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Menina da Rádio em entrevista à Voz de Lamego

Andreia Gonçalves conduziu a entrevista a Manuela Cardoso, Locutora da Rádio Clube de Lamego

Manuela Cardoso é dona de uma voz inconfundível e uma das grandes referências da rádio, na região. Trinta anos dedicados aos ouvintes traz-lhe uma enorme satisfação profissional e pessoal. Uma mulher apaixonada pelo seu trabalho, que gosta igualmente de viajar e conhecer outras culturas. Uma entrevista EXCLUSIVA, ao nosso jornal, para falar de comunicação e de momentos marcantes de 2019.

Quase 30 anos de rádio Manuela. Que balanço merece esta profissão pela qual é, verdadeiramente, apaixonada?

Trabalhar na rádio é algo tão belo, como tu sabes! O balanço não podia ser mais que positivo. Há sempre os momentos altos e outros menos bons, mas estes últimos foram os que me fizeram pensar, como se fossem pedrinhas, que são úteis para melhorar aquilo que está mal. São essas pedras que vão sendo necessárias para construir o castelo, o meu castelo. Por isso, o balanço é verdadeiramente positivo, passados estes 30 anos de rádio.

O teu pai é o responsável pelo despertar desta paixão. O que diz o professor Júlio Coelho por partilhar com ele este amor pela rádio?

Esta pergunta é difícil e deveria ser feita ao meu pai, porque é o responsável por esta minha paixão. O meu pai não é de verbalizar muito e, em termos de rádio, e daquilo que eu faço na rádio, ele tem uma forma especial de expressar o que lhe vai na alma. Essa forma é o olhar.  Eu sinto a felicidade e a satisfação que sente, relativamente, ao meu trabalho através de um olhar.

Quando termino uma entrevista e um programa eu olho para ele e entendo que ele gostou do que ouviu, e esse olhar diz tudo! Talvez seja mais fácil para ele elogiar-me em conversas com outros, para mim, diretamente, não usa as palavras e não precisa…

O aquário continua a ser o seu local de eleição. Que tipo de programa ainda lhe falta fazer na Rádio Clube de Lamego?

Nos primeiros anos de rádio, eu achei engraçado usar o termo “aquário, e como sou do signo peixes e porque me sinto filha de peixe, achei que poderia usar sempre… e assim comecei os meus programas “Deste aquário vamos ao programa da manhã ou da tarde”. O aquário vai ser, sempre, o meu local de eleição.

Eu já fiz de tudo, nestes 30 anos, programas de música, discos pedidos, informação e entrevistas. Relembro, aqui, o velhinho cantinho infantil, que me dava muita satisfação, pois eu fazia as vozes dos personagens das histórias que eu própria contava, fazia questões, explicava temáticas. Gostava de o voltar a fazer, contudo penso que as nossas crianças vivem, agora, uma ligação às novas tecnologias que o programa teria de ser adaptado e nunca igual ao que fiz há 20 anos. 

Relativamente a um novo programa, tenho uma ideia de fazer dos ouvintes os locutores. E quem sabe, um dia, o possa concretizar, sendo eu a ajudante e os ouvintes se tornarem locutores…  não conheço ninguém que o tenha imaginado e acredito seria um bom desafio.

O auditório tem sempre uma ligação com o locutor que fala, diariamente, para ele. Sendo este bastante diversificado. Tens sentido que as pessoas continuam à espera da edição dos discos como há anos atrás?  Sentes que há pessoas sozinhas a quem tu fazes companhia? 

Obviamente, que sinto que cada vez mais as pessoas estão à espera dos discos pedidos, por incrível que possa parecer. Uma hora já é pouco, e penso que poderia alargar-se para 2 horas.

Na rádio não temos concorrência, por isso este é um programa que deve ser sempre feito.

Somos, realmente, a companhia de muitas pessoas que vivem sós e isoladas, mas também de outras que têm família em casa mas que não dispensam os programas de rádio que lhes fazem companhia ao longo da maior parte das horas do dia.

Para alguém que já entrevistou o atual presidente da República, artistas, atores etc. Quem seria a personalidade, em Portugal, que gostarias de conhecer melhor no estúdio da Rádio Clube de Lamego e porquê? 

Na verdade, já entrevistei muitas personalidades, incluindo outros Presidentes da República. Mas, no caso do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa reconheço que é um homem, sem dúvida, muito afável. 

Contudo, gostaria de entrevistar Fernando Santos, fez uma visita ao Santuário dos Remédios e eu consegui fazer-lhe uma entrevista flash. Mas gostava de conhecer o homem por trás do selecionador nacional. Por vários motivos, pelo homem que é e que nos transmite ser, um homem muito afável e de muitos afetos. Estamos habituados a ver um profissional e ele é um homem muito simples e de muita fé. E por trás de um selecionador nacional, que luta pelas vitórias, há um homem de boas falas, de muita compreensão, e por todas estas razões gostaria de o ter aqui nos nossos estúdios, ao homem Fernando Santos.

Como sentes, o nosso País, e a nossa região, neste momento?

Esta questão é muito difícil. Não gosto de falar de política. Sendo portuguesa, vivendo nesta região e lamecense, sinto-me na obrigação de dizer que o País está um pouco melhor, comparando com o pós-troika, mas com muitas dificuldades. Há ainda aqueles que vivem acima da média, os que vivem muito aquém do aceitável. E essas pessoas deveriam ser ajudadas. As pessoas que vive bem são incapazes de olhar para os que estão menos bem e dar-lhes uma mão.

Para uma mudança só a classe política pode e deve fazer alguma coisa, para melhorar este país. Não tenho dúvidas que é do topo que deveria começar a mudança. 

A nível regional estamos muito mal. Cada concelho está olhar para si, a região deveria unir-se mais. Somos uma região com tanta riqueza e estamos a empobrecê-la com esta falta de união. Cada autarca está olhar para o seu concelho e tentando prejudicar o concelho vizinho. E, no meu ponto de vista, deveríamos ser uma região mais unida e assim poderíamos ir mais longe. Vamos deixar a política para os políticos.

Qual o momento de 2019, no nosso país, que a marcou e porquê? 

Todos nós sabemos que a grande preocupação é o ambiente. A vinda da ativista sueca Greta foi um momento marcante de 2019. Esta miúda chegou para contribuir para a sensibilização de Portugal e do Mundo, e particularmente conquistar os jovens que são o presente e o futuro, a estarem mais atentos e a lutarem pelo Planeta, que é nosso. Acredito que a Greta irá continuar a chamar atenção do mundo para a necessidade de lutar e para despertar ainda mais as consciências sobre as alterações climáticas. Estou em crer que esta situação pode mudar se todos quisermos. Vale a pena acreditar.

Qual o filme que te fez sair do cinema a pensar que valeu muito a pena? 

Os filmes da minha vida são de 1999 e estes sim fizeram-me sair do cinema fascinada e com vontade de voltar. Esses foram “As palavras que nunca te direi” e “Nothing Hill”.

Eu sei que viajar é das suas maiores paixões. Qual a viagem mais interessante que fez este ano?

Sim, sou apaixonada por viagens, e viajei muito, e se o fiz foi porque tive possibilidade para o fazer. Procuro sempre viajar para lugares onde a cultura me desperta muita curiosidade. A Turquia foi uma viagem marcante, por tudo, no ano de 2019. Ficou-me, mesmo, no coração.

Qual o livro que mais gostou de ler em 2019?

Li alguns. Mas porque li do princípio ao fim e quase comi as palavras, o livro que marcou o meu ano “foi sem querer que te quis” de Raul Minh’alma. Deixo aqui um conselho… se ainda não o leram, por favor façam, vai valer a pena.

Qual a música que te viciou este ano? 

As músicas que me tocaram, particularmente, e ouvi vezes sem conta e porque me fazem lembrar o homem da minha vida, o meu filho, são estas duas: “Quem me dera” de Mariza, e “A história” de Diogo Piçarra. E, depois, uma última ” Sem ti” de Paulo Gonzo. 

E o concerto que mais gostaste de assistir?

Não fui a tantos como gostaria, mas também nao consigo mencionar-te, apenas um. Brian Ferry, no Marés Vivas, e repeti, no Wine Music Valley, no cais de Cambres. Seu Jorge, também, no mesmo festival. O concerto de Mariza, e depois, indiscutivelmente, Xutos e Pontapés.

E, porque é a última pergunta, aproveito para desejar aos leitores e ao jornal Voz de Lamego votos do melhor para este 2020.

in Voz de Lamego, ano 90/06, n.º 4541, 7 de janeiro de 2020

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