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Editorial Voz de Lamego: Lutar pela toalha

O Cardeal Seán O’Malley, Arcebispo de Boston, orientou os Exercícios Espirituais aos Bispos Portugueses, de 11 a 15 de março, em Fátima. Esta foi a segunda vez que o fez, pois já em 1996 o tinha feito. Reflexões e homilias desses dias, bem como outras reflexões, mensagens, intervenções, integram um livro publicado nesta ocasião, em Portugal, aproveitando a sua presença em Fátima, sob o título “Procura-se: Amigos e Lavadores de Pés”. Teremos ocasião de o apresentar, oportunamente, como uma das leituras, na secção ao lado. Para já recuperámos uma expressão que nos faz perceber a obra, mas, de um modo mais abrangente, a Igreja de Jesus, anunciada, vivida e servida pelo Papa Francisco, a quem o autor dedica precisamente estes textos.

No decorrer da Última Ceia, Jesus levanta-Se da mesa, coloca uma toalha à cintura e começa a lavar os pés aos discípulos. A preocupação é exemplificar o seguimento e o compromisso daqueles e daquelas que queiram integrar o Seu Corpo que é a Igreja. Jesus, como em outras situações, não faz grandes discursos, exemplifica, mostra como se faz, ou faz-nos atores de uma história (parábola), para nos sentirmos suficientemente livres para optarmos, seguindo-O ou rejeitando-O. O Cardeal refere-o desta maneira: “Ele queria que os seus Apóstolos, os seus Amigos, parassem de disputar os primeiros lugares à mesa e começassem a lutar pela toalha”.

Ao longo do seu pontificado, que leva 6 anos, o Papa Francisco tem procurado fazer como Jesus, mais do que com discursos bem elaborados (o que também faz muito bem), tem assumido gestos luminosos, provocadores, por vezes mais acintosos do que aquilo que ouviríamos a Jesus, mas talvez porque no nosso tempo os apóstolos e discípulos, que somos, tenham uma carapaça mais dura, estejam mais acomodados, tenham mais argumentos (ou assim o entendemos). Ouvimos os pais a dizerem que educar os filhos neste tempo é muito mais difícil de quando eles próprios eram filhos. Os tempos são outros. A expressão adequa-se a todos nós. Os tempos são outros, somos pecadores como os Apóstolos de então, mas justificamo-nos mais rapidamente e levamos mais tempo a compreender que é para nós que Ele fala. Jesus não fala para o vizinho ou para a vizinha. É para mim. É para ti. É para todos. É para cada um de nós.

Aproximava-se rapidamente a Cruz e os Apóstolos apressavam-se a disputar a coroa, o primeiro lugar à mesa, o ministério mais honroso e com mais poder. Abertamente, em mais que uma ocasião, Pedro contesta Jesus. Quando necessário, pega na espada! Mas todos eles querem ser o primeiro, o maior! O caminho de Jesus é o do servo, daquele que disputa a toalha!

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/18, n.º 4504, 2 de abril de 2019