JMJ 2016 | Testemunho | Inês Gonçalves – Almacave Jovem
Apesar de ter tido a oportunidade de vivenciar em 2011 as JMJ em Madrid, não sabia muito bem o que esperar desta vez. Tão longe de casa, comida diferente pelo que diziam, pessoas mais frias, mas o motivo que me movia era maior do que qualquer receio que pudesse ter!
Logo há chegada de Katowice, onde permanecemos nas pré-jornadas, percebemos de imediato que estávamos em boas mãos e ansiosamente esperávamos que chamassem o nosso nome para nos dirigirmos para aquela que ia ser a nossa família de acolhimento. Assim foi, e posso dizer que para mim, não podia ter sido melhor! Aquela calorosa família com dois filhos ainda pequeninos, não só abriu as portas da sua casa, mas das suas vidas e do seu coração. Apenas a nossa “mãe” falava inglês, não fluentemente, mas a língua nunca foi um entrave para nós, porque há coisas que não se explicam, e a ligação que criamos com eles é uma delas. Em vez de estranhas, passamos a ser membros da família e não deixaram que nada nos faltasse ao ponto de dormirem no chão para nós podermos descansar numa cama! Como é que é possível que alguém consiga ser tão acolhedor e mostrar tanto amor e carinho por alguém que acabou de conhecer? Isso sem dúvida deixou uma grande marca em mim que nunca vou esquecer!
Ao longo dessa semana, fomos tendo diversas atividades nas paróquias que nos acolheram. Desde a participação na Eucaristia com a comunidade, a “futeboladas” entre Portugal e Polónia mas sempre centrados naquele que nos levara até ali: Jesus! Sem dúvida que pude vivê-lo em todos os momentos! Não só com a minha família de acolhimento com quem passei muito tempo, mas com todos aqueles que nos acompanharam e fizeram com que aquelas pré-jornadas fossem tão inesquecíveis!
A opinião sobre as pessoas polacas começou a mudar, elas eram tudo menos frias ou antipáticas. Nelas consegui encontrar uma Misericórdia imensa que me deixou tão feliz e agradecida! Aquela bondade toda só podia vir de Deus, bondade que chegava até nós num simples olhar ou sorriso! Com eles, cantamos, dançamos, rezamos, brincamos, partilhamos histórias, costumes e tradições. Ao fim dessa semana, não queria pensar que tinha de os deixar! Mas chegou o dia de partir para a cidade de Chełmek e como imaginei, ao ver a tristeza da minha família, não fui capaz de conter as lágrimas e apesar de não saber se vou voltar a ver aquelas pessoas tão simples, meigas e carinhosas, sinto uma alegria tão grande por Deus as ter colocado no meu caminho!
Mas a grande aventura começou na semana seguinte. Confesso que no princípio fiquei desiludida porque pela primeira vez, na semana das JMJ, tivemos de novo uma família de acolhimento ao invés de um pavilhão. Claro que parei para pensar duas vezes porque afinal de contas, havia mais uma vez alguém disposto a dar tudo o que tinha por nós, nomeadamente o conforto que não íamos encontrar num pavilhão.
A semana foi decorrendo e cada dia era um novo começo repleto de surpresas e desafios. Por vezes não foi fácil quando as coisas não corriam como o esperado, mas andar a correr de um lado para o outro, enfrentar multidões e transportes públicos completamente cheios, termos filas enormes para comer, ficar horas à espera de ver e ouvir o papa Francisco, entre tantas outras coisas, fizeram-me ver o que jovens tão diferentes, são capazes de fazer pelo amigo que têm em comum. Todo o cansaço, todas as confusões, todo o calor, chuva ou trovoada, valeram a pena e não se tornaram um obstáculo nesta tão grande caminhada! Percebi que os receios que tinha, não me valiam de nada, e que restava entregar-me totalmente e confiar em Jesus! Claro que depois de tudo isso e de me ter apercebido que a cada passo que dava Ele estava comigo, pude viver muito melhor estes dias, tão cheios de aventura, e reparar que cada situação, me trouxe sempre algo de novo, algum ensinamento, alguma forma de O ver!
É certo que hoje, sou a mesma pessoa que partiu rumo à Polónia no dia 17 de julho, com a diferença de ter trazido o coração mais cheio e carregado de coisas boas. Cabe-me agora seguir o conselho do nosso Para Francisco e não ficar “sentada no sofá”, mas levar o meu testemunho de fé e esperança a outros jovens e mostrar-lhes que Deus é misericordioso e nos ama.
Inês Gonçalves, Almacave Jovem, in Voz de Lamego, ano 86/39, n.º 4375, 9 de agosto de 2016