Visita Pastoral de D. António Couto a Vila Nova de Paiva
2 – VILA NOVA DE PAIVA ACARINHOU O SEU BISPO.
Manda o CDC 396,§1º que “o Bispo está obrigado a visitar todos os anos, no todo ou em parte” os seus diocesanos e o cânon 398 apela para que “visita pastoral seja efetuada com devida diligência”. Foi isso mesmo que fez o nosso bispo.
Na carta enviada às paróquias afirmou que, através da Visita Pastoral, quer ser “transparência pura de Jesus Cristo e ajudar a encher de mais alegria a família de Deus espalhada pelas seis paróquias de Vila Nova de Paiva. (…) Quer despertar para o mistério de mais amor, graça e proximidade. (…) Quer dizer que, nas nossas paróquias, não deve haver ninguém de braços cruzados, sem nenhuma missão atribuída, sem nada que fazer”, porque todos são “protagonistas da Evangelização”. Por isso “ a primeira palavra do lema da nossa diocese continua a ser: – IDE”.
Foi seguindo estes desejos que programamos os quatro dias da sua estadia junto de nós. Começou por visitar o Lar e os Cuidados continuados conversando com os idosos e doentes, ouvindo histórias e queixumes, celebrando a Eucaristia, administrando a Unção, almoçando com eles e participando na festa que funcionárias e utentes realizaram. Depois foi a visita domiciliária.
No segundo dia esteve na reunião da Câmara com todos os autarcas do concelho convidados para o efeito e falou antes da ordem do dia; visitou o quartel da GNR onde foi recebido pelo comandante, seus superiores hierárquicos do distrito e dialogaram sobre os problemas da região, sobretudo, dos idosos e isolados, seguiu-se a sede da autarquia; subiu ao quartel dos bombeiros e inteirou-se da dificuldade em fixar os soldados da paz por falta de trabalho, saindo para a emigração. No Julgado de Paz, Agrupamento Escolar, Registo Civil e Predial etc, foi recebido pelos responsáveis e funcionários e de tudo se foi informando. O Pároco foi deixando, na mão de todos, o Evangelho de S. Lucas, o missionário da misericórdia, como aliás já tinha feito em cada família. E ao almoço dos sacerdotes, juntaram-se os autarcas.
No sábado começou com as crianças da catequese e suas catequistas que cantaram ao som das violas, conversaram, interrogaram … até o Zezito do segundo ano lhe perguntou: -“Estudaste muito, fizeste muitos exames… chumbaste alguma vez?” Seguiram-se os jovens crismandos, atentos mas pouco dialogantes. Participou no terço comunitário, presidiu à Eucaristia e jantou com os/as colaboradores da Paróquia.
No domingo, apesar da chuva que alterou o programa e serviu de mote para a homilia, citando Isaías – “assim como a água da chuva caída do céu não volta para lá sem fertilizar a terra, assim a Palavra de Deus”. A Eucaristia foi solenizada pelo grupo coral “Redemptoris Mater” da paróquia. Na altura própria, foi administrado o santo Crisma a 35 jovens, rezou-se pelos defuntos. No final, o pároco agradeceu a colaboração do P. Delfim Afonso, missionário monfortino e natural da vila, ao senhor bispo por ter acampado quatro dias entre nós e continuou:
“(…) Devido ao planalto serrano – somos, depois da Guarda, a Vila de maior altitude – chamaram-nos “Terras do Demo”, na sexta-feira, o Presidente da Câmara, ao recebê-lo, batizou-nos “Terras de Cultura e de Fé” mas, como no sangue destas gentes, goteja sangue judaico bem podemos chamar-nos “Paivenses Errantes”. A maior parte das nossas gentes povoaram o Brasil até à década de sessenta, mudaram o sextante para França e, agora, os nossos licenciados rumam a Inglaterra.
A nossa Comunidade, como acontece com as Vilas pequenas, sofre de coesão. Constituída por gente de diversas paróquias para lá rumam ao fim-de-semana e assim se vão desculpando para pouco ou nada colaborarem.
O Alto Paiva foi alfobre de muitas vocações sacerdotais, missionárias e religiosas mas, agora, seguimos a sina do rio Paiva – o rio das águas límpidas e belas trutas – tanto o sugaram, tanto o sugaram que, neste Verão, quase secou. O mesmo aconteceu, com as vocações – deu tantos padres e missionários ao mundo e à diocese que as fontes secaram por afroixamento da fé e falta de juventude. Introduzimos, há já alguns anos nas três Avé-Marias do terço, a jaculatória:-“Nossa Senhora do Rosário de Fátima, dai-nos muitas e santas vocações sacerdotais religiosas e missionárias” mas é uma temeridade e Nossa Senhora até se rirá no Céu:-Quereis vocações e não me dais jovens? Quereis pão sem farinha? Apesar disso continuamos, vamos teimando. Ela é Mãe.
Visitou tudo o que havia na paróquia, ficou com uma visão geral do nosso viver, dos nossos anseios e preocupações, pulsou a nossa vivência cristã por que lhe abrimos a casa e o coração. O serrano é desconfiado mas a quem vem por bem, abre-lhe as portas e senta-o à mesa. Somos uma paróquia de fronteira, distancialmente, mais perto de Viseu mas somos fieis às raízes. Ouvi a párocos antigos dizerem: “- da diocese nem muito longe para não serem esquecidos e as noticias chegarem deturpadas nem muito perto para se não queimarem”. Fui sempre de fronteira mas nunca fui esquecido, aldrabado não sei. Sempre houve diálogo franco, às vezes áspero como o ar da serra dura onde nasci e vivo, mas sempre franco. Há um problema – a idade começa a pesar e a paciência a faltar. (…) e eu começo a olhar para o portal da saída”.
Pe. J. L., in Voz de Lamego, ano 86/48, n.º 4384, 25 de outubro de 2016