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CENTENÁRIO DAS APARIÇÕES | ESCOLA DE FÉ
O ainda vivo Papa Bento XVI visitou apostolicamente o nosso país em 2010, passando também pelo Santuário de Fátima, como muitos recordarão. Apesar de ter sido essa a única vez que ali veio como responsável máximo pela Igreja, a verdade é que já peregrinara até este santuário noutras ocasiões. E também é verdade que conhecia bem a “mensagem de Fátima” já que, entre outros textos escritos, foi o autor do comentário teológico ao, assim denominado, “segredo de Fátima”, enquanto desempenhava a missão de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Eleito Papa para suceder a João Paulo II, em 2005, recebeu os bispos portugueses em 2007, na visita “ad limina”. Foram notícia as suas palavras quando, no encontro final, pediu aos nossos bispos para se empenharem na renovação da pastoral das suas dioceses. Mas, entre o muito que disse, estavam também afirmações que, nas vésperas de comemorarmos o primeiro centenário das aparições, poderíamos recordar:
“Amados Bispos de Portugal, há quatro semanas encontrastes-vos no Santuário de Fátima com o Cardeal Secretário de Estado que lá enviei como meu Legado Especial no encerramento das celebrações pelos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora. Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ergueu Ela a sua cátedra para ensinar aos pequenos Videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar. Na atitude humilde de alunos que necessitam de aprender a lição, confiem-se diariamente, a Mestra tão insigne e Mãe do Cristo total, todos e cada um de vós e os sacerdotes vossos directos colaboradores na condução do rebanho, os consagrados e consagradas que antecipam o Céu na terra e os fiéis leigos que moldam a terra à imagem do Céu. Sobre todos implorando, pelo valimento de Nossa Senhora de Fátima, a luz e a força do Espírito, concedo-lhes a minha Bênção Apostólica”.
Olhar para Fátima como “escola de fé” e para Maria como mestra é motivador e apresenta-se como oportunidade para caminhar e crescer como crente, indo muito além do mero espaço que se visita, da recordação que se compra, da fotografia que se guarda, da água que se bebe ou das pessoas que ali se encontram. Porque uma “escola” exige disponibilidade para escutar, humildade para aprender, vontade para cumprir, abertura à novidade e disponibilidade para mudar.
As celebrações do centenário, as canonizações anunciadas, a presença do Papa, as multidões esperadas… são factos singulares que ficarão na história humana e sempre serão notícia.
Mas, verdadeiramente, o mais importante será cada um olhar para Fátima com vontade de aprender e contemplar Maria com vontade de avançar.
JD, in Voz de Lamego, ano 87/24, n.º 4409, 25 de abril de 2017