Apontamento Social: Barrigas de Aluguer
Apesar de ser um dos temas mais polémicos atualmente, não deixa de ser curioso o pouco debate existente e, em particular, a pouca importância que em Portugal é dada à movimentação existente por essa Europa fora, liderada por associações várias de defesa dos Direitos da Mulher, que se insurgem e condenam tal prática por considerarem que é um retrocesso na luta pela dignificação da Mulher, ao transformá-la, e ao processo reprodutivo, em objeto passível de ser usado ou alugado.
Dou o exemplo de associações tão diversas como: na Suécia a plataforma “Sverigeskvinnlobby” que agrega as organizações feministas suecas; em França, Silvanne Agacinsky, porta-voz da plataforma “Colletif pour le respecte de la personne”; em Itália, Lívia Turco, conhecida defensora das Liberdades e Direitos Humanos e representante do movimento “Libere-se non ora, quando”; e a importante organização que agrega movimentos feministas internacionalmente, a “stopsurrogacynow”. A todas estas vozes laicas se juntam inúmeras outras de grupos religiosos de várias crenças e as de cientistas e médicos de renome, tantos que é impossível enumerar aqui.
Portugal aprovou recentemente, no Parlamento, a legislação desta prática – cabe agora ao Presidente da República promulgar ou não a lei, que terá ainda de ser regulamentada no Parlamento em 120 dias. Apenas a “Federação pela Vida” e um grupo de jovens do Porto que organizou um “Manifesto por um Debate Público” (petição no Facebook) parecem fazer alguma oposição à atitude prepotente do Parlamento que pensa poder decidir uma questão tão importante sem “dar cavaco” aos Portugueses.
Como mulher, sinto-me solidária e agradecida (ah, a gratidão, tão em desuso…) por toda e qualquer voz que se levante contra a exploração do género feminino (e, já agora, de todo e qualquer ser humano!). Não me considerando “feminista”, sou claramente “humanista” – afinal vivemos numa sociedade em que não são só as mulheres a serem confrontadas com situações que ofendem a sua dignidade, e seria descabido não me preocupar com qualquer discriminação de que tome conhecimento, seja quem for a vítima.
Quando ainda se luta pela igualdade de salários, educação e oportunidades, que sentido faz pensar e aprovar leis que permitem alugar um corpo, seja qual for o motivo (económico ou afetivo)? Quando a ciência já estuda e obtém provas de forte ligação e comunicação entre a mãe e o bebé por nascer, não só do ponto de vista físico mas também emocional, como aceitar que se ignore esta relação tão profunda e se permita que uma mulher gere um filho para, propositadamente, o passar para os braços doutra, que é uma absoluta desconhecida para o bebé? Não chegam as crianças que, por motivos vários, não podem crescer com as suas famílias?!
E como justificar, no séc. XXI, o uso do corpo para alugar, mesmo que, aparentemente, por uma boa causa? E a dignidade da mulher? Aonde anda perdida no meio disto tudo?
Não creio que fosse por este tipo de “reconhecimento feminino” que lutaram as nossas antepassadas do séc. XIX, católicas e ateias!
Até onde iremos na nossa sede de nos substituirmos a Deus? Que civilização queremos ter com este “pôr” e “dispor” da Vida e do Ser Humano?
E como vamos explicar isto às nossas crianças? Quando lhes explicarmos os Direitos das Crianças ou o superior Interesse?
Espero que haja bom-senso…
I.M., in Voz de Lamego, ano 86/26, n.º 4365, 31 de maio de 2016
Arquivos
- Março 2023
- Janeiro 2023
- Dezembro 2022
- Outubro 2022
- Setembro 2022
- Agosto 2022
- Julho 2022
- Junho 2022
- Maio 2022
- Abril 2022
- Março 2022
- Fevereiro 2022
- Janeiro 2022
- Dezembro 2021
- Novembro 2021
- Outubro 2021
- Setembro 2021
- Agosto 2021
- Julho 2021
- Junho 2021
- Maio 2021
- Abril 2021
- Março 2021
- Fevereiro 2021
- Janeiro 2021
- Dezembro 2020
- Novembro 2020
- Outubro 2020
- Setembro 2020
- Agosto 2020
- Julho 2020
- Junho 2020
- Maio 2020
- Abril 2020
- Março 2020
- Fevereiro 2020
- Janeiro 2020
- Dezembro 2019
- Novembro 2019
- Outubro 2019
- Setembro 2019
- Agosto 2019
- Julho 2019
- Junho 2019
- Maio 2019
- Abril 2019
- Março 2019
- Fevereiro 2019
- Janeiro 2019
- Dezembro 2018
- Novembro 2018
- Outubro 2018
- Setembro 2018
- Agosto 2018
- Julho 2018
- Junho 2018
- Maio 2018
- Abril 2018
- Março 2018
- Fevereiro 2018
- Janeiro 2018
- Dezembro 2017
- Novembro 2017
- Outubro 2017
- Setembro 2017
- Agosto 2017
- Julho 2017
- Junho 2017
- Maio 2017
- Abril 2017
- Março 2017
- Fevereiro 2017
- Janeiro 2017
- Dezembro 2016
- Novembro 2016
- Outubro 2016
- Setembro 2016
- Agosto 2016
- Julho 2016
- Junho 2016
- Maio 2016
- Abril 2016
- Março 2016
- Fevereiro 2016
- Janeiro 2016
- Dezembro 2015
- Novembro 2015
- Outubro 2015
- Setembro 2015
- Agosto 2015
- Julho 2015
- Junho 2015
- Maio 2015
- Abril 2015
- Março 2015
- Fevereiro 2015
- Janeiro 2015
- Dezembro 2014
- Novembro 2014
- Outubro 2014
- Setembro 2014
- Agosto 2014
- Julho 2014
- Junho 2014
- Maio 2014
- Abril 2014
- Março 2014
- Fevereiro 2014
- Janeiro 2014
- Dezembro 2013
- Novembro 2013
- Setembro 2013
- Agosto 2013
- Julho 2013
- Junho 2013
- Maio 2013
- Abril 2013
- Março 2013
- Fevereiro 2013
- Janeiro 2013
- Dezembro 2012
- Fevereiro 2012
- Janeiro 2012