António Francisco dos Santos | 1948-2017
Morreu o bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos
O bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, morreu ontem, dia 11 de setembro, aos 69 anos. Segundo informações publicadas, D. António foi vítima de “um ataque cardíaco fulminante”, na Casa Episcopal, onde residia.
D. António Francisco dos Santos completou 69 anos recentemente, a 29 de Agosto. Estava na diocese do Porto desde Fevereiro de 2014, quando sucedeu a D. Manuel Clemente. Quem o conhecia, destaca a bondade e o seu empenho na denúncia das desigualdades sociais e económicas.
Na sua primeira homilia como bispo do Porto, em 2014, disse: “Os pobres não podem esperar”. Na última, este sábado, em Fátima, defendeu a construção de uma “igreja bela, como uma casa de família”.
De Cinfães ao Porto
Natural de Tendais, concelho de Cinfães, foi ordenado bispo em 2005, depois de, no ano anterior, ter sido nomeado bispo auxiliar de Braga por João Paulo II. Dois anos depois, em 2006, Bento XVI nomeou-o bispo de Aveiro, diocese onde esteve mais tempo: praticamente oito anos.
António formou-se em Teologia no Seminário Maior de Lamego, em 1971. Estudou, depois, Sociologia Religiosa e Filosofia, em Paris. Na capital francesa, trabalhou na paróquia de S. João Baptista de Neuilly-Sur-Seine, onde assumiu a responsabilidade pastoral da comunidade portuguesa emigrante. Foi ordenado padre em Dezembro de 1972.
De regresso a Portugal, foi professor no seminário de Lamego e, de 1992 a 1998, foi chefe de redacção do jornal diocesano “Voz de Lamego”. Em 2004, foi nomeado pró-vigário geral da diocese e também deu aulas no Instituto Superior de Teologia do Núcleo Regional das Beiras, da Universidade Católica Portuguesa.
Na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) era, actualmente, o presidente da comissão episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, depois de ter estado vários anos à frente da comissão episcopal Vocações e Ministérios.
“Os pobres não podem esperar”
A atenção aos mais frágeis é uma das marcas que D. António Francisco dos Santos deixa como homem da Igreja. Este ano foi escolhido para ser o presidente da comissão episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
Tanto em Aveiro como no Porto deu sempre uma atenção especial, por exemplo, ao sem-abrigo, com que passou noites de Natal. Em Novembro de 2016, na mensagem que divulgou a propósito do Jubileu das Pessoas Sem Abrigo, lembrou aos fiéis do Porto que era preciso “sair da indiferença para ir ao encontro dos que sofrem as mais variadas formas de pobreza, isolamento ou exclusão”. Porque era preciso passar das palavras aos actos, deixou um apelo “à sociedade civil, às autarquias e ao próprio Estado para encontrarem respostas estruturais e soluções definitivas que tirem estas pessoas das ruas”.
Na sua primeira homilia como bispo do Porto, em Abril de 2014, lembrou que há necessidades que não podem esperar como a alimentação, a saúde, a habitação e os recursos mínimos: “Onde estiverem em causa os pobres, os que sofrem, que sejam os primeiros. Os pobres não podem esperar.”
Pelas pontes, contra os muros
Mostrou-se atento aos grandes dramas da actualidade. Preocupava-o a vaga de refugiados e a forma como a Europa os acolhe. Na mensagem que divulgou para o Natal de 2016, D. António lembrava que a alegria da época festiva estava “manchada pelo sangue derramado em Paris, Nice, Ancara ou Berlim” e também pelo conflito que destruía Alepo, na Síria, defendendo, porém, que o Natal é oportunidade de reacender a chama do amor de Deus no coração dos homens.
Depois da eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, em Novembro de 2016, D. António Francisco dos Santos afirmou que a proposta de construção de um muro entre os Estados Unidos e o México é uma “ofensa à dignidade humana e aos direitos fundamentais da dignidade humana”. “Devemos todos saber levantar a nossa voz contra essa ofensa à humanidade e com esse ultraje à dignidade das pessoas que com paz, com honestidade, com seriedade querem construir o seu futuro no país que os acolheu”, acrescentou, afirmando que o século XXI devia ser feito de pontes e não de muros.
O contacto com os jovens foi outra das preocupações do bispo do Porto, que esteve muitos anos à frente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios. Em busca de outras pedagogias de evangelização, foi dele a ideia de importar do Brasil a Cristoteca, quando a diocese de Aveiro fez 75 anos, levando “tendas cristãs” com música às praias. D. António Francisco dos Santos dizia que “não compete à Igreja educar “nem para o medo, nem para a proibição”.
in Voz de Lamego, ano 87/42, n.º 4427, 12 de setembro 2017