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UM REPARO: talvez
A conhecida e muito divulgada cimeira tecnológica voltou a Lisboa, arrastando multidões, enchendo bares e hotéis e divulgando a cidade anfitriã. Em ambiente festivo e descontraído, ali se juntam especialistas, individualmente ou em grupo, que querem mostrar e vender produtos, bem como os empreendedores em busca de bons investimentos. Eis um evento mundial que arrasta muita gente e com repercussões na vida de milhões.
Não restam dúvidas sobre a sua oportunidade, nem se negam os benefícios que as novas realidades tecnológicas conferem à vida da humanidade que deles pode usufruir. Contudo, tal desenvolvimento, trazendo conforto e proveito, também apresenta riscos, nomeadamente para o mundo laboral.
O aparecimento de novas soluções tecnológicas vai tomando conta de muitos postos de trabalho e assim vai continuar. Há lugares extintos e profissões que, embora muito conceituadas nestes dias e segundo os estudiosos, correm sérios riscos de virem a desaparecer nos próximos anos, já que as máquinas poderão substituir os humanos nessas tarefas.
Talvez o futuro traga, também, novas profissões que permitam criar novos postos de trabalho.
Talvez reste ao homem mais tempo para contemplar e usufruir, em vez de transformar e produzir.
Talvez avance definitivamente a ideia de um rendimento de subsistência garantido que liberte do trabalho e garanta meios para consumir o que as máquinas produzem.
Talvez venhamos a contemplar um ser humano mais desocupado, o que pode não ser sinónimo de mais realizado.
Talvez se testemunhe mais solidão e mais depressões provocadas pela perda de sentido e pela ausência de razões para continuar.
Talvez se acentuem as desigualdades entre uns poucos que dominam e a maioria que luta para sobreviver.
Talvez as novidades tecnológicas permitam sonhar com um progresso contínuo, sem que tal signifique sempre um real avanço para a realização humana…
JD, in Voz de Lamego, ano 87/50, n.º 4436, 14 de novembro de 2017