Pentecostes: Fortalecidos pelo Espírito Santo para testemunhar
Os cristãos crêem em um só Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. A Solenidade de Pentecostes, cinquenta dias depois da Páscoa, celebra a vinda do Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho sobre os Apóstolos, e o nascimento da Igreja. O acontecimento não pode ser compreendido senão em ligação à Páscoa e à Ascensão: Jesus morreu pela salvação do mundo (Sexta-feira Santa), ressuscitou (domingo de Páscoa) e partiu ao encontro do Pai (Ascensão). Esta festa encerra as sete semanas do tempo pascal.
O vento e o fogo
Cinquenta dias depois da Páscoa, na altura em que uma multidão está reunida em Jerusalém para comemorar o dom da Lei concedida ao povo por intermédio de Moisés, ao Apóstolos, Maria e outros discípulos ouviram um ruído “comparável ao de forte rajada de vento” que encheu a casa. Foi o primeiro sinal. O segundo sinal não se fez esperar: “viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles”. E eis que testemunham um terceiro sinal: cheios do Espírito Santo, significado pelo vento e pelo fogo, “começaram a falar outras línguas”. A multidão que festejada estava estupefacta “pois cada um os ouvia falar na sua própria língua”. A situação era tão extraordinária que alguns ouvintes afirmavam que os cristãos estavam “cheios de vinho doce” (Act 2, 1-13).
Assim se cumpre a promessa feita por Cristo aos Apóstolos, no momento da Ascensão, uma dezena de dias antes: “Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo” (Act 1, 8).
Com efeito, os Apóstolos, tendo recebido a força do Espírito, têm agora coragem para sair do Cenáculo onde se haviam fechado por medo. Começam a testemunhar a ressurreição de Cristo, a anunciar os Seus ensinamentos e a baptizar.
Por outro lado, no Pentecostes, a Igreja é constituída, não por uma vontade humana, mas pela força do Espírito de Deus. No seguimento deste acontecimento nascem as primeiras comunidades cristãs, que se organizam, desenvolvem e espalham pelo mundo.
Dom para todos
O relato dos Actos dos Apóstolos é significativo: o vento e o fogo manifestam – como em outras passagens bíblicas – a presença de Deus; as línguas de fogo testemunham a vinda do Espírito Santo sobre os presentes.
O dom do Espírito permite aos Apóstolos corresponder ao apelo/mandamento de Cristo: serem suas testemunhas “até aos confins do mundo”. Como os Apóstolos, também os cristãos são chamados a não ficar somente entre si, fora da vida e do mundo, mas, ao contrário, a proclamar clara e livremente a Boa Nova que a todos quer congregar e levar à salvação.
O Espírito, que recebemos no Baptismo e, em plenitude, na Confirmação, faz-nos entrar numa forte e íntima relação com Deus, acompanhando-nos ao longo da vida, dando-nos liberdade para amar como Deus ama. Sob a sua influência, somos inspirados e tornamo-nos capazes de fazer o bem, através de escolhas que aumentam o amor, a paz, a tolerância, as boas acções… tudo o que torna o mundo mais humano e fraterno. Mas se o Espírito nos influencia, não decide por nós, porque Deus nunca se impõe.
O Espírito Santo muda-nos interiormente, aproxima-nos de Deus, como crianças para junto do Pai. S. Paulo escreveu que o Espírito nos leva a chamar Pai a Deus, conferindo-nos dons e levando-nos a dar bons frutos (Gal 5, 22-23). Não temos medo de Deus e compreendemos que é “Pai Nosso”, como ensinou Jesus.
Os dons do Espírito Santo
Recordando o ensinamento da Igreja (Catecismo, n.º 1831), cuja reflexão de S. Tomás d’Aquino recolheu, eis os sete dons do Espírito Santo:
Sabedoria. Ajuda a apreciar a presença de Deus e a caminhar com Ele, com dinamismo missionário. Poderíamos falar de um dom contemplativo.
Entendimento. Ajuda a entrar no mistério de Deus, a compreender a fé, as Escrituras, a distinguir o erro da verdade. Será, se assim quisermos, o dom que permite a todos tornarem-se teólogos.
Conselho. É o dom do discernimento espiritual. Ajuda a perceber o que convém fazer e o que deve ser evitado. Dispõe a ver claro em si e nos outros.
Fortaleza. Concede a perseverança na dificuldade, a coragem do testemunho. Sustém os mártires e ajuda, no dia-a-dia, a cumprir os deveres assumidos e a viver o combate espiritual. É o heroísmo da pequenez.
Ciência. Permite reconhecer a acção de Deus na natureza e na história, recebendo o mundo como um dom de Deus. Dá-nos o sentido da precariedade do universo.
Piedade. Permite entrar na experiência da paternidade de Deus, da sua proximidade e ternura. Dá-nos a confiança da criança. Torna-nos próximos uns dos outros.
Temor de Deus. Não se trata de ter medo de Deus, mas ter noção da Sua grandeza. A consciência da infinita distância entre o Outro e nós, suas criaturas. Este dom suscita uma atitude de humildade e de encantamento.
JD, in Voz de Lamego, ano 87/29, n.º 4414, 30 de maio de 2017