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JUBILEU DA MISERICÓRDIA | CONSOLAR OS TRISTES

CONSOLAR_TRISTES

Alguém disse que “o amigo é aquele que pergunta como estamos e fica à espera da resposta!”. A saudação aproxima, mas só a escuta atenta e prolongada proporciona verdadeiro encontro e conforto. Não se trata apenas de “ter tempo”, mas também de “ter vontade”. Por isso, no meio de correrias, desencontros, preocupações e ocupações, escutar/esperar o outro é, cada vez mais, um bem apreciado.

Esta obra de misericórdia convida a disponibilizar tempo e vontade para acompanhar quem experimenta a fragilidade. Mas, como bem se depreende, não se incluem aqui as lágrimas provocadas pela beleza, pelo arrependimento ou reconciliação, pela emoção diante de uma boa notícia ou pelo alcançar de uma meta… esse tipo de lágrimas tornam-nos mais humanos.

“Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5, 4). As lágrimas de dor são provocadas pelas privações de que se é vítima (alimentos, trabalho, casa…), pela falta de saúde ou de meios para o tratamento, pelas guerras e conflitos que obrigam a fugir ou a viver escondido, pelas perseguições, pelo terrorismo, pela morte, orfandade ou solidão… Numa palavra, a tristeza não é apenas causada pelas injustiças, mas também pela sensibilidade e fragilidade humanas.

O acto de “consolar os tristes”, possível graças à proximidade, não é um acto estéril ou sem consequências, já que não se resume a umas “palmadinhas nas costas”, ao desculpar injustamente ou ao evitar das verdadeiras questões…

Neste contexto, consolar é, antes de mais, proporcionar conforto em todas as necessidades, ajudar a dar sentido ao sofrimento, contribuir para o passo seguinte, alertar para a realidade que importa descobrir e viver. Jesus não disse que os aflitos seriam recompensados, mas consolados. O consolo resulta do facto de se imprimir um sentido à aflição. E isso implica combater as causas da tristeza e do sofrimento para ajudar a sair do “vale de lágrimas” e contrariar a passividade, contribuindo para o arranjar de forças e de condições para avançar…

O nosso tempo, marcado pelo progresso e por tantas conquistas, não se livra de ser também um tempo propício ao lamento e ao desencanto. O mesmo se passa dentro da Igreja. Apesar da Boa Nova proclamada e celebrada fundamentar a nossa alegria, é verdade que o sorriso não está muito visível nas igrejas e nas celebrações. O mundo precisa de uma Igreja marcada pela alegria e de baptizados que dela sejam portadores e testemunhas, apesar das fraquezas e misérias humanas.

Ao longo da vida experimentamos a importância da partilha: uma dor dividida torna-se mais leve e a escuta atenta e a palavra amiga contribuem para o alívio desejado. Quantas etapas se conseguiram graças ao apoio oportuno? Quantas vidas se transformaram por causa de alguém que parou e esperou?

A verdade é que, por nosso intermédio e com tão pouco, Deus continua a realizar coisas grandes e belas, a transformar e a encher a vida de tantos!

JD, in Voz de Lamego, ano 86/24, n.º 4363, 17 de maio de 2016