BÊNÇÃO . FERIDA | Editorial Voz de Lamego | 2 de janeiro de 2018
BÊNÇÃO . FERIDA
Iniciámos ontem uma nova etapa, um novo ano. Diante de nós estão agora doze meses e muitos dias, prenhes de possibilidades, que ansiamos viver com alegria e cumprir de forma realizadora.
Mas também sabemos que o novo ano pode suscitar sentimentos diversos, de acordo com a situação em que cada um se encontra. Para uns representará a oportunidade de ser, ir, conseguir, chegar; para outros poderá aparecer como repetição, tempo sem sabor ou motivações; para uns uma passagem que se deseja rápida para uma meta que está mais além; para outros apenas a recordação de que se aproxima o fim.
Numa palavra, podemos sempre falar do novo ano como uma oportunidade de bênção, mas sem esquecer que no seu decorrer poderão aparecer feridas. É verdade que, a escolher, preferiríamos apenas o bom, a bênção… mas isso só acontece no mundo virtual. Porque no mundo real também há lágrimas, limites, erros, distâncias, ressentimentos…
Ao longo da vida, da contagem dos anos, vamos tomando consciência de que Deus nos concede bênçãos, mas não nos dispensa de agir responsavelmente; que o tempo disponibilizado pelo calendário permite ser, mas não isenta de riscos; que o amor dos outros nos protege e motiva, mas não livra de quedas; que cada vida humana é um caminho percorrido em ritmos diferentes, um todo onde convivem diferentes momentos e etapas, se conjugam disposições e opções diversas, se articulam escolhas mais ou menos conseguidas…
Com realismo, olhamos 2018 como uma bênção, sem a ingenuidade de pensar que o mal estará ausente e longe do fatalismo de quem se deixa derrotar sem ter começado. Avançamos decididos e motivados, confiantes na providência divina e animados pela esperança que a fé nos confere.
Um abençoado 2018.
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/05, n.º 4442, 2 de janeiro de 2018