

Então que fazer para ressuscitarmos? Seguir no encalço de Jesus, procurando, em tudo e em relação a todos, a mesma conduta: amar e cuidar, perdoar e servir, gastar a vida por inteiro para que inteira seja a vida que nos conduz a Deus. Se deixarmos de gastar a vida, pelos outros, estaremos a desperdiçá-la. Quando nas festas vinham os carrinhos de choque, comprávamos várias fichas que nos permitiam andar a conduzir a chocar contra os outros carrinhos. Se o tempo não chegava para gastarmos as fichas, arrecadávamo-las para outra ocasião, mas se, entretanto, os carrinhos iam embora, ficávamos com as fichas, desconsolados, tínhamos gastado o dinheiro e não tínhamos usufruído. Assim a vida que não se gasta, é desperdiçada.

Nesta quarta-feira entramos na Quaresma, aquele tempo triste, enfadonho, escuro, sem flores nem cores vivas, sem cânticos alegres nem aleluias. É curioso como nos colamos tanto à Quaresma que, por vezes, parece que não nos importaríamos de ficar na Quaresma mais umas semanas. Alguns ficam o ano todo em regime de Quaresma. Esta, porém, é provisória, passageira, são 40 dias (46 se contarmos também os Domingos, ainda que estes sejam assumidos como desconto para celebrarmos o Dia do Senhor, a Páscoa semanal e nos recordarmos que é a Páscoa que nos dá o impulso e nos atrai para Jesus, fazendo de nós discípulos missionários).

“Para tristezas… já basta a vida!” É uma expressão popular que expressa lamento e resignação, mas que podemos também entender como provocação. Cristo dir-nos-á, a cada dia a sua preocupação, o amanhã também terá a sua quota de preocupações. Nesta perspetiva, importa viver hoje, amar hoje, valorizar a vida hoje, cuidar dos outros hoje. Não temos outro dia. É hoje. A Quaresma deixa-nos entrever que a vida é caminho, com os seus escolhos e contrariedades, mas não deixa de ser caminho, um caminho que aponta a uma meta: à Páscoa, a Jesus. A Luz que desponta da Páscoa faz-nos caminhar seguros e garante que a vida vencerá. Porquanto temos de prosseguir, procurar vencer o que nos mata, os desencontros e o desamor, a indiferença, o comodismo e o egoísmo. Como nos convida a Palavra de Deus, e que o Papa faz desafio quaresmal: em nome de Cristo, deixemo-nos reconciliar com Deus!

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 90/13, n.º 4548, 26 de fevereiro de 2020