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Um reparo: VIDA
Nestes dias quentes, longe das paisagens do litoral e dos “famosos” que preenchem os alinhamentos noticiosos, também o nosso interior apresenta mais vida.
É verdade que não há areais extensos para estender toalhas, mas há miradouros e sombras que convidam a demorar-se diante de paisagens singulares. É verdade que não há “festivais” que congregam milhares de jovens, mas há festas nas aldeias, vilas e cidades que, para lá da música, promovem o convívio e fortalecem amizades. É verdade que por estes lados não haverá muitos centros comerciais ou grandes eventos, mas há fontes de água que saciam, caminhos de infância que vale a pena percorrer, mesas com petiscos que esperam ser saboreados. É verdade que haverá milhares e milhares a querer chegar ao mar, mas também há muitos que, vindos do estrangeiro ou de outros pontos do país, aqui são esperados com carinho…
À nossa volta há vida a acontecer. Não apenas incêndios que destroem, acidentes que matam ou agressões que ferem. Há famílias reunidas, mesas maiores, crianças que são baptizadas, matrimónios que são celebrados, convívios familiares e comunitários que aguardaram por estes dias.
As lojas aumentam vendas, há filas nas caixas dos supermercados, os restaurantes servem mais refeições, as esplanadas dos cafés enchem-se de gente sequiosa que não olha para o relógio, o som dos foguetes propaga-se, as bandas percorrem ruas decoradas, os grupos musicais convidam à dança…
E também a vida paroquial se anima. Há igrejas e capelas que se enchem e voltam a ouvir o som de crianças, padroeiros que são festejados, tradições que se mantêm…
E há belezas para serem admiradas, melhoramentos que esperam ser valorizados, paisagens para contemplar, histórias que merecem ser ouvidas, guardadas e transmitidas…
A vida nunca esteve longe. Mas a presença de mais vidas dá-lhe som e cor.
JD, in Voz de Lamego, ano 87/38, n.º 4423, 1 de agosto 2017