CONFORTAR – PERTURBAR | Editorial Voz de Lamego | 2 de maio
Entrámos no mês de maio, dedicado especialmente a Maria, não apenas na referência ao Centenário das Aparições, à Visita o Papa Francisco a Fátima, como peregrino, a canonização dos Pastorinhos Francisco e Jacinta, mas a todas as devoções que povoam as nossas famílias e comunidades, a recitação do terço, peregrinações nacionais, arciprestais, paroquiais, caminhadas, procissões…
A edição da Voz de Lamego, em início de mês, evidencia a vivência do mês de Maria. Também o Editorial, do Pe. Joaquim Dionísio, evoca a devoção a Maria, deixando-nos guiar pelo desafio que Ela nos faz constantemente: Fazei tudo o que Ele vos disser.
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Há uns dias, aquando do encontro organizado pelos jovens de Almacave, um dos convidados serviu-se de uma afirmação alheia para caracterizar a sua missão de palhaço: “confortar os perturbados e perturbar os confortados”!
O profissional em questão vive os seus dias entre crianças gravemente doentes, aproximando-se e respeitando a singularidade de cada ser, dando a cada uma a possibilidade de ser protagonista, provocando sorrisos no meio da dor, motivando à vivência do momento de forma serena, confiante e próxima.
E logo acrescentou que a missão do padre também passa por aqui. E estamos de acordo. Porque anunciar Cristo Ressuscitado, celebrar a fé e testemunhar a caridade implica incutir e devolver a esperança e a confiança a quem sofre e espera soluções, ao mesmo tempo que não deixará de questionar e denunciar posturas e decisões que atentem contra a dignidade e igualdade humanas.
Perturbar não é gritar para ser notado ou protagonizar situações insólitas para ser notícia, mas antes desinstalar, provocar consciências adormecidas, denunciar a autoreferencialidade, fazer ver os “pés de barro”, confrontar com a verdade e a justiça…
A própria Igreja também sofre quando se instala. Daí a oportunidade e necessidade dos profetas que a perturbam saudavelmente e a convidam a voltar sempre a Jerusalém e a seguir para a Galileia, a não perder de vista o único Senhor a quem deve obedecer.
Iniciámos ontem o mês de maio, tradicionalmente dedicado a Maria, aquela a quem tantos aflitos, doridos e desiludidos recorrem em busca de conforto. Tal como em Caná, a sua solicitude maternal acolhe, o seu olhar sossega e a sua intercessão devolve a esperança. E isso conforta!
Mas a missão da Mãe atenta vai além do provir material e logo se faz ouvir o seu oportuno apelo: “fazei tudo o que Ele vos disser”. E isso perturba!
in Voz de Lamego, ano 87/25, n.º 4410, 2 de maio de 2017